Materialismo dialético

Anita Sayuri Aguena
Anita Sayuri Aguena
Professora de Filosofia e Sociologia

Materialismo dialético, juntamente com o materialismo histórico, é uma forma metodológica usada para tentar analisar e entender os processos sociais ao longo da história.

Também chamada de filosofia do marxismo, essa metodologia foi criada por Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895). O marxismo é o nome dado às ideias desenvolvidas pelo filósofo Karl Marx, considerado um dos mais influentes pensadores do pensamento contemporâneo.

O materialismo dialético surge da percepção de que tanto a natureza quanto a sociedade e a história humana são marcadas por processos materialmente contraditórios e que se transformam.

Características do materialismo dialético

Na concepção marxista, a dialética é uma ferramenta utilizada para compreender a história.

O conceito dialético surge do grego (dialektiké), em que “dia” refere-se à ideia de “troca” e traz esse aspecto dualista ao conceito, e “lektikós” aponta para a habilidade de se falar.

Na Filosofia, “dialética” é um termo que possui diversos sentidos.

Marx, em sua teoria, aplica o termo sob o mesmo sentido de Hegel, retirando somente o caráter idealista que este atribui ao uso do conceito. Assim, a dialética aqui pode ser compreendida como “síntese entre opostos”.

Podemos pensar isso sob a seguinte forma:

  • Tese - colocação de um conceito ou sentença afirmativa;
  • Antítese - negação da tese;
  • Síntese - unidade ou certificação do par anterior.

Para o marxismo, a dialética é o que permite o reconhecimento de uma relação entre opostos na própria realidade material.

Segundo Engels: “O movimento é o modo de existência da matéria”. Assim, se observarmos a realidade tal como ela é, veremos que, ora as coisas são de um jeito, ora são de outro. Ou seja, nada permanece fixo.

Princípios ou Leis do Materialismo Dialético

Engels, em sua obra Dialética da Natureza, aponta para três leis do materialismo dialético:

1ª a lei da transformação da quantidade em qualidade, ou vice-versa: tal lei expressa que qualquer mudança na natureza deriva de um aumento ou de uma diminuição na matéria ou no movimento. Exemplo: o desenvolvimento do feto que provém do aumento celular.

2ª a lei da unidade entre contrários: por ela compreende-se que a realidade se manifesta por uma contínua transformação entre ser e não-ser. Exemplo: uma semente se transforma em planta, ou seja, deixa de ser uma semente.

3ª a lei da negação da negação: surgimento de uma síntese a partir do conflito entre tese e antítese. Exemplo: o reconhecimento de que há esse movimento entre opostos.

Mapa do materialismo dialético

mapa mental do materialismo dialético
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O materialismo dialético e a relação com a História

A realidade humana se traduz também nesse movimento. Os conflitos sociais entre grupos são exemplos dessa relação opositiva.

Assim, quando analisamos a história humana, podemos perceber que ela não é estática ou definitiva.

A história é marcada pelas transformações geradas pela ação humana sobre a realidade material e pelos conflitos resultantes dessa ação.

O homem modifica a natureza em favor da manutenção de seu corpo (de sua sobrevivência). Essa ação não só modifica o meio natural, mas modifica o próprio homem.

Ele sai de uma condição material para outra. Há, a partir daí, um desenvolvimento. Esse processo acaba afetando outros âmbitos de vida: seu pensamento, seu psicológico, sua interação social.

As conquistas materiais, então, geram uma mudança na realidade social. Disso, derivam a separação em grupos humanos e os conflitos entre eles, que serão a tônica do movimento histórico.

Pode-se dizer, nesse caso, que a condição material humana estabelece uma relação dialética com os âmbitos psicológico e social. E, por isso, os fenômenos sociais podem ser interpretados por meio da dialética.

Por meio dessa relação dialética entre o ambiente, o organismo e os fenômenos físicos, os seres humanos, a cultura e a sociedade criam o mundo, ao mesmo tempo que são modelados por ele.

Vale notar que:

o materialismo dialético é oposto ao idealismo filosófico de Hegel. Este último, acredita que o mundo material é um reflexo do mundo das ideias.

para o materialismo dialético, o corpo e a mente são indissociáveis e os seres humanos podem modificar o mundo real, e não somente observá-lo. Assim, a interação do homem com a realidade ocorre primeiro mediada pelo corpo (pelo aspecto material) e, depois, por intermédio do pensamento.

Materialismo Histórico

O materialismo histórico estuda as formas de produção da vida material das sociedades.

Essa vertente marxista afirma que as relações sociais são fruto do trabalho dos seres humanos, bem como do que produzem para suprir suas necessidades materiais.

Materialismo Mecanicista

O materialismo mecanicista é um tipo de materialismo que vigorou a partir do século XVIII. Essa vertente está intimamente relacionada com o avanço dos processos tecnológicos da Revolução Industrial.

De acordo com essa teoria filosófica, os fenômenos sociais são comparados a uma grande engrenagem mecânica.

Marx critica essa teoria, pois segundo ele, os teóricos mecanicistas não viam a realidade material como um processo em transformação, mas algo fixo.

Você Sabia?

A dialética era um método já utilizado pelos gregos na antiguidade. Um dos mais conhecidos pensadores que trabalhou com esse método foi Platão.

Em Platão, a dialética aparece aplicada em meio à prática do diálogo, prática essa que ocorre sob a forma de perguntas e respostas (procedimento socrático).

Segundo Platão, a dialética é um instrumento essencial para alcançar a verdade.

Leia também:

Para exercícios: Questões sobre Karl Marx

Referências Bibliográficas

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. Tradução de Alfredo Bosi. São Paulo : Martins Fontes, 2007.

BOTTOMORE, T. et al. Dicionário do Pensamento Marxista. Rio de Janeiro: Zahar, 1988.

COLLIN, D. Compreender Marx. 3ª ed. Tradução de Jaime A. Clasen. Petrópolis: Vozes, 2010.

PAULA, R. Z. A. de. Capitalismo: definições. São Luís: EDUFMA, 2020.

SIQUEIRA, S. M. M.; PEREIRA, F. Marx e Engels: luta de classes, socialismo científico e organização política. Salvador: Lemarx, 2014.

THALHEIMER, A. Introdução ao Materialismo Dialético: fundamentos da teoria marxista. Baseado na tradução de Luiz Monteiro. Edição da Livraria Cultura Brasileira: coleção Cultura Política e Economia. São Paulo: 2014.

Anita Sayuri Aguena
Anita Sayuri Aguena
Bacharela e Licenciada em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (2014), com Mestrado em História da Filosofia pela mesma universidade (2017). Atua como professora na rede privada de ensino, ministrando aulas ligadas às áreas de Filosofia e de Sociologia.