Catacrese

Daniela Diana
Daniela Diana
Professora licenciada em Letras

A catacrese é uma figura de linguagem que representa um tipo de metáfora de uso comum que, com o passar do tempo, foi desgastada e se cristalizou.

Isso porque ao utilizarmos tanto determinada palavra, não notamos mais o sentido figurado expresso nela. Por exemplo: O pé da cadeira está quebrado.

O exemplo acima nos leva a pensar no sentido denotativo e conotativo das palavras. Ou seja, a cadeira não possui um “pé”, que no sentido denotativo é uma extremidade do membro inferior encontrada nos animais terrestres.

Lembre-se que o sentido denotativo é aquele encontrado nos dicionários, o qual representa o conceito “real” da palavra. No exemplo acima, o pé da cadeira está no sentido conotativo (ou figurado) da palavra.

Sendo assim, a catacrese é um tipo especial de metáfora que já foi incorporada por todos os falantes da língua.

Mas, por ser uma expressão muito utilizada e, portanto, desgastada, estereotipada, viciada e pouco original, ela é considerada uma catacrese.

Nesse sentido, utilizamos essa figura de linguagem por meio da aproximação ou semelhança da forma de tal objeto.

Assim, a catacrese faz uma comparação e usa um determinado termo por não ter outro que designe algo específico. De tal modo, a palavra perde seu sentido original.

A catacrese está na categoria de figuras de palavras, ao lado da metáfora, metonímia, comparação, antonomásia e sinestesia.

Lembre-se que as figuras de linguagem são classificadas em 4 tipos:

  1. Figuras de Pensamento
  2. Figuras de Sintaxe
  3. Figura de Palavras
  4. Figuras de Som

Exemplos de Catacrese

A catacrese é muito utilizada na linguagem coloquial (informal) e também em textos poéticos e músicas. Pode ser considerada uma gíria, uma vez que facilita o processo comunicativo pelo uso de outras palavras.

Confira abaixo alguns exemplos muito comuns de catacrese:

  • Árvore genealógica
  • Fio de óleo
  • Céu da boca
  • Boca do túnel
  • Boca da garrafa
  • Pele do tomate
  • Braço do sofá
  • Braço da cadeira
  • Braço de rio
  • Corpo do texto
  • Pé da página
  • Pé da cama
  • Pé da montanha
  • Pé de limão
  • Perna da mesa
  • Maçã do rosto
  • Coroa do abacaxi
  • Asa da xícara
  • Asa do avião
  • Dentes do serrote
  • Dentes de alho
  • Cabeça do alho
  • Cabeça do prego
  • Cabeça do alfinete
  • Batata da perna

Exemplo de Catacrese na Literatura

Dobrando o cotovelo da estrada, Fabiano sentia distanciar-se um pouco dos lugares onde tinha vivido alguns anos.” (Graciliano Ramos em Vidas Secas.)

A expressão “cotovelo da estrada” é um tipo de catacrese, utilizada nos textos poéticos para oferecer maior expressividade ao texto.

Exemplo de Catacrese na Música

Usei a cara da lua/As asas do vento/Os braços do mar/O pé da montanha” (MPB-4 em “Composição Estranha”)

As expressões “os braços do mar” e “o pé da montanha” são exemplos de catacrese.

Já as expressões “cara da lua” e “asas do vento” são exemplos de metáfora que ocorrem através de uma relação de similaridade.

Curiosidades sobre Catacrese

Segundo a origem etimológica, a palavra catacrese vem do latim “catachresis” e do grego “katakhresis” e significa “mau uso”.

Originalmente, o termo “embarcar” era utilizado para expressar a entrada num barco. Mas de tanto que foi utilizada pelos falantes para entrar em outros meios de transporte, hoje a utilizamos sem notar seu sentido original. Assim, a palavra “embarcar” trata-se de uma catacrese.

Da mesma forma, a palavra “azulejo” era utilizada para determinar ladrilhos azuis. Atualmente, a utilizamos para determinar qualquer cor de ladrilho e, portanto, também se trata de uma catacrese.

Ainda temos a palavra “encaixar” que no sentido original significava “colocar em caixas”. O termo foi tão utilizado pelos falantes da língua que hoje determina a colocação de algo num local que cabe perfeitamente.

Entenda mais sobre os conceitos de:

Daniela Diana
Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.