Exercícios sobre as vanguardas europeias na literatura (com gabarito)
Teste seus conhecimentos sobre as principais características das vanguardas europeias, por meio de questões comentadas que ajudam a compreender melhor o seu impacto na produção artística e cultural.
Ideal para revisões escolares ou preparação para vestibulares.
Questão 1
Leia o texto de Augusto dos Anjos e observe o quadro de Edward Munch.
Texto I
Homem, carne sem luz, criatura cega,
Realidade geográfica infeliz,
O Universo calado te renega
E a tua própria boca te maldiz!
O nôumeno e o fenômeno, o alfa e o ômega
Amarguram-te. Hebdômadas hostis
Passam... Teu coração se desagrega,
Sangram-te os olhos, e, entretanto, ris!
Fruto injustificável dentre os frutos,
Montão de estercorária argila preta,
Excrescência de terra singular,
Deixa a tua alegria aos seres brutos,
Porque, na superfície do planeta,
Tu só tens um direito: — o de chorar!
"Homo Infimus", de Augusto dos Anjos.
Texto II

Tanto na pintura de Munch quanto no poema de Augusto dos Anjos, observam-se características do Expressionismo. Assinale a alternativa que melhor expressa essa relação.
a) Ambos representam a exaltação da natureza e a integração harmoniosa do ser humano com o universo.
b) Há uma idealização do corpo humano como expressão de beleza e perfeição divina.
c) Revelam uma visão otimista da condição humana, com destaque para o progresso e a racionalidade.
d) Expressam angústia existencial e sofrimento humano por meio de distorções visuais e linguagem carregada de emoção.
e) Valorizam a neutralidade emocional e a descrição objetiva da realidade sensível.
A alternativa D é a correta, porque tanto o quadro "O Grito", de Edvard Munch, quanto o soneto de Augusto dos Anjos revelam uma profunda angústia existencial e um sentimento de sofrimento humano, marcas do Expressionismo.
Na pintura, isso aparece nas formas distorcidas, nas cores vibrantes e na expressão desesperada da figura central. Já no poema, surge na linguagem carregada, nas imagens sombrias e na visão pessimista da existência.
Ambas as obras não buscam retratar a realidade objetiva, mas sim expressar emoções intensas e subjetivas, colocando para fora o drama interior do ser humano.
Questão 2
Leia o poema de Mário de Sá Caneiro, poeta português.
O resgate
A última ilusão foi partir os espelhos —
E nas salas ducais, os frisos de esculturas
Desfizeram-se em pó...Todas as bordaduras
Caíram de repente aos reposteiros velhos.
Atônito, parei na grande escadaria
Olhando as destroçadas, imperiais riquezas...
Dos lustres de cristal — as velas dʼouro, acesas,
Quebravam-se também sobre a tapeçaria...
Rasgavam-se cetins, abatiam-se escudos,
Estalavam de cor os grifos dos ornatos.
Pelas molduras dʼhonra, os lendários retratos
Sumiam-se de medo, a roçagar veludos...
Doido! Trazer ali os meus desdéns crispados!
Tectos e frescos, pouco a pouco, enegreciam;
Panos de Arrás do que não — Fui emurcheciam -
Velavam-se os brasões, subitamente errados...
Então, eu mesmo fui trancar todas as portas;
Fechei-me a Bronze eterno em meus salões ruídos...
— Se arranho o meu despeito entre vidros partidos,
Estilizei em Mim as douraduras mortas!
O poema apresenta características que o aproximam da arte cubista. Nesse contexto, assinale a alternativa que melhor identifica uma característica cubista presente no soneto.
a) Construção linear da narrativa poética, com forte apelo à lógica e à continuidade dos fatos.
b) Representação emocional e subjetiva de uma cena única, com foco no sentimentalismo romântico.
c) Fragmentação das imagens e sobreposição de planos e tempos, criando uma visão quebrada da realidade.
d) Exaltação da natureza como refúgio do eu lírico, com imagens idealizadas e harmônicas.
e) Busca de objetividade e clareza na descrição de um ambiente aristocrático e estável.
A alternativa C é a correta, porque o poema de Sá-Carneiro apresenta fragmentação das imagens, quebra de linearidade temporal e uma justaposição de cenas e sensações que se dissolvem e se sobrepõem, características centrais do Cubismo literário.
Assim como no Cubismo visual, em que o objeto é decomposto em múltiplas perspectivas simultâneas, o poema cria uma cena em ruína onde os elementos — espelhos, cetins, retratos, brasões — se desmancham diante do eu lírico, revelando não uma narrativa contínua, mas sim uma experiência estética caleidoscópica e subjetiva, marcada pela desintegração da realidade e pelo reflexo interior do sujeito.
Questão 3
Trecho do Manifesto Futurista (1909), de Filippo Tommaso Marinetti
“Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito da energia e da temeridade.
A coragem, a audácia e a rebelião serão elementos essenciais da nossa poesia.
[...]
Nós afirmamos que a magnificência do mundo se enriqueceu com uma beleza nova: a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida, com seu corpo adornado com grandes tubos como serpentes de hálito explosivo [...] é mais belo que a Vitória de Samotrácia.
[...]
Nós queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academias de qualquer espécie, e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista ou utilitária.
Nós cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela revolta [...] os navios multiformes, as locomotivas de peito largo, os aviões de hélice ruidosa [...]”
Com base no trecho e nos ideais do movimento futurista, assinale a alternativa correta.
a) O manifesto propõe uma valorização do passado clássico e das obras consagradas como forma de consolidar a identidade artística moderna.
b) O Futurismo exalta a contemplação e o equilíbrio emocional, elementos essenciais à arte simbólica do futuro.
c) A arte futurista busca o retorno às tradições morais e religiosas como forma de estabilidade em tempos de progresso.
d) O movimento celebra a modernidade, a velocidade e a ruptura com o passado, defendendo a destruição simbólica das instituições tradicionais.
e) O texto evidencia o desejo de conciliação entre a beleza antiga e os avanços da era industrial.
O Futurismo propõe uma arte ativa, energética e revolucionária, marcada pela adoração da velocidade, da máquina e da juventude, com repúdio explícito ao passado, como museus e academias. O movimento traduz a estética da modernidade e da agressividade contra o conservadorismo cultural.
Questão 4
Leia o poema de Tristan Tzara.
Receita Para Fazer Um Poema Dadaísta
Pegue um jornal.
Pegue uma tesoura.
Escolha no jornal um artigo com o comprimento que pensa dar ao seu poema.
Recorte o artigo.
Depois, recorte cuidadosamente todas as palavras que formam o artigo e meta-as num saco.
Agite suavemente.
Seguidamente, tire os recortes um por um.
Copie conscienciosamente pela ordem em que saem do saco.
O poema será parecido consigo.
E pronto: será um escritor infinitamente original e duma adorável sensibilidade, embora incompreendido pelo vulgo.
Com base no conteúdo e na forma do poema, identifique a alternativa que expressa a correta relação entre a característica vanguardista e a vanguarda a que ele pertence.
a) Criação literária baseada em regras fixas, lógica formal e fragmentação dos processos, conforme o cubismo.
b) Composição poética inspirada na harmonia da natureza e na exaltação do belo, conforme o fauvismo.
c) Experimentação com a linguagem por meio do acaso e da recusa à lógica convencional, conforme o dadaísmo.
d) Resgate das emoções como elemento potencial para construir sentido profundo, conforme o expressionismo.
e) Elaboração irracional de versos oníricos e sonoros, conforme o surrealismo.
A alternativa C é correta, porque o poema de Tristan Tzara propõe uma criação baseada no acaso, ironizando os métodos tradicionais da poesia. Essa técnica reflete a estética do Dadaísmo, que rejeita a lógica, a ordem e a beleza clássica, valorizando o nonsense, a espontaneidade e a crítica às convenções artísticas. A "receita" para fazer um poema revela o espírito provocador e experimental típico do movimento.
Questão 5
Para praticar mais sobre Literatura:
Questões sobre a literatura portuguesa (com gabarito explicado)
Exercícios de literatura para estudar para o ENEM (com questões resolvidas)
LUIS, Rodrigo. Exercícios sobre as vanguardas europeias na literatura (com gabarito). Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/exercicios-sobre-as-vanguardas-europeias-na-literatura-com-gabarito/. Acesso em: