Exercícios sobre sociologia brasileira (com respostas explicadas)
A sociologia no Brasil nasce do esforço de explicar como a história moldou nossas desigualdades sociais, raciais e regionais e a própria experiência de cidadania. Desde o início do século XX, intérpretes como Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior, Sérgio Buarque de Holanda, Florestan Fernandes e Jessé Souza examinaram a herança da escravidão, do patriarcalismo e do patrimonialismo, bem como a orientação externa da economia colonial.
Questão 1
No debate sobre a formação do Brasil, diferentes autores destacam dimensões distintas: a centralidade da escravidão e do patriarcalismo (família senhorial), o patrimonialismo e a “cordialidade” como traços da sociabilidade, e a ideia de uma colonização orientada à produção para o mercado externo, com impacto nas classes e na economia.
A associação correta entre ênfase analítica e interpretação nas principais obras da sociologia brasileira é:
a) Patrimonialismo e “homem cordial” — Raízes do Brasil.
b) Família patriarcal e escravidão como eixo — Formação do Brasil Contemporâneo.
c) Colonização de povoamento e pequena propriedade — Casa-Grande & Senzala.
d) Colonização de exploração para o mercado mundial — Raízes do Brasil.
e) Miscigenação como mito moderno — Formação do Brasil Contemporâneo.
As respostas mencionam três obras fundamentais da sociologia brasileira. Em Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda mostra como as relações pessoais e familiares (“homem cordial”) invadem a vida pública, dificultando regras impessoais típicas do Estado moderno, um tipo de relação chamada de patrimonialismo. Já Gilberto Freyre (Casa Grande & Senzala) centra a análise na família patriarcal e na escravidão, enquanto Caio Prado Jr. (Formação do Brasil Contemporâneo) destaca a colonização voltada ao mercado externo. Por isso, a associação correta é “patrimonialismo/homem cordial” na obra Raízes do Brasil.
Questão 2
“Último país a abolir a escravidão no Ocidente, o Brasil segue sendo campeão em desigualdade social e pratica um racismo silencioso mas igualmente perverso. Apesar de não existirem formas de discriminação no corpo da lei, os pobres e, sobretudo, as populações negras são ainda os mais culpabilizados pela Justiça, os que morrem mais cedo, têm menos acesso à educação superior pública ou a cargos mais qualificados no mercado de trabalho.”
(SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia)
Com base no excerto, a persistência da desigualdade racial no Brasil está ligada:
a) Ao fim de políticas afirmativas no Estado Novo.
b) À herança escravocrata e sua naturalização na vida social.
c) Ao excesso de mobilidade social pós-1988.
d) À homogeneidade étnica regional.
e) À redução de matrículas universitárias privadas.
O trecho lembra que, mesmo após o fim legal da escravidão, práticas e estruturas sociais continuaram a produzir desvantagens para a população negra (dificuldade de acesso à educação e empregos, maior violência, etc.). Isso é o que chamamos de herança escravocrata naturalizada no cotidiano. Portanto, a desigualdade atual não é apenas individual, mas tem raízes históricas e institucionais.
Questão 3
“O mesmo poderíamos dizer do caráter fundamental da nossa economia, isto é, da produção extensiva para mercados do exterior, e da correlata falta de um largo mercado interno solidamente alicerçado e organizado. Donde a subordinação da economia brasileira a outras estranhas a ela; subordinação aliás que se verifica também em outros setores. Numa palavra, não completamos ainda hoje a nossa evolução da economia colonial para a nacional.”
(PRADO JR., Caio. Formação do Brasil Contemporâneo: Colônia)
Segundo essa interpretação, um traço que marca a economia brasileira é:
a) O predomínio histórico do mercado interno sobre o externo.
b) A formação precoce de um campesinato autônomo.
c) A superação do latifúndio no século XVIII.
d) A orientação exportadora que sustenta relações de dependência.
e) A ruptura total com o passado colonial após 1822.
Conforme o trecho citado, para Caio Prado Jr., a economia colonial brasileira foi construída para exportar (açúcar, depois outros produtos como o café), sem criar um mercado interno forte. Esse padrão gerou dependência em relação aos centros externos e se prolongou no tempo. Assim, a característica marcante é a orientação exportadora que mantém a dependência econômica e política do Brasil.
Questão 4
“Aceita a ideia e a prática da revolução de cima para baixo […] o sentido da dominação burguesa se desmascara, deixando a nu sua natureza incoercivelmente autocrática […]. No entanto, a burguesia atinge sua maturidade e, ao mesmo tempo, sua plenitude de poder sob a irrupção do capitalismo monopolista, mantidas e agravadas as demais condições, que tornaram a sociedade brasileira potencialmente explosiva, com o recrudescimento inevitável da dominação externa, da desigualdade social e do subdesenvolvimento.”
(FERNANDES, Florestan. A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica)
Para Florestan Fernandes, o padrão de modernização brasileiro:
a) Foi democrático e includente desde o início.
b) Resultou de uma revolução camponesa clássica.
c) Reproduziu uma dominação burguesa de feição autocrática.
d) Suprimiu a dependência externa no período republicano.
e) Dissociou economia e política nas transformações sociais.
O sociólogo Florestan Fernandes afirma que a modernização brasileira foi feita “de cima para baixo”: mudanças econômicas e políticas ocorreram sem ampliar a democracia, ao mesmo tempo que mantiveram privilégios e reforçaram a desigualdade existente. Esse tipo de transformação revela uma dominação burguesa com traços autocráticos, pois concentra o poder nas mãos de uma elite e limita a participação popular.
Questão 5
“Se muitos são os eventos, contextos políticos e culturais que assinalam esses mais de cinco séculos de existência nacional, alguns traços insistem, teimosamente, em comparecer na agenda local. Um deles é justamente a nossa difícil e tortuosa construção da cidadania. […] É por essa razão que idas e vindas, avanços e recuos, fazem parte dessa nossa história[…] Numa nação caracterizada pelo poder de grandes proprietários rurais, muitos deles donos de imensos e isolados latifúndios que podiam alcançar o tamanho de uma cidade, autoritarismo e personalismo foram sempre realidades fortes, a enfraquecer o exercício livre do poder público[...]”
(SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia)
O texto indica que a cidadania brasileira:
a) Consolidou-se linearmente após 1888, com a abolição da escravatura.
b) Independe de estruturas de poder historicamente formadas.
c) É marcada por descontinuidades e por um personalismo que fragiliza instituições.
d) Resulta unicamente de decisões judiciais recentes, que concentram o poder nas mãos do poder judiciário.
e) É indiferente a desigualdades regionais.
O texto destaca uma trajetória irregular da cidadania no Brasil, marcada por avanços e retrocessos, além de forte autoritarismo e personalismo. Isso significa que regras e instituições muitas vezes foram enfraquecidas por interesses privados e relações pessoais. Por isso, a melhor leitura é que a cidadania é marcada por descontinuidades e pela influência de práticas que fragilizam a esfera pública.
Questão 6
“Contra a classe média, portanto, a violência da elite de proprietários que controla não só a produção material, mas também a produção intelectual e a informação, é uma violência simbólica.[...] O mecanismo principal desse tipo de dominação é uma imprensa desregulada e venal, que vende uma informação e uma interpretação da vida social enviesada pelos interesses do pacto antipopular. Isso acontece tanto porque é dependente de seus anunciantes quanto porque participa, ela própria, do mesmo esquema elitista dominante do saque e da rapina do trabalho coletivo.[...] É a grande mídia que irá assumir a função dos antigos exércitos de cangaceiros, que é assegurar e aprofundar a dominação da elite dos proprietários sobre o restante da população.”
(SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão a Bolsonaro)
No excerto, a “violência simbólica” associada à mídia:
a) Neutraliza a luta de classes ao ampliar a leitura crítica.
b) É irrelevante para a disputa política contemporânea.
c) Elimina as desigualdades socioeconômicas por meio da informação.
d) Depende exclusivamente de censura estatal explícita.
e) Opera como forma sutil de dominação, moldando percepções sociais.
A “violência simbólica” não usa força física, mas atua por mensagens, ideias e interpretações que parecem naturais. Quando a mídia apresenta a sociedade a partir de interesses de grupos dominantes, ela molda a percepção do público e reforça as hierarquias existentes. Assim, a dominação acontece de modo sutil, pela forma como os acontecimentos são narrados e enquadrados.
Questão 7
“São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.”
(Constituição Federal de 1988, art. 6º)
Considerando o artigo 6º da Constituição brasileira, a cidadania social no Brasil:
a) É garantida apenas por políticas municipais.
b) Reduz-se ao acesso ao voto.
c) Dispensa financiamento estatal.
d) Envolve direitos prestacionais que dependem de políticas públicas efetivas.
e) É incompatível com o princípio da igualdade.
O Artigo 6º da Constituição do Brasil lista direitos sociais como saúde, educação, moradia, trabalho, etc. Esses direitos não se realizam sozinhos. Eles precisam de políticas públicas (escolas, hospitais, programas de moradia, transporte) e de financiamento. Ou seja, a cidadania social depende de ações concretas do Estado para sair do papel e chegar à vida das pessoas.
Continue praticando com estas questões de Sociologia.
Referências Bibliográficas
BARROS, Celso Rocha de; AMORIM; Henrique; MACHADO, Igor José de Renó. Sociologia do seu jeito. Manual do Professor. São Paulo: Saraiva, 2026
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
FERNANDES, Florestan. A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica. 6. ed. São Paulo: Editora Contracorrente/Kotter, 2020
FREIRE, Gilberto.Casa Grande e Senzala: formação da família brasileira sob o regime de economia patriarcal. Rio de Janeiro: Record, 1997
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 26. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995
PRADO JR., Caio. Formação do Brasil Contemporâneo: Colônia. 4a. edição. São Paulo: Brasiliense, 1953
SCHWARCZ, Lilia Moritz; STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015
SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão a Bolsonaro. Rio de Janeiro: Estação Brasil, 2019
ORSI, Diogo. Exercícios sobre sociologia brasileira (com respostas explicadas). Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/exercicios-sobre-sociologia-brasileira-com-respostas-explicadas/. Acesso em: