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Exercício sobre estrutura do poema (com gabarito explicado)

Rodrigo Luis
Rodrigo Luis
Professor de Português e Literatura

Confira a seguir os exercícios comentados sobre a estrutura do poema. Treine seus conhecimentos e continue praticando.

Questão 1

Trecho de "Morte e Vida Severina", de João Cabral de Melo Neto

“Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra;
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas.”

Considerando o trecho acima, o ritmo dos versos é construído principalmente pela:

a) Alternância entre sílabas poéticas fortes fracas própria do decassílabo heroico clássico.

b) Repetição de vogais nas sílabas finais, criando uma assonância predominante entre os versos.

c) Regularidade métrica rígida que reproduz o soneto tradicional de forma modernizada.

d) Desenvolvimento de esquema de rimas em torno dos versos pares, provocando sensação de fala cantada no leitor.

e) Pausas internas constantes que quebram o fluxo rítmico e interrompem a progressão do sentido.

Gabarito explicado

O ritmo em Morte e Vida Severina não se baseia na métrica clássica, mas sim em uma cadência construída pela repetição estrutural e sintática, típica de João Cabral.
Assim, a aproximação do poema ao registro oral cantado, acontece em função do esquema de rimas que se alternam em torno do final aberto dos versos pares.

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Questão 2

"Os Lusíadas", de Camões

Canto III

Agora tu, Calíope, me ensina
O que contou ao Rei o ilustre Gama:
Inspira imortal canto e voz divina
Neste peito mortal, que tanto te ama.
Assi o claro inventor da Medicina,
De quem Orfeu pariste, ó linda Dama,
Nunca por Dafne, Clície ou Leucotoe,
Te negue o amor devido, como soe.

Põe tu, Ninfa, em efeito meu desejo,
Como merece a gente Lusitana;
Que veja e saiba o mundo que do Tejo
O licor de Aganipe corre e mana.
Deixa as flores de Pindo, que já vejo
Banhar-me Apolo na água soberana;
Senão direi que tens algum receio,
Que se escureça o teu querido Orfeio.

Prontos estavam todos escutando
O que o sublime Gama contaria,
Quando, depois de um pouco estar cuidando,
Alevantando o rosto, assim dizia:
"Mandas-me, ó Rei, que conte declarando
De minha gente a grão genealogia:
Não me mandas contar estranha história,
Mas mandas-me louvar dos meus a glória.”

[...]

O trecho acima apresenta elementos estruturais fundamentais da epopeia camoniana. Assinale a alternativa que melhor descreve essa estrutura.

a) Versos livres agrupados em blocos narrativos contínuos, sem rima fixa, como forma de aproximar a epopeia da linguagem coloquial renascentista.

b) Estrofes de dez versos rimados, com métrica irregular, que caracterizam a liberdade formal típica das narrativas humanistas.

c) Estrofes de oito versos decassílabos com esquema fixo de rimas, típicas da oitava italiana, usadas como unidade formal da epopeia.

d) Estrofes curtas de quatro versos, rimadas em parelha, seguindo modelo tradicional das canções trovadorescas.

e) Tercetos encadeados com estrutura dantesca, usados para alternar a fala do poeta e do herói Gama.

Gabarito explicado

A alternativa C é correta porque descreve com precisão a estrutura fundamental de Os Lusíadas: a oitava camoniana (ou oitava-rima), composta por 8 versos decassílabos heroicos com esquema de rimas ABABABCC. Trata-se da forma estrófica clássica da epopeia renascentista em língua portuguesa, herdada da tradição italiana (sobretudo Petrarca com o decassílabo) e adotada por Camões para organizar o poema em unidades métricas regulares, narrativas e solenes.

Questão 3

Trecho de "Um sonho", de Eugênio de Castro


[...]

Como aqui se está bem!
Além freme a quermesse...
— Não sentes um gemer dolente que esmorece?
São os amantes delirantes que em amenos
Beijos se beijam, Flor! à flor dos frescos fenos...

As estrelas em seus halos
Brilham com brilhos sinistros...
Cornamusas e crotalos,
Cítolas, cítaras, sistros,
Soam suaves, sonolentos,
Sonolentos e suaves,
Em suaves,
Suaves, lentos lamentos
De acentos
Graves,
Suaves...

Esmaiece na messe o rumor da quermesse...
— Não ouves este ai que esmaiece e esmorece?
É um noivo a quem fugiu a Flor de olhos amenos,
E chora a sua morta, absorto, à flor dos fenos...

[...]

A musicalidade do poema é construída sobretudo por meio de:

a) Uso predominante de versos decassílabos heroicos, cuja cadência fixa produz ritmo épico.

b) Alternância entre versos livres e versos alexandrinos, criando contraste métrico entre estrofes.

c) Intensa repetição fônica (aliteração e assonância), paralelismos sintáticos e palavras ecoantes, produzindo um efeito sonoro quase hipnótico.

d) Rimas internas regulares e estruturadas, que estabelecem simetria entre as estrofes e reforçam o tom narrativo do poema.

e) Pausas bruscas e interrupções que quebram o ritmo contínuo, aproximando o texto do verso fragmentado modernista.

Gabarito explicado

A alternativa C é a correta porque o poema se constrói essencialmente a partir de um trabalho intenso com o som, perceptível nas repetições de fonemas, na circularidade rítmica criada por aliterações e assonâncias e nos paralelismos que reproduzem cadências suaves e insistentes, como se o poema imitasse o próprio movimento da música evocada pelos instrumentos mencionados.

Expressões como “soam suaves, sonolentos” e a variação quase hipnótica de “suaves / sonolentos / suaves” revelam o papel central da repetição sonora na construção da musicalidade do texto. Esse recurso fundamenta boa parte dos poemas simbolistas, estética a qual Eugênio de Castro pode ser vinculado.

Questão 4

Leia o poema a seguir.

Que desliza

Onde seus olhos estão
as lupas desistem.
O túnel corre, interminável
pouco negro sem quebra
de estações.
Os passageiros nada adivinham.
Deixam correr
Não ficam negros
Deslizam na borracha
carinho discreto
pelo cansaço
que apenas se recosta
contra a transparente
escuridão.

(Ana Cristina Cesar)

No trecho acima, o recurso do enjambement cumpre principalmente a função de:

a) Romper a continuidade sintática para dificultar a interpretação e gerar opacidade semântica.

b) Criar efeitos de suspensão e deslizamento, prolongando sentidos entre os versos e imitando o movimento contínuo descrito no poema.

c) Estabelecer paralelismos rígidos entre os versos, reforçando a regularidade métrica e a simetria estrutural.

d) Marcar pausas bruscas entre as imagens, interrompendo constantemente a fluidez da leitura.

e) Reforçar a musicalidade clássica por meio da repetição métrica fixa e de cesuras previstas.

Gabarito explicado

A alternativa B é correta porque o poema utiliza o enjambement para criar um movimento contínuo, quase sem pausas, que imita o próprio “deslizar” sugerido pelo texto — tanto o deslizar do túnel quanto o dos passageiros, do cansaço e da escuridão transparente.

A quebra sintática distribuída por vários versos (“O túnel corre, interminável / pouco negro sem quebra / de estações”) prolonga o sentido e faz com que a leitura avance sem interrupções rígidas, produzindo uma sensação de fluxo constante, característica da poesia de Ana Cristina Cesar.

Leia o poema a seguir para responder às questões 5 e 6.

Na rua Aurora

"Na rua Aurora eu nasci
Na rua Aurora eu nasci
na aurora de minha vida
E numa aurora cresci.

no largo do Paiçandu
Sonhei, foi luta renhida,
Fiquei pobre e me vi nu.

nesta rua Lopes Chaves
Envelheço, e envergonhado
nem sei quem foi Lopes Chaves.

Mamãe! me dá essa lua,
Ser esquecido e ignorado
Como esses nomes da rua.*

(Mário de Andrade)

Questão 5

No poema, a voz poética constrói sua identidade por meio de:

a) Atribuição direta de características heroicas ao eu lírico, que se representa como símbolo de grandeza nacional.

b) Recurso biográfico explícito, que identifica o eu poético com a figura histórica de Lopes Chaves.

c) Percurso espacial que funciona como metáfora do tempo vivido, articulando nascimento, luta e envelhecimento às ruas mencionadas.

d) Distanciamento impessoal, que impede qualquer associação entre o eu e os espaços urbanos citados.

e) Descrição objetiva das ruas, sem interferência subjetiva, aproximando o poema da crônica jornalística.

Gabarito explicado

A alternativa C é correta porque o poema estrutura a identidade do eu lírico a partir de um percurso espacial que corresponde simbolicamente às etapas da vida: nascer na rua Aurora, lutar no Largo do Paiçandu e envelhecer na rua Lopes Chaves traduzem uma autobiografia condensada no deslocamento urbano.

As ruas funcionam como marcadores temporais e emocionais, revelando a passagem do tempo e o sentimento de derrota ou apagamento social que chega com a velhice, como se os espaços fossem espelhos da própria experiência humana.

Questão 6

O uso reiterado da palavra “aurora” nos versos iniciais contribui para:

a) Criar monotonia sonora, apagando qualquer relação entre tempo e espaço.

b) Construir um paralelismo artificial que serve apenas para preencher o esquema métrico.

c) Provocar estranhamento semântico, pois a palavra é usada com dois sentidos incompatíveis.

d) Estabelecer simultaneamente uma referência espacial e uma metáfora temporal, reforçando a fusão entre lugar e início da vida.

e) Substituir a imagem de nascimento por uma referência exclusivamente geográfica.

Gabarito explicado

A alternativa D é correta porque a repetição de “aurora” atua de duas maneiras complementares: como nome próprio da rua em que o eu lírico nasceu e como metáfora do começo de sua vida, criando uma sobreposição entre espaço físico e tempo inaugural.

Essa duplicidade confere ao verso um caráter simbólico forte, no qual nascer “na rua Aurora” é também nascer “na aurora de minha vida”, de modo que a repetição reforça a integração entre geografia afetiva e passagem do tempo.

Questão 7

Leia o trecho a seguir.

Sete anos de pastor Jacob servia

Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia ao pai, servia a ela,
e a ela só por prémio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
passava, contentando-se com vê-la;
porém o pai, usando de cautela,
em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
lhe fora assi negada a sua pastora,
como se a não tivera merecida;

começa de servir outros sete anos,
dizendo: — Mais servira, se não fora
para tão longo amor tão curta a vida.

(Camões)

Os versos do soneto apresentam um padrão métrico característico da poesia camoniana. Assinale a alternativa que descreve corretamente esse padrão:

a) Versos livres, sem contagem silábica regular, reforçando a espontaneidade emocional do poema.

b) Redondilhas menores, de cinco sílabas poéticas, associadas à tradição trovadoresca medieval.

c) Redondilhas maiores, de sete sílabas poéticas, com ritmo ágil próprio da lírica popular.

d) Alexandrinos, com doze sílabas poéticas e duas cesuras fixas, seguindo modelo clássico francês.

e) Decassílabos heroicos predominantes, com acentuação regular que confere solenidade à narração amorosa.

Gabarito explicado

A alternativa E é correta porque os versos do soneto são compostos em decassílabos heroicos, forma métrica dominante na lírica renascentista portuguesa e amplamente utilizada por Camões. Essa métrica de dez sílabas poéticas, com acentuação principal na 6ª e na 10ª sílabas, produz um ritmo solene e equilibrado, adequado ao tom elevado da temática amorosa e ao rigor formal do soneto.

As demais alternativas se mostram incorretas porque não correspondem à métrica empregada:

A falha ao supor verso livre, impossível em um soneto clássico;

B e C atribuem ao poema redondilhas, metros curtos típicos da tradição popular, incompatíveis com a elaboração renascentista;

D sugere alexandrinos de influência francesa, que não constituem a forma métrica usual de Camões.

Assim, o poema reafirma a técnica camoniana tradicional: o uso refinado e disciplinado do decassílabo heroico.

Veja também: Poema: tipos, características e estrutura (com exemplos)

Rodrigo Luis
Rodrigo Luis
Professor de Língua Portuguesa e Literatura formado pela Universidade de São Paulo (USP) e graduando na área de Pedagogia (FE-USP). Atua, desde 2017, dentro da sala de aula e na produção de materiais didáticos.