Sincretismo e Religiões Afro-brasileiras

Juliana Bezerra
Juliana Bezerra
Professora de História

O Sincretismo se caracteriza pela união de várias religiões e ideologias que formam outra.

Atualmente, o sincretismo mais visível é o religioso, mas o ideológico também está presente em várias áreas das ciências sociais e humanas.

Sincretismo religioso

O sincretismo está presente na religião onde é possível visualizar elementos de várias religiões que influenciaram determinada crença.

O catolicismo, por exemplo, nasceu do judaísmo e adotou várias festas judaicas como a Páscoa, que recebeu outro significado com os cristãos.

Da mesma forma, a Igreja Católica absorveu práticas das religiões pagãs do Império romano como o uso de imagens, vestimentas dos sacerdotes e festas pagãs como o Solstício de Verão, transformado na celebração a são João Batista.

Isto pode ser observado em todas as religiões, pois não existe uma religião pura.

Sincretismo religioso no Brasil

No Brasil, o sincretismo é evidente entre as religiões de matriz africana que incorporaram elementos do catolicismo. Importante ressaltar que esta mistura se processou de maneira diferente nos diversos pontos do país.

O principal motivo que explica este fenômeno é a forma de poder exercida por Portugal na época da colonização.

Como a coroa e a Igreja estavam unidos no projeto de colonização, a conversão ao Catolicismo é imposta aos povos conquistados. Assim como os indígenas, os negros escravizados foram obrigados a adotar a religião católica.

Diante da conquista de território como Angola, a colônia passou a explorar a escravidão dos negros africanos, pois isto resultava num lucrativo comércio. Assim, a escravidão entre indígenas e negros passou a coexistir, embora a Igreja condenasse o uso da mão de obra indígena não remunerada.

Pela determinação de conversão, os escravos capturados passavam a ter contato com a religião católica ainda nos navios que os transportavam até o Brasil.

Orixás africanos

Intimidados pelos castigos que seriam impostos em caso de não aceitarem a conversão, muitos escravos abraçavam a religião católica aparentemente, mas mantinham o culto a seus orixás de origem.

Já os senhores brancos permitiam os cantos e danças aos domingos, bem como preces e batuques dentro das senzalas.

Alguns historiadores sustentam que os senhores acreditavam que desta maneira, os escravos manteriam a África na memória. Deste modo, não se esqueceriam da rivalidade entre os diversos grupos, evitando uma revolta contra o estado de escravidão.

Entre as figuras da Igreja Católica cultuadas pelos portugueses está Santa Bárbara, a quem os escravos fingiam cantar, mas, na verdade, o culto era destinado a Yansan, orixá da sexualidade, deusa dos ventos e dos raios.

Também é sincretizado São Lázaro, com suas feridas e chagas, com Omolú, o orixá das doenças de pele.

Yemanjá, a deusa que deixa sair do ventre a própria vida, é sincretizada com certas denominações da Virgem Maria, como Nossa Senhora da Conceição. Por ocorrer de maneira diferente nos diversos pontos do país, o sincretismo de um mesmo santo ou orixá não é idêntico.

No Rio de Janeiro, por exemplo, o orixá da guerra Ogun é sincretizado com São Jorge e no Estado da Bahia com Santo Antônio.

A imagem de São Jorge com armadura e capacete, lutando bravamente com um dragão, contrasta com Santo Antônio a ter um bebê nos braços. Segundo a Igreja, porém, Santo Antônio também teria sido soldado e, por isso, lutou, o que explica o sincretismo com Ogun.

Religiões afro-brasileiras

No período de exploração da mão de obra escrava, o Brasil recebeu pessoas de diversas regiões da África. Por serem de pontos diferentes, não falavam a mesma língua e também cultuavam orixás diferentes e tinham tradições distintas.

Alguns guerreavam entre si e, em comum, compartilhavam somente o fato de serem escravizados na colônia. O Brasil recebeu negros sudaneses, guineanos e bantos. A diversidade é tamanha, que os guineanos são integrados por islâmicos.

Candomblé

Deu-se o nome de Candomblé à religiosidade e ao conjunto das muitas manifestações religiosas dos negros escravizados.

A palavra Candomblé é uma onomatopeia indicativa da dança africana. É por isso que os historiadores classificam as religiões africanas como vários candomblés, afinal, o candomblé se divide em nações como nagô, keto e ijêxa.

Os praticantes desta religião tiveram que adaptar-se às circunstâncias que encontraram em cada engenho e região do Brasil para poder seguir com suas práticas. Assim adotaram as festas dos santos e suas imagens neste processo de adaptação com o objetivo de manter vivo seus cultos.

Umbanda

No Rio de Janeiro, no começo do século XX, ocorreu outro fenômeno de sincretismo com o nascimento da Umbanda.

Esta é uma mistura entre as religiões afro-brasileiras, o catolicismo, as lendas indígenas e o espiritismo de Alan Kardec. Por isso é uma crença que já nasceu sincretizada.

Seus princípios conceituais, "Luz, Caridade e Amor", vem do espiritismo e a maneira de cultuar os orixás tem origem, basicamente, no candomblé. No entanto, a diferença deste, também são cultuadas entidades de indígenas.

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Juliana Bezerra
Juliana Bezerra
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.