O que é Rima?

Daniela Diana
Daniela Diana
Professora licenciada em Letras

A Rima é um recurso estilístico muito utilizado nos textos poéticos, sobretudo na poesia, a qual proporciona sonoridade, ritmo e musicalidade.

Ela ocorre nos versos, ou seja, nas linhas dos poemas, e designa a repetição de sons idênticos ou semelhantes no final dos vocábulos ou das sílabas poéticas. O conjunto de versos é denominado estrofe.

Os versos que compõem os textos poéticos, e que não apresentam rimas, são chamados de versos brancos ou versos soltos. O “Poema em Linha Reta” do escritor português Fernando Pessoa é um exemplo disso, uma vez que seus versos não rimam.

“Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.”

Palavras que rimam

  • Amor: flor, calor, beija-flor
  • Vida: ida, cingida, colhida
  • Coração: grão, benção, missão
  • Mundo: fecundo, profundo, contudo
  • Você: bebê, entrevê, glacê
  • Feliz: bendiz, ouvis, aprendiz
  • Sol: farol, girassol, rouxinol
  • Alegria: guia, crescia, colhia
  • Amizade: bondade, saudade, vontade

Tipos de rimas

As rimas são recursos classificados de diversas maneiras e, geralmente ocorrem a cada dois ou mais versos.

Conforme a posição

Rima Interna

Também chamada de rima interior, ela ocorre no meio dos versos. Exemplo:

O ar. A folha. A fuga.
No lago, um círculo vago.
No rosto, uma ruga
.”

(Haicai “O Pensamento” de Guilherme de Almeida)

Rima Externa

Também chamada de rima final, é a forma mais utilizada, donde a rima ocorre no final dos versos. Exemplo:

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente
.”

(Trecho do poema “Autopsicografia” de Fernando Pessoa)

Conforme a fonética

Rima Perfeita

Também chamada de rima consoante ou rima soante, ela ocorre quando há total correspondência de sons. Exemplo:

Foste o beijo melhor da minha vida,
ou talvez o pior...Glória e tormento,
contigo à luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!

(Trecho do poema “Um Beijo” de Olavo Bilac)

Rima Imperfeita

Também chamada de assonante, rima vocálica ou rima toante, ela ocorre quando a correspondência de sons é apenas parcial, nas vogais. Exemplo:

Eu agora — que desfecho!
Já nem penso mais em ti
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?

(Trecho do poema “Do Amoroso Esquecimento” de Mario Quintana)

Conforme a acentuação

Rima Aguda

Também chamada de rima masculina, ela ocorre em palavras monossílabas ou oxítonas. Exemplo:

Estou junto de ti, e não me vês...
Quantas vezes no livro que tu lês
Meu olhar se pousou e se perdeu!

(Trecho do poema “Silêncio!..." de Florbela Espanca)

Rima Grave

Também chamada de rima feminina, ela ocorre em palavras paroxítonas, sendo das mais utilizadas. Exemplo:

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
.”

(Trecho do “Soneto de Fidelidade” de Vinícius de Moraes)

Rima Esdrúxula

Ocorre em palavras proparoxítonas. Exemplo:

Clame a saparia
Em críticas ticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas...

(Trecho do poema “Os Sapos” de Manuel Bandeira)

Conforme o valor

Rima Pobre

Palavras que apresentam a mesma classe gramatical (substantivo e substantivo; verbo e verbo). Exemplo:

Quando ela fala, parece
Que a voz da brisa se cala;
Talvez um anjo emudece
Quando ela fala
.”

(Trecho do poema “Quando Ela Fala” de Machado de Assis)

Rima Rica

Palavras que apresentam classe gramatical distintas. (substantivo e adjetivo; verbo e adjetivo). Exemplo:

Ilustríssimo, caro e velho amigo,
Saberás que, por um motivo urgente,
Na quinta-feira, nove do corrente,
Preciso muito de falar contigo
.”

(Trecho do poema “Relíquia Íntima” de Machado de Assis)

Rima Preciosa

Também chamadas de rimas artificiais e raras, são rimas forjadas com palavras combinadas que conferem terminações incomuns de sons raros. Exemplo:

É uma trágica festa emocionante!
A bacteriologia inventariante
Toma conta do corpo que apodrece...
E até os membros da família engulham,
Vendo as larvas malignas que se embrulham
No cadáver malsão, fazendo um s.

(Trecho do poema “Monólogo de uma Sombra” de Augusto dos Anjos)

Conforme a posição na estrofe

Rima Alternada (ABAB)

Também chamada de rima cruzada, ocorre entre versos pares e ímpares, donde o primeiro verso rima com o terceiro, e o segundo verso rima com o quarto. Exemplo:

Essa mulher que se arremessa, fria (A)
E lúbrica aos meus braços, e nos seios (B)
Me arrebata e me beija e balbucia (A)
Versos, votos de amor e nomes feios.” (B)

(Trecho do “Soneto de Devoção” de Vinícius de Moraes)

Rima Intercalada (ABBA)

Também chamada de rima interpolada ou rima oposta, ocorre entre o primeiro e o quarto verso e, entre o segundo e o terceiro verso. Exemplo:

Hoje, voltas-me o rosto, se ao teu lado (A)
passo. E eu, baixo os meus olhos se te avisto. (B)
E assim fazemos, como se com isto, (B)
pudéssemos varrer nosso passado.” (A)

(Trecho do Poema “Indiferença” de Guilherme de Almeida)

Rima Emparelhada (AABB)

Nesse caso, a rima é encontrada entre o primeiro e o segundo verso e, entre o terceiro e o quarto verso. Exemplo:

Aos que me chamam de deputado (A)
Quando nem mesmo sou jurado, (A)
Aos que, de bons, se babam: mestre! (B)
Inda se escrevo o que não preste.” (B)

(Trecho do poema “Obrigado” de Carlos Drummond de Andrade)

Rima Misturada

Também chamada de rima mista, nesse caso, a rima pode ser encontrada em diversos momentos do texto poético, sem necessariamente seguir um padrão de posição. Exemplo:

E diz-me a desconhecida: (A)
"Mais depressa! Mais depressa! (B)
"Que eu vou te levar a vida! . . . (A)
"Finaliza! Recomeça! (B)
"Transpõe glórias e pecados! . . ." (C)
Eu não sei que voz seja essa (B)
Nos meus ouvidos magoados: (C)
Mas guardo a angústia e a certeza (D)
De ter os dias contados . . . (C)
Rolo, assim, na correnteza (D)
Da sorte que se acelera, (E)
Entre margens de tristeza, (D)
Sem palácios de quimera, (E)
Sem paisagens de ventura, (F)
Sem nada de primavera . . .” (E)

(Trecho do poema “Ísis” de Cecília Meireles)

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Daniela Diana
Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.