Redação sobre Racismo: como fazer o melhor texto?

Márcia Fernandes
Revisão por Márcia Fernandes
Professora licenciada em Letras

O racismo é um tema que está sendo muito discutido na atualidade, inclusive no Brasil. Portanto, nada mais interessante do que estar por dentro de toda essa discussão para escrever uma boa redação, seja no Enem, seja no vestibular.

A melhor maneira é estar atento às notícias atuais, com a leitura de jornais, e ainda conhecer a estrutura básica dos textos dissertativos.

Confira abaixo algumas dicas importantes para desenvolver o texto:

1. Definição do conceito

racismo definição

Antes de mais nada, temos de pensar na definição do conceito de racismo, visto que ele ainda gera muitas dúvidas.

O racismo é um tipo de preconceito relacionado com as raças e etnias. Esse conceito está apoiado na ideia de superioridade racial, ou seja, de que existem raças superiores às outras.

Aqui também é importante definir os diferentes tipos de racismo que existem: o racismo individual, institucional, cultural, ambiental, dentre outros.

Além disso, podemos aumentar nosso repertório pensando em outros conceitos relacionados, tais como xenofobia e bullying, também muito discutidos na atualidade.

2. Pesquisa e levantamento de dados

Pesquisa sobre o tema do racismo

Após entender a definição desse conceito, devemos buscar dados relevantes sobre o tema. Lembre-se de que esses dados poderão fazer parte da sua redação e, com certeza, darão maior propriedade a parte da argumentação.

É importante buscar dados recentes sobre o racismo no Brasil e no mundo. Assim, podemos pensar na leitura da Lei número 7.716/1989 em que as atitudes racistas são consideradas crimes inafiançáveis no Brasil.

A título de curiosidade, também podemos buscar informações fiáveis sobre os países mais racistas. Para isso, busque pesquisas recentes sobre o tema e de organizações que possuam algum crédito institucional.

3. Rascunho

rascunho da redação

Nessa parte da preparação do texto, temos de organizar as ideias esboçando tudo o que foi coletado. Aqui, portanto, é importante construir um “esqueleto” do texto.

O rascunho pode ser preparado em tópicos e, para isso, é importante ter em mente a estrutura básica dos textos dissertativos: introdução, desenvolvimento e conclusão.

A partir disso, você colocará tudo o que foi coletado em cada parte:

  • Introdução: definição do racismo e recorte do tema que será esboçado, por exemplo: racismo no Brasil e suas consequências para a sociedade.
  • Desenvolvimento: argumentação e conta argumentação, por exemplo: lei no Brasil, países mais racistas e ainda, alguns casos recentes sobre o tema.
  • Conclusão: fechamento do texto com o lançamento de alguma ideia que priorize a melhoria para as questões apontadas, por exemplo: maior intervenção de organizações internacionais, revisão da lei, abordagem do tema nas escolas, etc.

4. Hora de escrever!

produção de texto

Depois de feito o rascunho, chegou a hora de organizar todas as ideias no papel. Aqui, devemos considerar a estrutura básica e onde tudo ficará bem encaixado.

É importante que o texto apresente coesão e coerência. Para isso, você pode consultar uma tabela de conectivos que te ajudarão a “tecer” melhor as frases.

Lembre-se que os conectivos não devem ser usados de maneira exagerada somente para impressionar o avaliador do texto. Assim, você poderá optar por conectivos mais comuns, por exemplo: assim, dessa maneira, todavia, inicialmente, etc. O importante é que o texto esteja coerente e bem coeso.

5. Revisão

revisão de redação

Nada mais importante que fazer uma revisão final e ver se tudo está escrito corretamente, ou mesmo se existe coesão entre os parágrafos.

É muito importante ter uma escrita sem erros ortográficos e mesmo de pontuação. Uma dica é ler em voz alta e ainda, fazer a leitura para alguém. Se essa pessoa compreendeu tudo o que foi dito e não tem nenhuma dúvida, o seu texto pode realmente estar bom.

Redação nota 1000 do Enem 2016

Na prova de redação do Enem em 2016, o tema foi “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”. A intolerância religiosa, ou racismo religioso, é um tipo de racismo cultural.

Profecia futurística

Em meados do século passado, o escritor austríaco Stefan Zweig mudou-se para o Brasil devido à perseguição nazista na Europa. Bem recebido e impressionado com o potencial da nova casa, Zweig escreveu um livro cujo título é até hoje repetido: “Brasil, país do futuro”. Entretanto, quando se observa a deficiência das medidas na luta contra a intolerância religiosa no Brasil, percebe-se que a profecia não saiu do papel. Nesse sentido, é preciso entender suas verdadeiras causas para solucionar esse problema.

A princípio, é possível perceber que essa circunstância deve-se a questões político-estruturais. Isso se deve ao fato de que, a partir da impunidade em relação a atos que manifestem discriminação religiosa, o seu combate é minimizado e subaproveitado, já que não há interferência para mudar tal situação. Tal conjuntura é ainda intensificada pela insuficiente laicidade do Estado, uma vez que interfere em decisões políticas e sociais, como aprovação de leis e exclusão social. Prova disso, é, infelizmente, a existência de uma “bancada evangélica” no poder público brasileiro. Dessa forma, atitudes agressivas e segregacionistas devido ao preconceito religioso continuam a acontecer, pondo em xeque o direito de liberdade religiosa, o que evidencia falhas nos elementos contra a intolerância religiosa brasileira.

Outrossim, vale ressaltar que essa situação é corroborada por fatores socioculturais. Durante a formação do Estado brasileiro, a escravidão se fez presente em parte significativa do processo, e com ela vieram as discriminações e intolerâncias culturais, derivadas de ideologias como superioridade do Homem Branco e Darwinismo Social. Lamentavelmente, tal perspectiva é vista até hoje no território brasileiro. Bom exemplo disso são os índices que indicam que os indivíduos seguidores e pertencentes às religiões afro-brasileiras são os mais afetados. Dentro dessa lógica, nota-se que a dificuldade de prevenção e combate ao desprezo e preconceito religioso mostra-se fruto de heranças coloniais discriminatórias, as quais negligenciam tanto o direito à vida quanto o direito de liberdade de expressão e religião.

Torna-se evidente, portanto, que os caminhos para a luta contra a intolerância religiosa no Brasil apresentam entraves que necessitam ser revertidos. Logo, é necessário que o Governo investigue casos de impunidade por meio de fiscalizações no cumprimento de leis, abertura de mais canais de denúncia e postos policiais. Além disso, é preciso que o poder público busque ser o mais imparcial (religiosamente) possível, a partir de acordos pré-definidos sobre o que deve, ou não, ser debatido na esfera política e disseminado para a população. Ademais, as instituições de ensino, em parceria com a mídia e ONGs, podem fomentar o pensamento crítico por intermédio de pesquisas, projetos, trabalhos, debates e campanhas publicitárias esclarecedoras. Com essas medidas, talvez, a profecia de Zweig torne-se realidade no presente.

Autor: Desirée Macarroni Abbade

Confira os textos motivadores e a proposta da redação do Enem 2016:

Texto I

Em consonância com a Constituição da República Federativa do Brasil e com toda a legislação que assegura a liberdade de crença religiosa às pessoas, além de proteção e respeito às manifestações religiosas, a laicidade do Estado deve ser buscada, afastando a possibilidade de interferência de correntes religiosas em matérias sociais, políticas, culturais etc.

Disponível em: www.mprj.mp.br. Acesso em: 21 maio 2016 (fragmento).

Texto II

O direito de criticar dogmas e encaminhamentos é assegurado como liberdade de expressão, mas atitudes agressivas, ofensas e tratamento diferenciado a alguém em função de crença ou de não ter religião são crimes inafiançáveis e imprescritíveis.

STECK, J. Intolerância religiosa é crime de ódio e fere a dignidade. Jornal do Senado. Acesso em: 21 maio 2016 (fragmento).

Texto III

CAPÍTULO I

Dos Crimes Contra o Sentimento Religioso

Ultraje a culto e impedimento ou perturbação de ato a ele relativo

Art. 208 – Escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso:
Pena – detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Parágrafo único – Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um terço, sem prejuízo da correspondente à violência.

BRASIL. Código Penal. Disponível em: www.planalto.gov.br. Acesso em: 21 maio 2016 (fragmento).

Texto IV

texto motivador de prova de redação enem 2016

Proposta de redação

A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

Leia também:

Como fazer uma boa redação - passo a passo

Temas de Redação para Enem

Márcia Fernandes
Revisão por Márcia Fernandes
Professora, produz conteúdos educativos (de língua portuguesa e também relacionados a datas comemorativas) desde 2015. Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Santos (habilitação para Ensino Fundamental II e Ensino Médio) e formada no Curso de Magistério (habilitação para Educação Infantil e Ensino Fundamental I).
Daniela Diana
Edição por Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.