Literatura Fantástica: o que é, características e exemplos de obras
A literatura fantástica é um gênero literário que apresenta acontecimentos fora da realidade comum. Nesses textos, surgem elementos estranhos, mágicos ou sobrenaturais que não têm necessariamente uma explicação lógica.
As histórias fantásticas geralmente se passam em um ambiente semelhante ao nosso. Mas, em determinado momento, surge algo inexplicável. Pode ser um objeto mágico, uma criatura incomum ou um acontecimento sobrenatural. Edgar Allan Poe, Murilo Rubião, Franz Kafka e Lygia Fagundes Telles são exemplos de autores que exploram o fantástico em suas obras. Além deles, histórias conhecidas como Senhor dos Anéis e Percy Jackson, que frequentemente permeiam o universo infantojuvenil, também podem se enquadrar no gênero.
O fantástico, afinal, surge quando o leitor, junto com os personagens, hesita entre aceitar ou não aquilo como real. Dessa tensão, produz-se uma ideia de espanto, assombro e fascínio: o fantástico.
Neste conteúdo você encontra:
- Principais características da literatura fantástica
- Como surgiu a literatura fantástica
- Exemplos das obras
- Porquê ler o fantástico
Principais características da literatura fantástica
A principal característica da literatura fantástica é a presença de um elemento extraordinário em meio ao cotidiano. Trata-se de um elemento que rompe com aquilo que consideramos lógico. No entanto, esse elemento não ocorre sozinho.
Para a literatura fantástica acontecer, é preciso que a construção da narrativa leve o leitor a lidar com aquilo que lhe aparece. O leitor não pode encarar o fantástico apenas como parte de um sonho ou uma reflexão psicológica de algum personagem.
Assim, outro aspecto importante é a dúvida. Muitas vezes não é possível nem para o leitor nem para o personagem saber se o fato aconteceu de verdade, se foi um sonho, uma alucinação ou algo sobrenatural. Essa ambiguidade é central no gênero.
Além desses elementos, a construção narrativa pode envolver: mistério, tensão, horror e até comicidade.
Principais temas
- Elementos surreais
- Tensão e dúvida
- Mistério e suspense
- Exemplos de obras
- Porquê ler o fantást
Como surgiu a literatura fantástica
Não há dúvidas de que desde de muito antes da escrita já se contavam histórias fantásticas. Além disso, mesmo com a escrita, os contos infantis e contos de fadas já apresentavam elementos que viriam a constituir o gênero em questão. Por conta disso, há dúvidas mesmo entre os críticos sobre de fato quando o fantástico se consolidou enquanto um gênero literário.
As pesquisas nessa área divergem, portanto, a respeito desse surgimento. Alguns apontam o fantástico como surgido entre os séculos XVIII e XIX, com ascensão no século XX. Para outros, o gênero teria se estabelecido na idade média, a partir das narrativas míticas e religiosas. No entanto, há marcos de comum acordo.
Dentre os séculos XVIII e XIX, com uma produção já ligada à presença do sobrenatural, obras como Frankenstein (O médico e monstro) marcaram a história do gênero. O fantástico, assim, foi se transformando. E as obras que foram do mítico aos monstros passaram a conceber o fantástico no psicológico humano.
No século XX, a pluralidade temática era evidente e hoje, no século XXI, o gênero ampara-se não somente na literatura, mas também nas produções audiovisuais.
Exemplos das obras
Na literatura brasileira, há vários exemplos de contos fantásticos. Autores canônicos como Machado de Assis exploram o gênero em contos como “O espelho”, no qual um homem afirma ter duas almas. No entanto, são nomes como Murilo Rubião, Lygia Fagundes Telles e Ignácio Loyola Brandão que acabam por trazer os melhores exemplos dessa escrita.
Em “O homem que a orelha cresceu”, por exemplo, Brandão constrói uma história a partir de um fato simples: a orelha de um homem começa a crescer. Observe um trecho.
“Estava escrevendo, sentiu a orelha pesada. Pensou que fosse cansaço, eram 11 da noite, estava fazendo hora-extra. Escriturário de uma firma de tecidos, solteiro, 35 anos, ganhava pouco, reforçava com extras. Mas o peso foi aumentando e ele percebeu que as orelhas cresciam. Apavorado, passou a mão. Deviam ter uns dez centímetros. Eram moles, como de cachorro. Correu ao banheiro. As orelhas estavam na altura do ombro e continuavam crescendo. Ficou só olhando. Elas cresciam, chegavam a cintura. Finas, compridas, como fitas de carne, enrugadas. Procurou uma tesoura, ia cortar a orelha, não importava que doesse. Mas não encontrou, as gavetas das moças estavam fechadas. O armário de material também. O melhor era correr para a pensão, se fechar, antes que não pudesse mais andar na rua. Se tivesse um amigo, ou namorada, iria mostrar o que estava acontecendo. Mas o escriturário não conhecia ninguém a não ser os colegas de escritório. Colegas, não amigos. Ele abriu a camisa, enfiou as orelhas para dentro. Enrolou uma toalha na cabeça, como se estivesse machucado. [...]”
Na literatura estrangeira, obras como “A metamorfose”, de Franz Kafka, mostram o absurdo e o fantástico de forma simbólica.
“Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranqüilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso. Estava deitado sobre suas costas duras como couraça e, ao levantar um pouco a cabeça, viu seu ventre abaulado, marrom, dividido por nervuras arqueadas, no topo de qual a coberta, prestes a deslizar de vez, ainda mal se sustinha. Suas numerosas pernas, lastimavelmente finas em comparação com o volume do resto do corpo, tremulavam desamparadas diante dos seus olhos.
— O que aconteceu comigo? — pensou. [...]”
Assim, o fantástico aparece a partir de adjetivos que revelam e não revelam a narrativa ao leitor. Cria-se um suspense a partir de situações surreais, como se transformar em uma barata. Contudo, é preciso ler e mergulhar na leitura, pois há uma intenção do autor em construir a história dessa maneira. O conto da orelha que cresce, por exemplo, podem ser lidas como uma alegoria dos problemas que acumulamos sem resolver. Transforma-se em uma barata, por sua vez, pode ser uma forma de tratar a desumanização do sujeito.
Por que ler o fantástico
Há quem considere a literatura fantástica uma literatura menor. No entanto, ler literatura fantástica é uma forma de exercitar a imaginação. As histórias, por mais que incrementem o mágico e o surreal, muitas vezes tecem diálogo com o mundo prático em que vivemos. Elas nos fazem pensar sobre o que é verdadeiro, o que é possível e o que pode existir além da razão.
Aprofunde os seus estudos com:
Gêneros Literários: tipos, características e exemplos
Referências Bibliográficas
AMARAL, Bibiana. A Literatura Fantástica: Percurso Histórico e Conceitual. Revista Porto das Letras, v. 8, Número Especial, 2022. Universidade Federal do Tocantins.
LUIS, Rodrigo. Literatura Fantástica: o que é, características e exemplos de obras. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/literatura-fantastica/. Acesso em: