Revolta dos Cipaios (Índia): o que foi, as causas e consequências

Ligia Lemos de Castro
Ligia Lemos de Castro
Professora de História

A Revolta dos Cipaios, Sipaios ou Sipais (do híndi shipahi, que significa “soldado”), também conhecida como “Revolta Indiana de 1857”, foi uma insurreição popular armada que ocorreu na Índia entre 1857 e 1858.

Os cipaios eram soldados indianos a serviço da Companhia Britânica das Índias Orientais. A revolta foi um dos principais movimentos de resistência contra o domínio britânico na Índia. Aliás, pode ser considerado o primeiro movimento de Independência da Índia.

Principais causas da Revolta dos Cipaios

A Revolta dos Cipaios teve como causas uma série de mudanças impostas pela Companhia Britânica das Índias Orientais, visando o domínio colonial.

Dentre elas, estavam o progressivo afastamento de regentes locais hindus e muçulmanos (príncipes, rajás, nababos, etc.) no processo de hegemonia britânico sobre o território indiano.

Outra coisa mal vista pela população eram as missões que pregavam o Cristianismo. Era crescente a presença de missionários cristãos depois da conquista da região de Oudh (Awadh), ao longo do rio Ganges, em 1856, bem como a proibição de algumas práticas tradicionais hindus, como a autoimolação das viúvas.

Havia, ainda, a política de anexação de territórios pela Companhia, após a morte de dirigentes locais sem herdeiros, o que desrespeitava a nomeação dos sucessores que era tradicionalmente adotada.

Uma das maiores causas da revolta foi o alistamento obrigatório de jovens indianos no exército da Companhia Britânica das Índias Orientais, a qual representava a Coroa Inglesa na Índia. Esses soldados deveriam garantir toda a segurança do transporte e comercialização dos produtos que circulavam na colônia.

Ademais, o recrutamento misturava membros de várias castas e causava insatisfação entre os brâmanes e xátrias. Para completar, estes cerca de 200 mil sipais (para 40 mil soldados britânicos) estavam insatisfeitos com as péssimas condições de trabalho e a baixa remuneração.

A Revolta dos Cipaios e seus desdobramentos

O grande estopim da Revolta dos Cipaios foi a utilização de gordura animal de vaca e porco, pelos soldados indianos, para impermeabilizar as munições.

Como eles tinham de rasgar as cápsulas com a boca, acabavam ingerindo aquela gordura. Isso era considerado intolerável, uma vez que era sagrado, tanto pelos hindus (vaca) como pelos muçulmanos (porco).

Em março e abril de 1857, uma série de incidentes tiveram início nos regimentos militares, envolvendo a recusa do uso das munições e a desobediência aos superiores britânicos.

A rebelião ganhou apoio popular ultrapassando os quartéis. A partir de maio de 1857, ocorreram confrontos nas cidades de Agra, Allahabad e Ambala. Apesar de ter se alastrado, a rebelião não tinha uma liderança unificada. Vale ainda salientar que o levante ficou circunscrito às províncias da região central e do norte, enquanto o sul da Índia não se envolveu no conflito.

Em 10 de maio de 1857, o 11° Regimento de Cavalaria de Bengala se amotinou em Meerut e seguiu para Déli, conquistando a cidade e matando muitos europeus.

Dentre os levantes mais emblemáticos destacou-se o Massacre de Bibighar, ocorrido na cidade de Kanpur. Uma multidão de indianos atacou a comunidade britânica local matando 120 mulheres e crianças. O episódio chocou a opinião pública europeia.

Em julho, os reforços britânicos começaram a chegar e, após algumas semanas de combates, derrotaram o exército sipai. Em 1858, o contingente de soldados britânicos aumentou significativamente e o movimento foi finalmente controlado. Em 1859 os últimos rebeldes foram presos e julgados.

Principais consequências da Revolta dos Cipaios

Quando terminaram os levantes, os insurgentes foram executados e a Companhia Britânica das Índias Orientais foi extinta, dando início à administração direta da Coroa britânica (Raj Britânico) em agosto de 1858. A Inglaterra passou a ter um vice-rei da Índia e britânicos integraram os postos governamentais na administração colonial.

Ademais, o vice-rei pôs fim à política de anexações, estabeleceu a tolerância religiosa e admissão de indianos no serviço público. Por fim, a Rainha Vitória tornou-se a Imperatriz da Índia em 1876.

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Referências Bibliográficas

HOBSBAWM, Eric J. A Era dos Impérios, 1875-1914. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2012.

MACEDO, Emiliano Unzer. História da Ásia: uma introdução à sua história moderna e contemporânea. Vitória: Universidade Federal do Espírito Santo, Secretaria de Ensino à Distância, 2016. Disponível em: https://acervo.sead.ufes.br/arquivos/historia-da-asia.pdf (acesso e 06/03/2024)

Ligia Lemos de Castro
Ligia Lemos de Castro
Professora de História formada pela Universidade Federal de São Paulo. Especialista em Docência na Educação à Distância pela Universidade Federal de São Carlos. Leciona História para turmas do Ensino Fundamental II desde 2017.