Preconceito Linguístico: entenda o que é (com exemplos)

Márcia Fernandes
Revisão por Márcia Fernandes
Professora licenciada em Letras

Preconceito linguístico é aquele gerado pela comparação da língua aprendida conforme a gramática normativa e a língua falada, por exemplo:

  • um sulista que considera sua maneira de falar superior aos que vivem no norte do país;
  • comparar a forma de falar de uma pessoa que vive na capital do estado com a de uma pessoa que vive no interior;
  • utilizar palavras pejorativas e depreciativas para se referir a pessoas através de um estereótipo associado às variedades linguísticas (o caipira, o baiano, o nordestino, o roceiro, dentre outros).

Comparar a gramática normativa com a língua falada é um engano, porque a língua falada apresenta uma série de variações linguísticas. As variações linguísticas dependem, por exemplo, do seu contexto, da sua localização geográfica e histórica.

Para o linguista Marcos Bagno, que se dedicou a analisar o tema do preconceito linguístico, não existe uma forma certa ou errada dos usos da língua.

Para Bagno, o preconceito linguístico, gerado pela ideia de que existe uma única língua correta (baseada na gramática normativa), colabora com a prática da exclusão social.

Preconceito linguístico no Brasil

O Brasil possui dimensões continentais e, embora todos falemos a língua portuguesa, ela apresenta diversas variações e particularidades regionais.

Apesar disso, o preconceito linguístico é notório no nosso país. Muitos indivíduos consideram sua maneira de falar superior a de outros grupos, por exemplo, um sulista que considera sua maneira de falar superior aos que vivem no norte do país.

Importante destacar que o preconceito linguístico acontece no teor de deboche e pode gerar diversos tipos de violência (física, verbal, psicológica). Os indivíduos que sofrem com o preconceito linguístico podem adquirir problemas de sociabilidade ou mesmo distúrbios psicológicos.

Os sotaques que se distinguem - não somente nas cinco regiões do Brasil, mas também num próprio estado - são os principais alvo de discriminação, por exemplo, uma pessoa que vive na capital do estado e uma pessoa que vive no interior.

Geralmente, quem está na capital acredita que sua maneira de falar é superior à maneira de falar das pessoas que habitam o interior do estado. Assim, utilizam palavras depreciativas, associados às variedades linguísticas, para se referir às pessoas (o caipira, o baiano, o nordestino, o roceiro, dentre outros).

Sobre esse assunto, o escritor Marcos Bagno afirma em sua obra "Preconceito Linguístico: o que é, como se faz":

“É um verdadeiro acinte aos direitos humanos, por exemplo, o modo como a fala nordestina é retratada nas novelas de televisão, principalmente da Rede Globo. Todo personagem de origem nordestina é, sem exceção, um tipo grotesco, rústico, atrasado, criado para provocar o riso, o escárnio e o deboche dos demais personagens e do espectador. No plano lingüístico, atores não nordestinos expressam-se num arremedo de língua que não é falada em lugar nenhum do Brasil, muito menos no Nordeste. Costumo dizer que aquela deve ser a língua do Nordeste de Marte! Mas nós sabemos muito bem que essa atitude representa uma forma de marginalização e exclusão. (...) Se o Nordeste é “atrasado”, “pobre”, “subdesenvolvido” ou (na melhor das hipóteses) “pitoresco”, então, “naturalmente”, as pessoas que lá nasceram e a língua que elas falam também devem ser consideradas assim... Ora, faça-me o favor, Rede Globo!”

Esse tipo de preconceito atinge muitos grupos considerados de menor prestígio. Entretanto, vale lembrar que todas as variações linguísticas são aceitas e devem ser consideradas um valor cultural e não um problema.

Exemplos de preconceito linguístico

Na obra Preconceito Linguístico: o que é, como se faz, de Marcos Bagno, constam alguns exemplos de preconceito linguístico analisados pelo autor:

  • "Brasileiro não sabe português / Só em Portugal se fala bem português.”
  • “As pessoas sem instrução falam tudo errado.”
  • “O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão.”
  • “O certo é falar assim porque se escreve assim.”
  • “É preciso saber gramática para falar e escrever bem.”

Os exemplos acima constam do primeiro capítulo da obra, que o autor chama de "A mitologia do preconceito linguístico”, onde Bagno apresenta 8 mitos:

Mito n° 1A língua portuguesa falada no Brasil apresenta uma unidade surpreendente”: o autor aborda a unidade linguística e as variações que existem no território brasileiro.

Mito n° 2Brasileiro não sabe português” / “Só em Portugal se fala bem português”: apresenta as diferenças entre o português falado no Brasil e em Portugal, onde a língua portuguesa é considerada superior e mais correta.

Mito n° 3Português é muito difícil”: baseado em argumentos sobre a gramática normativa da língua portuguesa, ensinada em Portugal, e suas diferenças entre o falar e escrever dos brasileiros.

Mito n° 4As pessoas sem instrução falam tudo errado”: preconceito pelas pessoas que têm um baixo nível de escolaridade. Bagno defende essas variantes da língua e analisa o preconceito linguístico e social gerado pela diferença da língua falada e da norma padrão.

Mito n° 5O lugar onde melhor se fala português no Brasil é o Maranhão”: mito criado em torno desse estado, considerado o local onde se fala o português mais correto, uma vez que está intimamente relacionado com o português de Portugal.

Mito n° 6O certo é falar assim porque se escreve assim”: aqui o autor apresenta diferenças entre as diversas variantes no Brasil e a utilização da linguagem formal (culta) e informal (coloquial).

Mito n° 7 É preciso saber gramática para falar e escrever bem”: aborda sobre o fenômeno da variação linguística e a subordinação da língua a norma culta. Para ele, a gramática normativa passou a ser um instrumento de poder e de controle.

Mito n° 8O domínio da norma culta é um instrumento de ascensão social”: decorrente das desigualdades sociais e das diferenças das variações em determinadas classes sociais. Assim, as variedades linguísticas que não são padrão da língua são consideradas inferiores.

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Referências Bibliográficas

BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico: o que é, como se faz. 49. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2007.

Márcia Fernandes
Revisão por Márcia Fernandes
Professora, produz conteúdos educativos (de língua portuguesa e também relacionados a datas comemorativas) desde 2015. Licenciada em Letras pela Universidade Católica de Santos (habilitação para Ensino Fundamental II e Ensino Médio) e formada no Curso de Magistério (habilitação para Educação Infantil e Ensino Fundamental I).
Daniela Diana
Edição por Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.