Exercícios sobre a segunda geração do Romantismo (com gabarito explicado)
Confira a seguir os exercícios comentados sobre a segunda geração do Romantismo. Treine seus conhecimentos e continue estudando.
Questão 1
LEMBRANÇA DE MORRER
No more! o never more!
— Shelley
Quando em meu peito rebentar-se a fibra
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.
E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro –
Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
[...]
AZEVEDO, Alvares. Lembrança de Morrer. Disponível em: https://www.academia.org.br/academicos/alvares-de-azevedo/textos-escolhidos.
O trecho a seguir faz parte do poema "Lembrança de Morrer", do poeta Álvares de Azevedo. A poesia de Álvares de Azevedo foi expoente das gerações românticas. No poema lido, a liberdade formal pode ser vista na(o)
a) uso rigoroso de versos decassílabos, evidenciando a valorização da forma clássica.
b) variação métrica dos versos, priorizando o viés subjetivo do eu lírico.
c) adoção de redondilhas maiores e menores, com estrutura fixa de estrofes.
d) preferência por versos brancos com ausência total de musicalidade.
e) emprego exclusivo de sonetos com divisão métrica simétrica e temática amorosa.
O gabarito correto é a alternativa B, pois no poema “Lembrança de Morrer” observa-se uma variação métrica entre os versos (decassílabos e sextilhas), o que evidencia uma característica marcante da liberdade formal presente na poesia romântica.
Diferente da rigidez estrutural dos modelos clássicos, que priorizavam a simetria e a regularidade métrica, Álvares de Azevedo opta por uma composição mais livre, permitindo que a métrica se ajuste ao conteúdo emocional e subjetivo do eu lírico. Essa escolha reforça o tom melancólico e pessoal do poema, aproximando a forma da intensidade dos sentimentos expressos, o que é típico do Romantismo.
Questão 2
CÂNTICO DO CALVÁRIO
À memória de meu filho, morto a 11 de dezembro de 1863.
Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. — Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, — a inspiração, — a pátria,
O porvir de teu pai! — Ah! no entanto,
Pomba, — varou-te a flecha do destino!
Astro, — engoliu-te o temporal do norte!
Teto, caíste! — Crença, já não vives!
[...]
VARELA, Fagundes. Cântico do Calvário. Disponível em: https://www.academia.org.br/academicos/fagundes-varela/textos-escolhidos;
No poema “Cântico do Calvário”, de Fagundes Varela, são perceptíveis diversos recursos que expressam aspectos da linguagem ultrarromântica, como a(o)
a) descrição do filho como um símbolo da continuidade da pátria e da fé, com tom solene e coletivo.
b) uso de metáforas sensíveis e imagens poéticas que associam o filho a elementos sublimes, expressando dor e idealização.
c) construção de um discurso marcado pela racionalidade, em que o eu lírico pondera sobre o sentido da morte.
d) predominância de termos religiosos que minimizam o sofrimento ao colocar a morte como um desígnio divino.
e) presença de elementos naturais e cotidianos que neutralizam a carga emocional da perda, aproximando-a do real.
O gabarito correto é a alternativa B, pois o poema Cântico do Calvário utiliza uma linguagem fortemente metafórica e imagética para expressar a dor profunda do eu lírico diante da morte do filho.
O uso de comparações como “pomba predileta”, “estrela”, “messe de um dourado estio” e “idílio de um amor sublime” eleva a figura do filho a um plano idealizado e sagrado, revelando não apenas a intensidade da perda, mas também o amor absoluto que lhe era dedicado.
Esses recursos poéticos intensificam o tom emocional do texto, característica marcante do Romantismo, ao priorizar a subjetividade, o sentimento e a dor pessoal como elementos centrais da construção poética.
Questão 3
São os primeiros Cantos de um pobre poeta. Desculpai-os. As primeiras vozes do sabiá não têm a doçura dos seus cânticos de amor.
