Alienação na Sociologia e Filosofia

Pedro Menezes
Pedro Menezes
Professor de Filosofia, Mestre em Ciências da Educação

Na Sociologia, o conceito de alienação está intimamente relacionado aos processos de alheamento do indivíduo que surge por diversos motivos na vida social. Isso leva ao alijamento da sociedade como um todo.

O estado de alienação interfere na capacidade dos indivíduos sociais de agirem e pensarem por si próprios. Ou seja, eles não têm consciência do papel que desempenham nos processos sociais.

Do latim, a palavra “alienação” (alienare) significa “tornar alguém alheio a alguém”. Atualmente, o termo é utilizado em diferentes áreas (direito, economia, psicologia, antropologia, comunicação, etc.) e contextos.

Karl Marx e o Conceito de Alienação

Chaplin trabalhador
Charles Chaplin, trabalhador em Tempos Modernos

A alienação na sociologia foi essencialmente influenciada pelos estudos do revolucionário alemão Karl Marx (1818-1883), no âmbito do trabalho alienado e das relações de produção.

Em 1867, Marx escreveu sua obra mais emblemática, O Capital. Nele, o autor critica a sociedade industrial capitalista em seu modo de produção e sua tendência a criar uma forma de trabalho que acaba por desumanizar o indivíduo explorado.

O trabalho alienado surge a partir do momento em que o trabalhador perde a posse dos meios de produção e passa a ser compreendido como parte da linha de produção (assim como as máquinas e ferramentas). O trabalhador assume uma única função fundamental: gerar lucro.

O lucro tem como base a exploração do trabalhador e o processo de mais valia. O trabalhador tem parte do que produz apropriado de forma indevida pelo capitalista.

Trata-se, portanto, de uma alienação socioeconômica onde a fragmentação do trabalho industrial produz a fragmentação do saber humano. De tal modo, a alienação torna-se um problema de legitimidade do controle social.

A divisão social do trabalho, enfatizada pela sociedade capitalista, contribui para o processo de alienação do indivíduo. Os cidadãos que participam do processo de produção de bens e serviços, acabam por não usufruir deles.

Nas palavras do filósofo:

“Primeiramente, o trabalho alienado se apresenta como algo externo ao trabalhador, algo que não faz parte de sua personalidade. Assim, o trabalhador não se realiza em seu trabalho, mas nega-se a si mesmo. Permanece no local de trabalho com uma sensação de sofrimento em vez de bem-estar, com um sentimento de bloqueio de suas energias físicas e mentais que provoca cansaço físico e depressão. (...) Seu trabalho não é voluntário, mas imposto e forçado. (...) Afinal, o trabalho alienado é um trabalho de sacrifício, e mortificação. É um trabalho que não pertence ao trabalhador mas sim à outra pessoa que dirige a produção”.

Piramide do capitalismo
Pirâmide do Sistema Capitalista, ilustração da revista Industrial Worker (1911)

Alienação na Filosofia

Hegel (1770-1830), um dos mais importantes filósofos alemães, foi o primeiro a utilizar o termo “alienação”. Segundo ele, a alienação do espírito humano está relacionada com as potencialidades dos indivíduos e dos objetos que ele cria.

Assim, é transferida a potencialidade dos indivíduos nos objetos produzidos, criando uma relação de identidade entre os indivíduos, como por exemplo, na cultura.

Na filosofia, desde então, o conceito de alienação está associado a uma espécie de vazio existencial. Relaciona-se, assim, com a falta de consciência própria, de modo que o sujeito perde sua identidade, seu valor, seus interesses e sua vitalidade.

Como consequência, o sujeito tende a objetificar-se, tornar-se coisa. Em outras palavras, ele torna-se uma pessoa alheia a si mesma.

Além do trabalho alienado, conceito bem fundamentado por Marx, na filosofia podemos ainda considerar o consumo alienado e o lazer alienado.

A ideia-chave no conceito de alienação é o fato do indivíduo perder o contato com a totalidade das estruturas. Sua visão parcial faz com que ele não compreenda as forças que atuam no contexto.

Isto acarreta uma mistificação da realidade. As coisas são entendidas como necessárias, a forma na qual a sociedade se encontra passa a ser entendida como o único modo possível de organização.

No consumo alienado, conceito muito explorado, sobretudo nas sociedades capitalistas atuais, os indivíduos são bombardeados por propagandas disseminadas pelos meios de comunicação. Sua liberdade passa a estar constrangida a determinados padrões de consumo.

Assim, o indivíduo alienado relaciona sua essência com um padrão de consumo. Os produtos passam a possuir uma aura capaz de atribuir características ao sujeito e suprir suas necessidades.

Da mesma forma, a alienação pelo lazer gera indivíduos frágeis, com dificuldade de compreender sua própria personalidade. Isto afeta diretamente sua autoestima, espontaneidade e processos criativos.

No lazer, a alienação pode ser gerada pelos produtos e objetos de consumo incentivados pela indústria cultural.

Escola de Frankfurt e a Atualidade

mass media
O excesso de oferta gera a impressão de liberdade

Para o filósofo alemão Max Horkheimer (1885-1973), criador da expressão "Indústria Cultural”:

Quanto mais intensa é a preocupação do indivíduo com o poder sobre as coisas, mais as coisas o dominarão, mais lhe faltarão os traços individuais genuínos”.

Para os pensadores da Escola de Frankfurt, a indústria cultural tem um papel fundamental dentro do processo de alienação.

A suposta possibilidade de escolha traz consigo uma aparência de liberdade e aumenta o grau de alienação do indivíduo. Assim, retira-lhe as ferramentas para o questionamento do modelo imposto pela classe dominante.

Tipos de Alienação

O conceito de alienação é bem amplo e, como foi dito acima, ele contempla diversas áreas do saber.

Assim, a alienação pode ser classificada em diversos tipos dos quais se destacam:

  • Alienação Social
  • Alienação Cultural
  • Alienação Econômica
  • Alienação Política
  • Alienação Religiosa

Veja também:

Pedro Menezes
Pedro Menezes
Licenciado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Mestre em Ciências da Educação pela Universidade do Porto (FPCEUP).