Materialismo Histórico

Anita Sayuri Aguena
Anita Sayuri Aguena
Professora de Filosofia e Sociologia

O materialismo histórico é uma teoria que faz parte do socialismo marxista. Em seu aspecto científico, é um método que procura pensar a sociedade a partir da análise de sua realidade concreta e de seu processo histórico.

Essa corrente teórica-metodológica estuda a história humana levando em conta a relação entre a acumulação material e as forças produtivas.

Para seus expoentes, a sociedade foi se desenvolvendo através da produção de bens que satisfazem as necessidades básicas do ser humano e a partir da relação de troca entre diferentes grupos sociais.

Origem do materialismo histórico

O materialismo histórico foi criado pelos filósofos alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895).

Durante a Revolução Industrial houve crescimento dos centros urbanos nos países europeus. A desigualdade entre as classes sociais se tornou notória e isso teve forte impacto na vida social, política e no espírito humano desse período.

Desta maneira, surgiram várias teorias que buscavam explicar a origem das diferenças sociais. Uma dessas foi o materialismo histórico.

Características do materialismo histórico

Marx e Engels
Engels e Marx fundaram as bases para o materialismo histórico

Ao contrário de correntes como o idealismo, o materialismo histórico parte do pressuposto de que a vida - e tudo que é necessário para sua manutenção (trabalho, moradia, alimentação etc.) - é que determina a consciência humana, ou seja, suas crenças, ideias, cultura etc.

Assim, não há uma lei natural ou um ser maior que determina a realidade dos homens. Ao mesmo tempo, o homem não será mais essencialmente definido por sua racionalidade.

Para compreender o homem, a sua história e a maneira como se dá a sua organização social, então, é preciso olhar para a condição material.

Nesse processo, percebeu-se que o trabalho é aquilo que diferenciava os homens dos animais e que dava base às relações sociais.

O materialismo histórico buscou compreender as relações a partir da perspectiva do trabalho e da produção de bens ao longo da história.

Uma das percepções dessa concepção é que os meios de produção (fábricas, máquinas, terrenos etc.) são determinantes para caracterizar as sociedades.

Para Marx e Engels, as mudanças sociais que ocorrem na sociedade são fruto dessa conquista material e da modificação nos modos de produção que, por sua vez, determina a situação econômica dos indivíduos.

As relações entre os indivíduos passam a ser entendidas, então, por meio da troca. Ou seja, no que “cada um pode ofertar” como força produtiva.

Dentro do que se estabelece como força produtiva estão: os meios de produção e a força de trabalho (a habilidade técnica, a experiência ou o conhecimento sobre o que é produzido etc.).

A sociedade capitalista será caracterizada pela clara divisão dessas forças, estando de um lado aqueles que detém os meios de produção e, do outro, aqueles que vendem a sua força de trabalho.

Essa divisão social baseada na relação do trabalho vai existir, ao longo da história, com maior ou menor clareza.

Por ser a fonte da exploração, essa divisão é causa também dos conflitos entre as classes sociais (luta de classes). Esses conflitos, por sua vez, serão os impulsionadores de toda transformação social.

Sociedade segundo o marxismo

Para entender o conceito é preciso recordar como Marx e Engels caracterizaram a sociedade.

A classe burguesa é formada pelos detentores dos meios de produção. Já a classe proletária, recebe um salário por sua força de trabalho.

Por isso, o proletariado tem que vender a sua mão de obra para os burgueses. Esses últimos, segundo o marxismo histórico, sempre vão querer conservar o poder e obter mais lucro. Por isso vão explorar o máximo possível os empregados, seja pagando baixos salários, seja oferecendo péssimas condições de trabalho.

Insatisfeitos, o proletariado se revolta e luta contra os burgueses.

Essa luta levará a uma transformação revolucionária da ordem social e visa, segundo o pensamento marxista, o fim efetivo da divisão de classes.

É importante ressaltar que, de acordo com os estudos de Marx e Friedrich Engels, o que move a história de uma sociedade são as lutas entre as diferentes classes sociais.

Críticas ao materialismo histórico

Como toda teoria sociológica que se pretende científica e que procura apontar os fundamentos da sociedade, o materialismo histórico sofreu foi muito criticado. Destacamos três dessas críticas.

A primeira delas diz respeito à validade atemporal a que se pretende esta teoria. Será que podemos entender as relações sociais em povos pré-históricos pelos mesmos critérios que usamos para compreender as discrepâncias de uma sociedade, como a industrial?

A segunda reprovação afirma que as classes sociais não são homogêneas e também lutam entre si. Na lógica de exploração, camponeses e operários pertenceriam à mesma classe social (dos trabalhadores). Contudo, há leis trabalhistas distintas para operários urbanos e para os camponeses, o que pode levar a interpretação entre eles de que um grupo tem mais vantagens.

Finalmente, o materialismo histórico enfatiza o fator econômico como base do desenvolvimento da vida social. Assim, não se detém em outras motivações como: a influência religiosa, cultural ou militar. Essas motivações serão objetos de investigação do sociólogo Max Weber.

Materialismo dialético

O materialismo dialético é outra vertente apresentada por Marx, onde ele usa o conceito de dialética, no sentido de movimento entre opostos, para explicar as mudanças sociais.

A partir desse viés, as mudanças surgem necessariamente devido ao embate entre as forças sociais distintas.

A contradição na condição material e o acesso aos meios de produção determinam a forma de relação dos grupos sociais e é a base de seus conflitos.

Karl Marx Ver no YouTube

Leia também:

Para praticar: Questões sobre o pensamento de Karl Marx

Anita Sayuri Aguena
Anita Sayuri Aguena
Bacharela e Licenciada em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (2014), com Mestrado em História da Filosofia pela mesma universidade (2017). Atua como professora na rede privada de ensino, ministrando aulas ligadas às áreas de Filosofia e de Sociologia.