Exercícios sobre sociologia do trabalho (com gabarito explicado)
A sociologia do trabalho estuda como o trabalho é organizado e valorizado nas sociedades, analisando mudanças históricas como a passagem do fordismo ao toyotismo e a atual flexibilização marcada por terceirização, informalidade e plataformas digitais. Investiga ainda os efeitos da gestão algorítmica e da IA, bem como as desigualdades de gênero, raça e classe. Por fim, discute alternativas como economia solidária, novas formas de representação e os dilemas relacionados ao futuro do trabalho, incluindo emprego, direitos e sentido.
Questão 1
“Por exemplo, ao olhar a realidade do trabalho via plataformas digitais, constata-se que jornadas de mais de dez ou doze horas têm sido mais a regra que a exceção. (…) Nesse contexto informacional, digital e financeiro, em que os algoritmos – novo fetiche tecnológico das corporações – se convertem em programas capazes de agregar enormes volumes de informações sobre a produção de trabalhadores e trabalhadoras,(…) possibilita-se uma maior sujeição e degradação das condições de vida da classe trabalhadora.”
(Ricardo Antunes (org.). Uberização, trabalho digital e Indústria 4.0)
No contexto do trabalho por plataformas, o papel dos algoritmos descrito no texto está mais diretamente associado a:
a) Aumento automático de salários por produtividade.
b) Redução do tempo de trabalho por melhor roteirização.
c) Intensificação do controle e da sujeição do trabalhador.
d) Ampliação de direitos trabalhistas em escala global.
e) Substituição completa do trabalho humano por IA.
Justificativa: O trecho destaca algoritmos que mensuram ritmo, distância percorrida, intensidade e tempo para submeter os trabalhadores a maior controle, ampliando a sujeição e a degradação das condições de vida.
Questão 2
A difusão de inteligência artificial (IA) não elimina o trabalho em bloco, mas reconfigura tarefas, cria funções complementares e pressiona os trabalhadores por requalificação. Os efeitos variam por setor e ocupação, podendo polarizar o mercado de trabalho e intensificar ritmos e metas.
À luz dessa caracterização, qual interpretação está mais consistente com os impactos da IA no trabalho?
a) Substitui todo trabalho humano e extingue ocupações em geral.
b) Substitui rotinas, amplia o controle e exige adaptação dos trabalhadores.
c) Reduz a jornada e aumenta salários de modo uniforme.
d) Torna sindicatos desnecessários, eliminando conflitos trabalhistas.
e) Neutraliza desigualdades ao distribuir produtividade igualmente.
Justificativa: A literatura indica reconfiguração do trabalho: automação de rotinas, gestão algorítmica, novas tarefas complementares, maior polarização e necessidade de requalificação dos trablhadores; não há efeitos uniformes nem eliminação geral de empregos.
Questão 3
“Os rigorosos monitoramento e controle das empresas são normalmente acompanhados por labor intensivo e salários rebaixados. Nas atividades de entrega com bicicletas, por exemplo, (…) 55% trabalham dez ou mais horas por dia (…). [Nestes] casos, os limites legais de jornada e descanso são amplamente ignorados. Essas situações são também similares àquelas detectadas em relação aos entregadores no Reino Unido.”
(Ricardo Antunes (org.). Uberização, trabalho digital e Indústria 4.0)
O dado acima ilustra qual tendência do trabalho por aplicativos?
a) Retorno da jornada de 8 horas com proteção ampliada.
b) Equilíbrio entre vida pessoal e trabalho.
c) Aumento da negociação coletiva setorial.
d) Intensificação da jornada e descumprimento de limites legais.
e) Consolidação de pisos salariais universais.
Justificativa: Os dados citados apontam jornadas superiores a 10 horas, com desrespeito a limites legais e salários rebaixados.
Questão 4
“O trabalho autônomo é o ápice da despadronização contratual, pois é o oposto do emprego padrão; normalmente não envolve um contrato de trabalho que especifique jornada e remuneração. (…) essas pessoas assumem os riscos inerentes a fazer negócios em uma economia de mercado, sem os mesmos direitos a benefícios que os empregados tradicionais ou ‘padrão’.”
(Stephen Edgell; Edward Granter. The Sociology of Work: Continuity and Change in Paid and Unpaid Work)
De acordo com a análise acima, o crescimento do “trabalho autônomo” ao redor do mundo tende a:
a) Transferir riscos do mercado ao trabalhador e reduzir benefícios típicos de empregados.
b) Garantir benefícios iguais aos do emprego padrão.
c) Diminuir a flexibilidade numérica das empresas.
d) Aumentar automaticamente a remuneração média.
e) Eliminar a ambiguidade entre empregado e autônomo.
Justificativa: A despadronização contratual transfere riscos e reduz benefícios quando comparada ao emprego padrão. Um exemplo comum é o de trabalhadores-empresa (pejotização), que não gozam dos benefícios de trabalhadores contratados através da CLT.
Questão 5
No cotidiano de muitas famílias, mulheres dedicam horas diárias a cozinhar, limpar, cuidar de crianças, idosos e doentes, além de organizar a vida doméstica. Esse trabalho, em geral não remunerado e frequentemente invisível nas contas oficiais, garante a sobrevivência cotidiana dos trabalhadores (alimentação, descanso, cuidado) e sustenta o funcionamento do mercado, ainda que não apareça como “emprego” formal.
Do ponto de vista da sociologia do trabalho, qual interpretação está mais correta sobre o trabalho doméstico não pago realizado majoritariamente por mulheres?
a) Trata-se de uma atividade de lazer, pois é realizada no âmbito privado da família.
b) Não se relaciona com a economia, já que não gera mercadorias nem salário.
c) Constitui trabalho socialmente necessário à reprodução da força de trabalho, reduzindo o custo das empresas com salários.
d) É um conjunto de “tarefas naturais” do sexo feminino, portanto não deve ser analisado como trabalho.
e) Só se torna trabalho quando há pagamento por parte da família ou do Estado.
Justificativa: A sociologia do trabalho e os estudos sobre reprodução social mostram que o trabalho doméstico não pago é trabalho – mantém a força de trabalho (alimentação, cuidado, repouso), possibilita a presença do/a trabalhador/a no mercado no dia seguinte e reduz custos de reprodução que, se internalizados, aumentariam os gastos de empresas e do Estado. As alternativas a, b, d e e ignoram o caráter produtivo e socialmente necessário desse trabalho, sua relevância econômica e sua centralidade na divisão sexual do trabalho.
Questão 6
No Brasil, a “pejotização” ocorre quando empresas contratam trabalhadores como pessoa jurídica (PJ) para desempenhar atividades típicas de emprego (subordinação, habitualidade, onerosidade e pessoalidade), sem vínculo formal. Esse arranjo transfere riscos ao trabalhador, reduz encargos trabalhistas (FGTS, férias, 13º) e tende a desorganizar a contribuição previdenciária: muitos passam a contribuir de forma irregular ou mínima, o que fragiliza o financiamento do sistema de seguridade social (previdência, assistência e saúde), o chamado INSS.
Do ponto de vista da sociologia do trabalho e do financiamento da seguridade social, qual alternativa descreve o principal efeito estrutural da pejotização?
a) Fortalece a proteção social, pois todos os PJs contribuem mais do que empregados formais.
b) É neutra para a previdência, já que a tributação de empresas compensa qualquer perda.
c) Eleva a sindicalização e melhora a negociação coletiva, compensando perdas de receita.
d) Transfere riscos ao trabalhador e fragiliza o sistema previdenciário público.
e) Aumenta a produtividade com pleno registro contributivo, melhorando o equilíbrio atuarial.
Justificativa: A “pejotização” desloca custos e riscos para o trabalhador, elide encargos do emprego formal e estimula contribuições previdenciárias irregulares ou inferiores, o que reduz a base de financiamento da seguridade e fragiliza a proteção social. As alternativas a, b, d e e ignoram o efeito combinado de desvinculação trabalhista, queda de arrecadação e precarização das relações de trabalho.
Questão 7
“O processo de reestruturação das atividades produtivas, principalmente a partir da década de 1970, inclui inovações tecnológicas e novas formas de gestão da força de trabalho. (...) Vista por muitos como inevitável dentro da racionalidade do mercado, essa reestruturação, no entanto, tem trazido também graves problemas sociais quanto ao nível de emprego e à garantia dos direitos conquistados pelos trabalhadores ao longo do século XX.”
(Marco Aurélio Santana; José Ricardo Ramalho. Sociologia do trabalho no mundo contemporâneo)
Conforme o trecho acima e os seus conhecimentos sobre sociologia do trabalho, os impactos da reestruturação produtiva nas relações de trabalho incluem:
a) Estabilidade ampla e formalização universal.
b) Crescente informalidade e desemprego com a flexibilização do trabalho.
c) Redução da competição global e do uso de tecnologias.
d) Fim da negociação coletiva por saturação de acordos.
e) Neutralidade social das mudanças organizacionais.
Justificativa: Os autores relacionam flexibilização à informalidade e ao desemprego, como efeitos da reestruturação produtiva recente.
Continue praticando com exercício sobre trabalho e sociedade (com questões explicadas).
Referências Bibliográficas
ALVES, Giovanni. Dimensões da reestruturação produtiva: ensaios de sociologia do trabalho. 2ª ed. Londrina: Praxis; Bauru: Canal 6, 2007
ANTUNES, Ricardo (org.). Uberização, trabalho digital e Indústria 4.0. São Paulo: Boitempo, 2020
DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016
EDGELL, Stephen; GRANTER, Edward. The Sociology of Work: Continuity and Change in Paid and Unpaid Work. 3rd ed. London: SAGE, 2020
FEDERICI, Silvia. O ponto zero da revolução: trabalho doméstico, reprodução e lutas feministas. São Paulo: Elefante, 2019
SANTANA, Marco Aurélio; RAMALHO, José Ricardo. Sociologia do trabalho no mundo contemporâneo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004
ORSI, Diogo. Exercícios sobre sociologia do trabalho (com gabarito explicado). Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/exercicios-sobre-sociologia-do-trabalho-com-gabarito-explicado/. Acesso em: