O que é a Alienação do Trabalho para Marx?

Pedro Menezes
Pedro Menezes
Professor de Filosofia, Mestre em Ciências da Educação

A alienação (do latim, alienatio) significa estar fora de algo, estar alheio a algo. No caso da alienação do trabalho, ela é o efeito do trabalhador não ter acesso aos bens que ele mesmo produz.

O conceito de alienação do trabalho é um dos principais conceitos desenvolvidos por Karl Marx ao longo de sua obra.

Numa linha de produção, por exemplo, o trabalhador faz apenas parte do processo, estando completamente alheio ao produto final e, por consequência, do valor agregado ao bem a partir de seu trabalho.

Entretanto, é pelo trabalho que, ao longo da história, o indivíduo se humaniza, domina e transforma a natureza a favor de suas necessidades.

Marx, em sua obra principal, O Capital, argumenta sobre a construção da humanidade ao longo da história. Através da história compreende-se que o desenvolvimento do ser humano, desde seu início até os dias atuais, ocorreu por meio da luta de classes.

A história da sociedade até aos nossos dias é a história da luta de classes. (Marx & Engels, em O Manifesto do Partido Comunista)

Deste modo, o trabalho quando não dedicado ao interesse da humanidade, e sim de um grupo específico, torna-se trabalho alienado. O indivíduo perde sua liberdade e humanidade, torna-se apenas força de trabalho e é transformado em coisa.

Humanização pelo Trabalho

Para Marx, o trabalho é a forma como o ser humano constrói sua identidade ao superar obstáculos comuns do dia a dia, através de sua imaginação e capacidade de produção. O desenvolvimento da cultura fundamentou-se na produção, ou seja, no trabalho.

Deste modo, o ser humano diferenciou-se dos outros seres da natureza pela construção de artefatos que visavam melhorar a vida de todos. A função do trabalho é compreendida como a capacidade produzir coisas para suprir suas necessidades. No caso do trabalho como forma de humanização, o resultado obtido é o bem-estar geral.

Trabalho Alienado

Ao longo da história, a humanidade se desenvolveu a partir de uma relação antagônica entre dominadores e dominados (luta de classes), a produção passou a ter o objetivo de suprir as necessidades da classe dominante.

A classe trabalhadora, também chamada de proletariado, perde o seu lugar de destaque e deixa de ser o objetivo final de sua própria produção. Isso se dá a partir do momento em que há uma transição no modo de produção.

Anteriormente, na manufatura e no artesanato, um trabalhador era dono dos meios de produção e participava de todo o processo, desde a aquisição da matéria-prima até a venda do produto final.

Deste modo, tinha total consciência sobre valor agregado por seu trabalho, que corresponde ao valor do produto final subtraindo o valor dos custos de produção.

Na manufatura e no artesanato, o trabalhador utiliza a ferramenta; na fábrica, ele é um servo da máquina. (Marx, em O Capital)

A partir da revolução industrial, o trabalhador é alienado dos meios de produção, que passam a ser propriedade de um pequeno grupo (a burguesia). Por conseguinte, essa burguesia é, também, dona do produto final. Resta ao trabalhador, apenas, a posse de si mesmo, entendida como força de trabalho.

O trabalhador passa a ser precificado e compreendido como mais um custo dentro do processo produtivo, um análogo às máquinas e ferramentas. Esse pensamento, é responsável pela desumanização do trabalhador e a origem do trabalho alienado.

Mais-valia e Lucro na Alienação do Trabalho

O trabalho deixa de ter como objetivo o suprir as necessidades comuns e o bem-estar, para se transformar em um modo de obtenção de lucro a para a manutenção dos privilégios da burguesia.

Desse modo, a exploração do trabalho é o ponto fundamental que sustenta o capitalismo. O trabalhador é alienado de todo o processo produtivo e passa a ser dono, apenas, de sua força de trabalho.

Sendo assim, o proletariado vende seu único bem, que é a força de trabalho, e essa passa a ser posse do capitalista. O capitalista é o dono da matéria-prima, do maquinário, da força de trabalho (do trabalhador), do produto final e, por conseguinte, do lucro.

O lucro é obtido pelo trabalho realizado na transformação da matéria-prima em bem de consumo. Isso ocorre a partir da prática da mais-valia.

A mais-valia é a base do lucro e da dominação da classe trabalhadora pela burguesia. Ela é o resultado da diferença entre o valor produzido e o valor pago ao trabalhador em função de seu trabalho (salário).

Essa é uma das principais teses do marxismo, é sobre a ideia da mais-valia que diversos teóricos desenvolvem a ideia da exploração da classe trabalhadora pela classe burguesa.

O objetivo da burguesia é sempre o de maximizar os seus lucros, o trabalhador, então, é coagido a trabalhar mais, pelo mesmo preço. E, quem precifica, ou seja, diz quanto vale o trabalho, não é o trabalhador, mas o capitalista.

O trabalho alienado faz com que o indivíduo não tenha uma real noção de seu valor. Isso, aliado à necessidade de ocupar um posto de trabalho, faz com que esse indivíduo tenha de se sujeitar às regras impostas pelo seu empregador. Do contrário, há um grupo de desempregados que desejam ocupar esses postos de trabalho.

Marx chama a atenção para a função do desemprego como forma de manutenção dos baixos salários e das péssimas condições de trabalho. A esse grupo de pessoas a espera lugar em um posto de trabalho, Marx dá o nome de "exército de reserva".

A partir do momento em que um trabalhador ou trabalhadora toma consciência de sua condição de exploração e exige melhores condições de trabalho, pode, facilmente, ser substituído por um membro do exército de reserva.

Esse indivíduo, desumanizado, é compreendido como uma peça defeituosa de uma máquina na linha de montagem, que necessita de reparo ou substituição.

O trabalhador só se sente à vontade em seu tempo de folga, enquanto no trabalho se sente contrafeito. Seu trabalho não é voluntário, porém imposto, é trabalho forçado. (Marx, em Manuscritos Econômico-Filosóficos)

Processo de Reificação e o Fetichismo da Mercadoria

O indivíduo torna-se um análogo às máquinas. Vive sua vida em função de seu posto de trabalho, desumanizado, perde a posse sobre si mesmo e compreende-se como coisa.

A reificação (do latim res, que significa "coisa"), ou coisificação, da classe trabalhadora é gerada pela perda de consciência de si como individuo, como humano. Essa condição gera uma perda essencial, acarretando em um vazio existencial.

Com a valorização do mundo das coisas, aumenta em proporção direta a desvalorização do mundo dos homens.

(Marx, em Manuscritos Econômico-Filosóficos)

Por outro lado, o vazio existencial, causado pela alienação, é conduzido a ser preenchido através do consumo. O "feitiço" (fetiche) gerado pela mercadoria dá a impressão de devolver ao indivíduo sua humanidade perdida.

Os produtos passam a assumir características humanas, relacionando um modo de vida e de comportamento a um padrão de consumo.

Em um duplo movimento, os trabalhadores tornam-se coisa, enquanto os produtos tornam-se revestidos de uma aura de humanidade. As pessoas passam a se identificar através dos produtos que consomem.

O curta-metragem O Emprego (El Empleo), de 2011, é uma obra do diretor Santiago Bou Grasso (da opusBOU), que conta com mais de cem prêmios em festivais de cinema por todo o mundo.

No curta, o autor faz uma reflexão sobre o trabalho e a analogia existente entre os indivíduos e as coisas:


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Pedro Menezes
Pedro Menezes
Licenciado em Filosofia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Mestre em Ciências da Educação pela Universidade do Porto (FPCEUP).