É uma lira, mas sem cordas: uma primavera, mas sem flores, uma coroa de folhas, mas sem viço.
Cantos espontâneos do coração, vibrações doridas da lira interna que agitara um sonho, notas que o vento levou, – como isso dou a lume essas harmonias.
São as páginas despedaçadas de um livro não lido.
AZEVEDO, Alvares. Lira dos vinte anos. Poesias completas, p. 49.
No prefácio de Álvares de Azevedo a sua ”Lira dos vinte anos”, observa-se uma característica marcante da estética romântica. Essa característica vai ao encontro da fortuna da segunda geração romântica, e pode ser explorada a partir da(o)
a) exaltação do progresso técnico e científico, ao sugerir imagem da lira (clássica) quebrada.
b) objetividade na descrição das experiências humanas, ao indicar numericamente o primeiro canto.
c) tom melancólico impresso na tentativa de se exprimir, ao descrever um livro despedaçado.
d) compromisso com a clareza, marcado pela impessoalidade do eu lírico que não se revela.
e) busca por temas mitológicos e heroicos, com idealização da nação a partir da figura do sabiá.
No prefácio da Lira dos vinte anos, Álvares de Azevedo expressa um profundo tom melancólico e confessional, traço marcante da segunda geração romântica, também conhecida como ultrarromântica.
A metáfora do “livro não lido” cujas páginas estão “despedaçadas” reforça a ideia de incompletude, angústia e fracasso existencial. Além disso, expressões como “uma lira, mas sem cordas” e “vibrações doridas da lira interna” reforçam o esforço doloroso de transformar sentimentos íntimos e sombrios em poesia, revelando a centralidade da subjetividade, da introspecção e da dor existencial.
Questão 4
Texto I
MEUS OITO ANOS
Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
[...]
ABREU, Casimiro de. Meus oito anos. In. Clássicos da poesia brasileira. Rio de Janeiro: O Globo, 1997, p.114-5.
Texto II
MEUS OITO ANOS
Oh que saudades que eu tenho
Da aurora de minha vida
Das horas
De minha infância
Que os anos não trazem mais
Naquele quintal de terra
Da Rua de Santo Antônio
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais
[...]
ANDRADE, Oswald de. Poesias reunidas. São Paulo: Círculo do Livro, 1976, p.179-180.
Ao comparar o poema “Meus Oito Anos”, de Casimiro de Abreu, com a releitura moderna feita por Oswald de Andrade, observa-se um contraste entre concepções literárias distintas. Considerando os aspectos formais e temáticos dos dois textos, entende-se que
a) Ambos os poemas pertencem ao Romantismo e compartilham o ideal de infância como paraíso perdido, com linguagem sentimental e refinada.
b) O poema modernista mantém a métrica e a estrutura do texto original, buscando homenagear fielmente os moldes clássicos da poesia brasileira.
c) Os dois textos mantêm o mesmo tom lírico e nostálgico, mas o poema moderno reforça a importância dos símbolos naturais, como o laranjal.
d) A paródia de Oswald de Andrade reforça o sentimentalismo romântico ao intensificar a musicalidade e o uso de figuras de linguagem.
e) O poema de Casimiro de Abreu valoriza a infância idealizada, com musicalidade e métrica regular, enquanto Oswald de Andrade desconstrói essa visão com linguagem coloquial e humor crítico.
A alternativa E é a correta porque evidencia a oposição entre as duas escolas literárias representadas nos poemas.
Casimiro de Abreu, autor romântico, idealiza a infância como um tempo perdido e perfeito, utilizando linguagem emotiva, métrica regular e rimas que contribuem para um tom melódico e nostálgico. Já Oswald de Andrade, representante do Modernismo, rompe com essa visão idealizada ao parodiar o poema original: sua versão apresenta versos livres, linguagem cotidiana e ironia, como se vê na expressão “sem nenhum laranjais”, que subverte a imagem bucólica do texto romântico. Assim, o modernista desmonta a solenidade do passado e questiona os valores estabelecidos pela tradição literária romântica.
Questão 5
SE EU MORRESSE AMANHÃ
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
Que sol! que céu azul! que doce n’alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!
AZEVEDO, Alvares. Se eu moresse amanhã.
O poema "Se eu morresse amanhã", de Álvares de Azevedo, revela traços característicos da segunda geração do Romantismo no Brasil. Essa relação está expressa na(o)
a) exaltação da pátria e do heroísmo nacional, refletindo o ideal cívico da juventude romântica.
b) objetividade na abordagem da morte, tratada como evento natural e sem carga emocional.
c) idealização da mulher e o apego à vida burguesa, em versos que celebram o amor conjugal.
d) melancolia e o desejo de morte, marcados por um tom subjetivo e reflexões sobre a fugacidade da vida.
e) racionalismo e o culto à ciência, característicos de um lirismo comprometido com o progresso.
O poema "Se eu morresse amanhã", de Álvares de Azevedo, expressa com intensidade os temas centrais da segunda geração romântica brasileira, conhecida como ultrarromântica. O texto está profundamente marcado pela melancolia, pelo flerte com a morte e pelo sentimentalismo subjetivo. O eu lírico imagina sua morte próxima e lamenta, ao mesmo tempo, as possíveis perdas e a dor que deixaria para os entes queridos.
Questão 6
Termo inglês que se refere originalmente a uma víscera glandular, vulgo “baço”, que tem a função de destruir os glóbulos vermelhos. Torna-se termo literário quando os poetas decadentistas da segunda metade do século XIX o tomam simbolicamente como a origem da destruição de algo mais intangível: a alegria de viver. Por outras palavras, esse órgão é tido como o responsável por todos os estados de melancolia ou estados mórbidos de languidez.
[...]
Em inglês, o termo é já no século XIX considerado arcaico, mas Baudelaire vai recuperá-lo em As Flores do Mal (1857) e O Spleen de Paris – Pequenos Poemas em Prosa (1868), tornando-o modelo de poeta decadente.
Carlos Ceia: s.v. “Spleen”, E-Dicionário de Termos Literários (EDTL), coord. de Carlos Ceia, ISBN: 989-20-0088-9, Disponível em: www.edtl.fcsh.pt
A associação do Spleen à literatura pode ser vista com ênfase na segunda geração romântica. Os versos que exprimem literariamente esse sentimento são:
a)
Minh’alma tenebrosa se entristece,
É muda como sala mortuária...
Deito-me só e triste sem ter fome
Vendo na mesa a ceia solitária.
b)
Quando a teus pés o meu viver sescoa,
Esqueço a minha sorte, o meu martírio,
Minhʼalma como a pomba em sangue voa
Para ir se abrigar à tua, ó lírio,
c)
Em larga roda de novéis guerreiros
Ledo caminha o festival Timbira,
A quem do sacrifício cabe as honras.
Na fronte o canitar sacode em ondas,
d)
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
e)
Eu faço versos como quem chora
De desalento… de desencanto…
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
A alternativa A expressa com clareza o sentimento de spleen, típico da segunda geração romântica.
O eu lírico apresenta uma alma “tenebrosa”, marcada pela melancolia profunda, solidão e tédio existencial. Esses são elementos centrais dessa fase do Romantismo, fortemente influenciada pelo mal do século e pelos ideais decadentistas que mais tarde também marcariam Baudelaire.
O ambiente sombrio, a ausência de apetite e o cenário da “ceia solitária” compõem um quadro emocional de languidez e morbidez, características clássicas do spleen.
Para mais exercícios: Exercícios sobre o ultrarromantismo na literatura (com gabarito)
Leia mais sobre o assunto em:
LUIS, Rodrigo. Exercícios sobre a segunda geração do Romantismo (com gabarito explicado). Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/exercicios-sobre-a-segunda-geracao-do-romantismo-com-gabarito-explicado/. Acesso em: