Exercícios sobre sociologia contemporânea (com respostas explicadas)
A sociologia contemporânea examina como globalização, digitalização, crise climática e novas formas de poder reconfiguram a vida social. Analisa o trabalho em plataformas, o desenvolvimento da inteligência artificial, desigualdades de classe, raça e gênero, migrações e direitos humanos. Estuda opinião pública em redes, desinformação, polarização, movimentos sociais e economias solidárias, tudo buscando compreender a nossa sociedade.
Questão 1
“O que todas essas características dos fluidos mostram, em linguagem simples, é que os líquidos, diferentemente dos sólidos, não mantêm sua forma com facilidade. Enquanto os sólidos têm dimensões espaciais claras, mas neutralizam o impacto e, portanto, diminuem a significação do tempo (resistem efetivamente a seu fluxo ou o tornam irrelevante), os fluidos não se atêm muito a qualquer forma e estão constantemente prontos (e propensos) a mudá-la; assim, para eles, o que conta é o tempo, mais do que o espaço que lhes toca ocupar; espaço que, afinal, preenchem apenas “por um momento.”
(BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida)
À luz da metáfora de Bauman, qual ideia melhor expressa a condição social na “modernidade líquida”?
a) Predomínio de instituições estáveis e previsíveis.
b) Centralidade do território nacional como fixador de identidades.
c) Prevalência da fluidez e da mudança contínua nas relações e formas de vida.
d) Retorno a tradições sólidas e permanentes na vida cotidiana.
e) Substituição do tempo pelo espaço como referência social básica.
Bauman usa a imagem dos “líquidos” para dizer que, hoje, tudo muda rápido: empregos, relacionamentos, identidades, formas de morar e consumir. As instituições não “seguram” as pessoas como antes, e o tempo (a mudança constante) importa mais do que lugares fixos. Por isso, não cabem ideias de total estabilidade (a, d) nem de identidades presas ao território nacional (b). Também não é o espaço que manda no tempo (e), mas o contrário.
Questão 2
Em muitas leituras didáticas, a modernidade aparece ligada a narrativas universalizantes e totalizantes do conhecimento, enquanto o pós-modernismo enfatiza diferença, diversidade e fragmentação. Esse contraste ajuda a interpretar disputas contemporâneas sobre identidades, cultura e política, contrapondo pretensões de unidade a reivindicações de pluralidade e indeterminação.
De acordo com o contraste didático acima, a posição alinhada ao pós-modernismo sustenta que:
a) A história deve ser explicada por uma grande narrativa única.
b) A diversidade de subjetividades e identidades deve ganhar centralidade analítica.
c) Diferença e fragmentação são desvios que precisam ser corrigidos.
d) O universalismo moderno é o único caminho para a justiça social.
e) A heterogeneidade social impede qualquer conhecimento.
No contraste didático, a modernidade buscou grandes explicações gerais; o pós-modernismo, por sua vez, pede atenção à diversidade e às vozes múltiplas (mulheres, povos tradicionais, juventudes, periferias, etc.). Por isso, a alternativa correta valoriza a pluralidade (b). As demais ou querem uma única narrativa (a, d), tratam a diferença como “erro” (c) ou fazem da heterogeneidade um bloqueio absoluto ao conhecimento (e), o que o pós-modernismo não afirma.
Questão 3
“Uma parte básica de meu argumento será a de que a natureza das instituições modernas está profundamente ligada ao mecanismo da confiança em sistemas abstratos, especialmente confiança em sistemas peritos. Em condições de modernidade, o futuro está sempre aberto, não apenas em termos da contingência comum das coisas, mas em termos da reflexividade do conhecimento em relação ao qual as práticas sociais são organizadas. Este caráter contrafatual, orientado para o futuro, da modernidade é amplamente estruturado pela confiança conferida aos sistemas abstratos – que pela sua própria natureza é filtrada pela confiabilidade da perícia estabelecida.”
(GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade)
Segundo Giddens, a vida moderna depende de:
a) Laços comunitários locais que prescindem de perícia técnica.
b) Tradições religiosas que estabilizam o futuro.
c) Determinismos naturais que eliminam o risco.
d) Autoridades carismáticas que substituem conhecimentos técnicos.
e) Confiança em sistemas abstratos e peritos, que organizam práticas sob incerteza.
O sociólogo Anthony Giddens explica que vivemos apoiados em “sistemas abstratos” (bancos, medicina, engenharia, justiça, plataformas digitais) e na perícia de quem opera esses sistemas. Como o futuro é incerto, confiamos nessas estruturas para tocar a vida (viajar de avião, fazer uma cirurgia, usar dinheiro, estudar online). Por isso, não basta tradição (b), carisma (d) ou laços locais sem técnica (a), e não existem “leis naturais” que eliminem os riscos (c).
Questão 4
A crítica à indústria cultural ressalta a sua crescente ligação ao mercado global, frequentemente transformando expressões culturais em mercadorias e obscurecendo manifestações locais. Ao mesmo tempo, autores lembram que há resistências e tensões entre a lógica de padronização e a pluralidade de práticas culturais, que nem sempre se deixam capturar por critérios de rentabilidade.
O argumento central desse diagnóstico indica que a indústria cultural tende a:
a) Preservar integralmente tradições locais sem ajustes.
b) Rejeitar o mercado global em favor do artesanato.
c) Atuar apenas em âmbitos nacionais, nunca transnacionais.
d) Mercantilizar bens simbólicos, direcionando produção e consumo.
e) Anular toda a criatividade dos produtores culturais.
A crítica à indústria cultural aponta que o mercado global tende a transformar cultura em produto, padronizando o que é feito e consumido. Isso orienta a produção (o que “vende” ganha prioridade) e o consumo (o que “viraliza” se espalha). Isso não significa que tradições locais sempre ficam intactas (a) ou que o mercado some (b, c), nem que a criatividade morre (e). O ponto central é a mercantilização que organiza escolhas culturais.
Questão 5
“Contra a ideologia carismática segundo a qual os gostos, em matéria de cultura legítima, são considerados um dom da natureza, a observação científica mostra que as necessidades culturais são o produto da educação: a pesquisa estabelece que todas as práticas culturais (frequência dos museus, concertos, exposições, leituras, etc.) e as preferências em matéria de literatura, pintura ou música, estão estreitamente associadas ao nível de instrução […] e, secundariamente, à origem social.”
(BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento)
Para Bourdieu, o principal fator que explica a formação do “gosto” legítimo é:
a) Talento inato dos indivíduos.
b) Livre escolha estética sem mediações.
c) Processos educativos e posição social que estruturam disposições culturais.
d) Instinto biológico para obras clássicas.
e) Publicidade de massa, exclusivamente.
Bourdieu mostra que o chamado “bom gosto” não nasce “do nada” nem é só talento. Ele é aprendido na família e na escola, e está ligado à posição social. Quem circula desde cedo por livros, museus, debates e música clássica chega à escola com vantagens invisíveis. Assim, não é apenas “escolha livre” (b), “instinto” (d) ou “publicidade” (e), e muito menos um dom inato (a). O gosto é formado por educação somada à origem social moldando as preferências de cada indivíduo.
Questão 6
Debates sobre a Indústria 4.0 ressaltam um quadro ambivalente: surgem oportunidades (novos empregos, ganhos de produtividade), mas também riscos de desemprego tecnológico e ampliação de desigualdades. O resultado mais realista situa-se entre os extremos, exigindo capacitação e inclusão digital para que mais pessoas se beneficiem das transformações em curso.
Qual estratégia é coerente com esse diagnóstico?
a) Supor que a tecnologia sempre cria empregos líquidos.
b) Suspender toda inovação para proteger ocupações.
c) Ampliar capacitação e inclusão digital para reduzir assimetrias de acesso.
d) Desvincular políticas educacionais das mudanças tecnológicas vindouras.
e) Substituir escolas por plataformas automatizadas que garantirão atualização constante da força de trabalho.
A Indústria 4.0 traz ganhos (novas ocupações, produtividade) e riscos (substituição de tarefas, aumento de desigualdades). A saída responsável é formar e incluir: cursos de atualização, acesso digital, apoio à transição profissional. Não dá para apostar em “a tecnologia sempre cria empregos” (a) nem em “parar tudo” (b). Também não faz sentido separar educação das mudanças (d) ou imaginar que plataformas substituem a escola (e).
Questão 7
Expressões culturais tradicionais (como jongo, coco e cavalo-marinho) muitas vezes não nasceram subordinadas ao mercado; foram vividas em comunidade, com sentido próprio. A apropriação posterior pela indústria cultural pode reconfigurar essas práticas, mas elas continuam servindo de afirmação identitária e resistência à padronização global, preservando valor simbólico e social.
O trecho sugere que tais expressões culturais:
a) Podem resistir à mercantilização, mantendo sentidos comunitários.
b) Perdem totalmente o sentido fora do mercado e das relações de troca.
c) São exemplos de homogeneização cultural global, principalmente no Brasil.
d) Dependem apenas de patrocínio estatal para existirem e serem consumidas.
e) Devem ser convertidas em bens de consumo para sobreviver.
Muitas expressões culturais nascem na comunidade (festas, danças, ritmos) e mantêm sentido próprio, mesmo quando o mercado tenta “embrulhá-las” como produto. Por isso, podem resistir à padronização e seguir afirmando identidades locais. Não perdem o sentido fora do mercado (b), não são exemplos de homogeneização (c), não dependem só de patrocínio estatal (d) e não precisam “virar produto” para existir (e). O foco é a força comunitária dessas práticas.
Continue praticando:
Exercícios sobre Zygmunt Bauman e a modernidade líquida (com explicações)
Exercícios sobre determinismo (com gabarito comentado)
Referências Bibliográficas
BARROS, Celso Rocha de; AMORIM; Henrique; MACHADO, Igor José de Renó. Sociologia do seu jeito. São Paulo: Saraiva, 2026
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001
BOURDIEU, Pierre. A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp; Porto Alegre: Zouk, 2007
GIDDENS, Anthony. As consequências da modernidade. São Paulo: Unesp, 1991
ORSI, Diogo. Exercícios sobre sociologia contemporânea (com respostas explicadas). Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/exercicios-sobre-sociologia-contemporanea-com-respostas-explicadas/. Acesso em: