Revolução Chinesa (1911-1949): o que foi, suas causas e consequências
A Revolução Chinesa foi um processo histórico que ocorreu entre 1911 e 1949, culminando com a fundação da República Popular da China e o estabelecimento do comunismo sob a liderança de Mao Tsé-Tung.
O movimento teve suas raízes na queda da Dinastia Qing, que governou o país por séculos, mas se enfraqueceu devido à pressão das potências imperialistas estrangeiras e sucessivas derrotas militares.
A proclamação da República Chinesa em 1911 marcou o início de uma série de conflitos internos, incluindo guerras civis entre o Kuomintang, liderado por Chiang Kai-shek, e o Partido Comunista Chinês, fundado em 1921, que buscava reformas agrárias e melhorias sociais para a maioria camponesa.
Durante o período, o Japão invadiu a China em 1937, levando a uma breve união entre nacionalistas e comunistas. Após a Segunda Guerra Mundial, o conflito entre as duas facções retomou, e em 1949 os comunistas, com grande apoio popular, derrotaram o Kuomintang, que se refugiou em Taiwan.
A Revolução Chinesa resultou em profundas transformações no país, incluindo reformas econômicas e sociais, e consolidou a China como um estado socialista, alinhado inicialmente à União Soviética. O impacto da revolução foi sentido em todo o mundo, especialmente no fortalecimento do comunismo na Ásia.
Informações essenciais para entender a Revolução Chinesa
- A Revolução Chinesa ocorreu entre 1911 e 1949 e culminou com a fundação da República Popular da China, estabelecendo o comunismo liderado por Mao Tsé-Tung.
- A fraqueza do Império Qing, agravada por derrotas em guerras contra potências estrangeiras e pela pressão imperialista, levou à queda da monarquia e à proclamação da República Chinesa em 1911.
- A luta pelo poder entre os nacionalistas do Kuomintang e os comunistas, que resultou em várias guerras civis, incluindo a Grande Marcha e a posterior vitória comunista.
- A invasão japonesa em 1937 levou à formação de uma nova coalizão entre nacionalistas e comunistas, mas o conflito entre eles retomou após a Segunda Guerra Mundial.
- A revolução resultou na formação da República Popular da China, a retirada do Kuomintang para Taiwan, a reforma agrária e industrialização da China, e o alinhamento inicial com a União Soviética.
Antecedentes: China imperial
Desde o século XIII a.C. a China foi governada por dinastias. Famílias nobres mantinham o poder sobre determinadas regiões ou sobre vastas extensões do território chinês.
A última destas dinastias (Qing) reinou de 1644 a 1912. Porém, a partir de meados do século XIX, o império se viu enfraquecido diante do assédio das potências imperialistas estrangeiras.
Sucessivas derrotas chinesas, como nas Guerras do Ópio (1839 e 1860), na Guerra Sino-Japonesa (1894-1895) e na Guerra dos Boxers (1899-1901) levaram à perda de diversos territórios e ao estabelecimento de tratados comerciais completamente desfavoráveis para a China.
Nesse contexto, surgiram movimentos de contestação como a Liga Revolucionária, fundada em 1905 por Sun Yat-Sen. Após a promoção de uma série de rebeliões, a monarquia foi derrubada, sendo proclamada a República Chinesa em dezembro 1911, tornando Sun Yat-Sen seu primeiro presidente. Este acontecimento também é conhecido como Revolução de 1911 ou Revolução Xinhai.
Primeira e Segunda Guerra Civil
Os primeiros anos da República Chinesa foram de grandes dificuldades, pois além das pressões imperialistas, o poder estava fragmentado entre os chamados Senhores da Guerra. Os Senhores da Guerra eram líderes militares que controlavam vastas regiões da China e não obedeciam ao poder centralizado.
Nesse período surgiram os dois partidos que definiriam os rumos da China até 1949:
- o Kuomintang (Partido Nacionalista Chinês), fundado pelo presidente Sun Yat-Sen em 1919, e
- o Partido Comunista Chinês, fundado em 1921 sob influência da Revolução Russa e que tinha Mao Tsé-Tung entre seus líderes.
Em 1924 os dois partidos formaram a Primeira Frente Unida, cujo objetivo era derrotar os Senhores da Guerra e unificar a China. Essa fase ficou conhecida como Primeira Guerra Civil.
Porém, com a morte de Sun Yat-Sen em 1925, Chiang Kai-Shek assume o controle do Partido Nacionalista e rompe a Frente Unida. O Partido Comunista, tornado ilegal em 1927, passa a ser perseguido, dando origem à Segunda Guerra Civil, opondo nacionalistas e comunistas.
Derrotados, os comunistas recuaram a pé mais de 12 mil quilômetros rumo ao extremo norte do país, na Grande Marcha. Esse movimento deu ao líder Mao Tsé-Tung a oportunidade de construir a base de apoio do Partido Comunista entre os camponeses, que formavam a maioria da população.
A resistência contra os japoneses e a Terceira Guerra Civil
Em 1937 os japoneses invadiram a China. Dada a grande superioridade militar do Japão em comparação à República Chinesa, novamente o Partido Nacionalista recorreu à coalizão com o Partido Comunista, formando a Segunda Frente Unida.
Contudo, os japoneses só deixaram o território chinês após a derrota frente aos Aliados na Segunda Guerra Mundial, em 1945.
Assim, a partir de 1946, retoma-se o conflito entre Nacionalistas e Comunistas (Terceira Guerra Civil). Já nos primórdios da Guerra Fria, o Partido Nacionalista passa a ser apoiado pelos Estados Unidos, enquanto o Partido Comunista recebia ajuda da União Soviética.
Embora em menor número, os comunistas estavam melhor organizados estrategicamente e contavam com o forte apoio popular. Isso acontecia porque os comunistas defendiam medidas como a reforma agrária, o combate à fome e a melhoria das condições de trabalho para operários e camponeses.
Surgimento da República Popular da China
Entre 1946 e 1949, após inúmeras batalhas, o Partido Comunista saiu-se vitorioso. Em 1949 foi proclamada a República Popular da China (denominação usada até hoje), tendo como líder Mao Tsé-Tung.
Os membros do Partido Nacionalista se refugiaram na ilha de Taiwan, onde fundaram uma nova capital da República Chinesa, reconhecida pelos Estados Unidos.
Até hoje a República Popular da China considera Taiwan uma província rebelde, sendo constantes as ameaças de invasão e reunificação.
A partir de 1949, teve início a Era Mao Tsé-Tung na República Popular da China, que durou até a morte do líder comunista em 1976. A implantação do comunismo na China teve diversas fases, como o Grande Salto para Frente (1958-1960) e a Revolução Cultural (1966-1976), sendo caracterizada pela forte doutrinação e perseguição aos que se opunham ao regime.
Após a morte de Mao Tsé-Tung, a China iniciou sua abertura econômica, movimento que conduziu o país ao status de superpotência econômica e política na atualidade.
Principais líderes da Revolução Chinesa
- Mao Tsé-Tung: foi o líder supremo da revolução e fundador da República Popular da China. Ele implementou políticas revolucionárias, como a Reforma Agrária e o Grande Salto Adiante.
- Chiang Kai-shek: líder do Kuomintang, o partido nacionalista chinês. Ele lutou contra os comunistas durante a Guerra Civil Chinesa e, após a derrota, refugiou-se em Taiwan, onde estabeleceu um governo rival.
- Zhou Enlai: importante líder comunista e diplomata, desempenhou um papel fundamental tanto na Revolução quanto na administração do novo governo comunista.
- Sun Yat-sen: inspirador inicial da revolução nacionalista que buscava modernizar e democratizar a China. Embora tenha morrido antes da revolução comunista, suas ideias influenciaram tanto nacionalistas quanto comunistas.
Consequências da Revolução Chinesa
- Estabelecimento da República Popular da China: em 1949, Mao Tsé-Tung proclamou a criação da República Popular da China, transformando o país em um estado socialista.
- Retirada do Kuomintang para Taiwan: Chiang Kai-shek e seu governo nacionalista fugiram para Taiwan, onde estabeleceram uma república separada, ainda existente hoje.
- Reformas Internas: houve uma ampla reforma agrária que redistribuiu terras dos ricos para os camponeses, e o governo iniciou o processo de industrialização, tentando modernizar a economia chinesa.
- Alinhamento com a União Soviética: nos primeiros anos, a China se aliou à União Soviética, embora a relação tenha se deteriorado na década de 1960, levando à Ruptura Sino-Soviética.
- Impacto Internacional: a Revolução Chinesa também foi um marco no fortalecimento do comunismo global, principalmente na Ásia, influenciando revoluções em outros países como Vietnã e Coreia.
Exercícios sobre a Revolução Chinesa
Questão 1
A Revolução Chinesa, concluída em 1949, é considerada um dos episódios mais importantes ocorridos no início da Guerra Fria. No entanto, suas raízes são mais antigas e estão ligadas ao enfraquecimento da Dinastia Qing, que aconteceu devido:
a) Ao assédio de potências imperialistas europeias e à derrota da China em episódios como as Guerras do Ópio, a Guerra Sino-Japonesa e a Guerra dos Boxers.
b) Ao sucesso da participação chinesa na Revolução Russa, apoiando as tropas do Exército Vermelho.
c) À derrota chinesa na Primeira Guerra Mundial, quando se aliou às potências da Tríplice Aliança.
d) À duradoura aliança dos nacionalistas com os chamados Senhores da Guerra, evento que isolou os monarquistas e enfraqueceu a Dinastia Qing.
a) Correto. O enfraquecimento da Dinastia Qing foi consequência direta das derrotas militares e dos tratados desiguais impostos pelas potências europeias e pelo Japão, que exploraram a China econômica e territorialmente.
b) Incorreto. A Revolução Russa ocorreu apenas em 1917, muito depois do declínio da Dinastia Qing. Além disso, a China não teve papel ativo nesse processo.
c) Incorreto. A China não participou da Primeira Guerra Mundial como aliada da Tríplice Aliança, e sim de forma limitada ao lado da Entente.
d) Incorreto. Os Senhores da Guerra se opunham ao governo liderado pelos nacionalistas. Além disso, trata-se de um evento posterior à queda da Dinastia Qing.
Questão 2
A Revolução Chinesa opôs dois grupos político-militares muito influentes: os nacionalistas e o Partido Comunista Chinês. Contudo, ao longo da história de seu conflito pelo poder, podemos encontrar momentos de aproximação entre as facções, como, por exemplo, durante a:
a) Revolução Cultural, quando Mao Tsé-Tung convocou os nacionalistas para combater os "inimigos do povo" dentro do próprio partido comunista.
b) Guerra Civil Espanhola, quando chineses nacionalistas e comunistas lutaram juntos nas Brigadas Internacionais contra o fascismo.
c) Longa Marcha, quando nacionalistas e comunistas uniram forças para fugir do cerco imposto pelas potências imperialistas ocidentais.
d) Invasão japonesa à China na Segunda Guerra Mundial, o que trouxe um inimigo comum a ambos os grupos.
a) Incorreto. A Revolução Cultural (1966–1976) ocorreu após a guerra civil e foi marcada por perseguições internas dentro do próprio Partido Comunista.
b) Incorreto. Nenhum grupo chinês participou de forma significativa da Guerra Civil Espanhola.
c) Incorreto. A Longa Marcha foi uma retirada do Exército Vermelho comunista, perseguido pelos nacionalistas, e não um momento de aliança entre eles.
d) Correto. Durante a invasão japonesa (1937–1945), nacionalistas e comunistas formaram uma frente unida para resistir ao inimigo comum, embora mantendo rivalidades.
Questão 3
"Luta de classes, umas classes triunfam e outras são eliminadas. Assim é a história, assim é a história da civilização, desde há milhares de anos. Interpretar a história a partir desse ponto de vista é materialismo histórico; sustentar o ponto de vista contrário é idealismo histórico."
(TSÉ-TUNG, Mao. Abandonai as ilusões e preparai-vos para a luta. In: ______. Obras escolhidas. Tomo IV. Pequim: Edições do Povo, 1976.)
No trecho acima, Mao Tsé-Tung utiliza conceitos centrais da teoria marxista para justificar a Revolução Chinesa. Ao afirmar que a história da civilização é marcada pelo "materialismo histórico", o líder comunista chinês defende que:
a) As transformações históricas são resultado de conflitos entre grupos sociais com interesses econômicos opostos, e não de ideias ou vontades individuais.
b) As revoluções dependem da ação de uma elite intelectual, que devem conduzir as massas independente da realidade econômica.
c) O progresso da humanidade depende da harmonia entre as diferentes classes sociais, que devem colaborar para o bem comum.
d) Os valores culturais e religiosos tradicionais da China são os principais responsáveis pelas transformações históricas do país.
a) Correto. Mao adota a perspectiva marxista de que a história é movida por contradições econômicas entre classes sociais — como entre burguesia e proletariado — e não por fatores puramente morais ou individuais.
b) Incorreto. Essa visão é oposta ao marxismo, que valoriza o papel coletivo das classes trabalhadoras, não de elites intelectuais isoladas.
c) Incorreto. O materialismo histórico enfatiza o conflito e não a harmonia entre as classes, pois as transformações surgem do embate social.
d) Incorreto. A ênfase de Mao não está nos valores culturais, mas nas condições materiais e na luta de classes como motores da história.
Questão 4
A vitória do Partido Comunista Chinês em 1949 trouxe profundas transformações não apenas para a China, mas também para a Guerra Fria e para a geopolítica contemporânea. Deste modo, o legado da Revolução Chinesa pode ser observado em diversos aspectos, entre os quais se destacam:
a) A reunificação de todo o território chinês sob o governo comunista, incluindo Hong Kong, Macau e Taiwan.
b) A fuga dos nacionalistas derrotados para a ilha de Taiwan, onde estabeleceram a República da China, gerando uma divisão territorial que persiste até os dias atuais.
c) O fim da influência comunista na Ásia, uma vez que a China abandonou o marxismo após a chamada Ruptura Sino-Soviética.
d) A democratização da China e a adoção do sistema político multipartidário, que garantiram a adesão da China à ONU e ao Conselho de Segurança da instituição.
a) Incorreto. Hong Kong e Macau permaneceram sob domínio estrangeiro até o fim do século XX, e Taiwan continua separada do governo continental até hoje.
b) Correto. Após a derrota na guerra civil, Chiang Kai-shek e seus seguidores nacionalistas fugiram para Taiwan, criando um governo próprio que permanece até os dias atuais, mantendo a divisão política.
c) Incorreto. A influência comunista cresceu na Ásia após 1949, com revoluções no Vietnã e na Coreia do Norte. A ruptura com a URSS veio depois e não significou abandono do marxismo.
d) Incorreto. A China não adotou o modelo democrático-multipartidário. Ao contrário, consolidou o regime de partido único sob o comando do Partido Comunista.
Para praticar mais: Exercícios sobre a Revolução Chinesa (com gabarito explicado)
Para saber mais sobre a China:
Referências Bibliográficas
HOBSBWAM, Eric J. Era dos extremos: o breve século XX: 1914-1991. Tradução Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995, pp. 144-177.
POMAR, Wladimir. A Revolução Chinesa. São Paulo: Editora UNESP, 2003
PEREIRA, Lucas. Revolução Chinesa (1911-1949): o que foi, suas causas e consequências. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/revolucao-chinesa/. Acesso em: