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Exercícios sobre as escolas literárias (com gabarito explicado)

Rodrigo Luis
Rodrigo Luis
Professor de Português e Literatura

Confira a seguir os exercícios comentados que apresentam uma revisão sobre as escolas literárias. Teste seus conhecimentos e continue praticando.

Questão 1

Cantiga de Dom Dinis

Ai flores, ai flores do verde pino
Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
Ai Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
Ai Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mh á jurado!
Ai Deus, e u é?

-Vós me preguntades polo vossamigo,
e eu ben vos digo que é san e vivo:
Ai Deus, e u é?

-Vós me preguntades polo vossamado,
e eu ben vos digo que é viv e sano:
Ai Deus, e u é?

E eu bem vos digo que é san e vivo
e seerá vosc ant o prazo saído:
Ai Deus, e u é?

E eu ben vos digo que é viv e sano
e seerá vosc ant o prazo passado:
Ai Deus, e u é?

A cantiga acima apresenta características essenciais do Trovadorismo. A principal delas é:

a) O foco em feitos heroicos masculinos próprios das cantigas de amor provençais.

b) A idealização religiosa da mulher, marcada por tom místico e moralizante.

c) A construção de crítica social implícita e sátira típica das cantigas de escárnio.

d) A voz feminina que lamenta a ausência do amado, utilizando paralelismo e refrão.

e) A narrativa objetiva sobre relações feudais e obrigações cavaleirescas.

Gabarito explicado

A cantiga apresentada é um exemplo típico de cantiga de amigo, gênero fundamental do Trovadorismo galego-português. Nela, o eu lírico é feminino, ainda que o autor seja um trovador homem (uma convenção estilística da época). A voz poética manifesta lamento e saudade pela ausência do amado, perguntando insistentemente “Ai Deus, e u é?”, o que reforça o tom de queixa amorosa. Além disso, o texto utiliza paralelismo (repetição de estruturas sintáticas) e refrão, elementos estruturais característicos desse tipo de cantiga.

Esses traços confirmam que a alternativa correta é a D, pois descreve com precisão os aspectos centrais da cantiga de amigo, em contraste com as outras alternativas, que mencionam características de outros gêneros (cantiga de amor, cantigas satíricas) ou descrevem elementos ausentes no texto.

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Questão 2

Os Lusíadas, de Camões

Canto I

As armas e os barões assinalados
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

[...]

A estrofe inicial de Os Lusíadas revela elementos centrais da estética classicista. Entre as alternativas abaixo, qual identifica corretamente esse vínculo?

a) A ênfase na construção de um herói introspectivo, cujo conflito interior antecipa aspectos da sensibilidade moderna.

b) A representação do esforço humano como inútil diante de forças superiores, característica da visão pessimista que marca a transição para o Barroco.

c) A retomada da estrutura épica e da exaltação de feitos heroicos, num modelo que dialoga com tradições greco-romanas.

d) A inserção de elementos lendários e sobrenaturais como eixo da narrativa, aproximando o poema da épica medieval e do imaginário cavalheiresco.

e) A preferência por uma linguagem espontânea e menos normativa, em ruptura com modelos poéticos anteriores.

Gabarito explicado

A alternativa C é correta porque identifica com precisão o fundamento classicista do poema: a retomada da epopeia como forma de exaltação nacional, inspirada em modelos clássicos como Ilíada, Odisseia e Eneida.

Camões mobiliza a métrica regular, o tom elevado e a celebração de feitos heroicos — todos elementos alinhados ao ideal de harmonia, equilíbrio formal e imitação dos antigos, princípios norteadores do Classicismo.

Questão 3

Formosura de D. Ângela, de Gregório de Matos

Não vi em minha vida a formosura,
Ouvia falar nela cada dia,
E ouvida me incitava, e me movia
A querer ver tão bela arquitetura.

Ontem a vi por minha desventura
Na cara, no bom ar, na galhardia
De uma Mulher que em Anjo se mentia,
De um Sol, que se trajava criatura.

Me matem (disse então vendo abrasar-me)
Se esta a cousa não é, que encarecer-me.
Sabia o mundo, e tanto exagerar-me.

Olhos meus (disse então por defenderme)
Se a beleza hei de ver matarme,
Antes, olhos, cegueis, do que eu perder-me.

No poema, reconhecem-se traços recorrentes do Barroco luso-brasileiro. Esses elementos estão bem representados pela(o)

a) descrição equilibrada e racionalizada da figura feminina, que conduz a uma visão de harmonia entre desejo e moderação.

b) exaltação da mulher como modelo de virtude moral, revelando uma adesão ao ideal clássico de contenção e perfeição formal.

c) jogo intenso de contrastes e hipérboles, que expressa conflito entre atração sensorial e temor moral, típico da dualidade barroca.

d) representação objetiva da realidade e o afastamento de metáforas, em sintonia com a intenção de revelar o mundo tal como é.

e) valorização da simplicidade linguística e da contenção emocional, aproximando o texto da estética arcádica.

Gabarito explicado

No poema, Gregório de Matos explora com força expressiva o dualismo barroco, marcado pelo conflito entre corpo e alma, desejo e culpa, luz e trevas. A mulher é apresentada por meio de hipérboles e metáforas antitéticas — ora Anjo, ora Sol encarnado — evidenciando o exagero imagético e a tensão moral que caracteriza o período. A hesitação do eu lírico diante da beleza (“Se a beleza hei de ver matar-me / Antes, olhos, cegueis…”) reforça o dilema entre atração e perigo espiritual.

Assim, apenas a alternativa C contempla de maneira precisa esses elementos. As outras alternativas deslocam o poema para estéticas distintas (Classicismo, Arcadismo, Realismo) ou negam seus recursos metafóricos essenciais.

Questão 4

Soneto "Sou Pastor", de Cláudio Manuel da Costa

Sou Pastor; não te nego; os meus montados
São esses, que aí vês; vivo contente
Ao trazer entre a relva florescente
A doce companhia dos meus gados;

Ali me ouvem os troncos namorados,
Em que se transformou a antiga gente;
Qualquer deles o seu estrago sente;
Como eu sinto também os meus cuidados.

Vós, ó troncos (lhes digo), que algum dia
Firmes vos contemplastes, e seguros
Nos braços de uma bela companhia;

Consolai-vos comigo, ó troncos duros;
Que eu alegre algum tempo assim me via;
E hoje os tratos de Amor choro perjuros.”

O soneto apresenta diversas características que permitem situá-lo no contexto do Arcadismo luso-brasileiro. Esse vínculo estético se dá a partir da(o):

a) idealização da vida pastoril como espaço de simplicidade e equilíbrio, marcada pela figura do pastor e pelo retorno simbólico à natureza.

b) uso de contraste e conflito espiritual, evidenciando a tensão entre corpo e alma que fundamenta a poética barroca.

c) exaltação do amor sublime e inacessível, associada à busca de transcendência típica do Ultrarromantismo.

d) ruptura radical com modelos europeus, privilegiando cenas urbanas e linguagem coloquial.

e) investigação psicológica profunda do sujeito, antecipando a subjetividade fragmentada do Modernismo.

Gabarito explicado

O poema apresenta elementos centrais do Arcadismo, especialmente a construção do eu lírico pastoril. Trata-se de um recurso típico da estética neoclássica, que idealiza a vida simples do campo como espaço de harmonia, moderação e naturalidade. A referência ao pastor, aos gados, à relva, aos troncos e ao ambiente bucólico evidencia o ideal locus amoenus (“lugar ameno”), conceito fundamental da poesia árcade.

A linguagem é clara e equilibrada, sem o excesso metafórico barroco ou a subjetividade exacerbada romântica. Portanto, faz-se correta a alternativa A.

Questão 5

Trecho de Iracema, de José de Alencar

“- Neste momento, Tupã não é contigo! replicou o chefe. O Pajé riu; e seu riso sinistro reboou pelo espaço como o regougo da ariranha. – Ouve seu trovão e treme em teu seio, guerreiro, como a terra em sua profundeza. Araquém proferindo essa palavra terrível, avançou até o meio da cabana; ali ergueu a grande pedra e calcou o pé com força no chão; súbito, abriu-se a terra. Do antro profundo saiu um medonho gemido, que parecia arrancado das entranhas do rochedo. Irapuã não tremeu, nem enfiou de susto; mas sentiu estremecer a luz nos olhos, e a voz nos lábios. – O senhor do trovão é por ti; o senhor da guerra será por Irapuã: disse o chefe. O torvo guerreiro deixou a cabana (…)”.

O trecho acima apresenta características marcantes do Romantismo brasileiro, especialmente em sua vertente indianista. Assinale a alternativa que melhor identifica o tratamento linguístico desse fragmento.

a) Uso de uma linguagem simples e objetiva, que busca aproximar a fala indígena do registro cotidiano urbano.

b) Emprego de estilo documental, com vocabulário técnico voltado a descrever com precisão etnográfica os costumes indígenas.

c) Construção de uma linguagem neutra, sem marcas culturais específicas, visando universalizar a narrativa e reduzir particularidades locais.

d) Utilização de vocabulário e referências simbólicas indígenas (“Tupã”, “pajé”, “ariranha”), compondo uma linguagem literária que exalta o imaginário nativo como fundamento da identidade nacional.

e) Predomínio de expressões populares e coloquialismos regionais brasileiros, aproximando o texto da estética realista.

Gabarito explicado

A alternativa D é correta porque o fragmento apresenta um dos traços centrais do Indianismo romântico: a construção de uma linguagem literária que incorpora referências ao universo indígena brasileiro. Termos como “Tupã”, “pajé”, “ariranha”, além da descrição ritualística e solene da cena, revelam a tentativa de criar um vocabulário simbólico próprio, capaz de valorizar o indígena como herói nacional e como origem mítica da brasilidade, ideia central no projeto romântico de José de Alencar.

O tratamento não é documental (como sugere B), nem coloquial (E), nem neutro (C), tampouco cotidiano urbano (A).

Questão 6

Carta de Aluísio de Azevedo sobre Machado de Assis

“E daí ainda o tipo do próprio Cubas, essa imortal encarnação do egoísmo disfarçado e da sensualidade sorrateira e comodista, tão calculada esta e tão cautelosa como o apego ao dinheiro e a exagerada previdência daquele herói a quem o autor chegou a dar este pensamento: "A avareza nada mais é que o exagero de uma virtude – a economia". E é precisamente nesta falsa moral, é nesta inversão paradoxal, que se baseiam os principais personagens de Machado de Assis, todas as suas paixões todos os seus vícios, são exagerados de virtudes, como as suas boas qualidades são vícios exagerados. Para determinar a nota característica dos seus tipos, eu precisaria de um termo que não sei ao certo qual é. Como se chamará a qualidade oposta ao exagero? Regra? Justeza? Precisão? Não sei, só sei que, nos livros de prosa de Machado de Assis a nota predominante é o exagero da qualidade oposta ao exagero, e esse poder de inversão, que assim chega a anular as qualidades, nivela os seus personagens, fazendo deles todos mais ou menos Brás Cubas. Já notou como nas adoráveis Memórias póstumas todas as figuras parecem animadas pela mesma alma egoística e sorrateira? pela mesma alma de gato, que "afaga o próprio lombo quando finge afagar a mão do dono"? Há ali Brás Cubas de todas as proporções, idades, e condições, quer masculinos, quer femininos: o Lobo Neves é tão Brás Cubas quanto o é a Virgília, o Viegas, a Sabina, o Quincas Borba, Marcela, etc., e todos eles, nas suas paixões e nas suas virtudes invertidas entre si pelo exagero no exercício das mesmas, chegam a parecer razoáveis e verossímeis, quando nada mais são que um engenhoso e interessante paradoxo.”

Transcrição publicada na seção “Páginas recolhidas” da revista Machado de Assis em linha [GUIMARÃES (Apresentação). Uma carta rara de Aluísio Azevedo sobre Machado de Assis].

A análise de Aluísio de Azevedo sobre Memórias Póstumas de Brás Cubas destaca um aspecto fundamental da estética realista machadiana. Assinale a alternativa que melhor explicita esse aspecto.

a) A elaboração de personagens cuja virtude moral elevada e coerente reforça a vocação ética da narrativa realista.

b) A preferência por uma descrição minuciosa da realidade externa, guiada por princípios científicos de observação objetiva.

c) A valorização de um narrador emocionalmente instável, cuja sensibilidade aproxima a obra de tendências românticas.

d) A criação de heróis urbanos movidos por ideais nobres, que se contrapõem às contradições morais do ambiente social.

e) A construção de personagens marcados por ambiguidade, ironia e paradoxos morais, revelando um realismo psicológico baseado na desmontagem das aparências.

Gabarito explicado

A alternativa E é correta porque corresponde diretamente ao ponto central da carta de Aluísio de Azevedo: a percepção de que Machado de Assis desenvolve personagens dominados por egoísmo, ironia, ambivalência moral, inversões paradoxais e sutileza psicológica.

Aluísio destaca que virtudes e vícios aparecem “invertidos”, que todos os personagens compartilham uma “alma egoística e sorrateira” e que essa ambiguidade é a chave do romance.

Trata-se, portanto, de um realismo psicológico, focado na desconstrução das aparências morais e na exposição da natureza contraditória do sujeito.

Questão 7

“Poema tirado de uma notícia de jornal”, de Manuel Bandeira

João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia
num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

(Libertinagem, 1930)

O poema de Manuel Bandeira integra a produção modernista brasileira da década de 1930. Considerando seu texto, assinale a alternativa que melhor identifica uma característica associada à estética modernista.

a) A construção de uma cena lírica subjetiva, marcada por musicalidade clássica e pelas regras rigorosas da métrica parnasiana.

b) A aproximação da linguagem poética ao cotidiano urbano, com destaque para figuras populares e anonimato social, revelando uma estética voltada à simplicidade coloquial.

c) A criação de um herói trágico de inspiração épica, cujo gesto final simboliza a busca de transcendência espiritual típica da fase místico-simbolista.

d) O uso predominante de imagens exóticas e nacionalistas, que celebram a grandiosidade do passado histórico brasileiro.

e) A valorização da introspecção psicológica em verso livre, evidenciando uma poética intimista de viés confessional próxima ao Romantismo.

Gabarito explicado

A alternativa B é correta porque revela o núcleo do modernismo bandeiriano nesse poema: a aproximação direta entre poesia e vida comum, adotando linguagem coloquial, versos curtos, fragmentados e sintaxe simples para representar um personagem popular (“carregador de feira livre”) que habita um espaço urbano degradado (“morro da Babilônia”, “barracão sem número”). O tom seco, quase telegráfico, reforça a estética modernista de ruptura com a retórica ornamental e com a tradição parnasiana, incorporando elementos da cidade, da marginalidade e do anonimato social.


Saiba mais em:

Movimentos literários: do Trovadorismo ao Pós-modernismo

Resumo das escolas literárias brasileiras

Rodrigo Luis
Rodrigo Luis
Professor de Língua Portuguesa e Literatura formado pela Universidade de São Paulo (USP) e graduando na área de Pedagogia (FE-USP). Atua, desde 2017, dentro da sala de aula e na produção de materiais didáticos.