Prova de Linguagens e Ciências Humanas ENEM 2025 (com gabarito explicado)
Reunimos todas as questões da prova de Linguagem e Ciências Humanas do ENEM 2025, com gabarito oficial explicado pelos nossos professores! Veja o gabarito da sua prova e refaça todas as questões para ver as explicações detalhadas.
Gabarito oficial - PROVA AMARELA
Gabarito oficial - PROVA BRANCA
Gabarito oficial - PROVA VERDE
Questão 1 - Inglês
Glory Ames, from the White Earth reservation, is frustrated that despite the presence of several indigenous reservations near Moorhead, local Halloween stores still feature a western section with costumes such as “pow wow princess”.
Even worse, despite a long-running debate about racism and cultural appropriation, often prompted by backlash against celebrities and politicians for donning offensive costumes, people continue to wear such costumes.
Last Halloween, Ames spotted a photo on Instagram of a girl dressed as a Native American with a bullet in her forehead. She immediately reported it to the social media platform and had it removed.
“They blatantly take certain aspects of our culture, race, religion, and use it for their advantage and ignore the people living it”, said Ames.
LIU, M. C. M. Disponível em: www.washingtonpost.com. Acesso em: 12 maio 2024 (adaptado).
Ao abordar um aspecto da celebração do Halloween, esse texto tem por objetivo
A) denunciar a violência contra crianças indígenas.
B) descrever costumes tradicionais em celebrações indígenas.
C) valorizar as vestimentas características dos povos originários.
D) criticar a exploração indevida de elementos da identidade indígena.
E) sugerir ações de combate ao preconceito contra os povos originários.
Resposta: D) criticar a exploração indevida de elementos da identidade indígena.
O texto relata a frustração de uma indígena diante do uso de fantasias que exploram e distorcem elementos da cultura indígena em festas de Halloween. O texto menciona a apropriação cultural e o uso de aspectos culturais indígenas de forma desrespeitosa.
Análise das alternativas:
A) denunciar a violência contra crianças indígenas.
Incorreto. O texto não menciona violência física contra crianças.
B) descrever costumes tradicionais em celebrações indígenas.
Incorreto. O texto não descreve celebrações indígenas, mas sim o uso indevido de seus elementos.
C) valorizar as vestimentas características dos povos originários.
Incorreto. O foco não é valorizar, mas sim criticar o uso indevido.
D) criticar a exploração indevida de elementos da identidade indígena.
Correto. O texto critica o uso de fantasias e elementos indígenas de forma desrespeitosa. Exemplo: uma menina vestida com uma fantasia de americana nativa com uma bala na testa.
e) sugerir ações de combate ao preconceito contra os povos originários.
Incorreto. O texto não sugere ações, apenas denuncia a situação.
Observações:
- O texto aborda apropriação cultural e preconceito, focando na crítica ao uso desrespeitoso de símbolos indígenas.
- Atenção para não confundir denúncia de violência física com crítica à apropriação cultural.
Questão 2 - Inglês
My idea of philosophy is that if it is not relevant to human problems, if it does not tell us how we can go about eradicating some of the misery in this world, then it is not worth the name of philosophy. I think Socrates made a very profound statement when he asserted that philosophy is to teach us proper living. In this day and age “proper living” means liberation from the urgent problems of poverty, economic necessity and indoctrination, mental oppression.
DAVIS, A. Lectures on Liberation. Washington: Smithsonian Libraries, 1971 (adaptado).
Nesse texto, ao discorrer sobre a relevância da filosofia, a escritora Angela Davis tem por objetivo
A) criticá-la pela restrição temática.
B) vinculá-la ao universo acadêmico.
C) afastá-la da abordagem socrática.
D) aproximá-la dos problemas sociais.
E) responsabilizá-la pela pobreza humana.
Resposta: D) aproximá-la dos problemas sociais.
No texto, Angela Davis tem por objetivo aproximar a filosofia dos problemas sociais.
A autora afirma que a filosofia deve ser relevante para os problemas humanos. Ela cita Sócrates ao dizer que a filosofia deve ensinar o ʼviver corretamenteʼ, que, no contexto atual, significa enfrentar problemas como pobreza, necessidade econômica, doutrinação e opressão mental.
Análise das alternativas:
A) criticá-la pela restrição temática.
Incorreto. Não é o foco do texto.
B) vinculá-la ao universo acadêmico.
Incorreto. O texto critica esse isolamento.
C) afastá-la da abordagem socrática.
Incorreto. O texto valoriza Sócrates.
D) aproximá-la dos problemas sociais.
Correto. Corresponde ao objetivo do texto.
E) responsabilizá-la pela pobreza humana.
Incorreto. Não é dito no texto.
Observações:
- A principal ideia do texto é que a filosofia deve ser prática e ligada à resolução de problemas sociais.
- Uma dificuldade comum é confundir a crítica à filosofia acadêmica com a responsabilização da filosofia pelos problemas sociais, o que não ocorre no texto.
Questão 3 - Inglês
Remember the sky that you were born under,
know each of the starʼs stories.
Remember the moon, know who she is.
Remember the sunʼs birth at dawn. [...]
Remember your birth, how your mother struggled
to give you form and breath [...]
Remember the earth whose skin you are:
red earth, black earth, yellow earth, white earth
brown earth, we are earth.
Remember the plants, trees, animal life who all have their
tribes, their families, their histories, too [...]
Remember you are all people and all people are you.
Remember you are this universe and this universe is you.
Remember all is in motion, is growing, is you.
HARJO, J. She Had Some Horses. Londres: W. Norton & Company, 1983 (fragmento).
Nesse poema, de uma autora de ascendência indígena, o eu lírico ressalta a
A) potência dos astros celestes.
B) origem das plantas e dos animais.
C) importância do apego à terra natal.
D) relação entre seres humanos e natureza.
E) conexão entre o tempo real e o tempo imaginário.
Resposta: D) relação entre seres humanos e natureza.
O poema ressalta a conexão entre os seres humanos e a natureza, destacando a importância de lembrar e valorizar as origens, a terra, os animais, as plantas e as histórias das pessoas.
O poema de Joy Harjo enfatiza a lembrança da origem (céu, sol, lua, nascimento), da terra (diferentes tipos de solo), dos animais e plantas, e da ancestralidade (famílias, histórias). Também fala sobre a conexão entre todos esses elementos e o próprio leitor, sugerindo uma unidade entre pessoas e o universo, por exemplo: "Remember you are this universe and this universe is you".
Análise das alternativas:
A) potência dos astros celestes
Inocrreto. O poema menciona astros, mas não foca em seu poder.
B) origem das plantas e animais.
Incorreto. O poema cita plantas e animais, mas o foco é mais amplo.
C) importância do apego à terra natal.
Incorreto. Fala sobre a terra, mas não se restringe ao apego à terra natal.
D) relação entre seres humanos e natureza.
Correto. O poema mostra a interligação entre seres humanos, natureza e universo.
E) conexão entre tempo real e imaginário.
Incorreto. Não há menção direta sobre tempo real e imaginário.
Observações:
- O poema destaca a integração entre pessoas, natureza e universo.
- Atenção para não confundir elementos citados (como astros ou terra natal) com o foco principal do texto.
Questão 4 - Inglês
It is true that all children are special, simply because they are children. But most adults are not special, and children end up as adults pretty quickly. Life then can be difficult and even disappointing. The shock of this may account for the emergence of the “snowflake generation” of university students, who are so delicate they canʼt handle controversial ideas being put forward in their lectures. The roots of this fragility run deep in modern culture. So, an approach of the world that states: “Life is wonderful, youʼre special and, if you are a good boy/girl, life will be amazing forever” is not a message designed to aid bouncing back from failure or confronting catastrophe. Resilience is not about feeding ego – telling your children how wonderful they are – but strengthening it.
LOTT, T. Disponível em: www.theguardian.com. Acesso em: 10 dez. 2017 (adaptado).
Nesse texto, a expressão “snowflake generation” é usada para
A) abordar obstáculos impostos a universitários.
B) destacar mensagens de incentivo a estudantes.
C) estimular ações proativas em situações de emergência.
D) retratar relações conflituosas em ambiente universitário.
E) apontar posturas de uma juventude avessa a contrariedades.
Resposta: E) apontar posturas de uma juventude avessa a contrariedades.
O texto fala sobre como a chamada "snowflake generation" refere-se a estudantes universitários tão delicados que não conseguem lidar com ideias controversas apresentadas em palestras ("they canʼt handle controversial ideas being put forward in their lectures").
Análise das alternativas:
A) abordar obstáculos impostos a universitários.
Incorreto. O texto não discute obstáculos impostos e que não conseguem lidar com reações diante de situações controversas.
B) destacar mensagens de incentivo a estudantes.
Incorreto. Não se trata de destacar mensagens de incentivo, mas sim do impacto negativo de mensagens excessivamente positivas.
C) estimular ações proativas em situações de emergência.
Incorreto. O texto não fala de atitudes proativas em emergências.
D) retratar relações conflituosas em ambiente universitário.
Incorreto. O texto menciona a incapacidade de lidar com ideias controversas, mas não fala sobre atitudes diante disso, só da falta de capacidade de lidar com o controverso.
E) apontar posturas de uma juventude avessa a contrariedades.
Correto. O texto aborda a dificuldae de lidar com posturas avessas e contrariedade. Não conseguir lidar não deixa de ser uma postura, por serem incentivados a acharem que são perfeitos e acharem que resiliência é sobre alimentar o ego ("resilience is not about ego")
Observações:
- O termo "snowflake generation" é usado de forma crítica para indicar fragilidade diante de conflitos.
- Atenção para não confundir incentivo com crítica à falta de resiliência.
Questão 5 - Inglês

Disponível em: https://pt.foursquare.com. Acesso em: 14 maio 2024.
Nesse texto, a pergunta “What is sleep?”, em uma das embalagens do produto, está relacionada ao(à)
A) escassez de horas de sono.
B) estímulo a um descanso de qualidade.
C) gasto com bebidas que combatem a insônia.
D) consumo de bebidas que causam dependência.
E) necessidade de um produto que provoque o sono.
Resposta: A) escassez de horas de sono.
Na imagem, há três copos com inscrições diferentes:
- "What is sleep?" (O que é sono?)
- "Slept 5-7 hours" (Dormiu 5-7 horas)
- "Slept 8-10 hours" (Dormiu 8-10 horas)
A pergunta "What is sleep?" sugere que a pessoa não dormiu o suficiente a ponto de nem saber mais o que é sono, indicando uma grande falta de descanso.
Análise das alternativas:
A) escassez de horas de sono.
Correto. A pergunta indica que a pessoa praticamente não dormiu.
B) estímulo a um descanso de qualidade.
Incorreto. Não há sugestão de incentivo ao descanso.
C) gasto com bebidas que combatem a insônia.
Incorreto. Não há menção de insônia, mas sim de falta de sono.
D) consumo de bebidas que causam dependência.
Inocorreto. Não há menção à dependência.
E) necessidade de um produto que provoque o sono.
Incorreto. A imagem não sugere isso.
Observações:
- A imagem faz referência ao consumo de bebidas (provavelmente café) por pessoas que dormem pouco.
- A pergunta "What is sleep?" é irônica, indicando exaustão extrema e falta de sono.
- Atenção para não confundir o contexto da pergunta com outras opções que falam de insônia ou dependência.
Questão 1 - Espanhol
¿Dónde está nuestro pan, patrón?
¿Dónde quedó todo ese dinero?
¿Lo tiene oculto bajo el colchón
o lo escondió en otro sucio agujero?
Yo tengo un Tàpies, dice Juan Luis;
yo tengo un Antonio López, dice Jaume.
¿Quién de los dos sabrá decir
cuántos muertos tiene a sus espaldas?
NACHO VEGAS. Disponível em: www.lahiguera.net. Acesso em: 12 abr. 2024 (fragmento).
Na letra da canção Polvorado, ao apresentar as reflexões do eu poético, o cantor espanhol Nacho Vegas
A) demonstra o orgulho dos trabalhadores para com artistas de referência.
B) critica a postura dos patrões frente aos direitos dos trabalhadores.
C) apresenta propostas para diminuir as desigualdades sociais.
D) evidencia o diálogo horizontal entre patrão e trabalhadores.
E) questiona a insalubridade do ambiente de trabalho.
Resposta: B) critica a postura dos patrões frente aos direitos dos trabalhadores.
O eu poético questiona onde foi parar o dinheiro (“¿Dónde quedó todo ese dinero?”) e acusa o patrão de esconder a riqueza e isso denuncia uma provável exploração e o descaso com os trabalhadores, pois as canções de Nacho Vegas geralmente tratam de crítica social ou política.
Questão 2 - Espanhol
Guagua, las palabras también migran
Pocas palabras del idioma castellano despiertan tanto interés y asombro como guagua. En España su uso se reduce a las Islas Canarias, donde se registra a partir de los años 30 del pasado siglo. El origen de guagua resulta algo polémico. Todo parece indicar que la voz vino de Cuba. La trajeron de vuelta, junto con sus maletas y sus recuerdos, aquellos inmigrantes canarios que viajaron a la isla antillana en busca de fortuna. Recientemente en Lanzarote, las autoridades acuñaron “guagüismo” para potenciar el uso del transporte público y han solicitado a la Real Academia Española que introduzca dicho término en el diccionario.
El origen de guagua cambia si nos vamos al sur del continente. Autobús no es la única acepción de la palabra guagua que se usa en América. En los países del sur, tales como Colombia, Argentina o Perú, como una derivación del término quechua wáwa, también se le dice guagua a un niño de pecho o bebé. Algunos autores chilenos han defendido también que esta acepción de guagua como bebé proviene del idioma mapuche. Sea uno u otro el origen, es común en todo el cono sur oír a hombres y mujeres hablar con ternura de sus “guaguas lindas”.
Disponível em: www.escribirbienyclaro.com. Acesso em: 13 maio 2024.
Ao abordar a trajetória da palavra “guagua”, o texto destaca a
A) presença de empréstimo linguístico no espanhol.
B) validação de um vocábulo por uma instituição renomada.
C) concorrência entre línguas indígenas e a língua espanhola.
D) valorização da língua de um país em detrimento da de outro.
E) disputa entre hispano-americanos e espanhóis por sua origem.
Resposta: A) presença de empréstimo linguístico no espanhol.
O texto discute a origem e o uso da palavra "guagua" em diferentes países de língua espanhola, mostrando como ela foi incorporada ao espanhol de diferentes formas e com diferentes significados.
Análise das alternativas:
A) a presença de empréstimo linguístico no espanhol.
Correto. O texto enfatiza que "guagua" provavelmente veio do cubano, mostrando um empréstimo linguístico que migrou para outros países de fala espanhola.
B) validação de uma palavra por uma instituição renomada.
Incorreto. O texto menciona que foi solicitada a inclusão da palavra na Real Academia Espanhola, mas não foca nisso como tema central.
C) concordância entre línguas indígenas e a língua espanhola.
Incorreto. O texto fala de possíveis origens, mas não destaca a concordância entre línguas indígenas e espanhol.
D) valorização da língua de um país em detrimento da de outro.
Incorreto. Apesar de mencionar diferenças de uso, o foco é a migração da palavra, não as diferenças em si.
E) disputa entre hispano-americanos e espanhóis por sua origem.
Incoreto. O texto menciona polêmica, mas não destaca uma disputa direta.
Observações:
- O texto mostra como palavras podem migrar entre países e ganhar novos significados.
- Atenção para não confundir menções secundárias (como a Real Academia) com o foco principal do texto.
Questão 3 - Espanhol
Cuando yo era chiquito
todo quedaba cerca, cerquita.
Para llegar al cielo
no más bastaba una subidita.
El sueño me alcanzaba
para ir tan lejos como quería.
Cuando yo era chiquito
yo sí podía, yo sí podía.
Libertad, libertad,
libertad para mi niño.
[...]
Cuando yo era vejigo
me iba paʼl río porque era hermoso,
aunque estaba prohibido,
por peligroso, por peligroso.
Como jagüey y ceiba,
como la palma y la yagruma,
cuando yo era vejigo
yo era del monte y soñaba espuma.
Libertad, libertad,
libertad para mi niño.
RODRÍGUEZ, S. Cuando yo era un enano. In: Oh Melanccolía. Havana: Empresa de Grabaciones y Ediciones Musicales, 1988 (fragmento).
O recurso que caracteriza essa letra de canção como um relato das memórias do eu poético é o uso de:
A) palavras no grau diminutivo.
B) adjetivos na descrição da paisagem.
C) vocábulos relacionados à fauna cubana.
D) verbos no pretérito imperfeito do indicativo.
E) marcas linguísticas de uma variedade caribenha.
Resposta: D) verbos no pretérito imperfeito do indicativo.
No texto aparece algo de cada uma das alternativas, tanto palavras no diminutivo, quanto descrição da paisagem, quanto palavras relacionadas à fauna cubana, quanto expressões típicas caribenhas, porém o enunciado pede o recurso que caracteriza a canção como um relato de memórias, portanto, a alternativa correta é a letra D, pois os verbos no pretérito imperfeito do indicativo são exatamente aqueles que nos remetem às lembranças e memórias.
O pretérito imperfeito do indicativo é o tempo verbal usado para descrever ações habituais, estados contínuos e descrições no passado. É o tempo principal usado para recontar memórias e ambientar uma cena no passado.
Evidência no Texto: O poema inteiro é construído em torno de verbos neste tempo verbal, que estabelecem o contexto de "como as coisas costumavam ser":
"Cuando yo era chiquito..." (Quando eu era pequeno...)
"...todo quedaba cerca..." (...tudo ficava perto...)
"...no más bastaba una subidita." (...apenas bastava uma subidinha.)
"El sueño me alcanzaba..." (O sonho me alcançava...)
"...como quería." (...como [eu] queria.)
"...yo sí podía." (...eu sim podia.)
"me iba paʼl río..." (Eu ia para o rio...)
"...porque era hermoso..." (...porque era bonito...)
"...aunque estaba prohibido..." (...embora estivesse proibido...)
"...yo era del monte y soñaba espuma." (...eu era do monte e sonhava com espuma.)
Esses verbos não descrevem uma única ação concluída, mas sim o estado e os costumes do passado, que é a essência de uma memória.
Questão 4 - Espanhol

MORGAN, J. Disponível em: www3.gobiernodecanarias.org. Acesso em: 5 maio 2024.
Na charge, a diversidade linguística está representada pelo uso de:
A) estruturas verbais com valor de futuro próximo.
B) expressões idiomáticas características de uma região.
C) advérbios característicos do repertório vocabular dos jovens.
D) marcas da oralidade expressas na representação escrita da fala.
E) enunciados interrogativos em situação comunicativa com um interlocutor.
Resposta: D) marcas da oralidade expressas na representação escrita da fala.
Toda a graça da charge vem justamente disso, da escrita reproduzindo uma fala coloquial ou regional e distorcendo a ortografia para refletir o som dela.
Portanto, a alternativa correta é a letra D, marcas da oralidade expressas na representação escrita da fala.
A pergunta foca em como a diversidade linguística é representada na charge. A diversidade, neste caso, não é sobre o que é dito, mas como é dito.
O cartunista representa a fala do personagem de forma fonética, imitando a pronúncia de uma variedade específica do espanhol (provavelmente uma variedade popular ou regional, como a canária, de onde o cartunista é, ou caribenha), que difere da norma culta escrita.
Essas "marcas da oralidade" são a principal ferramenta para demonstrar essa variação linguística. Vejamos os exemplos:
- "Vamo" em vez de "Vamos" (supressão do "s" final, comum em muitas variedades do espanhol).
- "Sortá" em vez de "Soltar" (supressão do "r" final do infinitivo).
- "Yogüise" que é uma representação fonética de "Yo qué sé" (Eu sei lá / Sei não).
- "Acogehla" em vez de "Acogerla" (substituição do "r" por uma aspiração "h" antes do pronome "la").
As outras opções estão incorretas porque:
(A) estruturas verbais com valor de futuro próximo: O uso de "ir + a + infinitivo" ("van a hacer", "vamo a sortá") é uma estrutura padrão em quase todo o mundo hispânico, não sendo em si uma marca de diversidade, mas sim o modo como ela é pronunciada ("vamo", "sortá").
(B) expressões idiomáticas: Não há expressões idiomáticas claras; "soltar uma pomba" é literal no contexto do Dia da Paz.
(C) advérbios... dos jovens: Os advérbios usados ("luego", "ahí") são comuns e padrão, não são gírias jovens.
(E) enunciados interrogativos: O uso de perguntas é uma característica universal do diálogo, não uma marca de diversidade linguística.
Questão 5 - Espanhol
¿Qué es la generación Alfa?
Hacer cortes generacionales no es una ciencia exacta. Sin embargo, según un análisis de 2018 del centro de estudios Pew Research Center, analizar las generaciones ofrece “una manera de entender cómo los acontecimientos globales y los cambios tecnológicos, económicos y sociales interactúan para definir la forma en que la gente ve el mundo”. Y está claro cómo ve el mundo la próxima generación: a través de una pantalla.
“Antes las generaciones se definían a partir de sucesos históricos o sociales importantes. Hoy se delimitan por el uso de determinada tecnología”, le explica a BBC Mundo un psicólogo, docente, escritor y experto en el uso — y abuso — de las redes sociales.
Ninguna de las generaciones anteriores será comparable a nivel digital con los Alfa, que, como contraparte, serán la primera a la que le serán ajenos muchos aspectos del mundo analógico.
Disponível em: www.bbc.com. Acesso em: 9 maio 2024 (adaptado).
Nesse texto, a expressão "a través de una pantalla" evidencia que a geração Alfa estabelece com o mundo uma relação marcada pelo(a):
A) conflito etário.
B) efemeridade da tecnologia.
C) dependência de recursos digitais.
D) valor dos acontecimentos sociais.
E) indiferença em relação a fatos históricos.
Resposta: C) dependência de recursos digitais.
A expressão destacada é "através de uma tela". Isso sugere que a geração Alfa interage com o mundo principalmente por meio de dispositivos digitais (telas de celulares, tablets, computadores, etc).
Análise das alternativas:
A) conflito etário.
Incorreto. Não há menção a conflitos entre gerações no texto.
B) efemeridade da tecnologia.
Incorreto. O texto fala sobre a forma de interação, não sobre a rapidez com que a tecnologia muda.
C) dependência de recursos digitais.
Correto. O texto destaca que a geração Alfa vê o mundo por meio de telas, ou seja, depende de recursos digitais para interagir com o mundo.
D) valor dos acontecimentos sociais.
Incorreto. O texto não discute o valor dos acontecimentos, mas sim o meio pelo qual eles são acessados.
E) indiferença em relação a fatos históricos.
Incorreto. O texto não sugere indiferença, apenas uma nova forma de interação.
Observações:
- O foco da expressão é a mediação digital na relação da geração Alfa com o mundo.
- Atenção para não confundir "dependência" com "indiferença" ou "conflito"; a questão trata do meio de interação, não de sentimentos ou relações entre gerações.
Use o texto a seguir para responder as questões 6, 7, 8, 9 e 10:

Questão 6
No que diz respeito ao gênero bilhete, a autora dessa crônica:
A) ressalta a formalidade na comunicação com as pessoas de sua convivência.
B) critica a ansiedade causada pela velocidade da comunicação.
C) expressa a obrigatoriedade de concisão nas anotações.
D) questiona a prática da escrita de próprio punho.
E) apresenta a diversidade de usos no cotidiano.
No que diz respeito ao gênero bilhete, a autora dessa crônica: E) apresenta a diversidade de usos no cotidiano.
A autora menciona o bilhete ao descrever o uso da escrita manual em sua casa, em espaços delimitados como a geladeira, para comunicação com os filhos. Ela diz: "Olhando ao redor, na minha casa, minha letra está em espaços muito delimitados e específicos: bilhetes. Eles estão principalmente na cozinha, em especial na porta da geladeira, a fim de manter a comunicação com meus coabitantes, sempre muito esquecidos ou relapsos" (linhas 24-28).
Ela também menciona usá-la em outros bilhetes e anotações: "Ainda alio a minuta pensar sempre como se tudo fosse excludente. Estão aí minha farta comunicação por bilhetes, minha gaveta alegre de post its de toda cor, esperando para serem usados, e o cheque do cartório, em que quase tudo já é digital" (linhas 42-44). O foco, portanto, está na permanência e diversidade de usos desse gênero em seu dia a dia.
Questão 7
O elemento que caracteriza esse texto como uma crônica é a:
A) defesa das opiniões da autora sobre um tema de interesse coletivo.
B) exposição sobre o uso de tecnologias nas práticas de escrita atuais.
C) abordagem de fatos do contexto pessoal em uma perspectiva reflexiva.
D) utilização de recursos linguísticos para a interlocução direta com o leitor.
E) apresentação de acontecimentos segundo a ordem de sucessão no tempo.
O elemento que caracteriza esse texto como uma crônica é a: C) abordagem de fatos do contexto pessoal em uma perspectiva reflexiva.
A crônica é um gênero textual que se caracteriza pela reflexão sobre fatos do cotidiano, muitas vezes a partir de experiências pessoais. O texto começa com uma lembrança da autora ("Estranhei muito na primeira vez que escutei a expressão ʼde próprio punhoʼ") e desenvolve uma reflexão sobre a evolução da escrita, a convivência entre o manuscrito e o digital, e o significado dessas práticas em sua vida. A subjetividade e a perspectiva pessoal ("minha letra," "minha casa") sobre um tema de interesse geral (a escrita) são marcas da crônica.
Questão 8
Nesse texto, o que caracteriza a escrita “de próprio punho” é a letra manuscrita, enquanto a escrita digital é ilustrada pelo(a)
A) utilização de tecnologias diversificadas.
B) desenvolvimento de novos recursos de escrita.
C) possibilidade de interações mediadas por telas.
D) diversidade de fontes tipográficas que estão disponíveis.
E) delimitação dos espaços onde a produção textual ocorre.
Nesse texto, o que caracteriza a escrita “de próprio punho” é a letra manuscrita, enquanto a escrita digital é ilustrada pelo(a) D) diversidade de fontes tipográficas que estão disponíveis.
A escrita "de próprio punho" é a letra manual, caligrafia ("autenticidade da minha caligrafia"). A escrita digital é contrastada por elementos como "teclados de computador," "tecnologias" e, especificamente, pela escolha visual que substitui a singularidade da mão. A autora aponta que, ao digitar, em vez da singularidade da letra, "aparecem Times New Roman, Arial, Calibri e mais uma centena de ʼletrasʼ à minha escolha" (linhas 19-21), o que se refere diretamente à diversidade de fontes tipográficas (tipos de letra) que um programa de computador oferece.
Questão 9
A autora conclui que as novas tecnologias de escrita:
A) evoluem para facilitar a vida cotidiana.
B) alcançam diferentes realidades sociais.
C) coexistem com outras já estabelecidas.
D) promovem maior agilidade na comunicação.
E) surgem nos contextos em que são necessárias.
A autora conclui que as novas tecnologias de escrita: C) coexistem com outras já estabelecidas.
A ideia central do texto não é o triunfo do digital sobre o manual, mas sim a convivência das formas de escrita. No trecho final, ela afirma: "Ainda alio a minuta pensar sempre como se tudo fosse excludente" (linha 42) — ou seja, ela não pensa mais que o digital substitui o manual. Ela mostra que o manuscrito ainda existe em seu cotidiano (bilhetes, post its) junto com o digital. A conclusão é sintetizada na mudança da expressão "Do punho ao pixel" para "O negócio é mais ʼo punho e o pixelʼ" (linha 45), indicando que as duas formas coexistem e não são mutuamente excludentes.
Questão 10
O recurso linguístico usado para marcar a síntese da opinião da autora sobre a temática desenvolvida foi o(a):
A) emprego da primeira pessoa em “Estranhei muito na primeira vez que escutei a expressão ‘de próprio punho’”. (l. 1)
B) utilização de locução adverbial em “Na verdade, o que importava era a autenticidade da minha caligrafia”. (l. 3-4)
C) uso de pronome possessivo em “Minha letra, hoje, tem uma espécie de alternância”. (l. 5-6)
D) adoção de termo autorreflexivo em “No escritório, costumo ser mais suave comigo mesma”. (l. 30)
E) substituição da expressão “Do punho ao pixel” (l. 44) pela expressão “o punho e o pixel”. (l. 45)
O recurso linguístico usado para marcar a síntese da opinião da autora sobre a temática desenvolvida foi o(a): E) substituição da expressão “Do punho ao pixel” (l. 44) pela expressão “o punho e o pixel”. (l. 45)
A expressão final "O negócio é mais ʼo punho e o pixelʼ" (linha 45) é a síntese, o fechamento reflexivo da crônica.
- A expressão original, implícita em "Do punho ao pixel", sugere uma progressão ou substituição (do manual para o digital).
- Ao mudar para "ʼo punho e o pixelʼ", ela utiliza a conjunção aditiva "e" para marcar a ideia de coexistência das duas formas de escrita, encerrando o texto com sua opinião final sobre a temática desenvolvida ao longo de toda a crônica.
Questão 11
— Vejo, disse ele com algum acanhamento, que o doutor não é nenhum pé-rapado, mas nunca é bom facilitar... Minha filha Inocência fez 18 anos pelo Natal, e é rapariga que pela feição parece moça de cidade, muito arisca linha de modos, mas bonita e boa deveras... Coitada, foi criada sem mãe, e aqui nestes fundões. [...]
— Ora muito bem, continuou Pereira caindo aos poucos na habitual garrulice, quando vi a menina tomar corpo, tratei logo de casá-la.
— Ah! É casada? perguntou Cirino.
— Isto é, e não é. A coisa está apalavrada. Por aqui costuma labutar no costeio do gado para São Paulo um homem de mão-cheia, que talvez o sr. conheça... o Manecão Doca... — Não, respondeu Cirino abanando a cabeça.
— Pois isso é um homem às direitas, desempenado e trabucador como ele só... Fora estes sertões todos e vem tangendo pontes de gado que metem pasmo. Também dizem que tem bichado muito e ajuntado cobre grosso, o que é possível, porque é gastador nem dado a mulheres. Uma feita que estava aqui de pousada... olhe, mesmo neste lugar onde vocês inda agorinha, falei-lhe em casamento... isto é, dei-lhe uns toques... porque os pais devem tomar isso a si para bem de suas famílias; não acha?
— Boa dúvida, aprovou Cirino, dou-lhe toda a razão; era do seu dever.
TAUNAY, A. DE E. Inocência. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 29 fev. 2024.
Nesse trecho, ao referir à sua filha, o pai de Inocência reproduz os ideais românticos, presentes na:
A) valorização do ambiente rural na formação moral da mulher.
B) figura decorativa da mulher ante o protagonismo masculino.
C) equivalência de origem social para a harmonia do casal.
D) importância do dote como condição para o casamento.
E) aura de mistério sobre a identidade da jovem.
Resposta: B) figura decorativa da mulher ante o protagonismo masculino.
Em “Inocência”, obra ligada à vertente regionalista do romantismo nacional, Taunay apresenta o retrato do homem do interior como um homem vinculado aos valores patriarcais. Assim, quando o pai da moça expõe suas ideias, ele expõe o patriarcalismo, por meio de um sujeito rude que valoriza a pureza e a honra familiar encontrada na submissão da mulher; no trecho em questão, a personagem ressalta o zelo que o pai deve ter com o futuro da filha, determinando quem será o seu marido.
Questão 12
O Ministério do Esporte no Brasil lançou o programa Maré Inclusiva, em 2024, ano dos Jogos Paralímpicos de Paris. Esse programa visa ampliar as oportunidades para pessoas com deficiência que desejam praticar o surf. O parasurf é a prática do surf adaptada para permitir que pessoas com deficiência pratiquem o esporte em todas as suas categorias, modalidades e manifestações. Para a Secretaria Nacional do Paradesporto, a iniciativa é mais do que um programa de esporte, é uma iniciativa que busca transformar vidas e promover a inclusão por meio do parasurf, criando um legado de igualdade e respeito.
Disponível em: www.gov.br/esporte. Acesso em: 6 set. 2024 (adaptado).
De acordo com esse texto, o programa voltado ao estímulo da prática do parasurf evidencia a
A) adesão de diferentes países a programas inclusivos.
B) preocupação política em atender a demandas paralímpicas.
C) importância de uma política pública esportiva para a inclusão.
D) eficiência das iniciativas de inclusão em megaeventos esportivos.
E) escassez de investimento em práticas corporais de aventura na natureza.
Resposta: C) importância de uma política pública esportiva para a inclusão.
Explicação
O texto descreve o lançamento do programa Maré Inclusiva pelo Ministério do Esporte no Brasil (uma instituição pública), visando ampliar as oportunidades para pessoas com deficiência praticarem o parasurf.
O trecho ressalta que a iniciativa "é mais do que um programa de esporte, é uma iniciativa que busca transformar vidas e promover a inclusão por meio do parasurf, criando um legado de igualdade e respeito."
O Maré Inclusiva é, em sua essência, uma política pública esportiva (uma ação governamental organizada) cujo principal objetivo é a inclusão e a transformação social de pessoas com deficiência, destacando a relevância do esporte adaptado como ferramenta de cidadania e igualdade.
Questão 13
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.
§ 1º O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.
§ 2º Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.
BRASIL. Lei n. 10.639/2003. Disponível em: www.gov.br/planalto. Acesso em: 5 maio 2024.
O emprego da norma-padrão é justificado nesse texto:
A) pela especialização de seu público-alvo.
B) pela relevância cultural de seu conteúdo.
C) pelos contextos pedagógicos em que circula.
D) pela importância para os grupos étnico-raciais.
E) pelas características do gênero a que pertence.
Resposta: E) pelas características do gênero a que pertence.
Explicação
O texto apresentado é o Art. 26-A da Lei n. 10.639/2003. Leis, decretos, portarias e outros documentos normativos e jurídicos pertencem a gêneros textuais que exigem o uso da norma-padrão (ou norma culta) da língua.
As características do gênero legislativo (como uma lei) incluem:
Formalidade e Impessoalidade: A linguagem deve ser clara, precisa, objetiva e sem marcas de subjetividade.
Clareza e Precisão: Para evitar ambiguidades na aplicação da norma.
Autoridade: O texto representa o poder do Estado e deve ser redigido com a formalidade que esse poder exige.
Portanto, o emprego da norma-padrão é uma exigência estrutural e funcional do gênero textual lei, que visa regulamentar a vida em sociedade e garantir a segurança jurídica.
Questão 14

Nesse cartaz publicitário, os recursos verbais e não verbais constroem um argumento que objetiva:
A) divulgar a obra de Fernando Pessoa no Brasil.
B) valorizar a realização de eventos literários no país.
C) ressaltar o impacto da leitura na vida das pessoas.
D) fomentar o turismo cultural na cidade de São Paulo.
E) evidenciar a influência de Pessoa na literatura brasileira.
A alternativa correta é a C) ressaltar o impacto da leitura na vida das pessoas.
O cartaz utiliza recursos verbais e não verbais para construir um argumento central sobre a transformação pessoal que a leitura e a participação na Bienal do Livro promovem.
Recursos Verbais
- Slogan principal: "Você entra Fernando. E sai Pessoa." Este jogo de palavras não se refere apenas ao autor, mas principalmente ao significado de "Pessoa" (indivíduo, ser humano). A mensagem é que, ao entrar (na Bienal), você se transforma em uma pessoa mais completa, reflexiva ou desenvolvida.
- Slogan secundário: "Todo mundo sai melhor do que entrou." Esta frase reforça explicitamente a ideia de melhoria e impacto positivo na vida do leitor/visitante.
Recursos Não Verbais
Imagem da cabeça: A cabeça do homem (que se assemelha a Fernando Pessoa com óculos) não está vazia. Ela contém imagens que representam cultura, conhecimento, arte, e história (o próprio Fernando Pessoa, uma mulher com chapéu, um bonde, paisagens urbanas). Isso simboliza que o interior da mente é enriquecido e preenchido por novas ideias e experiências após o contato com a cultura e a leitura.
Questão 15
O retrato como gênero da pintura ocidental ficou vinculado às elites, tornando invisíveis as populações que não faziam parte do círculo dominante. Num país de tradição escravocrata e colonizado por europeus como o Brasil, pouquíssimas pessoas negras e indígenas foram retratadas em pintura, e menos ainda identificadas com seus nomes nos retratos. Daí a importância, para a história da arte e para a história brasileira, dos retratos de Dalton Paula.
Figura 1

PAULA, D. Zeferina. Óleo sobre tela, 59 × 44 cm. Masp, São Paulo, 2018.
Figura 2

PAULA, D. João de Deus Nascimento. Óleo sobre tela, 59,5 × 44 cm. Masp, São Paulo, 2018.
Disponível em: www.masp.org.br. Acesso em: 5 maio 2024 (adaptado).
Ao dar protagonismo a Zeferina e a João de Deus Nascimento, o artista Dalton Paula evidencia que a(s):
A) arte pode promover formas de afirmação de identidade social.
B) comunidades periféricas passam a adquirir o gênero retrato.
C) personagens retratadas simbolizam a sociedade brasileira.
D) pintura funciona como instrumento de ascensão social.
E) imagens tradicionais preservam memórias afetivas.
A alternativa correta é a A) arte pode promover formas de afirmação de identidade social.
O texto introdutório estabelece que, historicamente, o gênero retrato na arte ocidental ficou vinculado às elites, tornando invisíveis as populações que não faziam parte do círculo dominante, especialmente em países como o Brasil, com um legado escravocrata.
A Contribuição de Dalton Paula
- O artista Dalton Paula, ao retratar Zeferina (uma líder quilombola histórica) e João de Deus Nascimento (um músico negro e abolicionista), inverte essa lógica.
- Protagonismo: Ele escolhe como tema figuras negras e indígenas que foram marginalizadas ou apagadas da narrativa oficial.
- Gênero Retrato: Ele utiliza o gênero tradicionalmente reservado à elite (o retrato) para imortalizar e dar visibilidade a essas figuras históricas.
- Afirmação: Ao fazer isso, a obra de Dalton Paula retira essas figuras da invisibilidade e as coloca em um espaço de destaque e importância (o MASP). Essa ação artística funciona como uma ferramenta de reparação histórica e valorização cultural, promovendo a afirmação da identidade social de grupos que foram sistematicamente excluídos da representação artística dominante.
Questão 16
Símbolos
Eu e tu, ante a noite e o amplo desdobramento
do mar, fero, a estourar de encontro à rocha nua...
Um símbolo descubro aqui, neste momento
esta rocha, este mar... a minha vida e a tua.
O mar vem, o mar vai, nele há o gesto violento
de quem maltrata e, após, se arrepende e recua.
Como compreendo bem da rocha o sentimento!
São muito iguais, por certo, a minha mágoa e a sua.
Contemplo neste quadro a nossa triste vida;
tu és dúbio mar que, na sua inconsciência,
tem carinhos de amor e fúrias de demência!
Eu sou a dor estanque, a dor empedernida,
sou rocha a emergir de um côncavo de areia,
imóvel, muda, isenta e alheia ao mar, alheia.
MACHADO, G. Poesia completa. Rio de Janeiro: Cátedra/MEC, 1978.
Nesse soneto, os traços da estética simbolista são resgatados pelo eu lírico ao:
A) rejeitar as emoções de “amor” e “mágoa”.
B) expressar a dubiedade do olhar sobre o outro.
C) representar o “eu” e o “tu” como sujeitos volúveis.
D) associar a sua inconsciência a elementos da natureza.
E) metaforizar o conflito amoroso nas imagens de “mar” e “rocha”.
Resposta: E) metaforizar o conflito amoroso nas imagens de “mar” e “rocha”.
Explicação
O Simbolismo é uma estética que busca sugerir, evocar e expressar o mundo interior, a subjetividade e a transcendência por meio de símbolos e metáforas.
Neste soneto ("Símbolos"), o eu lírico faz o seguinte:
- Estabelece Símbolos: Ele declara: "Um símbolo descubro aqui, neste momento / esta rocha, este mar... a minha vida e a tua" (linhas 3-4).
- Metaforiza o Conflito Amoroso: O "eu" e o "tu" (os sujeitos do conflito) são representados por elementos da natureza:
- O "tu" é o "mar" — "dúbio mar que, na sua inconsciência, / tem carinhos de amor e fúrias de demência!" (linhas 10-11), representando a inconstância e a dualidade.
- O "eu" é a "rocha" — "Eu sou a dor estanque, a dor empedernida, / sou rocha a emergir de um côncavo de areia, / imóvel, muda, isenta e alheia ao mar, alheia" (linhas 12-14), representando a solidez, a dor fixa e o isolamento.
O traço simbolista está justamente na utilização dessas imagens da natureza (mar e rocha) como metáforas para o drama e o conflito de sentimentos vivenciados pelos amantes.
Questão 17
Antes do inverno chegar.
Ela tinha olhinhos brilhantes. Os mesmos de antes. Antes da fome. Antes das 17 mudanças de cidade. Dos sete filhos e dos muitos anos de trabalho dentro e fora de casa.
Ela fazia ambrosia, bolo de fubá e pedacinhos de queijo. Antes do inverno, ela plantava flores novas e diferentes para nos esperar nas próximas férias de verão.
Ela tinha o jeito de menina. Menina sapeca, correndo na grama seca do cerrado. O mesmo jeito de antes. Antes do marido (e mesmo com o marido). Antes do cansaço dos anos. Antes da dureza do trato com a terra.
Ela tinha histórias. Compridas, curtas, divertidas e verdadeiras. Mas isso foi antes. Antes das lembranças se bagunçarem feito bolas coloridas de Natal esperando para serem montadas na árvore.
Eu era sua neta. Antes do Alzheimer chegar, eu era sua neta. Mas ela é e sempre será minha avó.
PERSON, C. R. Borboletas no estômago: porque às vezes o título precisa ser adolescente e clichê, já que a vida exige sermos tão adultos. São Paulo: Ed. das Autoras, 2021.
A narradora, ao resgatar memórias da história de vida da avó, faz uso recorrente da locução antes de. Esse termo colabora para a progressão temática na medida em que:
A) relaciona eventos ocorridos simultaneamente.
B) estabelece uma comparação entre as lembranças.
C) ressalta fatos que ressignificam o momento presente.
D) sinaliza uma sequência que denota ações consecutivas.
E) apresenta uma explicação para as memórias resgatadas.
Resposta: C) ressalta fatos que ressignificam o momento presente.
Explicação
A locução "antes de" (ou a repetição de "antes") é uma marca temporal que estabelece um contraste entre o passado e o presente.
O Presente: É marcado pelo Alzheimer, pela perda da memória da avó ("Mas isso foi antes. Antes das lembranças se bagunçarem...") e pela perda da interação como era antes ("Eu era sua neta. Antes do Alzheimer chegar, eu era sua neta.").
O Passado (o "Antes"): É um tempo de plenitude, marcado por "olhinhos brilhantes," "ambrosia," "flores novas," e "histórias."
Ao evocar esse passado vívido e rico, a narradora não apenas o contrasta com o presente de esquecimento, mas o ressignifica. As memórias resgatadas (o "antes") afirmam o valor e a identidade da avó, garantindo que, apesar da doença atual, ela "é e sempre será minha avó." O passado glorificado é usado para dar sentido e dignidade à relação no presente, que é doloroso.
Questão 18
Com 20 anos de experiência no futebol de alto rendimento, Marina, ex-jogadora da seleção brasileira de futebol, salienta que, por trás do espetáculo apresentado nas mídias, com mensagens de motivação e superação, o esporte não é tão inclusivo assim. "É esta análise que devemos fazer: aqueles atletas que estão ali estão trazendo uma alta performance a partir dos seus limites", explica. Para a profissional, é preciso analisar com cautela a "ideia romântica que a mídia passa para os telespectadores". A realidade é muito mais dura do que as imagens espetaculosas que principalmente a televisão busca transmitir para a audiência. "Por trás existe um ser humano, a gente não pode nunca esquecer isso. Aquela pessoa treinou insistentemente para estar ali, durante meses, semanas e temporadas. Duas vezes ao dia, de duas a quatro horas", pondera Marina. Atualmente, as crianças e os jovens vislumbram o sucesso profissional e a boa-vida financeira de poucos atletas que se destacam e estampam os meios de comunicação. Tudo parece ser muito mais fácil do que realmente é quando apenas as conquistas são mostradas.
ROSOLEN, N. Disponível em: www.uninter.com. Acesso em: 10 maio 2024 (adaptado).
Nesse texto, a visão crítica de uma ex-atleta de futebol revela que:
A) os meios de comunicação invisibilizam as dificuldades presentes no esporte.
B) o treinamento atlético de alto nível é desestimulante para os indivíduos.
C) o trabalho contínuo é desvalorizado no contexto esportivo profissional.
D) as ações de incentivo financeiro a jovens atletas são precárias.
E) as publicações da mídia esportiva rotulam atletas iniciantes.
Resposta: A) os meios de comunicação invisibilizam as dificuldades presentes no esporte.
Explicação
A ex-atleta Marina apresenta uma visão crítica sobre a forma como o esporte é retratado pela mídia:
- A Visão da Mídia (a "Ideia Romântica"): É um "espetáculo" com "mensagens de motivação e superação" e imagens "espetaculosas" que mostram apenas "as conquistas," fazendo com que tudo pareça "muito mais fácil."
- A Realidade (A Visão Crítica): A realidade é "muito mais dura." Por trás, existe "um ser humano" que "treinou insistentemente para estar ali, durante meses, semanas e temporadas. Duas vezes ao dia, de duas a quatro horas."
A crítica central, portanto, é que a mídia cria uma "ideia romântica" ao focar apenas nas vitórias e no sucesso, o que invisibiliza ou esconde o imenso sacrifício, a rotina dura e os limites humanos necessários para o alto rendimento.
Questão 19
No predomínio das mulheres pretas brasileiras nos Jogos Olímpicos de 2024, uma coisa chamou a atenção no pódio: elas valorizam a parte psicológica. As duas medalhistas de ouro, a judoca Beatriz Souza e a ginasta Rebeca Andrade, ressaltam, em várias entrevistas, a importância da saúde mental. Em uma dessas entrevistas, Rebeca sinaliza: "Acho que não é só sobre vencer a Simone, é sobre vencer a mim mesma. A minha briga está na minha cabeça, não está com outras pessoas. Para conseguir fazer as minhas apresentações, preciso controlar a minha cabeça, o meu corpo, e essa é a briga." Na mesma linha, a skatista Rayssa Leal exalta a necessidade da terapia, e a Seleção Brasileira de Futebol de Mulheres tem o suporte psicológico como reforço no treinamento.
Disponível em: https://iclnoticias.com.br. Acesso em: 18 set. 2024 (adaptado).
Nesse texto, as atletas brasileiras defendem o(a):
A) investimento na modernização de equipamentos.
B) subordinação do treinamento físico ao mental.
C) estímulo à competição entre adversárias.
D) aprimoramento da expressão corporal.
E) importância da saúde emocional.
Resposta: E) importância da saúde emocional.
Explicação
O texto destaca que as medalhistas e atletas brasileiras (Beatriz Souza, Rebeca Andrade e Rayssa Leal) "valorizam a parte psicológica" e ressaltam a "importância da saúde mental."
A citação de Rebeca Andrade ilustra isso: "A minha briga está na minha cabeça, não está com outras pessoas. Para conseguir fazer as minhas apresentações, preciso controlar a minha cabeça, o meu corpo, e essa é a briga."
Saúde mental é o termo mais abrangente e adequado, e no contexto da questão, é sinônimo de saúde emocional, que envolve o controle da mente, das emoções e das pressões internas e externas ("vencer a mim mesma") para alcançar a alta performance no esporte. A valorização da terapia e do suporte psicológico reafirma essa defesa.
Questão 20
A característica fundamental no aprendizado das práticas rituais nos candomblés é o processo iniciático e participante. Durante o período de reclusão em terreiros ou rocas, o iniciado passa por uma série de ritos esotéricos (banhos rituais, raspagem da cabeça etc.), ao mesmo tempo em que começa a adquirir um complexo código de símbolos materiais (substâncias, folhas, frutos, raízes etc.) e de gestos associados a um repertório linguístico específico das cerimônias que se desenrolam nos contextos sagrados em geral e em cada terreiro em particular.
Esse repertório linguístico, genericamente chamado de língua de santo na Bahia, compreende uma terminologia religiosa operacional, de caráter mágico-semântico e de aparente forma portuguesa, mas que repousa sobre sistemas lexicais de diferentes línguas africanas que provavelmente foram faladas no Brasil escravocrata, vindo a constituir uma língua ritual, que se acredita pertencer à nação do vodum, do orixá ou do inquice, e não a determinada nação africana política atual.
Disponível em: https://periodicos.ufba.br. Acesso em: 21 jan. 2024 (adaptado).
A língua de santo tem sua importância para o patrimônio linguístico brasileiro por
A) apresentar uma carga semântica mítica.
B) conservar elementos dos falares dos escravizados.
C) resgatar expressões portuguesas do período colonial.
D) decodificar o ritual religioso dos nossos antepassados.
E) favorecer a compreensão do léxico africano contemporâneo.
Resposta: B) conservar elementos dos falares dos escravizados.
Explicação
O texto descreve a "língua de santo" como um repertório linguístico que:
- "repousa sobre sistemas lexicais de diferentes línguas africanas que provavelmente foram faladas no Brasil escravocrata."
- "vindo a constituir uma língua ritual."
A sua importância para o patrimônio linguístico brasileiro reside no fato de que essa língua ritualística serviu como um mecanismo de conservação e transmissão de fragmentos e estruturas das línguas africanas trazidas pelos povos escravizados. Ela é uma prova viva da contribuição lexical e cultural africana, sobrevivendo e se desenvolvendo nos contextos religiosos afro-brasileiros.
Questão 21
O meu medo é entrar na faculdade e tirar zero eu que nunca fui bom de matemática fraco no inglês eu que nunca gostei de química geografia e português o que é que eu faço agora hein mãe não sei. [...]
O meu medo é a vida piorar e eu não conseguir arranjar emprego nem de faxineiro nem de porteiro nem de ajudante de pedreiro e o pessoal dizer que o governo já fez o que pôde já pôde o que fez já deu a sua cota de participação hein mãe não sei.
O meu medo é que mesmo com diploma debaixo do braço andando por aí desiludido e desempregado o policial me olhe de cara feia e eu acabe fazendo uma burrice sei lá uma besteira será que eu vou ter direito a uma cela especial hein mãe não sei.
FREIRE, M. Contos negreiros. Rio de Janeiro: Record, 2005.
Nesse texto, a reiteração dos medos e das angústias do narrador exprime:
A) inseguranças sobre o futuro familiar.
B) dilemas resultantes de seu fracasso escolar.
C) incertezas centradas em sua condição social.
D) hesitações em relação à sua formação profissional.
E) preocupações com as políticas públicas assistenciais.
Resposta: C) incertezas centradas em sua condição social.
Explicação
O narrador, por meio de um monólogo angustiado, expressa uma série de medos que, embora partam de dilemas individuais (matemática, faculdade), rapidamente se expandem para questões estruturais de sua vida:
- Medo do Fracasso na Ascensão Social: Medo de "entrar na faculdade e tirar zero" (apesar de tudo).
- Medo do Desemprego e da Exclusão: Medo de "não conseguir arranjar emprego nem de faxineiro nem de porteiro..." (indicando que até os empregos de base estão ameaçados).
- Medo da Violência e do Racismo (implícito): Medo de que, mesmo com diploma, o "policial me olhe de cara feia e eu acabe fazendo uma burrice," questionando se terá "direito a uma cela especial" (o que alude à criminalização e à desigualdade no tratamento policial de jovens negros e de baixa renda).
Esses medos não são apenas sobre o fracasso escolar (B) ou profissional (D), mas são sintomas da incerteza radical de sua condição social — a dificuldade de ascender socialmente, a vulnerabilidade econômica e o risco de ser alvo da violência estatal. A reiteração do "hein mãe não sei" sublinha a falta de garantia e de esperança no futuro que decorre dessa condição.
Questão 22
TEXTO I
A Ilha do Ferro, situada a 18 km do município de Pão de Açúcar, não é uma ilha, como o nome indica. A história do povoado é semelhante à de inúmeros outros que encontramos às margens do Rio São Francisco, entre Alagoas e Sergipe. O que torna diferente o lugar é sua gente. Hoje, dezenas de artistas populares povoam a Ilha do Ferro, trabalhando principalmente com o entalhe em madeira. Onde pessoas comuns enxergariam apenas troncos e galhos retorcidos, eles vislumbram bancos, bonecos, pássaros, cobras e bailarinas. Às vezes, você passa por um pedaço de madeira uma vez e não vê nada, passa cinco vezes por ele e não vê nada, conta um dos artistas, mas, na décima vez, você consegue enxergar alguma forma nesse pedaço de madeira e transformá-lo em arte.
Disponível em: www.imaterial.art.br. Acesso em: 5 fev. 2025 (adaptado).
TEXTO II

FARIAS, Y. Bailarino entalhado em gravetos de madeira. Artesanato em madeira, 20 × 13 × 51 cm. Ilha do Ferro (AL).
Disponível em: www.nidelins.com.br. Acesso em: 5 fev. 2025.
A originalidade do trabalho dos artistas da Ilha do Ferro se dá pela:
A) reutilização de materiais para redução do impacto ambiental.
B) ressignificação da matéria-prima atribuindo-lhe nova função.
C) reprodução em madeira de modelos artísticos canônicos.
D) representação de práticas corporais da comunidade.
E) replicação seriada para distribuição em larga escala.
A alternativa correta é a B) ressignificação da matéria-prima atribuindo-lhe nova função.
O texto e a imagem destacam a originalidade da arte da Ilha do Ferro através da transformação da matéria-prima, o entranhe em madeira.
- Matéria-Prima Comum: o Texto I descreve o material como "pedaço de madeira uma vez e não vê nada, passa cinco vezes por ele e não vê nada" ou "galhos retorcidos". A madeira é, portanto, um material natural e comum encontrado às margens do Rio São Francisco.
- Ressignificação e Nova Função: o texto enfatiza que o artista consegue "enxergar alguma forma nesse pedaço de madeira e transformá-lo em arte." O artista vê ali "bonecos, pássaros, cobras e bailarinas," onde pessoas comuns veem apenas galhos. Essa visão poética e criativa pega o que era lixo ou material sem valor funcional e o ressignifica, dando-lhe a nova função de obra de arte (escultura).
- A Imagem: a Figura II (Bailarino entalhado em gravetos de madeira) ilustra perfeitamente essa transformação, onde gravetos simples e retorcidos se tornam figuras humanas em movimento, cheias de leveza e expressão artística.
As demais alternativas descrevem aspectos secundários ou incorretos: o foco não é apenas a reutilização (A), mas sim a transformação estética; os modelos não são canônicos (C), mas sim obras de arte popular e originais; e não há menção à distribuição em larga escala (E).
Questão 23
TEXTO I
Os trabalhos da exposição Adriana Varejão: suturas, fissuras, ruínas colocam em pauta o exame da história visual, das tradições iconográficas europeias e do fazer artístico ocidental. O corte, a rachadura, o talho e a fissura são elementos de narrativas recorrentes nos trabalhos da artista desde 1992. As produções recentes incluem pinturas tridimensionais de grande escala das séries Ruínas de charque e Línguas.
Disponível em: https://pinacoteca.org.br. Acesso em: 10 jan. 2025 (adaptado).
TEXTO II

VAREJÃO, A. Azulejaria em carne viva. Óleo sobre tela, poliuretano, madeira e alumínio, 160 x 200 x 25 cm. 1999.
Disponível em: www.adrianavarejao.net. Acesso em: 10 jan. 2025.
A utilização de recursos visuais como suturas, cortes e ruínas por Adriana Varejão, na obra Azulejaria em carne viva, remete à(s):
A) sobreposição da cultura brasileira à arte portuguesa.
B) manutenção da representação realista na arte brasileira.
C) violências desencadeadas pelo processo colonial brasileiro.
D) desigualdades nos incentivos à produção artística brasileira.
E) negligência na conservação do patrimônio arquitetônico luso-brasileiro.
A alternativa correta é a C) violências desencadeadas pelo processo colonial brasileiro.
A obra de Adriana Varejão, especialmente a série à qual pertence A Azulejaria em carne viva, dialoga diretamente com a História do Brasil e a tradição artística ocidental, conforme indicado no Texto I.
Recursos visuais e seus significados
O trabalho de Varejão utiliza diversos recursos visuais que remetem a narrativas históricas e de violência:
- Azulejaria: É um elemento importado de Portugal, símbolo da cultura colonial e da civilização europeia que foi imposta ao Brasil.
- Suturas, Fissuras e Ruínas: Estes são termos-chave no título da exposição e no método da artista. Eles indicam rompimento, destruição e dano.
- "Carne Viva" (Recursos de Corte e Tensão): Na obra, a superfície do azulejo (a civilidade e a forma) é rompida por uma massa viscosa e aberta que se assemelha à carne, órgãos ou vísceras. Os cortes e as ruínas visuais sugerem feridas.
Conexão com o contexto histórico
A justaposição da Azulejaria limpa e ordenada com a Carne Viva e os cortes metaforiza o lado brutal e sangrento da história brasileira, muitas vezes mascarado pela historiografia oficial ou pela beleza superficial da arte colonial. A "carne viva" representa o sofrimento, a tortura, a escravidão e o genocídio, que foram violências intrínsecas ao processo colonial e à fundação da sociedade brasileira.
Portanto, a utilização desses recursos remete à necessidade de expor e confrontar as violências históricas que a colonização provocou no país.
Questão 24

Disponível em: www.unicef.org.br. Acesso em: 15 jan. 2024 (adaptado).
Nesse cartaz, a utilização de frases que projetam a vida profissional de duas crianças tem como objetivo:
A) sugerir a arrecadação de fundos para o sustento de povos originários no país.
B) sensibilizar a sociedade sobre os benefícios decorrentes do combate ao racismo.
C) indicar a importância da orientação vocacional na educação de crianças no Brasil.
D) chamar a atenção sobre a necessidade de ações voltadas para a educação infantil.
E) valorizar o trabalho de agências internacionais na luta contra a discriminação racial.
A alternativa correta é a B) sensibilizar a sociedade sobre os benefícios decorrentes do combate ao racismo.
O cartaz da UNICEF utiliza uma estratégia de contraste e projeção futura para atingir seu objetivo.
- Projeção de Futuro: as legendas nas fotos das crianças ("Carlos Pataxós, com 3 anos, médico e o futuro todo pela frente." e "Quitéria Silva, com 2 anos, advogada e o futuro todo pela frente.") criam uma projeção de sucesso profissional, sugerindo que elas têm um potencial brilhante.
- A Realidade Atual (O Contraste): o texto central, no entanto, introduz o problema: "O Brasil tem 35 milhões de crianças negras e indígenas. A maioria sofre com discriminação racial, sem ter acesso à educação, à saúde e ao desenvolvimento." Este trecho choca a esperança do futuro projetado com a dura realidade presente.
- O Objetivo: o cartaz promove a campanha "Em um mundo de diferenças, enxergue a igualdade." Ao mostrar o potencial futuro (médico, advogada) e contrastá-lo com a realidade da discriminação racial que ameaça esse potencial, o cartaz busca sensibilizar o público. O objetivo é fazer com que a sociedade compreenda que ao combater o racismo, ela permite que o potencial dessas crianças se realize, gerando benefícios para elas e para toda a sociedade (mais médicos, advogados, etc.).
Questão 25
Passando por aqui para lembrar algumas palavras, frases e expressões que nos infernizaram em 2023. Inclusive passando por aqui. Se você for proativo, vai achar que é o novo normal. Estarão na sua zona de conforto. Mas, se for reativo como eu, vai achar que é uma narrativa que precisa ser ressignificada.
É uma questão de empatia. É sobre entregar um discurso mais robusto e empoderado. Sei bem que não tenho lugar de fala para harmonizar certos pontos fora da curva e que preciso aplicar toda a minha resiliência para fazer um realinhamento. O nível de fitness está hoje num sarrafo muito alto.
O fato é que acho cringe essas falas fora da caixinha. Aliás, falar cringe já é meio cringe. Preciso usar a superação para me reinventar e entender que resenha não tem mais a ver com futebol, é qualquer papo, desde que latente.
Pensando bem, não é tão difícil. Frases feitas são aquelas que entram por um ouvido e saem pelo outro sem um estágio intermediário no cérebro. A boca fala por conta própria, dispensando-nos de pensar. E não tem problema nisso. Ou as ditas frases se incorporam à língua ou morrem e nascem outras. A língua é assim. Simples assim.
CASTRO, R. Disponível em: www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 3 fev. 2024 (adaptado).
Nesse texto, a estratégia empregada para criticar a constante exposição a palavras, frases e expressões automatizadas é o(a):
A) menção feita à efemeridade de alguns usos linguísticos aleatórios.
B) subjetividade marcada pela reflexão que se desenvolve em primeira pessoa.
C) efeito estilístico da repetição intencional da palavra assim no último parágrafo.
D) sedução sugerida pelo envolvimento direto do leitor marcado nos usos de você e sua.
E) humor gerado pelo uso das estruturas linguísticas que são objeto da reflexão desenvolvida.
A alternativa correta é a E) humor gerado pelo uso das estruturas linguísticas que são objeto da reflexão desenvolvida.
A crítica do autor é direcionada ao uso excessivo e automático de jargões corporativos, modismos da internet e clichês vazios ("palavras, frases e expressões que nos infernizaram em 2023"). A estratégia mais evidente e eficaz que ele usa para fazer essa crítica é o humor.
- Imitação e Exagero: o autor simula, ironicamente, o tipo de discurso que está criticando, utilizando propositalmente uma densa e exagerada coleção dessas frases feitas: "passando por aqui," "proativo," "novo normal," "zona de conforto," "narrativa," "ressignificada," "empatia," "lugar de fala," "sarrafo muito alto," "cringe," "fora da caixinha," etc.
- Ironia: a justaposição de termos díspares, como "O nível de fitness está hoje num sarrafo muito alto," gera um efeito cômico e absurdo, sublinhando a artificialidade e a falta de sentido dessas expressões quando usadas indiscriminadamente.
- Metalinguagem Humorística: o autor critica o uso das frases usando as próprias frases, criando um ciclo irônico ("O fato é que acho cringe essas falas fora da caixinha. Aliás, falar cringe já é meio cringe.").
Questão 26

Revista Língua Portuguesa, n. 31, maio 2008 (adaptado).
Esse texto, que apresenta um prato da culinária brasileira, evidencia:
A) valor afetivo nas nomenclaturas.
B) variedade linguística entre regiões.
C) disputa regional pelo melhor prato.
D) modos de preparo de um mesmo alimento.
E) paladares diversificados entre diferentes estados.
A alternativa correta é a B) variedade linguística entre regiões.
O texto e a ilustração sobre esse prato à base de milho evidenciam claramente a variação de nomenclatura para o mesmo alimento dependendo da região do Brasil, o que é um fenômeno da variedade linguística.
O conceito: o prato é o mesmo (um creme amarelo à base de milho), mas é chamado de formas diferentes em diferentes regiões.
As evidências:
- No Nordeste, é chamado de "canjica".
- No Sudeste, o mesmo prato é chamado de "curau".
- A ilustração mostra ainda mais termos regionais para o milho-verde ou o creme, como "corá", "mungunzá", "curau" (novamente), "pamonha" e "papa".
A diferença nos nomes de uma mesma comida (significante) em função da geografia (região) ilustra o conceito de variação diatópica ou regional, que é um aspecto fundamental da variedade linguística do português brasileiro.
Questão 27
A diferença entre briga e luta é a existência de juízes e medalhas? A briga desumaniza o outro e pode até matá-lo. Já na luta, as intenções do outro são consideradas sua proposta combativa e suas habilidades, enfim, sua meta de vencer. Na luta, o desenvolvimento passa pelo contato com a agressividade, a raiva, a frustração, o orgulho, a determinação e a fraqueza. Daí também a luta não ser apenas com o outro, mas consigo mesmo, num combate contra as próprias limitações, sobretudo, contra o próprio orgulho.
BARREIRA, C. A briga desumaniza. A luta, não. O Estado de S. Paulo, 22 ago. 2010 (adaptado).
Esse texto apresenta as diferenças entre briga e luta, na medida em que aponta o(a):
A) superação pessoal na luta.
B) violência evidenciada na luta.
C) predomínio de regras na briga.
D) desafio externo presente na luta.
E) habilidade desenvolvida na briga.
Resposta: A) superação pessoal na luta.
O texto estabelece um contraste fundamental:
Briga: desumaniza o outro e pode matá-lo. É focada na destruição.
Luta: considera as habilidades e metas do outro e envolve o desenvolvimento pessoal. O texto é explícito ao afirmar: "Daí também a luta não ser apenas com o outro, mas consigo mesmo, num combate contra as próprias limitações, sobretudo, contra o próprio orgulho."
O cerne da luta, conforme o autor, é o combate interno contra as próprias fraquezas e orgulho, o que é sinônimo de superação pessoal, um aspecto ausente e irrelevante na briga.
Questão 28
Pequenino morto
Tange o sino, tange, numa voz de choro,
Numa voz de choro... tão desconsolado...
No caixão dourado, como em berço de ouro,
Pequenino, levam-te dormindo... Acorda!
Olha que te levam para o mesmo lado
De onde o sino tange numa voz de choro...
Pequenino, acorda!
Que caminho triste, e que viagem! Alas
De ciprestes negros a gemer no vento;
Tanta boca aberta de famintas valas
A pedir que as fartem, a esperar que as encham...
Pequenino, acorda! Recupera o alento,
Foge da cobiça dessas fundas valas
A pedir que as encham.
CARVALHO, V. Poemas e canções. Rio de Janeiro: Saraiva, 1962 (fragmento).
Nesse fragmento do poema, o sentimento de luto adquire contornos expressivos e é intensificado pela:
A) descrição da paisagem de um cemitério.
B) recusa do eu lírico à irreversibilidade da morte.
C) sonoridade dos versos produzida pela pontuação.
D) religiosidade evocada como forma de fortalecimento.
E) impressão de sonho na construção da estrutura poética.
Resposta: B) recusa do eu lírico à irreversibilidade da morte.
A intensidade do luto é expressa pela recusa desesperada do eu lírico em aceitar a morte da criança. O recurso estilístico mais marcante é a repetição da ordem direta e do apelo à criança:
"Pequenino, levam-te dormindo... Acorda!" (verso 4)
"Pequenino, acorda!" (verso 7)
"Pequenino, acorda! Recupera o alento," (verso 11)
Ao insistir para que o "pequenino" acorde e fuja das "famintas valas," o eu lírico tenta negar a realidade da morte e a irreversibilidade da separação, intensificando o sentimento de dor e desespero característicos do luto.
Questão 29
Só entende os corações desse lugar quem mergulha nesse mar a perder de vista e recoberto de cana caiana, cana fita, cana roxa, cana-de-macaco, açúcar, melado, rapadura, aguardente, fumo, mandioca, quiabos, pimentas, moendas, frutas, fruta-pão, sobrados, senzalas, tachos, casa de purgar. Um reino dentro de outro, com tudo o que se tem direito: reis, rainhas, príncipes e princesas, bobos da corte, cortesãos, conselheiros e escravos, muitos escravos. [...]
A corte do massapé, como qualquer outra na história da humanidade, fazia tudo para não deixar escapar nenhum mísero grão do seus domínios para quem estivesse de fora do seu apertado círculo. Os nomes se repetiam de pai para filho, para sobrinho, para netos e bisnetos, de forma concêntrica e repetitiva, para que não pairasse nenhuma dúvida de que são todos da mesma parentela. As farinhas todas num mesmo saco brasonado.
CRUZ, E. A. Água de barrela. Rio de Janeiro: Malê, 2018.
Nesse fragmento, o narrador enumera o resultado do trabalho com a terra, o qual, no contexto em que aparece:
A) espelha a permanência dos privilégios de classe.
B) oferece um panorama da população do campo.
C) mostra os benefícios da fartura na agricultura.
D) defende a importância da atividade coletiva.
E) valoriza o trabalho ao longo das gerações.
Resposta: A) espelha a permanência dos privilégios de classe.
O narrador começa enumerando os diversos produtos derivados da terra ("cana caiana, cana fita, cana roxa... açúcar, melado, rapadura, aguardente, fumo, mandioca...") e os elementos da estrutura social associada a eles ("sobrados, senzalas, tachos, casa de purgar").
Em seguida, ele descreve a estrutura de poder desse local: "Um reino dentro de outro, com tudo o que se tem direito: reis, rainhas, príncipes e princesas... e escravos, muitos escravos."
O resultado do trabalho com a terra (a fartura) é, portanto, o sustento de uma estrutura social rígida, baseada na posse e no sangue, onde o poder é concentrado: "Os nomes se repetiam de pai para filho... de forma concêntrica e repetitiva, para que não pairasse nenhuma dúvida de que são todos da mesma parentela." Essa repetição dos nomes e a concentração de poder no "apertado círculo" da "corte do massapé" espelha a permanência e a transmissão hereditária dos privilégios de classe desde o período colonial, mantida pela riqueza gerada pela agricultura.
Questão 30
Uruku
Urucum
Rocou
(Bixa orellana)
Moju, dono da água, não gosta do cheiro de urucum. Maniʼojarã, dono do mandioca, e os donos das outras plantas cultivadas também não. Eles não suportam. Por isso, os Wajãpi se untam de urucum, deixam o rosto vermelho e se perfumam com seu aroma agradável. Além disso, os seres agressores, os jarã (donos) e os espíritos terrestres, gostam do cheiro dos fluidos humanos, do sangue, do suor. Então, o urucum os dissimula, protegendo as pessoas que vão caçar, caminhar pela floresta, que estão sendo perturbadas por espíritos em sonhos ou que estão em resguardo, como os doentes. O seu uso é tão cotidiano que os Wajãpi o plantam na aldeia, para ter sempre pertinho. Como o urucum não tem jarã, não tem problema nenhum em arrancar e usar para pintar.
STRAPPAZZON, A. I.; SIGOLO, R. P. Jardins da história: medicinas indígenas. Recife: ObservaPICS, 2022.
Esse verbete contribui para a preservação do patrimônio linguístico nacional, pois apresenta uma:
A) explicação de um rito medicinal do povo Wajãpi.
B) definição de um termo na perspectiva ancestral indígena.
C) relação de equivalência entre vocábulos de diferentes línguas indígenas.
D) atualização de saberes tradicionais dos povos indígenas brasileiros.
E) descrição das propriedades científicas de plantas silvestres.
Resposta: B) definição de um termo na perspectiva ancestral indígena.
O verbete trata do Urucum (ou Uruku), apresentando o seu significado e uso não do ponto de vista científico (E) ou meramente medicinal (A), mas a partir da cosmologia Wajãpi.
Ele define o uso do urucum explicando seu papel protetor contra os espíritos (jarã), que não gostam de seu cheiro, e como ele dissimula o cheiro dos fluidos humanos. Essa definição do urucum como protetor e dissimulador de cheiros é baseada no sistema de crenças e saberes ancestrais do povo Wajãpi (os donos da água e do mandioca). Ao registrar e divulgar essa explicação, o texto preserva uma parte do patrimônio linguístico e cultural ao apresentar o significado cultural de um termo na perspectiva de um povo indígena.
Questão 31

MURRAY, R.; KLIGERMAN, E. Teias de afeto e poesia. Disponível em: https://roseanamurray.com. Acesso em: 5 maio 2024.
Nesse texto, a autora aborda diferentes sentidos da palavra rede para evidenciar:
A) as formas de comunicação em meios digitais.
B) a necessidade de atualização das mídias sociais.
C) os conflitos de identidade dos usuários da internet.
D) o impacto das tecnologias nas interações humanas.
E) os desejos de compartilhar vivências com os amigos.
A alternativa correta é a D) o impacto das tecnologias nas interações humanas.
O texto aborda a palavra "rede" em dois sentidos distintos e contrastantes para fazer uma reflexão sobre como a tecnologia afeta a experiência humana:
Redes Sociais (O Digital): "Cada vez mais somos convocados para dentro das Redes." Este é o mundo virtual e tecnológico.
Rede de Afeto/Convivência (O Humano/Físico): A autora contrasta o mundo digital com a experiência real: "Mas não levamos a nossa rede [a rede de dormir ou a rede de convivência/amigos] e penduramos no alpendre da casa de um amigo, não sentimos o cheiro do café... ou ouvimos o piar dos passarinhos ou a música da chuva."
O ponto central da autora não é apenas a comunicação (A), mas a perda da experiência sensorial, tátil e afetiva que ocorre quando a interação é mediada pela tela.
A interação física (o amigo, o café, a chuva) é rica em sensações.
A interação tecnológica (a tela) é vazia dessas sensações ("há um intervalo entre este eu dentro da tela e o outro que somos?").
Portanto, o texto utiliza a ambiguidade da palavra "rede" para evidenciar o impacto das tecnologias (Redes) na qualidade e na natureza das interações humanas (a rede de amigos e as experiências sensoriais).
Questão 32
Muitos pensam que narrativa curta é sinônimo de conto, perdendo de vista gêneros que, por tradição ruim, continuam à margem da nobreza. Acontece que o conto tem uma densidade específica, centrando-se na exemplaridade de um instante da condição humana, sem que essa exemplaridade se refira à valoração moral, já que uma grande mazela pode muito bem exemplificar uma das nossas faces. A crônica não tem essa característica. Conservou a marca do registro circunstancial feito por narrador-repórter que relata um fato para muitos leitores que formam um público determinado.
Mas que público é esse? Sendo a crônica uma soma de jornalismo e literatura (daí a imagem do narrador-repórter), dirige-se a uma classe que tem preferência pelo jornal em que ela é publicada, o que significa uma espécie de censura ou, pelo menos, de limitação: a ideologia do veículo corresponde ao interesse dos seus consumidores, direcionados pelos proprietários dos periódicos e/ou pelos editores-chefes da redação. Ocorre ainda o limite de espaço, uma vez que a página comporta várias matérias, o que impõe a cada uma delas um número restrito de laudas, obrigando o redator a explorar, da maneira mais econômica possível, o pequeno espaço de que dispõe. É dessa economia que nasce sua riqueza estrutural.
SÁ, J. A crônica. São Paulo: Ática, 1987 (adaptado).
De acordo com esse texto, o aspecto tecnológico que influencia a composição do gênero crônica advém da:
A) conexão ideológica.
B) densidade temática.
C) ênfase no público leitor.
D) apresentação de uma moral.
E) restrição espacial do suporte.
A alternativa correta é a E) restrição espacial do suporte.
O texto de J. Sá discute as características da crônica, especialmente aquelas impostas pelo seu suporte de circulação, o jornal:
Função Jornalística: A crônica é uma "soma de jornalismo e literatura" e tem a "marca do registro circunstancial feito por narrador-repórter."
O Aspecto Limitador (Tecnológico/Estrutural): O autor explica que o jornal impõe um limite de espaço: "Ocorre ainda o limite de espaço, uma vez que a página comporta várias matérias, o que impõe a cada uma delas um número restrito de laudas..."
A Consequência: Esta limitação física (ou tecnológica, ligada ao suporte impresso) obriga o redator a explorar o espaço "da maneira mais econômica possível." É dessa "economia que nasce sua riqueza estrutural" (a concisão da crônica).
Portanto, o aspecto que mais influencia a composição da crônica, forçando sua brevidade e concisão (sua riqueza estrutural), é a restrição espacial do suporte (o jornal).
Questão 33

Disponível em: www.tjdft.jus.br. Acesso em: 15 out. 2024 (adaptado).
Esse texto trata de um problema social com o propósito de:
A) divulgar campanha virtual contra casos de feminicídio.
B) promover engajamento do setor educacional na luta contra a violência.
C) comparar o impacto da violência na qualidade de vida de meninas e meninos.
D) ressaltar a importância da segurança dos estudantes no ambiente escolar.
E) dar visibilidade a estudos e pesquisas do setor de segurança.
A alternativa correta é a B) promover engajamento do setor educacional na luta contra a violência.
O texto publicitário trata do problema social da violência contra a mulher e violência de gênero com um foco específico no ambiente escolar.
- O Problema: A violência contra as mulheres e a violência de gênero.
- O Foco/Contexto: O cartaz pergunta: "Por que falar sobre violência contra mulheres na escola?" E responde: "A violência de gênero afeta a vida de meninas e meninos em vários aspectos e hoje é um dos grandes empecilhos para que vivam plenamente, com segurança e qualidade de vida."
- O Propósito: Ao direcionar a pergunta e a justificativa explicitamente para o ambiente escolar ("na escola"), o texto busca mobilizar e convocar a comunidade de educadores, gestores e estudantes (o setor educacional) para discutir o tema e atuar no combate à violência dentro desse espaço. O objetivo não é apenas informar, mas sim promover o engajamento da escola na solução do problema.
As referências laterais (Lei Maria da Penha, Anuário Brasileiro de Segurança Pública) servem como base e apoio para essa convocação à ação no ambiente educacional.
Questão 34

Disponínel em: https://revistagalileu.globo.com. Acesso em: 18 jun. 2024 (adaptado).
Com base na relação dos elementos não verbais com a frase VOCÊ (NÃO) ESTÁ SOZINHO, nessa capa de revista, a função poética fica evidente, pois:
A) essa frase informa sobre os riscos de um determinado comportamento social.
B) o conteúdo da mensagem expressa a atitude do enunciador sobre o tema.
C) a construção dessa frase possibilita mais de uma interpretação.
D) essa frase estabelece um diálogo direto com o leitor.
E) a linguagem utilizada volta-se para si mesma.
A alternativa correta é a C) a construção dessa frase possibilita mais de uma interpretação.
A função poética da linguagem é aquela que coloca a mensagem em evidência, explorando as possibilidades expressivas da língua para gerar ambiguidades, reflexão ou múltiplas camadas de sentido.
A Frase na Capa: A frase é "VOCÊ (NÃO) ESTÁ SOZINHO".
A Ambiguidade: O uso dos parênteses em torno do "NÃO" (o elemento não verbal) cria uma dupla leitura ou interpretação da mensagem, evidenciando a linguagem em si:
Leitura 1: Você está sozinho. (Sugere isolamento, solidão, problema.)
Leitura 2: Você não está sozinho. (Sugere inclusão, compartilhamento, solução.)
A Função Poética: Ao permitir que a frase seja lida de duas maneiras contraditórias (e que o leitor precise decidir qual leitura o toca mais), a capa atrai a atenção para a forma como a mensagem está construída. Essa construção intencional, que explora a plurissignificação e a ambiguidade para gerar reflexão, é a característica principal da função poética neste contexto.
As outras alternativas são menos precisas:
D) essa frase estabelece um diálogo direto com o leitor. (Verdade, mas é a função conativa ou apelativa; não a poética.)
E) A linguagem utilizada volta-se para si mesma. (Também verdadeiro para a função poética, mas a letra C é uma descrição mais específica e concreta de como essa autorreferência é alcançada.)
Questão 35
Margot Robbie foi criticada por não ser bonita o suficiente para interpretar a Barbie. Recentemente, Paolla Oliveira foi chamada de gorda. Só fico pensando o que serei eu com mais de 50 (também no peso), com a minha aparência comum. O corpo da mulher vive um reality show permanente: é sempre vigiado e fiscalizado, como se fosse domínio público. A mulher que não atender aos estereótipos está sujeita a sofrer penalidades básicas, como distúrbios, obsessões, medo do próprio corpo e, é claro, dietas à base de rúcula. A dieta é o sedativo politico mais potente na história das mulheres, escreveu Naomi Wolf, em 1991. A regra é não haver singularidade, mascarar a passagem do tempo, imobilizar a beleza (já imaginou como isso seria enfadonho?). O mandamento é obedecer às regras sociais do bom comportamento corporal, como deve ser, não nos atos, mas na forma.
KORICH, B. S. Disponível em: www1.folha.uol.com.br. Acesso em: 22 jan. 2024 (adaptado).
Nesse texto, para introduzir a ideia de que a fiscalização permanente sobre o corpo afeta todas as mulheres, a autora:
A) faz um comentário sobre sua própria imagem.
B) destaca avaliações particulares entre parênteses.
C) cita um formato de programa influente no segmento da beleza.
D) utiliza declaração de uma jornalista como argumento de autoridade.
E) enumera críticas à aparência de mulheres consideradas padrões de beleza.
Resposta: E) enumera críticas à aparência de mulheres consideradas padrões de beleza.
O texto tem como tese que o corpo da mulher "vive um reality show permanente: é sempre vigiado e fiscalizado, como se fosse domínio público."
Para introduzir essa ideia de que a fiscalização é onipresente e afeta todas as mulheres, a autora começa citando:
- Margot Robbie: Criticada por "não ser bonita o suficiente" para o papel de Barbie (um ícone de beleza máxima).
- Paolla Oliveira: Criticada por ser chamada de "gorda" (uma atriz brasileira, também considerada um padrão de beleza).
Ao listar essas críticas dirigidas até mesmo a mulheres que representam os mais altos padrões de beleza e sucesso, a autora demonstra que a fiscalização é implacável e que nenhuma mulher está imune a ela. Esse argumento cria a base para o passo seguinte, que é a auto-reflexão da autora: "Só fico pensando o que serei eu com mais de 50 (também no peso), com a minha aparência comum."
Questão 36
I: o nome do filme é roupa suja ... eu assisti na minha casa ... com minha mãe... tinha um ... o filme era sobre um homem que colocaram ... trocaram as bolsas ... daí o homem levou uma bolsa cheia de dinheiro sem ele saber que na mala dele ... pensando que era dele mas era errada ... quando ele chegou onde ele ia trabalhar ... tinha uma moça tentando abrir a porta pra fazer entrevista com uns cantores lá que tinham ... daí ele perguntou ... ʼvocê tá tentando abrir a porta?ʼ... daí ele ... ʼnão ... nãoʼ ... daí ele disse... ʼah ... tá ... simʼ ... daí ela ... ʼé ... e quero fazer uma entrevistaʼ... daí ele disse ... ʼvocê quer entrar ... então pode entrarʼ... daí entraram ... daí ficaram lá... quando ela entrou e queria fazer a entrevista um homem num deixou ... daí a mulher pegou ... subiu onde o homem tava trabalhando... rapaz né... onde ele tava trabalhando e ficou lá e dando o show...
CUNHA, M. A. F. Corpus discurso & gramática: a língua falada e escrita na cidade de Natal. Disponível em: https://deg.uff.br. Acesso em: 4 dez. 2024 (adaptado).
Nesse texto, a repetição da forma daí revela:
A) a necessidade de adequação ao interlocutor.
B) a origem regional do locutor.
C) a escolaridade do falante.
D) uma estratégia presente na linguagem oral.
E) uma ênfase em determinadas partes do discurso.
Resposta: D) uma estratégia presente na linguagem oral.
A palavra "daí" é um advérbio de lugar (com o sentido de "de lá") que, na oralidade informal brasileira, é frequentemente empregado como um conectivo sequencial (com o sentido de "então," "em seguida," ou "aí").
No trecho, a repetição excessiva de "daí" atua como uma muleta linguística ou um marcador de progressão narrativa que é muito comum na fala espontânea e informal (uma das características da linguagem oral) para indicar a passagem de um evento a outro na narração de um acontecimento.
Exemplo no texto: "trocaram as bolsas... daí o homem levou uma bolsa... daí ele perguntou... daí ele disse... daí entraram... daí ficaram lá..."
Questão 37
Texto I
Os Doze Trabalhos de Hércules
Hércules é uma figura lendária da mitologia greco-romana. Ele é frequentemente retratado como um herói de força sobre-humana e coragem, filho de Zeus, o rei dos deuses, e Alcmena, uma mulher mortal. O episódio mais conhecido de Hércules é a realização dos Doze Trabalhos.
Esses trabalhos são impostos a ele como uma forma de expiação pelos crimes cometidos durante um acesso de loucura, causado pela deusa Hera, esposa de Zeus. Os Doze Trabalhos são: matar o Leão de Nemeia; matar a Hidra de Lerna; capturar a corça de Cerineia; capturar o javali de Erimanto; limpar os estábulos de Áugias; matar as aves do lago Estínfalo; matar o touro de Creta; capturar os cavalos de Diomedes; roubar o cinturão de Hipólita, a rainha das Amazonas; capturar o gado de Gerião; capturar os pomos de ouro do Jardim das Hespérides; capturar o cão de Hades, Cérbero.
HERTEL, R. Mitologia. Disponível em: https://osmelhoreslivros.com.br. Acesso em: 4 jun. 2025 (adaptado).
Texto II
Os Doze Trabalhos
O que lhe faltava de estudo lhe sobrava de boa vontade e inteligência. No escritório improvisado na salinha da casa, anunciava seus serviços de bombeiro hidráulico e eletricista. Nas horas vagas entregava panfletos e lavava carros. Quando a cidade fervia com alguma festa, postava-se à entrada vendendo cerveja. Se fosse algum show infantil, cocadas. Aos sábados, era pedreiro e, aos domingos, conservava a um jardim de uma mansão, além de tratar da piscina e dos cachorros. Nas férias, abrigava-se na fazenda dos donos da mansão, onde trabalha como caseiro e motorista. Seu nome: João Antonio da Silva. Mas pode chamar de Hércules.
FERREIRA, G. V. Os doze trabalhos. Disponível em: www.minicontos.com.br. Acesso em: 15 jul. 2015 (adaptado).
A comparação entre os textos I e II indica que o(a):
A) intertextualidade com o mito apresentado no Texto I é um recurso presente no Texto II.
B) narração de fatos do Texto II sintetiza os acontecimentos retratados no Texto I.
C) vocabulário empregado no Texto II é ancorado em conhecimento literário.
D) tema do trabalho como reparação é abordado em ambos os textos.
E) marcação temporal no passado predomina em ambos os textos.
Resposta: A) intertextualidade com o mito apresentado no Texto I é um recurso presente no Texto II.
Texto I: Apresenta o mito clássico de Hércules e seus Doze Trabalhos (matar o leão, capturar o touro, roubar o cinturão, etc.), que são tarefas de força e heroísmo.
Texto II: Apresenta João Antonio da Silva, que faz múltiplos trabalhos braçais e de serviço ("bombeiro hidráulico e eletricista," "lavava carros," "pedreiro," "caseiro," "motorista"). O texto conclui: "Seu nome: João Antonio da Silva. Mas pode chamar de Hércules."
O Texto II estabelece uma relação explícita e direta com o Texto I ao chamar o personagem de Hércules. Essa comparação implícita entre os trabalhos sobre-humanos do herói mitológico e a jornada de trabalho exaustiva e multifacetada do trabalhador brasileiro contemporâneo é um recurso literário chamado intertextualidade.
Questão 38
1 O mais assustador do meteoro que cruzou o céu da Sibéria e explodiu no ar como
2 várias bombas atômicas é que ele chegou sem ser anunciado. Com todas as atenções
3 voltadas para o outro asteroide, o que passou de raspão, o asteroide da Sibéria entrou pela
4 porta dos fundos sem ser detectado. A desculpa é que era pequeno demais para chamar a
5 atenção e por isso os alarmes não funcionaram. Nossa ilusão, até agora, era que qualquer
6 detrito espacial que se aproximasse de nós seria identificado e rotulado, e sua trajetória
7 calculada até o último milímetro com grande antecedência, o que nos daria tempo para
8 preparar o espírito - ou usar nossos cartões de crédito até o limite - no caso da colisão
9 com a Terra ser inevitável.
VERISSIMO, L. F. Disponível em: www.estadao.com.br. Acesso em: 1 mar. 2013.
Com base na organização coesiva desse texto, o(a):
A) oração que passou de raspão refere-se ao meteoro que cruzou o céu da Sibéria.
B) expressão sua trajetória refere-se ao elemento textual qualquer detrito espacial.
C) palavra isso (l.5) remete ao segmento textual posterior os alarmes não funcionaram (l.5).
D) pronome o em o que nos daria tempo remete a ou usar nossos cartões de crédito.
E) fragmento o asteroide da Sibéria introduz um elemento novo no texto.
Resposta: B) a expressão sua trajetória refere-se ao elemento textual qualquer detrito espacial.
A coesão textual refere-se aos mecanismos que ligam as partes de um texto, como a retomada de termos por meio de pronomes ou expressões.
Analisando o trecho em questão (linhas 6-7): "Nossa ilusão, até agora, era que qualquer detrito espacial que se aproximasse de nós seria identificado e rotulado, e sua trajetória calculada até o último milímetro..."
O substantivo "detrito espacial" é o antecedente.
O pronome possessivo "sua" concorda em número (singular) com o antecedente "detrito espacial" e retoma a posse, indicando que a trajetória pertence ao detrito.
As demais alternativas estão incorretas:
- A) que passou de raspão refere-se ao outro asteroide (l. 3), não ao meteoro da Sibéria.
- C) isso (l. 5) refere-se ao antecedente "era pequeno demais para chamar a atenção" (l. 4-5).
- D) o em o que nos daria tempo (l. 7) retoma a ideia de a trajetória ser calculada (a antecipação do conhecimento).
Questão 39
Do rádio ao podcast
Desde a disseminação do rádio no Brasil, entre as décadas de 1920 e 1930, principalmente no governo de Getúlio Vargas, as pessoas passaram a dedicar uma parte de seu dia para escutar notícias, novelas, músicas e eventos esportivos em aparelhos de som. O radiojornalismo, por sua vez, teve seu pontapé inicial durante a Revolução Constitucionalista (1932) e se desenvolveu durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Quando a TV surgiu, esperava-se que o rádio fosse totalmente substituído, porém ele se manteve em alta, pois o sinal de televisão não cobria todos os lugares, diferentemente do rádio. Com o surgimento da internet, dos smartphones e de outros dispositivos móveis, o rádio foi incorporado a essas novas tecnologias até o desenvolvimento da web rádio e do podcast, mostrando-se um meio de comunicação versátil e democrático na área jornalística.
Para um pesquisador da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), o rádio não se tornou obsoleto, visto que não deixou de ser consumido e se reinventou com o tempo. “O podcast é uma continuação, uma evolução natural do rádio”, opina.
ALVES, A. ALVES, C. Disponível em: https://comunica.ufu.br. Acesso em: 19 abr. 2024 (adaptado).
Ao abordar a trajetória dos meios de comunicação, esse texto propõe uma reflexão sobre a:
A) tecnologia digital e seus desdobramentos no desenvolvimento da televisão.
B) evolução da tecnologia digital com o predomínio do podcast sobre o rádio.
C) permanência do rádio e sua evolução por meio da tecnologia digital.
D) influência da televisão sobre os programas de radiojornalismo.
E) interferência da tecnologia digital nas interações humanas.
Resposta: C) permanência do rádio e sua evolução por meio da tecnologia digital.
O texto traça a trajetória do rádio, destacando:
Origem e Força: O rádio se disseminou e se manteve relevante mesmo após o surgimento da TV ("o rádio fosse totalmente substituído, porém ele se manteve em alta").
Reinvenção/Evolução: Com a chegada da internet e dos dispositivos móveis, o rádio não se tornou obsoleto, mas sim "se reinventou com o tempo." Ele foi incorporado às novas tecnologias, levando ao desenvolvimento da web rádio e do podcast.
O pesquisador sintetiza essa reflexão ao dizer que "O podcast é uma continuação, uma evolução natural do rádio." A ideia central, portanto, é a permanência e a capacidade de evolução do rádio por meio da tecnologia digital.
Questão 40
Desenvolvendo-se nesse meio, é natural que Celina, filha mais velha de D. Adozinda, tivesse seus pequenos flirts com alguns desses rapazes, muito íntimos da casa e trazendo-lhe da cidade presentes de doces, de balas de ovo, de jornais ilustrados ou de frutas.
As irmãs mais novas iam ao colégio; ela ficava, enchendo o tempo com um crochês vagarosos, costuras leves, a leitura dos folhetins dos jornais; ou o Gilberto, que raramente saia, andava sempre ao seu lado, muito caído por esse tipo um pouco mórbido de menina anêmica [...]
O Gilberto não valia nada, mas quem sabe se apareceria outro, simplório e sincero como ele? E a filha, com os seus dezessete anos, começava a embaraçá-la um pouco, nesse difícil papel de virgem numa casa de pensão, cheia de rapazes. Ora, o melhor era esperar, dar tempo ao tempo... E o Gilberto e a Celina continuaram a namorar-se, ele cândido, ela dúbia; enquanto o Coronel Juvenato, que deixara a mulher em Sobral para tratar de uma concessão rendosa com os políticos do Rio, ia agora monopolizando, como protetor mais importante, as alegres visitas matinais da viúva, que já lhe levava sempre o café — mas sem flores colhidas no jardim, ainda rociadas de orvalho, porque o cearense não dava para essas coisas de poesia. Era rápido, prático, e não admitia bobagens. Por isso, todos os sábados à noite, ele dizia a D. Adozinda com um tremor lúbrico nas banhas moles da face, os olhinhos vivos pestanejando:
— A senhora não se esqueça que amanhã é domingo — Leve-me cedo o café, hein?... que eu tenho de ir à missa...
— Pois não, pois não, Coronel! fique descansado — respondia a viúva do Ferreira, muito atenciosamente, tirando-lhe uma caspas da gola do paletó, com a mão repolhuda.
Os outros hóspedes riam-se à socapa; e no domingo o café não faltava, bem cedinho...
DOLORES, C. A luta. Rio de Janeiro: Irmã, s.d.
Nesse trecho, ao explorar a descrição com recurso que demarca impressões e pontos de vista, o narrador cria uma ambiência sugestiva do(a):
A) escárnio relacionado à degradação moral dos indivíduos.
B) cenário urbano marcado por condições de insalubridade.
C) persistência do sentimentalismo explorado pelos folhetins.
D) prática do enriquecimento ilícito visto nas grandes cidades.
E) desigualdade de gênero acentuada pela baixa escolarização.
Resposta: A) escárnio relacionado à degradação moral dos indivíduos.
O fragmento é um exemplo de prosa do Realismo/Naturalismo (especificamente, a obra é de Júlia Lopes de Almeida, sob o pseudônimo de Colomba Dolores). Essa estética utiliza a descrição com um forte ponto de vista crítico e moralista para expor a hipocrisia e a corrupção social.
O narrador cria uma ambiência sugestiva através de:
- Decadência da Sinceridade: A filha (Celina) é dúbia no namoro, enquanto Gilberto é cândido.
- Hipocrisia e Corrupção Social/Política: O Coronel Juvenato está na cidade para "tratar de uma concessão rendosa com os políticos."
- Degradação Moral Encoberta: O ponto culminante é a cena final, onde o Coronel Juvenato (o protetor mais importante da casa de pensão) usa a desculpa de "ir à missa" para garantir que D. Adozinda (a viúva) o sirva o café "bem cedinho," uma clara insinuação de que o café é um eufemismo para um encontro sexual matinal. Os "outros hóspedes riam-se à socapa" (às escondidas), confirmando a natureza da transação.
- O uso de descrições como "tremor lúbrico nas banhas moles da face" e a ironia de usar a missa como desculpa para o encontro íntimo criam uma atmosfera de escárnio (ridicularização) em relação à degradação moral dos personagens, típica do Realismo.
Questão 41
TEXTO I
Origem, tradição e resistência
Foi sentada em seu banco de quartzo que a avó do universo, moradora da Maloca do Céu, criou os homens, os animais, a terra e as águas. O banco foi entregue aos ancestrais dos atuais Tukano, que passaram a reproduzi-lo em madeira. O mito Tukano — povo do noroeste da Amazônia que ainda hoje fabrica os bancos em seu estilo tradicional — indica o lugar dos bancos entre os objetos sagrados, ao mesmo tempo parte do universo primitivo e fonte do poder de criação. A presença nos mitos de origem de alguns povos atesta a antiguidade da arte de talhar bancos: os primeiros registros do uso desses objetos entre ameríndios das terras baixas da América do Sul, do Caribe e da América Central datam de, pelo menos, 4 mil anos.
ASSIS, R.; MENDES JR., L. Bancos indígenas do Brasil. São Paulo: BEI Comunicação, 2013.
TEXTO II

KAMAURÁ, Y. Tatu Kamayurá 1. Madeira, 61 x 24 x 20 cm. Xingu (MT), s.d.
Disponível em: www.colecaobei.com.br. Acesso em: 15 out. 2024.
Os textos I e II demonstram, na confecção dos bancos, uma íntima relação de sacralidade entre o ser humano e a natureza, perceptível por meio da:
A) representação realista de animais, mostrando o domínio do homem sobre a natureza.
B) manutenção da herança cultural, atribuindo nova função aos elementos da fauna.
C) imitação dos traços que permitem reconhecer o animal representado.
D) presença de grafismos que tornam o animal representado mais abstrato.
E) criação de figuras fantásticas baseadas em formas animais.
A alternativa correta é a B) manutenção da herança cultural, atribuindo nova função aos elementos da fauna.
Os Textos I e II abordam a confecção dos bancos indígenas, especificamente dos povos do Xingu, e sua relação com a sacralidade, a natureza e a cultura.
Herança Cultural e Sacralidade (Texto I): O texto I estabelece que o banco não é apenas um objeto de assento, mas um artefato de origem mítica e sagrada, entregue pelo avô do céu (Tukano). Sua presença nos mitos atesta a antiguidade da arte de talhar bancos, indicando a manutenção de uma herança cultural milenar.
Elementos da Fauna e Nova Função (Texto II): O Texto II mostra a obra "Tatu Kamayurá 1".
O banco é claramente modelado na forma de um animal da fauna (o tatu).
No entanto, o animal não é apenas retratado; ele é transformado em um banco. Ou seja, um elemento da fauna (o tatu) é utilizado como modelo para um objeto que tem uma nova função na cultura humana (o assento ritualístico e social).
A escolha do animal e sua transformação em objeto sagrado-funcional (banco) demonstra a íntima relação entre o ser humano e a natureza, onde o mundo animal é fonte de inspiração e forma para o mundo material e cultural.
Questão 42
TRADUZINDO O JURIDIQUÊS
Denego a liminar pleiteada na exordial, inobstante após a oitiva da parte adversa e da dilação probatória possa lograr alcançar um outro epílogo para o deslinde da quaestio sub examine.
TRADUÇÃO
Não atendo, por ora, a liminar requerida na petição inicial, ainda que possa chegar a uma outra conclusão após ouvir a outra parte e avaliar as provas produzidas.
Proposta de emenda à Constituição 269 de 2013. Aplica-se aos Governadores e Prefeitos o Regime Geral de Previdência Social, vedada a concessão graciosa, após o término do mandato, de vantagem pecuniária, verba de representação, pensão ou subsídio.
TRADUÇÃO
Torna-se proibido pagar benefícios vitalícios para ex-prefeitos e ex-governadores.
Superinteressante, n. 322, ago. 2013 (adaptado).
Nesse texto, contribui para a construção da ironia a tradução das passagens escritas em “juridiquês” para uma variedade:
A) padrão, que alcança o público em geral.
B) histórica, que registra a evolução das leis.
C) coloquial, que reproduz as relações sociais cotidianas.
D) erudita, que resgata a origem latina da língua portuguesa.
E) técnica, que facilita a circulação de informações no sistema judiciário.
Resposta: A) padrão, que alcança o público em geral.
A construção da ironia no texto é fomentada também pela tradução das passagens em “juridiquês” a uma variedade padrão e acessível, capaz de alcançar o público geral. Faz-se necessário compreender, na questão, o valor da norma-padrão enquanto a norma de comum acesso a todos. Assim, é possível compreender a ironia em mostrar que a linguagem técnica da área jurídica pode ser acessada pelo cidadão quando adequada ao uso padrão da língua, que, em relação ao tecnicismo apresentado, mostra-se muito mais simples.
Questão 43
Em 1995, os Jenipapo-Kanindé quebraram a tradição da sucessão masculina e nomearam Maria de Lourdes da Conceição Alves como sua líder. Desde então, a Cacique Pequena guia o povo em grandes batalhas pelo direito à terra, educação, saúde e cidadania. Hoje, a anciã de 73 anos prepara duas filhas para lhe sucederem quando ela tombar e pai Tupã a levar.
Hoje, 129 famílias do município de Aquiraz são reconhecidas pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) como indígenas, principal luta de Pequena para o seu povo desde o início. “Em 1995, fui a Brasília e tive a oportunidade de conversar com o presidente da Funai. Pedi que mandasse o povo dele na aldeia para fazer o estudo da nossa mãe-terra e de nós”. Dois anos depois, vieram os antropólogos, que concluíram: “Nós éramos índios sim!”, ela diz.
Há cerca de oito anos, Pequena adoeceu e ficou entre a vida e a morte. Nesse momento, precisou escolher, entre as 16 filhas, quem assumiria sua missão quando partisse. Reunida, a família decidiu sobre a sucessão. “Disseram que, como eu fui a primeira cacique mulher do Ceará, acharam melhor eu colocar duas filhas”.
Disponível em: www.secom.ce.gov.br. Acesso em: 15 set. 2021 (adaptado).
Ao abordar a realidade da etnia Jenipapo-Kanindé, essa reportagem cumpre uma função social quando destaca o(a):
A) quantidade de famílias indígenas em Aquiraz.
B) força da tradição nas comunidades indígenas.
C) estudo sobre a demarcação das terras indígenas.
D) protagonismo feminino na linha sucessória desse povo.
E) reconhecimento dessa comunidade pelo governo brasileiro.
Resposta: D) protagonismo feminino na linha sucessória desse povo.
O texto é uma reportagem sobre a etnia Jenipapo-Kanindé e a Cacique Pequena. A reportagem cumpre sua função social ao destacar um fato que rompe com a norma e que é socialmente relevante:
Quebra da Tradição: O texto começa informando que o povo "quebrou a tradição da sucessão masculina e nomearam Maria de Lourdes... como sua líder."
Liderança e Continuidade: Ela é a "primeira cacique mulher do Ceará" e está, ativamente, preparando duas filhas para lhe sucederem, consolidando uma linha sucessória feminina.
Ação Social: O trabalho de Pequena envolve grandes batalhas por "direito à terra, educação, saúde e cidadania."
O tema central e de relevância social que a reportagem enfatiza é a ascensão e a consolidação do protagonismo feminino na liderança e na sucessão do povo Jenipapo-Kanindé, um exemplo de empoderamento e mudança social.
Questão 44
Porque ler para crianças é um ato de amor
Parece que, com o avanço da tecnologia, os livros têm enfrentado cada vez mais concorrência. Por isso, é nossa função lembrar a importância da leitura em todas as fases da vida, mas principalmente na primeira infância (entre 0 e 5 anos), quando o desenvolvimento das crianças acontece de forma mais intensa.
O ato de ler com uma criança ou ler para ela vai muito além de apenas aproveitar uma história em conjunto. É um laço de amorosidade, porque oferece a ela ferramentas que vão ajudá-la a crescer forte e independente.
Se você precisa de uma motivação extra para entrar nessa rede de incentivo, fique ligado nos motivos a seguir. Adotar esse hábito em casa:
1 – cria um laço emocional com a criança;
2 – ajuda no desenvolvimento das capacidades cognitivas;
3 – ensina sobre o mundo;
4 – incentiva o processamento de informações e a imaginação.
Disponível em: www.huffpost.com.br
Acesso em: 22 maio 2018 (adaptado).
Para persuadir o interlocutor sobre a importância de ler para as crianças, esse texto recorre à estratégia de:
A) propor uma condição aos pais, pelo emprego da conjunção se.
B) relativizar a opinião apresentada pelo autor, com o uso de Parece que.
C) empregar uma linguagem metafórica, com o uso da expressão laço da amorosidade.
D) enumerar razões pertinentes a essa ato, como no exemplo ensina sobre o mundo.
E) implicar o autor do texto corresponsável pela campanha, pelo uso de é nossa função.
Resposta: D) enumerar razões pertinentes a essa ato, como no exemplo ensina sobre o mundo.
A estratégia de persuasão (tentativa de convencer o interlocutor) usada no texto é construída em três partes:
- Declaração de Tese: Ler para crianças é um "ato de amor" e "laço de amorosidade."
- Motivação: "Se você precisa de uma motivação extra para entrar nessa rede de incentivo, fique ligado nos motivos a seguir."
- Enumeração (Argumentos): A autora lista de forma clara e objetiva quatro benefícios do hábito: "1 – cria um laço emocional...", "2 – ajuda no desenvolvimento...", "3 – ensina sobre o mundo...", "4 – incentiva o processamento...".
A enumeração de razões (os benefícios da leitura) é a principal técnica persuasiva, pois oferece ao interlocutor argumentos concretos e organizados (evidência ou logos) para justificar a tese do texto sobre a importância de ler para as crianças.
Questão 45
A artista Marija Tiurina criou uma série chamada Palavras intraduzíveis, com diversas ilustrações detalhadas que transmitem o sentido desses vocábulos, que nenhuma palavra única em outras línguas pode descrever.

ROMANZOTI, N. 9 desenhos que ilustram palavras sem tradução para o português. Disponível em: https://hypescience.com. Acesso em: 10 jun. 2019 (adaptado).
O uso do texto verbal nesse desenho assume a função de:
A) descrever de forma técnica a ilustração.
B) destacar os múltiplos sentidos do verbete.
C) explicar o significado da expressão ilustrada.
D) apresentar termos equivalentes em outras línguas.
E) apontar para a dificuldade de compreensão do termo.
A alternativa correta é a C) explicar o significado da expressão ilustrada.
O trabalho da artista Marija Tiurina consiste em ilustrar "palavras intraduzíveis" (aquelas que não têm uma palavra única equivalente em outros idiomas) para transmitir seu sentido.
Objeto da Análise: O desenho ilustra a palavra árabe "Gufra".
Função da Imagem: A imagem mostra as mãos em concha segurando uma pequena quantidade de água e uma figura infantil.
Função do Texto Verbal: O texto verbal posicionado sobre a imagem atua como legenda explicativa para o conceito visual: "Gufra (Árabe): A quantidade de água que pode ser segurada com as mãos."
Portanto, a função primária do texto verbal é explicar o significado preciso e matizado da palavra "Gufra", complementando a ilustração e cumprindo o objetivo central da série da artista (tornar o sentido das palavras intraduzíveis compreensível).
Questão 46
Macedônia do Norte
Acordo entra em vigor e país muda oficialmente de nome
Entrou em vigor, em 2019, o acordo que determina a mudança de nome da Macedônia para Macedônia do Norte. A troca põe fim — ao menos por enquanto — no impasse entre essa antiga república da Iugoslávia e a vizinha Grécia. O governo grego se opunha ao uso do nome Macedônia pelo novo país vizinho porque a Grécia tem uma província no norte com o mesmo nome. Por causa desse impasse, a Grécia bloqueou as negociações de adesão de seu vizinho à União Europeia. Depois de negociações, as duas partes chegaram a um acordo.
Disponível em: https://g1.globo.com. Acesso em: 7 nov. 2021 (adaptado).
Para o país originado da antiga Iugoslávia, a mudança de nome é uma estratégia política para
A) criar a moeda própria.
B) proteger a cultura local.
C) subjugar a minoria étnica.
D) expandir o território nacional.
E) intensificar a integração regional.
A alternativa correta é a E) intensificar a integração regional.
O texto descreve o impasse diplomático entre a Macedônia e a Grécia, onde a Grécia se opunha ao nome do país vizinho e, por isso, bloqueou as negociações de adesão de seu vizinho à União Europeia (UE).
O Problema: A disputa do nome impedia a Macedônia de avançar em sua política externa e de integração.
O Acordo/A Solução: A mudança de nome para Macedônia do Norte põe fim ao impasse e remove o bloqueio grego.
Ao remover o bloqueio grego, o país agora pode prosseguir com as negociações de adesão à União Europeia (e, implicitamente, à OTAN, que também estava bloqueada). A adesão a esses blocos é a forma mais significativa de intensificar a integração regional (política, econômica e de segurança) na Europa.
Questão 47
Concentração de CO₂ por queimadas entre África e Brasil em 30 de agosto de 2019

Disponível em: https://noticias.uol.com.br. Acesso em: 10 out. 2019 (adaptado).
A dispersão espacial do problema ambiental representado na imagem de satélite é explicada pela seguinte característica geográfica:
A) Amplitude das temperaturas médias.
B) Homogeneidade da insolação anual.
C) Ocorrência de chuvas de relevo.
D) Circulação de massas de ar.
E) Ausência de frentes frias.
A alternativa correta é a D) Circulação de massas de ar.
A imagem de satélite mostra a concentração de CO₂ proveniente de queimadas na África e na América do Sul (Brasil). O que se observa é que a fumaça e os gases emitidos pelos focos de queimada na África se espalham pelo Oceano Atlântico e atingem o continente americano, e vice-versa, ainda que em menor grau no sentido Brasil-África nessa data.
A dispersão espacial de poluentes (como o CO₂) em escala transcontinental é determinada, principalmente, pela Circulação Geral da Atmosfera, que inclui:
- Ventos Alísios: Próximos à Linha do Equador, os ventos alísios sopram de leste (África) para oeste (América do Sul), transportando a fumaça das queimadas africanas para o Brasil.
- Massas de Ar: Essas grandes porções de ar controlam o transporte de calor, umidade e, neste caso, poluentes por longas distâncias.
Portanto, a movimentação e o transporte desses gases através do oceano, ligando os dois continentes na atmosfera, só pode ser explicado pela circulação de massas de ar (a dinâmica atmosférica).
Questão 48
A credulidade dos ouvintes aumenta o descaramento do narrador, e o descaramento deste conquista-lhes a credulidade. A eloquência, quando levada a seu patamar mais alto, deixa pouco lugar à razão ou à reflexão, mas, dirigindo-se inteiramente à imaginação e aos afetos, cativa os ouvintes condescendentes e subjuga-lhes o entendimento.
HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento humano e sobre os princípios da moral. São Paulo: Edunesp, 2003.
No contexto do século XVIII, o autor propõe uma reflexão radical acerca da arte da eloquência restringindo-a ao
A) sistema de crenças, conforme a proposta kantiana de objetividade do conhecimento.
B) campo dos absolutos, semelhante ao entendimento medieval dos Universais.
C) demônio da lógica, consoante a compreensão aristotélica nos Analíticos.
D) paradigma da racionalidade, alinhado ao modelo cartesiano de método.
E) âmbito da persuasão, análogo às críticas platônicas aos sofistas.
A alternativa correta é a E) âmbito da persuasão, análogo às críticas platônicas aos sofistas.
David Hume, um filósofo do empirismo britânico do século XVIII, propõe uma reflexão que limita a arte da eloquência (a oratória persuasiva) ao mero poder de convencimento e manipulação dos sentimentos:
Restrição da Eloquência: Hume afirma que a eloquência "deixa pouco lugar à razão ou à reflexão," e se dirige "inteiramente à imaginação e aos afetos," subjugando o entendimento.
Foco na Persuasão: Isso significa que a eloquência atua no âmbito da persuasão (convencer sem se basear na verdade ou na razão rigorosa), apelando às emoções e crenças do público.
Analogia com Platão: Essa crítica é análoga (semelhante) à que Platão fazia aos sofistas na Grécia Antiga. Platão (e Sócrates) criticavam os sofistas por usarem a retórica e a eloquência como técnicas para convencer as pessoas de qualquer coisa, independentemente da verdade ou da moral. Para Platão, a sofística era uma arte de persuasão que buscava a verossimilhança (o que parece ser verdade) em vez da verdade filosófica e racional.
Questão 49
TEXTO I

CARLEVARIS, L. La piazetta (detalhe). Óleo sobre tela, 49 x 41 cm. Ashmolean Museum, Oxford, 1729.
Disponível em: www.meinsterart.de. Acesso em: 13 dez. 2017.
TEXTO II
Antigo centro da economia mundo-europeia do século XV, no final do século XVII e início do século XVIII, Veneza ainda era uma cidade cosmopolita onde orientais podiam sentir-se em casa.
BRAUDEL, F. O tempo do mundo. São Paulo: Martins Fontes, 1979 (adaptado).
Qual elemento da condição cosmopolita de Veneza na Idade Moderna está explicitado nos textos?
A) Avanço do ensino laico.
B) Conquista das terras da América.
C) Integração do comércio mediterrâneo.
D) Popularização do pensamento humanista.
E) Desenvolvimento das corporações de ofício.
Resposta: C) Integração do comércio mediterrâneo.
O Texto II descreve Veneza na Idade Moderna (séculos XV a XVIII) como uma "cidade cosmopolita onde orientais podiam sentir-se em casa".
A característica geográfica e econômica que permitiu essa condição cosmopolita (mistura de culturas e povos) foi a sua posição estratégica e o domínio da Integração do comércio mediterrâneo. A imagem mostra a movimentação e a diversidade de pessoas, incluindo figuras que parecem orientais ou de fora da Europa Ocidental, que eram atraídas pelo intenso comércio marítimo de longa distância.
Questão 50
O direito não é a justiça. O direito é o elemento do cálculo, é justo que haja um direito, mas a justiça é incalculável, ela exige que se calcule o incalculável; e as experiências aporéticas são experiências tão improváveis quanto necessárias da justiça, isto é, são momentos em que a decisão entre o justo e o injusto nunca é garantida por uma regra.
DERRIDA, J. Força de lei. São Paulo: Martins Fontes, 2010 (adaptado).
De acordo com o texto, ainda que estejam em desconformidade com o ordenamento jurídico, são exemplos de ação justa:
A) Casos de desobediência civil.
B) Repressões do aparato estatal.
C) Conflitos de natureza intercontinental.
D) Manifestações do movimento sindical.
E) Mobilizações de agremiações estudantis.
Resposta: A) Casos de desobediência civil.
O filósofo Jacques Derrida distingue o direito (regra, cálculo, garantido por regras) da justiça (incalculável, aporética, não garantida por regras). Uma ação justa, segundo o texto, pode existir em momentos que transcendem o ordenamento jurídico ("em desconformidade com o ordenamento jurídico"). A desobediência civil é o exemplo clássico de uma ação que viola a lei em nome de um princípio de justiça superior, buscando o "incalculável" exigido pela justiça.
As demais alternativas estão erradas, pois todas representam situações que estão de acordo com o ordenamento jurídico, inclusive conflitos intercontinentais, sujeitos ao direito internacional.
Questão 51
Sinal fechado
Olá, como vai?
Eu vou indo e você, tudo bem?
Tudo bem, eu vou indo, correndo
Pegar meu lugar no futuro, e você?
Tudo bem, eu vou indo em busca
De um sono tranquilo, quem sabe?
Quanto tempo...
Pois é, quanto tempo...
Me perdoe a pressa
É a alma dos nossos negócios...
Oh, não tem de que
Eu também só ando a cem
Quando é que você telefona?
Precisamos nos ver por aí
Pra semana, prometo,
Talvez nos vejamos, quem sabe?
Quanto tempo...
Pois é, quanto tempo...
Tanta coisa que eu tinha a dizer
Mas eu sumi na poeira das ruas
Eu também tenho algo a dizer
Mas me foge a lembrança
Por favor, telefone, eu preciso beber
Alguma coisa rapidamente
Pra semana...
O sinal...
Eu procuro você...
Vai abrir! Vai abrir!
Prometo, não esqueço
Por favor, não esqueça
Não esqueço, não esqueço
Adeus...
PAULINHO DA VIOLA. Foi um rio que passou em minha vida. Rio de Janeiro: Odeon, 1970.
A letra da canção apresenta a permanência de uma situação da vida cotidiana ao destacar a
A) diminuição do comportamento competitivo.
B) importância da memória coletiva.
C) redução da mobilidade urbana.
D) efemeridade dos vínculos de afetividade.
E) obsolescência dos meios de comunicação.
Resposta: D) efemeridade dos vínculos de afetividade.
A letra da canção "Sinal Fechado" narra um encontro apressado e superficial. O diálogo é cheio de promessas não cumpridas de reencontro ("Pra semana, prometo, Talvez nos vejamos, quem sabe?") que são interrompidas pela correria e pela pressa ("É a alma dos nossos negócios," "Eu também só ando a cem"). Ou seja, a mensagem da música destaca a fragilidade e a transitoriedade das conexões pessoais e dos vínculos de afetividade na vida urbana moderna.
Questão 52
Não há consenso em torno do nome dado à pandemia, tendo, desde o seu início, sido chamada de gripe espanhola provavelmente por causa da desinformação em torno da notícia sobre sua origem. Uma das hipóteses deriva da neutralidade espanhola na Primeira Guerra Mundial e a consequente liberdade de imprensa naquele país, maior do que nos demais países envolvidos no conflito. Hoje existe o consenso entre virologistas e epidemiologistas de que o vírus da gripe não se originou na Espanha. Entretanto, dificilmente essa pandemia deixará de ser conhecida como gripe espanhola.
KLAJMAN, C. A gripe sob a ótica da história ecológica. História Revista, n. 3, set-dez. 2015 (adaptado).
De acordo com o texto, a denominação recebida pela pandemia do começo do século XX foi determinada pelo(a)
A) precariedade dos conhecimentos da medicina militar.
B) retaliação da tríplice aliança aos soldados desertores.
C) controle dos relatos oriundos de campos de batalha.
D) emprego de armas biológicas em confrontos transnacionais.
E) circulação de refugiados contaminados em áreas conflagradas.
Resposta: C) controle dos relatos oriundos de campos de batalha.
O texto explica que a pandemia foi chamada de "gripe espanhola" não por ter se originado na Espanha, mas por causa da liberdade de imprensa espanhola. Como a Espanha era neutra na Primeira Guerra Mundial, sua imprensa não estava sujeita à censura imposta pelos países em conflito. O nome, portanto, foi determinado pelo controle e pela supressão das notícias (relatos) nos países que participavam da guerra (relatos oriundos de campos de batalha), o que tornou a Espanha uma das principais fontes de informação sobre a doença.
Questão 53
TEXTO I
A partir do século IV, com os imperadores ditos cristãos, o teatro e a dança foram condenados. O batismo era recusado aos que atuavam no circo ou na pantomima. E em 398, no Concílio de Cartago, os que iam ao teatro nos dias santos foram excomungados.
DINIZ, T.; SANTOS, G. História da dança. Disponível: www.uel.br. Acesso em: 18 out. 2023.
TEXTO II
A dança no ato litúrgico cumpre tanto um papel de adoração quanto mercadológico. Não à toa há aceitação, expansão e investimento nessa prática percebida massivamente pela ampla divulgação principalmente nas redes sociais. A expansão e ampliação por via de festivais, aulas, cursos, palestras etc. consolida a criação de um mercado específico para esse público.
SANTOS, Z. Dança gospel. Slavador: UFBA, 2021.
A percepção sobre a dança e a cultura corporal apresenta aspectos relacionados, respectivamente, a
A) segregação social e intolerância eclesiásticas.
B) rituais eucarísticos e sacramentos da Igreja.
C) transe individual e progresso intelectual.
D) penitência pessoal e juramento coletivo.
E) dogmatismo religioso e adesão de fiéis.
Resposta: E) dogmatismo religioso e adesão de fiéis.
A questão pede a percepção da dança relacionada respectivamente aos dois textos:
Texto I: A condenação e a proibição da dança (recusa de batismo, excomunhão) pelos imperadores e concílios cristãos no século IV refletem uma postura rígida e excludente, característica do dogmatismo religioso da época.
Texto II: A dança atual (gospel) é marcada pela aceitação, expansão e investimento, cumprindo um papel de adoração e sendo amplamente divulgada. Esse fenômeno demonstra a adesão de fiéis a novas formas de expressão da fé.
Questão 54
A ideia de êxodo urbano assume ares caricaturais. Pega a mais reduzida parte da pirâmide social e projeta para todos seus desejos defensivos. Se o êxodo urbano for compreendido como aquisição de uma segunda residência, então não estamos, de fato, falando de êxodo, mas da reversão de um excedente de renda de uma pequena fração da elite para as franjas metropolitanas. Se o êxodo urbano for compreendido como retorno aos municípios menos povoados, então não estamos, de fato, falando de êxodo urbano, mas de um movimento de migração de pessoas cuja estabilidade no emprego e a elevada renda lhes permitem simular, nas ilhas urbanas do interior agropecuário, a vida urbana metropolitana.
ARRAIS, T. A. O distópico êxodo urbano. Revista e, n. 11, maio 2021 (adaptado).
A crítica apresentada no texto evidencia uma dinâmica socioespacial marcada pela
A) valorização de tradições rurais.
B) redução de plantações agrícolas.
C) estagnação de atividades comerciais.
D) precariedade de infraestruturas rodoviárias.
E) seletividade de deslocamentos populacionais.
Resposta: E) seletividade de deslocamentos populacionais.
O texto critica a ideia de "êxodo urbano" por não ser um movimento de massa. O movimento é classificado como um deslocamento de uma "pequena fração da elite" (revertendo excedente de renda em segunda residência) ou de pessoas com "estabilidade no emprego e elevada renda". A migração, portanto, não é acessível a todos e se baseia estritamente em critérios de classe social e poder econômico, evidenciando uma forte seletividade de deslocamentos populacionais.
Questão 55
A “invenção” dessa nova anatomia política não deve ser entendida como descoberta súbita. Mas como uma multiplicidade de processos muitas vezes mínimos, de origens diferentes, de localizações esparsas, que se recordam, que se repetem, ou se imitam, apoiam-se uns sobre os outros e esboçam aos poucos a fachada de um método geral. Encontramos-los em funcionamento nos colégios, muito cedo; mais tarde, nas escolas primárias, no espaço hospitalar e na organização militar.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir. Petrópolis: Vozes, 2011.
O texto indica o seguinte aspecto da disciplina como ferramenta política:
A) Expansão das técnicas de suplício.
B) Judicialização das relações de poder.
C) Dissolução das distinções de nobreza.
D) Capilarização das práticas de controle.
E) Espetacularização das medidas de penitência.
Resposta: D) Capilarização das práticas de controle.
Michel Foucault descreve a disciplina ("nova anatomia política") como uma "multiplicidade de processos muitas vezes mínimos, de origens diferentes, de localizações esparsas" que se apoiam e se esboçam num "método geral." Ele lista sua presença em diversas instituições (colégios, escolas, hospitais, organização militar). Esse conceito de um poder que não se concentra, mas se espalha de forma sutil e penetrante por todo o tecido social, atingindo o indivíduo em múltiplos pontos, é a capilarização das práticas de controle.
Para Foucault, mecanismos sutis de vigilância através da disciplina (nas escolas, nos hospitais, nos presídios, etc.) substituem a necessidade de violência direta por um poder centralizado.
Questão 56
Por séculos, o Rio Reno tem sido uma rota de navegação confiável, ajudando a criar gigantes fabris ao longo de suas margens. No entanto, esses dias parecem estar no fim, pois o nível da água tem diminuído regularmente, o que impede a navegação fluvial do final do verão até o outono. Isso mostra como a crise climática atinge as economias dos países ricos.
Disponível em: www.estadao.com.br. Acesso em: 10 ago. 2023 (adaptado).
Qual é o efeito econômico do problema ambiental apresentado no texto?
A) Supressão da extração de minério.
B) Intensificação da atividade de pesca.
C) Encarecimento da logística de transporte.
D) Inviabilização da agricultura de subsistência.
E) Sucateamento da indústria de transformação.
Resposta: C) Encarecimento da logística de transporte.
O texto informa que a diminuição regular do nível da água do Rio Reno, causada pela crise climática, impede a navegação fluvial. Como o Rio Reno é uma "rota de navegação confiável" crucial para a economia dos países ricos, a interrupção ou a dificuldade do transporte aquaviário exigirá que as mercadorias sejam transportadas por meios alternativos (como o rodoviário ou ferroviário), que são geralmente mais caros, resultando no encarecimento da logística de transporte.
Questão 57
Dos 10 aos 15 anos de idade, Virgínia adorava acompanhar seu pai, aos domingos, naquela sinestésica Feira de São Cristóvão (RJ), talvez por ser o maior elo que ela experimentava com o mundo exterior à sua casa e, visto assim e agora, tão íntimo e próximo de algo que ela ainda não sabia, mas que seria, no futuro, a sua própria casa: a Paraíba. Dona Didi costurava, sob medida, camisas sociais, bermudas, shorts, vestidos, saias, sempre em casa e rodeada pelos quatro filhos pequenos do casal, desdobrando-se para dar conta de toda a responsabilidade sem trégua que isso demandava.
PASSOS, M. C. P. et al. apud SCARELI, G. A máquina de costura e os fios da memória. Revista Brasileira de Pesquisa (Auto) Biográfica, n. 18, maio-ago. 2021 (adaptado).
Os itinerários afetivos e socioespaciais mencionados no texto associam-se à vida dos personagens por apresentarem
A) histórias conectadas e recordações do lugar.
B) direitos trabalhistas e produção industrial.
C) preconceitos linguísticos e dinâmicas territoriais.
D) lembranças fabris e discriminação dos operários.
E) experiências profissionais e segregação regional.
Resposta: A) histórias conectadas e recordações do lugar.
O texto conecta a vida dos personagens através de laços afetivos e espaciais:
Virgínia: a Feira de São Cristóvão (RJ), um ponto de cultura nordestina no Sudeste, é o "maior elo" dela com o mundo e com a Paraíba (sua futura "casa").
Dona Didi: costurava em casa para dar conta das responsabilidades.
O itinerário afetivo da família, marcada pela migração e pelo trabalho, é articulado pela conexão da Feira (RJ) com a recordação e o futuro da Paraíba, entrelaçando as histórias dos personagens com a memória do lugar.
Questão 58
Em 1872, havia mais de 1 milhão de votantes, correspondentes a 13% da população livre. Em 1886, votaram nas eleições parlamentares pouco mais de 100 mil eleitores, ou 0,8% da população total. Houve um corte de quase 90% do eleitorado. O dado é chocante, sobretudo se lembrarmos que a tendência de todos os países europeus da época era na direção de ampliar os direitos políticos. O mais grave é que esse retrocesso foi duradouro. A Proclamação da República não alterou o quadro.
CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002 (adaptado).
De acordo com o texto, a participação no processo eleitoral brasileiro após a Reforma de 1881 sofreu uma variação que se explica pela
A) restrição de gênero.
B) exclusão de imigrantes.
C) comprovação de domicílio.
D) exigência da alfabetização.
E) obrigatoriedade do sufrágio.
Resposta: D) exigência da alfabetização.
O texto mostra uma queda de quase 90% do eleitorado brasileiro após a Reforma de 1881 (Lei Saraiva). Esse retrocesso eleitoral é historicamente explicado pela medida central da reforma, que foi a exclusão dos analfabetos do direito ao voto. Dada a alta taxa de analfabetismo no Brasil da época, essa exigência reduziu drasticamente a participação política.
Questão 59
Pela falta de chuvas, a geração de energia eólica, solar e térmica atingiu níveis recordes em agosto de 2021, quando as hidrelétricas ficaram com cerca de 50% do total. Para um professor da Universidade Federal da Bahia, essa queda não é uma surpresa. “Não aconteceu de uma hora para outra. Se olharmos o mapa do Brasil, um dos grandes provedores de água é a Floresta Amazônica. Se você diminui a floresta, diminui a quantidade de água que vai para a atmosfera”, explica.
BORGES, T. O fantasma do apagão. Disponível em: www.correio24horas.com.br. Acesso em: 9 out. 2021 (adaptado).
De acordo com o texto, a dificuldade na produção de energia é causada pela alteração da(s)
A) variável em pesquisas meteorológicas.
B) paisagem em locais estratégicos.
C) demandas em regiões industriais.
D) metas em acordos climáticos.
E) geologia em áreas naturais.
Resposta: B) paisagem em locais estratégicos.
O professor explica que a dificuldade na produção de energia hidrelétrica (crise hídrica) está diretamente ligada à diminuição da Floresta Amazônica. A floresta é um "grande provedor de água" que a leva para a atmosfera, alimentando os rios e, consequentemente, as hidrelétricas. O problema da energia é causado, portanto, pela alteração de uma paisagem (a Floresta Amazônica) que tem uma função estratégica no ciclo hidrológico e no clima do país.
Questão 60
Adam Smith via o açougueiro e o padeiro não só como indivíduos buscando seus interesses financeiros, mas como pessoas moralmente motivadas dentro de uma sociedade. A base da moral era a empatia e o julgamento, instaurando uma distinção entre o que queremos fazer e o que sentimos que devemos fazer.
COLLIER, P. O futuro do capitalismo. Porto Alegre: LP&M, 2019.
O texto defende uma motivação capitalista para o campo dos negócios, na qual o lucro se mostra associado à
A) consolidação do poder político.
B) procura de satisfação subjetiva.
C) estruturação do monopólio comercial.
D) percepção de responsabilidade ética.
E) conquista do reconhecimento público.
Resposta: D) percepção de responsabilidade ética.
O texto de Paul Collier sobre Adam Smith enfatiza que o capitalista (açougueiro, padeiro) não era visto apenas como alguém em busca de lucro, mas como uma pessoa "moralmente motivada". A base dessa moral era a empatia e o julgamento, criando uma distinção entre o que se deseja fazer e o que se sente que deve fazer. Portanto, o lucro, nesse contexto, mostra-se associado a uma percepção de responsabilidade ética na conduta do indivíduo.
Questão 61
O corpo de cidadãos é o poder supremo dos Estados. A supremacia pode residir ou num homem, ou na minoria ou em todos. Sempre que o Um, ou a Minoria, ou Todos governam, tendo em vista o bem-estar comum, essas constituições são justas; mas se procuram apenas o benefício de uma das partes, seja ela o Um, a Minoria ou Todos, estabelece-se um desvio.
ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Nova Cultural, 2003.
No excerto encontra-se a base da teoria clássica das três formas de governo representadas pela
A) tirania, oligarquia e república.
B) burocracia, autarquia e império.
C) ditadura, autocracia e anarquia.
D) plutocracia, tecnocracia e demagogia.
E) monarquia, aristocracia e democracia.
Resposta: E) monarquia, aristocracia e democracia.
O excerto apresenta a base da teoria clássica das formas de governo de Aristóteles, que classifica os regimes de acordo com o número de governantes ("supremacia pode residir ou num homem, ou na minoria ou em todos").
No texto da Política de Aristóteles, o autor anuncia como as três formas de governos justos a monarquia (governo de um); a aristocracia (governo de poucos) e a politeia (governo da maioria). Em relação às formas injustas destes governos, diz Aristóteles:
“Desvios dessas que mencionamos são a tirania [tyrannis] em relação à monarquia; a oligarquia [oligarchia] em relação à aristocracia [aristokratia]; e a democracia [dēmokratia] em relação à politeía [politeia]; pois a tirania é a realeza que se conduz no interesse do monarca; a oligarquia no interesse dos abastados; e a democracia no interesse dos sem-meios, e nenhuma dessas formas vai em direção ao que é vantajoso para a o que é comum. (...)” (Aristóteles, Política, 1279a–1280a)
Devido à mudança de conotação da palavra “democracia” ao longo dos séculos, é comum a interpretação corrente de que a forma justa do governo da maioria seja a “democracia” (e não a politeia) e que a sua forma injusta seja a “anarquia”, embora tal interpretação não encontre respaldo no texto de Aristóteles, sendo uma interpretação anacrônica.
A alternativa E apresenta a tríade clássica baseada no número de governantes, apesar da problemática interpretação do termo "democracia".
Questão 62
Para que a utopia nasça, é preciso duas condições. A primeira é a forte sensação de que o mundo não está funcionando adequadamente e deve ter seus fundamentos revistos para que se reajuste. A segunda condição é a existência de uma confiança no potencial humano à altura da tarefa de reformar o mundo, a crença de que nós, seres humanos, podemos fazê-lo, sendo capazes de perceber o que está errado com o mundo, o que precisa ser modificado, quais são os pontos problemáticos, e ter força e coragem para extirpá-los.
BAUMAN, Z. apud OLIVEIRA, D. Bauman: para que a utopia renasça, é preciso confiar no potencial humano. Revista Cult, jan. 2017.
De acordo com o autor, qual é a função da utopia no contexto das transformações sociais?
A) Habilitar memórias afetivas.
B) Apontar alternativas possíveis.
C) Legitimar experiências pretéritas.
D) Perpetuar paradigmas científicos.
E) Empreender soluções conclusivas.
Resposta: B) Apontar alternativas possíveis.
Zygmunt Bauman define a utopia como necessária para "reformar o mundo". Para que isso ocorra, é preciso "perceber o que está errado com o mundo, o que precisa ser modificado, quais são os pontos problemáticos." A função da utopia, portanto, é a de identificar as falhas do presente e, a partir delas, sugerir caminhos e modelos de sociedade diferentes para o futuro, ou seja, apontar alternativas possíveis para a transformação social.
Questão 63
Produção e exportações brasileiras no ranking mundial em 2019

Fonte: USDA, 2020. Elaboração CNA.
*Fatia de participação na produção mundial.
Disponível em: www.cnabrasil.org.br. Acesso em : 15 out. 2021.
Qual condição favoreceu o cenário produtivo exposto na figura?
A) Redução do poder de compra da população brasileira.
B) Ampliação da entrada do capital agroindustrial no campo.
C) Diminuição do uso de trabalho especializado na agropecuária.
D) Valorização da moeda nacional em relação ao dólar americano.
E) Inclusão de pequenas propriedades em cultivos de subsistência.
A alternativa correta é a B) Ampliação da entrada do capital agroindustrial no campo.
A figura demonstra o cenário produtivo e de exportação do Brasil no ranking mundial em 2019, destacando que o país é um grande produtor e exportador de commodities agrícolas (Açúcar, Soja, Milho, Carnes, etc.), frequentemente ocupando o 1º ou 2º lugar global.
Essa produção em larga escala, com alta eficiência e foco em exportação, é uma característica do agronegócio moderno e é favorecida por:
- Investimento em Tecnologia e Escala: O agronegócio de commodities exige grandes investimentos em máquinas, insumos, logística e pesquisa (Embrapa, por exemplo).
- Concentração de Riqueza: O capital é atraído para o campo para financiar e expandir essas grandes monoculturas e criações de gado, que visam o mercado externo.
Portanto, a condição que mais favoreceu esse cenário de alta produtividade e liderança mundial em exportação é a ampliação da entrada do capital agroindustrial no campo, transformando a produção agrícola em um setor altamente tecnificado e voltado para a exportação global.
Questão 64
Em toda a sua carreira política, Getúlio Vargas sempre contara com o seu talento pessoal de persuasão e poder de manipulação. Agora, porém, seus amigos começavam a perceber que ele parecia envelhecido e cansado. A principal figura da oposição, concordavam eles, era o belicoso jornalista Carlos Lacerda. Se ao menos pudessem "removê-lo" do cenário político, talvez Vargas se salvasse da situação. Esses seguidores decidiram tomar o assunto em suas próprias mãos com o atentado da Rua Tonelero.
SKDIMORE, T. Brasil: de Getúlio a Castelo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2003 (adaptado).
Nesse contexto, a ação dos aliados de Getúlio Vargas teve como consequência imediata o(a)
A) intensificação dos ataques do grupo udenista.
B) intervenção dos sindicatos no conflito partidário.
C) mobilização da sociedade na defesa do governo.
D) abandono da censura aos meios de comunicação.
E) apoio dos parlamentares aos candidatos oposicionistas.
Resposta: A) intensificação dos ataques do grupo udenista.
O texto descreve o Atentado da Rua Tonelero (agosto de 1954), um plano dos aliados de Getúlio Vargas para "remover" o principal opositor do cenário político, o jornalista Carlos Lacerda, líder da União Democrática Nacional (UDN).
O atentado falhou em matar Lacerda (que foi ferido) e resultou na morte do Major Rubens Vaz. A consequência imediata e mais grave foi a intensa comoção e a crise política que se seguiu. O atentado forneceu à UDN e aos militares um argumento definitivo e um impulso moral para exigir o afastamento imediato de Vargas, intensificando os ataques da oposição e culminando no suicídio de Vargas dias depois.
Questão 65
O que eu queria ter sido
Um nome para o que sou, importa muito pouco. Importa o que eu gostaria de ser. O que eu gostaria de ser era uma lutadora. Quero dizer, uma pessoa que luta pelo bem dos outros. Isso desde pequena eu quis. Por que foi o destino me levando a escrever o que já escrevi, em vez de também desenvolver em mim a qualidade de lutadora que eu tinha? Em pequena, minha família por brincadeira chamava-me de “a protetora dos animais”. Porque bastava acusarem uma pessoa para eu imediatamente defendê-la. E eu sentia o drama social com tanta intensidade que vivia de coração perplexo diante das grandes injustiças a que são submetidas as chamadas classes menos privilegiadas.
LISPECTOR, C. Aprendendo a viver. Rio de Janeiro: Rocco Digital, 2013.
A reflexão contida no texto faz referência aos pressupostos de uma doutrina ética representada pelo
A) estado eudaimônico.
B) referencial hedonista.
C) pensamento altruísta.
D) movimento antiespecista.
E) comportamento pragmático.
Resposta: C) pensamento altruísta.
O texto de Clarice Lispector expressa um forte desejo de ser uma "lutadora" e uma "protetora". Ela descreve sua motivação como a de lutar "pelo bem dos outros" e de sentir-se "perplexa diante das grandes injustiças a que são submetidas as chamadas classes menos privilegiadas."
Essa disposição de colocar o bem-estar e a defesa dos outros acima do próprio interesse ou destino é a definição do altruísmo. O altruísmo é uma doutrina ética que enfatiza a preocupação desinteressada com o bem-estar de outras pessoas.
Questão 66
Independência de pensamento, autonomia e direito à oposição política estão perdendo sua função crítica básica numa sociedade que parece cada vez mais capaz de atender às necessidades dos indivíduos através da forma pela qual é organizada. Nas condições de um padrão de vida crescente, o não conformismo com o próprio sistema parece socialmente inútil, principalmente quando acarreta desvantagens econômicas e políticas tangíveis e ameaça o funcionamento suave do todo.
MARCUSE, H. Ideologia da sociedade industrial. Rio de Janeiro: Zahar, 1969.
Qual é a característica da sociedade industrial do século XX apresentada no texto?
A) Gestão integrada.
B) Relativismo moral.
C) Desobediência civil.
D) Realidade unidimensional.
E) Desenvolvimento tecnológico.
Resposta: D) Realidade unidimensional.
O texto de Herbert Marcuse, um expoente da Escola de Frankfurt, descreve uma sociedade onde:
O sistema é "capaz de atender às necessidades dos indivíduos" por meio de sua organização (padrão de vida crescente).
O não conformismo ou a oposição política perde a função crítica e parece "socialmente inútil."
A crítica ameaça o "funcionamento suave do todo."
Em sua obra O homem unidimensional, Marcuse usa o termo "unidimensional" para descrever exatamente essa condição. Nela, o sistema absorve e neutraliza a oposição e a crítica, oferecendo consumo e bem-estar material, eliminando a dimensão do pensamento crítico e transformador (a segunda dimensão).
Questão 67
Do ponto de vista administrativo e judicial, a desapropriação da fazenda Cabaceiras, localizada na região sul do estado do Pará, é a primeira da história motivada pelo desrespeito à função social de um imóvel rural, como prevê a Constituição Federal de 1988, em decorrência da exploração de "trabalho em condições análogas à escravidão". Na realidade, essa desapropriação não se deu apenas pela ocorrência de relações de trabalho extremamente degradantes, mas também pelas graves infrações ambientais verificadas na fazenda — o que também configura um ataque à função social da terra, de acordo com os preceitos constitucionais.
BARROS, C. J. A conquista da fazenda Cabaceiras. Disponível em: www.agb.org.br. Acesso em: 15 maio 2023.
O texto considera a promoção da justiça como um mecanismo de
A) manutenção da ordem agrária.
B) legitimação da propriedade privada.
C) hegemonia das classes dominantes.
D) revisão das desigualdades econômicas.
E) homogeneização da distribuição fundiária.
Resposta: D) revisão das desigualdades econômicas.
O texto trata da desapropriação da fazenda Cabaceiras por desrespeito à função social da propriedade rural, motivada por:
- Exploração de "trabalho em condições análogas à escravidão."
- "Graves infrações ambientais."
A desapropriação é um ato de justiça que redistribui o imóvel rural, punindo o proprietário que violou a lei. Ao punir a exploração de trabalho e a degradação ambiental, o mecanismo da justiça busca:
- Reverter a exploração (uma forma de desigualdade social).
- Permitir a destinação da terra para a reforma agrária, buscando uma distribuição mais equitativa.
Portanto, a desapropriação por desrespeito à função social atua como um mecanismo de revisão das desigualdades econômicas e sociais historicamente associadas à concentração fundiária e à exploração do trabalho.
Questão 68

Salvador, capital do estado da Bahia.
Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br. Acesso em: 20 out. 2021.
A análise dos elementos presentes na fotografia permite identificar qual característica socioespacial?
A) Estagnação da especulação imobiliária.
B) Conservação da arquitetura colonial.
C) Implantação de moradias populares.
D) Predomínio da atividade comercial.
E) Processo de verticalização urbana.
Resposta: E) Processo de verticalização urbana.
A fotografia aérea de Salvador mostra uma área de orla com grande densidade de edifícios altos e com múltiplos andares ao longo do litoral. Essa paisagem demonstra claramente o processo de verticalização urbana, ou seja, a substituição de casas por prédios elevados, impulsionada pela especulação imobiliária e pelo adensamento populacional em áreas valorizadas da cidade.
Questão 69
A difusão pelos cônegos do ideal apostólico, bem como a influência dos eremitas e dos pregadores errantes que na sua esteira propagavam temas evangélicos, contribuíram para fazer nascer, entre os fiéis, o desejo de se erguerem ao nível espiritual do clero e de obterem a sua salvação, sem que para isso tivessem de renunciar ao seu estado. Pela primeira vez, a Igreja entreabria as portas da graça em benefício da totalidade dos fiéis, colocando, como única condição, a sua partida para o Oriente, a fim de aí lutarem contra os inimigos de Cristo.
VAUCHEZ, A. A espiritualidade da Idade Média Ocidental, séc. VIII-XIII. Lisboa: Estampa, 1995.
Conforme o texto, no imaginário dos fiéis cristãos do período medieval, a salvação era alcançada por meio das
A) palavras escritas.
B) práticas litúrgicas.
C) ações voluntárias.
D) ideias messiânicas.
E) celebrações coletivas.
Resposta: C) ações voluntárias.
O texto descreve uma mudança no imaginário religioso medieval, onde a salvação passou a ser acessível a todos os fiéis, mesmo sem que tivessem que se tornar membros do clero. A única condição imposta pela Igreja para que os fiéis alcançassem a graça era a "sua partida para o Oriente, a fim de aí lutarem contra os inimigos de Cristo". Essa partida e a luta representam um esforço pessoal, uma ação voluntária (a participação nas Cruzadas, um ato de guerra santa) que garantia a salvação.
Questão 70
Nos Estados Unidos, um hotel perto de um parque foi engolido por uma enorme cratera. E não é a primeira vez que esse tipo de incidente acontece na Flórida. Em minutos, uma ala inteira do hotel era engolida pela cratera de 30 metros de diâmetro e cinco de profundidade. O diretor do resort em Clermont, perto dos parques temáticos da Flórida, diz que o prédio tinha 15 anos, e que até então o solo nunca havia apresentado problemas. Os afundamentos são um fenômeno comum na Flórida por causa das formações de calcário e argila no subsolo, mas às vezes chuvas fortes, ou a drenagem do solo para construção, acabam contribuindo para o surgimento desses buracos.
Disponível em: http://g1.globo.com. Acesso em: 10 dez. 2024 (adaptado).
A situação de desmoronamento do solo descrita no texto origina-se da
A) cristalização da estrutura geológica.
B) ação do intemperismo químico.
C) recomposição da mata ciliar.
D) acumulação de sedimentos orgânicos.
E) impermeabilização da superfície ocupada.
Resposta: B) ação do intemperismo químico.
O texto explica que os afundamentos (crateras ou sumidouros) na Flórida são comuns por causa das "formações de calcário e argila no subsolo". O calcário é uma rocha sedimentar solúvel em água levemente ácida (chuva). O processo em que a água dissolve quimicamente a rocha (intemperismo) no subsolo, criando cavernas e enfraquecendo o teto rochoso, é a ação do intemperismo químico (ou dissolução cárstica). O colapso do teto da caverna é o que forma a cratera.
Questão 71
Moradores de Berlim protestaram contra a demolição de um trecho do muro que dividiu a cidade durante quase três décadas. Tratado como patrimônio cultural e histórico da cidade, o East Side Gallery, repleto de grafites emblemáticos, está na mira de uma construtora que pretende levantar um condomínio de luxo às margens do Rio Spree, que corta a cidade.
ALMEIDA, R. Alemães impedem demolição de último trecho original do muro de Berlim. Disponível em: http://operamundi.uol.com.br. Acesso em: 2 fev. 2021 (adaptado).
A demolição do símbolo histórico mencionado representa uma
A) violação da memória coletiva.
B) alteração das fronteiras políticas.
C) adesão à arquitetura neoclássica.
D) negação das influências orientais.
E) reorganização da mobilidade urbana.
Resposta: A) violação da memória coletiva.
O trecho do Muro de Berlim em questão, o East Side Gallery, é tratado como "patrimônio cultural e histórico da cidade" e está "repleto de grafites emblemáticos". O muro é um símbolo físico da divisão da Guerra Fria e da posterior reunificação alemã. Sua demolição, em nome de um empreendimento privado (condomínio de luxo), é vista pelos moradores como a destruição de um local que preserva a memória coletiva da cidade, gerando protestos.
Questão 72
TEXTO I
Em conjunto: todo e não todo, unido e separado, em consonância e em dissonância. De todos um e de um todos. (Fragmento B10)
TEXTO II
Deus é dia-noite, inverno-verão, guerra-paz, saciedade-fome. (Fragmento B67)
Pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
A característica do pensamento do filósofo Heráclito, registrada nos fragmentos mencionados, é a ênfase na
A) qualidade imperecível do mundo.
B) degradação material da natureza.
C) imobilidade imanente do universo.
D) distribuição dicotômica do cosmos.
E) desordem incontornável das coisas.
Resposta: D) distribuição dicotômica do cosmos.
Os fragmentos de Heráclito enfatizam a união e a interdependência de opostos: "todo e não todo, unido e separado, em consonância e em dissonância" (B10) e "dia-noite, inverno-verão, guerra-paz, saciedade-fome" (B67). O filósofo entendia que o universo (cosmos) é organizado por um princípio de fluxo (o panta rhei) e por essa luta e harmonia dos contrários. Essa ênfase na polaridade e na contradição ("de todos um e de um todos") caracteriza a distribuição dicotômica (duas partes opostas) dos elementos do cosmos.
Questão 73
Entre esses preconceitos estava o canibalismo. A prática não era, porém, uma mentira, uma invenção europeia, mas um ritual controlado por regras. Entre os tupis, por exemplo, os guerreiros se sentiam honrados quando morriam em um banquete canibal. Para os europeus, no entanto, comer carne humana era abominável, pois nem mesmo os leões ingeriam seus semelhantes. Portanto, para os conquistadores, o canibalismo era sinônimo de barbarismo e da incapacidade de se autogovernar.
RAMINELLI, R. Canibalismo para alemão ver. In: FIGUEIREDO, L. (Org.). História do Brasil para ocupados. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013 (adaptado).
No texto, europeus e ameríndios atribuíram à prática relatada, respectivamente, o significado de
A) selvageria — empoderamento.
B) impetuosidade — resistência.
C) fanatismo — humilhação.
D) intolerância — violência.
E) repressão — justiça.
Resposta: A) selvageria — empoderamento.
O texto descreve a atribuição de significados à prática do canibalismo:
Para os europeus: Comer carne humana era abominável, sinônimo de barbarismo e incapacidade de se autogovernar. O termo que melhor resume essa visão é selvageria.
Para os ameríndios: O ritual era controlado por regras e os guerreiros se sentiam honrados ao morrer em um banquete canibal. O ritual, ao elevar o status do guerreiro e ser uma prática honrosa, representa um ato de empoderamento dentro de sua cultura.
Questão 74
Fragmentada em pequenos grupos, fragilizada pela ausência de algum tipo de organização ampla, tendo que carregar o peso do preconceito racial que se transfere do negro para a cultura negra, a religião dos orixás tem poucas chances de se sair melhor na competição — desigual — com outras religiões. Silenciosamente, assistimos hoje a um verdadeiro massacre das religiões afro-brasileiras.
PRANDI, R. O Brasil com axé. Estudos Avançados, n. 52, dez. 2004.
No processo de invisibilização dos cultos afro-brasileiros, o texto associa os seguintes elementos essenciais:
A) Ausência de soluções partidárias e rejeição da laicidade.
B) Precariedade de coesão representativa e recusa da alteridade.
C) Insuficiência de estruturas decisórias e exclusão da dialogicidade.
D) Inexistência de direitos constitucionais e negação do ecumenismo.
E) Efemeridade das relações políticas e debilidade do pertencimento étnico.
Resposta: B) Precariedade de coesão representativa e recusa da alteridade.
O texto associa a invisibilização dos cultos afro-brasileiros a dois fatores principais:
"Fragmentada em pequenos grupos, fragilizada pela ausência de algum tipo de organização ampla": Isso indica a precariedade de coesão representativa (falta de uma estrutura unificada para lutar por seus interesses).
"tendo que carregar o peso do preconceito racial que se transfere do negro para a cultura negra": O preconceito racial e cultural demonstra a recusa da alteridade (a não aceitação e o desrespeito à cultura e à identidade do outro).
Questão 75
A partir do século XIX e, principalmente, no século XX, iniciou-se o uso de produtos sintéticos na agricultura. No Brasil, a partir da década de 1960 e, posteriormente, nos anos 1970, os inseticidas ampliam sua fatia no mercado dos defensivos agrícolas.
TROPPMAR, H. Biogeografia e meio ambiente. Rio de Janeiro: TB, 2012 (adaptado).
Nos espaços agrícolas, a mudança técnica descrita provocou a diminuição da
A) desagregação de camadas pedológicas.
B) diversidade de polinizadores naturais.
C) contaminação de lençóis freáticos.
D) produtividade da terra cultivada.
E) ocorrência da erosão laminar.
Resposta: B) diversidade de polinizadores naturais.
O texto relata a intensificação do uso de inseticidas (defensivos agrícolas) na agricultura brasileira a partir da década de 1960. Inseticidas são produtos químicos projetados para matar insetos que são considerados pragas. No entanto, o uso indiscriminado desses produtos causa a morte de insetos em geral, incluindo aqueles que são benéficos ou essenciais para a natureza, como as abelhas e outros polinizadores naturais. A redução da população desses insetos diminui a diversidade de polinizadores naturais no espaço agrícola.
Questão 76
Os direitos do homem constituem uma classe variável, como a história destes últimos séculos demonstra suficientemente. O elenco dos direitos do homem se modificou, e continua a se modificar, com a mudança das condições históricas, ou seja, dos carecimentos e dos interesses, das classes no poder, dos meios disponíveis para a realização dos mesmos, das transformações técnicas. Direitos que foram declarados absolutos no final do século XVIII foram submetidos a radicais limitações nas declarações contemporâneas; direitos que as declarações do século XVIII nem sequer mencionavam, como os direitos sociais, são agora proclamados com grande ostentação nas recentes declarações.
BOBBIO, N. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
Os argumentos apresentados no texto sustentam que os direitos humanos são variáveis porque os considera como
A) fenômenos espontâneos.
B) conquistas atemporais.
C) convenções coletivas.
D) resquícios religiosos.
E) imposições políticas.
Resposta: C) convenções coletivas.
Norberto Bobbio argumenta que os direitos humanos são uma "classe variável" que se modifica com a "mudança das condições históricas", ou seja, com a mudança de "carecimentos e dos interesses, das classes no poder, dos meios disponíveis para a realização dos mesmos, das transformações técnicas." O texto mostra que o elenco de direitos muda ao longo do tempo (séc. XVIII para declarações contemporâneas). Isso implica que os direitos não são verdades eternas, mas sim resultados de acordos, negociações e decisões tomadas por sociedades em momentos específicos, o que os caracteriza como convenções coletivas.
Questão 77
Carro elétrico, uma miragem ecológica

A mudança para a eletromobilidade de fato promove uma alteração no consumo de recursos naturais. Hoje, amplamente dependentes do petróleo, nossos modais de transporte poderiam se tornar cada vez mais dependentes de trinta metais raros. Gálio, tântalo, cobalto, platinoides, tungstênio, metais de terras-raras: uma mina contém apenas ínfimas quantidades desses metais dotados de fabulosas propriedades eletrônicas, ópticas e magnéticas.
PITRON, G. Revolução tecnológica, transformação geopolítica. Disponível em: https://diplomatique.org.br. Acesso em: 10 dez. 2018.
No que se refere ao desenvolvimento sustentável, a charge e o texto indicam uma contradição no uso da tecnologia alternativa derivada do seguinte aspecto:
A) Necessidade de fontes não renováveis.
B) Padronização dos modelos produtivos.
C) Demanda de mão de obra qualificada.
D) Precariedade da legislação industrial.
E) Utilização de materiais recicláveis.
Resposta: A) Necessidade de fontes não renováveis.
O texto e a charge indicam uma contradição no desenvolvimento sustentável da eletromobilidade. Embora promova uma alteração no consumo de petróleo, a tecnologia dos carros elétricos gera uma grande dependência de "trinta metais raros" (Gálio, tântalo, cobalto, terras-raras, etc.). Esses metais são extraídos de minas, o que implica o uso e o esgotamento de recursos naturais não renováveis (metais), como mostra a charge que contrasta o carro limpo com a mineração e a poluição subterrânea.
Questão 78
A Roda dos Expostos de Salvador (Bahia) data de 1726 e foi uma das instituições implantadas com o objetivo de acolher e prover um encaminhamento para a criança recém-nascida abandonada. Essa assistência fundamentava-se em práticas caritativas, paternalistas e imediatistas que visavam ao cuidado básico da criança e, especialmente, à salvação da sua alma, via batismo, devido à alta mortalidade.
BORRIONE, R.; CHAVES, A. M. Análise documental e contexto de desenvolvimento. Disponível em: www.scielo.br. Acesso em: 15 ago. 2013.
A instituição apresentada no texto justificava-se pelo(a)
A) defesa de direitos humanos.
B) preceito da natureza sociorreligiosa.
C) reconhecimento de vínculos familiares.
D) discurso de cunho técnico-científico.
E) ideologia de caráter abolicionista.
Resposta: B) preceito da natureza sociorreligiosa.
O texto explica que a Roda dos Expostos tinha como objetivo "acolher e prover um encaminhamento" para a criança abandonada (natureza social), mas que essa assistência se fundamentava em práticas caritativas e, especialmente, visava à "salvação da sua alma, via batismo" (natureza religiosa). Portanto, a justificativa da instituição era baseada em um preceito sociorreligioso (caridade + salvação da alma) vigente na época.
Questão 79
A missão dos governantes consiste em promover a felicidade da sociedade, punindo e recompensando. A parte da missão de governo que consiste em punir constitui mais particularmente o objeto da lei penal. A obrigatoriedade ou necessidade de punir uma ação é proporcional à medida que tal ação tende a perturbar a felicidade e à medida que a tendência do referido ato é perniciosa. A felicidade consiste naquilo que já vimos, ou seja, em desfrutar prazeres e em estar isento de dores.
BENTHAM, J. Uma introdução aos princípios da moral e da legislação.
São Paulo: Abril Cultural, 1974 (adaptado).
Qual perspectiva de justiça emerge da relação, estabelecida no texto, entre punição e felicidade?
A) Aplicação de meios para atingir um fim.
B) Imposição de regras para estabelecer um dever.
C) Sobreposição de princípios para fundamentar um direito.
D) Criação de parâmetros para reconhecer uma prescrição.
E) Elaboração de convenções para referendar um costume.
Resposta: A) Aplicação de meios para atingir um fim.
O texto é um fragmento do pensamento de Jeremy Bentham, um dos fundadores do Utilitarismo. Ele estabelece que a missão do governo é promover a felicidade da sociedade (o fim), e a punição (o meio) é obrigatória e necessária na medida em que a ação criminosa perturba essa felicidade. A justiça, nesse caso, é o cálculo racional de qual ação (punição) deve ser aplicada para maximizar o prazer e minimizar a dor (felicidade) do maior número de pessoas, o que é a definição de aplicação de meios para atingir um fim (a felicidade geral).
Questão 80
Cidade sustentável é o assentamento humano constituído por uma sociedade com consciência de seu papel de agente transformador dos espaços e cuja relação não se dá pela razão natureza-objeto, e sim por uma ação sinérgica entre prudência ecológica, eficiência energética e equidade socioespacial.
ROMEIRO, M. Frentes do urbano para a construção de indicadores de sustentabilidade intraurbana. Paranoá, n. 4, nov. 2007.
Uma medida pública que contradiz o modelo de cidade exposto no texto é a
A) coleta seletiva de lixo.
B) reutilização das águas pluviais.
C) canalização dos cursos hídricos.
D) arborização das avenidas centrais.
E) educação ambiental da comunidade.
Resposta: C) canalização dos cursos hídricos.
Uma cidade sustentável exige "prudência ecológica" e uma relação que não seja de "natureza-objeto" (ou seja, tratar a natureza como algo a ser dominado, modificado e explorado). A canalização (ou retificação) de cursos hídricos em áreas urbanas é uma intervenção de engenharia que trata o rio como um objeto a ser encaixotado ou domesticado, ignorando sua dinâmica natural (como inundações) e eliminando sua função ecológica (como mata ciliar e filtragem natural). Essa prática, que prioriza o controle em detrimento da ecologia, contradiz o modelo de ação sinérgica e prudência ecológica.
Questão 81
Em decorrência da naturalização da inferioridade social da mulher e da concepção de justiça do Estado, baseada na igualdade abstratamente concebida, torna-se possível convencer o Estado burguês a conceber e implementar políticas públicas cujo conteúdo se define pela discriminação positiva de mulheres, embora isso aparentemente seja paradoxal.
SAFFIOTI, H.; ALMEIDA, S. S. Violência de gênero, poder e impotência.
Rio de Janeiro: Revinter, 1995 (adaptado).
No contexto atual, qual medida atende ao tipo de política pública abordada no texto?
A) Ampliação do sufrágio universal.
B) Diminuição da jornada de trabalho.
C) Extinção do crime de feminicídio.
D) Redução da licença-maternidade.
E) Criação de delegacia especializada.
Resposta: E) Criação de delegacia especializada.
O texto discute a "discriminação positiva" (ou ação afirmativa) de mulheres, que são políticas que buscam compensar a inferioridade social histórica através de medidas específicas para esse grupo. A criação de delegacia especializada (como a Delegacia da Mulher) é uma política pública cujo conteúdo se define pela discriminação positiva; ela reconhece que as mulheres (o grupo historicamente vulnerável à violência de gênero) necessitam de um aparato estatal específico para garantir seu acesso à justiça e segurança, o que atende à política abordada.
Questão 82
A cidade justa é governada pelos filósofos, administrada pelos cientistas, protegida pelos guerreiros e mantida pelos produtores. Cada classe cumprirá sua função para o bem da pólis, racionalmente dirigida pelos filósofos. Em contrapartida, a cidade injusta é aquela onde o governo está nas mãos dos proprietários − que não pensam no bem comum da pólis e lutarão por interesses econômicos particulares.
CHAUÍ, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
O texto apresenta a estrutura de governo da cidade ideal pensada por Platão, que postula uma indissociabilidade entre
A) cognoscência e relação intersubjetiva.
B) mitologia e teorias cosmogônicas.
C) cidadania e primazia da retórica.
D) moralidade e virtudes cardeais.
E) ética e exercício de poder.
Resposta: E) ética e exercício de poder.
O texto descreve a cidade justa (ideal) de Platão, onde o governo está nas mãos dos filósofos, que governam "racionalmente dirigidos" para o "bem da pólis". A cidade injusta (desviada) é governada por proprietários, que pensam apenas em "interesses econômicos particulares". Platão estabelece que o bom governo e a justiça dependem da virtude e da moralidade (ética) dos governantes. Há, portanto, uma relação indissociável entre o exercício de poder e a ética no modelo platônico da cidade ideal.
Questão 83
A Impressão Régia do Rio de Janeiro foi criada pelo decreto de 13 de maio de 1808 para dar continuidade à nova sede do império português. A nova tipografia é criada em um momento no qual o projeto de reforma do império se transforma em um projeto de construção de um novo império português na América. Frente às tensões políticas que essa nova situação criava, a tipografia atuou na legitimação e sustentação daquele projeto político.
BARRA, S. H. S. A impressão Régia do Rio de Janeiro e a colonização dos sertões na construção do novo império português na América (1808-1822). Topoi, n. 31, jul.-dez. 2015 (adaptado).
A função política da tecnologia mencionada no texto favoreceu a nova sede do império português por
A) estabelecer as normativas ideológicas aos periódicos.
B) propagar as diretrizes administrativas às capitanias.
C) divulgar as conquistas às metrópoles europeias.
D) integrar as regiões territoriais ao poder central.
E) difundir as publicações às elites lusitanas.
Resposta: D) integrar as regiões territoriais ao poder central.
A Impressão Régia foi criada em 1808, no Rio de Janeiro (nova sede do império), com o objetivo de "legitimação e sustentação daquele projeto político" (a construção de um novo império português na América). A principal função da tecnologia de impressão, nesse contexto, era produzir e distribuir de forma rápida as ordens, leis, decretos e a propaganda oficial do novo poder estabelecido no Rio de Janeiro. Isso era crucial para integrar as diversas e distantes regiões territoriais (capitanias) e garantir a obediência e o conhecimento das normas emanadas do poder central.
Questão 84
Com o objetivo de auxiliar a prevenção e o combate a incêndios no Cerrado, o Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolveu um modelo computacional capaz de prever o comportamento do fogo. Essa tecnologia integra o projeto Monitoramento do Cerrado, do qual também participa o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O instituto produz e processa dados de satélite sobre focos de calor para determinar a localização de incêndios no bioma. Esses focos são o ponto de ignição para o modelo desenvolvido na UFMG: com base em outros dados, como relevo, ventos, umidade e biomassa seca, a ferramenta estima as áreas com maior risco de incêndio e prevê a intensidade e a direção de propagação do fogo no Cerrado Brasileiro.
LAGES, L. Tecnologia antiqueimada. Revista Minas Faz Ciência, n. 84, dez. 2020 – jan.-fev. 2021 (adaptado).
Em relação à causa ambiental, o uso da tecnologia mencionada indica a
A) influência da produção orgânica.
B) relevância da infraestrutura viária.
C) significância da cosmologia nativa.
D) importância de pesquisas acadêmicas.
E) interferência de interesses estrangeiros.
Resposta: D) importância de pesquisas acadêmicas.
O texto descreve o desenvolvimento de um "modelo computacional capaz de prever o comportamento do fogo" no Cerrado, uma tecnologia criada pelo Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em conjunto com o INPE. O uso dessa tecnologia na prevenção e no combate a incêndios (uma causa ambiental) evidencia o papel fundamental das pesquisas acadêmicas (universidades e institutos de pesquisa) na criação de soluções tecnológicas para monitoramento e gestão de problemas ambientais complexos.
Questão 85
TEXTO I
O cinema constituía um encanto indefinível: além do entretenimento delicioso das vidas alheias por meio dos filmes, o pretexto amável para os encontros de olhos, para a mostra dos vestidos, para as tagarelices com as vizinhas de cadeiras.
SETTE, M. Anquinhas e bernardas. São Paulo: Livraria Martins, 1940 (adaptado).
TEXTO II
O pouco caso na seleção dos filmes para serem exibidos nos espetáculos diurnos tem sido causa de inúmeros dissabores sofridos pelos progenitores que levam os seus filhos ao cinema para recreá-los. Em toda parte, tanto nas casas de famílias como nos colégios, só se ouve a petizada falar em fitas, em artistas cinematográficos, nas proezas de William Hart ou nas façanhas de Mutt.
O cinema e a criança. Diário de Pernambuco. 29 ago. 1925 (adaptado).
Publicados na primeira metade do século XX, os textos apresentam
A) conclusões semelhantes sobre o mesmo suporte midiático.
B) argumentos contrários sobre o mesmo tipo de diversão.
C) discursos contraditórios sobre a mesma didática escolar.
D) regras teológicas acerca de um mesmo recurso pedagógico.
E) justificativas idênticas acerca de um mesmo aspecto cultural.
Resposta: B) argumentos contrários sobre o mesmo tipo de diversão.
Ambos os textos tratam do cinema na primeira metade do século XX.
- Texto I: Descreve o cinema de forma positiva, como um "encanto indefinível" e um "entretenimento delicioso", sendo um pretexto amável para encontros sociais e exibição de moda.
- Texto II: Apresenta uma crítica negativa, reclamando do "pouco caso na seleção dos filmes" e dos "inúmeros dissabores" causados aos pais, preocupados com a influência do cinema sobre as crianças.
Portanto, os textos apresentam argumentos contrários (elogio versus crítica) sobre o mesmo tipo de diversão.
Questão 86
Pesquisa pioneira no Brasil propõe o uso de energia do solo para climatizar edifícios.
Pela primeira vez na história, o Brasil terá um prédio que usa energia do solo para climatizar seus ambientes. Uma pesquisa inovadora avaliou o uso das fundações de edifícios como meio para a troca de energia térmica entre o prédio e o subsolo. A energia geotérmica é aquela encontrada dentro da crosta terrestre, seja no solo, nas rochas ou mesmo na água, sendo identificada pela temperatura. Essa energia pode ser transferida para a superfície por processos de troca térmica a partir das fundações da edificação.
Disponível em: https://jornal.usp.br. Acesso em: 7 nov. 2021 (adaptado).
Para o sistema elétrico brasileiro, a expansão de tecnologias como a descrita no texto representa uma tendência de
A) homogeneização da oferta da matriz produtiva.
B) ampliação do consumo em unidades residenciais.
C) redução da pressão sobre as usinas hidrelétricas.
D) estagnação do consumo em unidades industriais.
E) superação da necessidade de recursos renováveis.
Resposta: C) redução da pressão sobre as usinas hidrelétricas.
O texto descreve uma tecnologia inovadora que usa a energia geotérmica do solo para climatizar edifícios, transferindo energia térmica a partir das fundações. Essa tecnologia visa substituir, pelo menos em parte, a energia elétrica convencional que seria usada para ar-condicionado e aquecimento (em geral, produzida pelas hidrelétricas no Brasil). A expansão desse tipo de fonte de energia alternativa para o setor de edificações contribui para a redução da pressão ou da dependência do sistema elétrico tradicional, especialmente as usinas hidrelétricas.
Questão 87
Durante a realeza, e nos primeiros anos republicanos, as leis eram transmitidas oralmente de uma geração para outra. A ausência de uma legislação escrita permitia aos patrícios manipular a justiça conforme seus interesses.
COULANGES, F. A cidade antiga. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
A conjuntura sociopolítica da Roma Antiga, conforme apresentada no texto, foi contestada pelos
A) monarcas, que queriam expandir o código jurídico.
B) plebeus, que almejavam participar da vida política.
C) nobres, que desejavam superar a relação de dependência.
D) camponeses, que aspiravam diminuir a jornada de trabalho.
E) estrangeiros, que ambicionavam acessar os espaços públicos.
Resposta: B) plebeus, que almejavam participar da vida política.
O texto descreve a situação da Roma Antiga, onde as leis eram transmitidas oralmente, e isso permitia aos patrícios (a elite) "manipular a justiça conforme seus interesses". Essa conjuntura de manipulação e insegurança jurídica era o principal motivo da contestação e das revoltas dos plebeus (a maioria do povo romano), que lutavam pelo fim do arbítrio e pela igualdade perante a lei, um passo essencial para participar efetivamente da vida política da cidade, o que culminou na Lei das XII Tábuas (legislação escrita).
Questão 88
Os povos indígenas têm o direito de manter, controlar, proteger e desenvolver seu patrimônio cultural, seus conhecimentos do passado, suas expressões culturais e as manifestações de suas ciências, tecnologias e culturas, compreendidos os recursos humanos e genéticos, as sementes, os medicamentos, o conhecimento das propriedades da fauna e da flora, as transmissões orais, as literaturas, os desenhos, os esportes, os jogos e as artes visuais e interpretativas.
Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas. 107ª Sessão Plenária, 13 de setembro de 2007. Disponível em: www.un.org. Acesso em: 18 abr. 2015 (adaptado).
Os direitos reconhecidos no texto representam a
A) multiplicidade dos troncos linguísticos.
B) ampliação das influências externas.
C) complexidade dos saberes tradicionais.
D) sofisticação das práticas de sobrevivência.
E) diversificação da economia de subsistência.
Resposta: C) complexidade dos saberes tradicionais.
A Declaração da ONU reconhece o direito dos povos indígenas de protegerem e desenvolverem seu patrimônio cultural, citando uma lista extensa e diversificada de elementos: conhecimentos, ciências, tecnologias, recursos humanos e genéticos, medicamentos, conhecimento de fauna e flora, transmissões orais, literaturas, desenhos, esportes, jogos e artes. A amplitude e a diversidade desses elementos demonstram a riqueza e a complexidade dos saberes tradicionais indígenas, que abrangem diversas áreas da vida.
Questão 89
TEXTO I
Eu escolhi Bezalel e lhe dei competência e habilidade para fazer todo tipo de trabalho artístico; para fazer desenhos e trabalhar em ouro, prata e bronze; para lapidar e montar pedras preciosas; para entalhar madeira; e para fazer todo tipo de artesanato.
BÍBLIA. Êxodo 31, 2-5. São Paulo: Paulinas, 2005.
TEXTO II
Moisés foi educado em toda a sabedoria dos egípcios e veio a ser poderoso em palavras e obras.
BÍBLIA. Atos 7, 22. São Paulo: Paulinas, 2005.
TEXTO III
Se conhecêsseis a ciência certa, logo renunciarias à ostentação.
ALCORÃO. Sura 102, 5. São Paulo: Tangará, 1975.
Escritos em temporalidades diferentes (Antiguidade e Idade Média), os textos sagrados aproximam-se ao mostrar o papel da ciência para o(a)
A) emergência das universidades e escolas confessionais.
B) crescimento religioso e movimentos sectários.
C) avanço da intolerância e rivalidades nacionais.
D) preservação das tradições e rituais místicos.
E) desenvolvimento social e práticas laborais.
Resposta: E) desenvolvimento social e práticas laborais.
Os três textos sagrados, de temporalidades distintas, abordam aspectos de conhecimento ou habilidade:
- Texto I (Êxodo): Fala de "competência e habilidade para fazer todo tipo de trabalho artístico" (desenhos, trabalhar com metais, lapidar pedras, entalhar madeira), referindo-se a habilidades técnicas e práticas laborais.
- Texto II (Atos): Diz que Moisés foi educado na "sabedoria dos egípcios" e se tornou "poderoso em palavras e obras", relacionando sabedoria e conhecimento com o desenvolvimento social do indivíduo.
- Texto III (Alcorão): Indica que o conhecimento da "ciência certa" leva à renúncia da ostentação (um avanço moral e social).
Portanto, os textos se aproximam ao mostrar o valor do conhecimento/ciência/habilidade para o desenvolvimento social e para as práticas laborais (técnicas e habilidades).
Questão 90
Em 1914, uma expedição estudantil saiu da Rússia em direção à América do Sul, sendo considerada a segunda campanha científica da Rússia no continente depois da longa viagem do barão Langsdorff pelo interior do Brasil na primeira metade do século XIX. O empreendimento foi enviado pelo Museu de Antropologia e Etnografia de São Petersburgo e integrado por cinco jovens cientistas, sendo dois zoólogos, dois etnógrafos e um antropólogo, cujo objetivo era a coleta de material de valor biológico e etnográfico para compor coleções nas instituições que participaram de seu financiamento. A expedição passou por países como Brasil, Paraguai e Argentina, resultando em amplo material manuscrito e algumas publicações, além dos objetos coletados.
CARNEIRO, L. A. F. A Rússia no Brasil do início do século XX. Rio de Janeiro: Casa de Oswaldo Cruz, 2015 (adaptado).
Além do significado científico, o evento mencionado conectava-se a um projeto nacionalista de caráter
A) imperialista e colonizador.
B) militar e disciplinador.
C) lúdico e filantrópico.
D) mercantil e predatório.
E) religioso e humanitário.
Resposta: A) imperialista e colonizador.
A expedição de 1914, organizada pelo Museu de Antropologia e Etnografia de São Petersburgo (Rússia), tinha como objetivo a "coleta de material de valor biológico e etnográfico para compor coleções nas instituições" que a financiaram. A coleta sistemática de objetos, amostras e informações de povos e regiões estrangeiras, com o objetivo de enriquecer as coleções e o conhecimento científico da nação patrocinadora, é uma prática típica do projeto imperialista e colonizador europeu no século XIX e início do XX, mesmo que em um contexto de "campanha científica."
Gabarito oficial - Prova Azul

Gabarito oficial - Prova Amarela

Gabarito oficial - Prova Branca

Gabarito oficial - Prova Verde

Confira também os gabaritos da Prova de Matemática e Ciências da Natureza ENEM 2025.
MATÉRIA, Equipe. Prova de Linguagens e Ciências Humanas ENEM 2025 (com gabarito explicado). Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/prova-de-linguagens-e-ciencias-humanas-enem-2025-com-gabarito-explicado/. Acesso em: