🔥 Turbine seus estudos com 47% OFF
no Toda Matéria+

Inconfidência Mineira: resumo, causas, líderes e objetivos

Lucas Pereira
Lucas Pereira
Professor de História

A Inconfidência Mineira ou Conjuração Mineira foi um movimento de caráter separatista que ocorreu na então capitania de Minas Gerais, em 1789.

O objetivo era proclamar uma República independente em Minas Gerais, criar uma universidade e abolir dívidas junto à Fazenda Real.

O movimento, porém, foi descoberto antes do dia marcado para a eclosão por conta de uma delação. Com isso, seus líderes foram presos e condenados.

Neste conteúdo você encontra:

Causas da Inconfidência Mineira

A partir de 1760, a produção do ouro começa a cair anualmente em Minas Gerais. Mesmo com a diminuição da extração do metal precioso, o sistema e o valor de cobrança dos quintos devidos à coroa continuava o mesmo.

Quando o ouro entregue não alcançava 100 arrobas (cerca de 1500 kg) anuais, era decretada a “derrama”. Esta consistia em cobrar da população, pela força das armas, a quantidade que faltava.

Apesar de ter sido decretada somente uma vez, sempre pairava a ameaça que a derrama poderia se tornar realidade e isso assustava tanto os exploradores de ouro como o restante da população.

Além disso, o custo de vida em toda a região crescia rapidamente. Somada à redução da produção aurífera, grande parcela da população passasse a se endividar.

Com isso, os mineradores deixaram de fazer pagamentos aos comerciantes, agricultores e traficantes de escravos, que também foram afetados com a crise.

Igualmente, o Alvará de 1785, agravou a situação. Esta lei determinava o fechamento de manufaturas no Brasil, obrigando a população a consumir apenas produtos importados e de alto preço.

Nessa época, as ideias do Iluminismo circulavam pela capitania de Minas Gerais, apesar da forte censura. Politicamente, seus pensadores defendiam temas como a liberdade e a soberania popular. Também criticavam o absolutismo e o mercantilismo econômico, o que foi uma grande influência para os líderes da Inconfidência.

Estas ideias foram trazidas por estudantes brasileiros que tinham realizado cursos superiores na Europa e também através de livros.

Importante ressaltar que os envolvidos nesta conspiração tomavam como exemplo a Independência dos Estados Unidos.

Ali, os colonos, revoltados contra o sistema fiscal de sua metrópole, tinham conseguido a independência da Inglaterra. Isto animou a elite mineradora a conspirar contra a metrópole.

Principais causas
  • Queda da produção de ouro a partir de 1760: o que gerou crise econômica na região.

  • Manutenção dos altos impostos (quinto): mesmo com a diminuição da extração de ouro.

  • Ameaça constante da derrama: que assustava a população e aumentava o descontentamento.

  • Endividamento dos mineradores e funcionários coloniais: causado pela escassez de ouro e pelo aumento do custo de vida.

  • Efeito em cadeia da crise econômica: atingindo comerciantes, agricultores e traficantes de escravos.

  • Alvará de 1785: que proibiu manufaturas locais e obrigou o consumo de produtos importados e caros.

  • Influência das ideias iluministas: que defendiam liberdade, igualdade e questionamento da autoridade.

  • Exemplo da Independência dos Estados Unidos: que inspirou a elite mineradora a lutar contra o domínio português.

Objetivos da Inconfidência Mineira

Os Inconfidentes tinham uma série de propostas para a capitania de Minas Gerais como:

  • Romper com Portugal e adotar um regime republicano (a capital seria São João del Rei);
  • Criar indústrias;
  • Fundar uma universidade em Vila Rica;
  • Acabar com o monopólio comercial português;
  • Adotar o serviço militar obrigatório;
  • Instituir parlamentos locais que seriam subordinados a um parlamento regional.

A bandeira do novo país seria um pavilhão que conteria a frase latina Libertas quae sera tamen (Liberdade ainda que tardia). Mais tarde, um desenho semelhante e o lema seriam a base para a criação da bandeira do Estado de Minas Gerais.

Outro modelo da Bandeira da Inconfidência Mineira que consiste em dois triângulos azuis, um branco e um vermelho sobre fundo branco tendo ao centro um índio rompendo algemas e o lema
Proposta da bandeira da Inconfidência Mineira, com as cores da Revolução Francesa e um indígena rompendo grilhões

Outro aspecto importante é que a Inconfidência Mineira não propôs o fim da escravidão. Como muitos de seus idealizadores faziam parte das elites locais e eram proprietários de pessoas escravizadas, essa ideia não avançou.

A revolta deveria ter início no dia da derrama. A estratégia era aproveitar da insatisfação popular e conquistar o rápido apoio ao movimento de Independência.

No entanto, os planos dos inconfidentes foram frustrados porque alguns participantes da conspiração procuraram o governador, Visconde de Barbacena, para delatar o movimento.

Foram eles: o coronel Joaquim Silvério dos Reis, o tenente-coronel Basílio de Brito Malheiro do Lago e o mestre de campo (militar) Inácio Correia Pamplona.

Tiradentes, que viajava para o Rio de Janeiro a fim de adquirir armas, foi preso naquela cidade, no dia 10 de maio de 1789.

Após três anos sendo processados, todos os participantes foram perdoados ou condenados ao degredo. Somente Tiradentes foi condenado à morte e executado no dia 21 de abril de 1792, no campo de São Domingos, no Rio de Janeiro. Após o cumprimento da sentença, o corpo foi esquartejado e ficou exposto à execração pública.

Contudo, a figura de Tiradentes seria posteriormente recuperada pelo regime republicano que o transformou num mártir da liberdade.

Inclusive, dia 21 de abril, data da morte de Tiradentes, é feriado nacional, o Dia de Tiradentes, a fim de lembrar a Inconfidência Mineira.

Os Inconfidentes: líderes da Inconfidência Mineira

Participantes da Conjuração Mineira juram sobre a bandeira do movimento que trazia um triângulo verde sobre um fundo branco e o lema 'Liberdade ainda que tardia'
Bandeira da Inconfidência - 1789: Os Inconfidentes. Carlos Oswald, c.1939. Academia de Polícia Militar (MG)

Os inconfidentes eram, em sua maioria, grandes proprietários, mineradores, padres e letrados, como Cláudio Manuel da Costa.

Oriundo de família enriquecida na mineração, havia estudado em Coimbra e foi alto funcionário da administração colonial. Por sua parte, Alvarenga Peixoto era minerador e latifundiário.

Tomás Antônio Gonzaga, escritor e poeta, depois de estudos jurídicos na Europa, tornou-se ouvidor (juiz) em Vila Rica.

Francisco de Paula Freire, tenente-coronel e comandante do Regimento dos Dragões (tropa militar de Minas Gerais), estava hierarquicamente logo abaixo do governador.

Joaquim José da Silva Xavier, chamado de Tiradentes, era filho de um pequeno fazendeiro e ganhou a vida como militar, dentista, tropeiro e comerciante.

Foi o mais popular entre os conspiradores e, embora não tenha sido o idealizador do movimento, teve papel importante na propagação das ideias revolucionárias junto à população.

Inconfidência ou Conjuração Mineira

O termo "Inconfidência" vem sendo questionado por alguns estudiosos.

"Inconfidência" significa "falta de fé ou de fidelidade, especialmente em relação ao Estado ou a um soberano", segundo o Dicionário On-line de Português. Por sua parte, a palavra "conjuração" é definida como "Associação de pessoas que, secreta ou clandestinamente, conspiram contra um governo" pelo mesmo dicionário.

O termo "inconfidente" seria a visão da metrópole em relação aos envolvidos e, dificilmente, eles gostariam deste vocábulo para descrever estes acontecimentos.

O historiador Kenneth Maxwell se expressou nestes termos sobre esta discussão, por ocasião do Bicentenário da Inconfidência, em 1989:

(...) a palavra inconfidência vem dos donos do poder e não da oposição. Vem da contra-revolução e não da revolução; e, enfim, o objeto das nossas comemorações é uma revolução frustrada, não uma repressão bem-sucedida. É bom que estejamos bem claros sobre isto.

Consequências da Inconfidência Mineira

Embora derrotada, a Inconfidência Mineira foi um episódio importante no questionamento das estruturas coloniais. Sua mobilização e a difusão de suas ideias contribuíram para a insatisfação dos colonos perante às atitudes abusivas da Coroa Portuguesa.

Além disso, trata-se do primeiro movimento político a defender a emancipação política na América Portuguesa. Ainda que restrito a Minas Gerais, o movimento contribuiu para consolidar a ideia de ruptura com a metrópole entre a sociedade brasileira.

O episódio serviu de inspiração para movimentos posteriores, e tornou-se um símbolo da luta pela liberdade, especialmente a partir do período republicano.

Após a proclamação da República, a memória da Inconfidência e de Tiradentes foi resgatada e celebrada. O governo republicano construiu em torno do personagem uma imagem de um mártir pela liberdade e pela república, que deu a própria vida para combater os excessos do absolutismo político.

Conjuração Baiana

A Conjuração Baiana ou Revolta dos Alfaiates foi um movimento ocorrido em Salvador (BA), em 1798, com o intuito de proclamar a independência desta província.

Também foi influenciada pelo Iluminismo e seus membros foram delatados ao governador que prendeu os participantes antes de os planos serem postos em prática.

Por isso, vemos que ambas revoltas têm o mesmo contexto histórico e possuem objetivos semelhantes.

No entanto, há uma diferença fundamental entre ambas as revoltas. Enquanto a Conjuração Baiana tinha um caráter popular e defendia a abolição da escravidão, a Inconfidência Mineira nunca adotou essa pauta.

Afinal, boa parte dos inconfidentes em Minas Gerais pertenciam às elites locais e possuíam escravos. Dessa forma, seus objetivos nunca incluíram o fim da escravidão no Brasil.

Mapa mental

Mapa mental sobre Inconfidência Mineira.
Clique para aumentar.

Para praticar: Atividades sobre Inconfidência e Tiradentes

Leia também:

Referências Bibliográficas

MAXWELL, Kenneth. Conjuração mineira: novos aspectos. Estud. av., São Paulo , v. 3, n. 6, p. 04-24, Ago. 1989. https://doi.org/10.1590/S0103-40141989000200002. Último acesso em: 22 de Junho de 2020.

SCHWARCZ, Lilia M; STARLING, Heloisa M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015

Lucas Pereira
Lucas Pereira
Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Estadual de Campinas (2013), com mestrado em Ensino de História pela mesma instituição (2020). Atua como professor de História na educação básica e em cursos pré-vestibulares desde 2013. Desde 2016, também desenvolve conteúdos educativos na área de História.