A Linguagem do Naturalismo

Daniela Diana
Daniela Diana
Professora licenciada em Letras

A Linguagem do Naturalismo é impessoal, simples, clara, objetiva, equilibrada, harmônica, descritiva, minuciosa, coloquial, regionalista e engajada.

Características do Naturalismo

O Naturalismo foi uma das tendências literárias que despontou no século XIX na Europa, o qual foi se espalhando pelo mundo.

Esse movimento artístico e cultural tem início com a publicação da obra “O Romance Experimental” (1880) do escritor francês Émile Zola.

Ao lado do Realismo, o Naturalismo negava diversos aspectos da Escola anterior, o Romantismo. Essa escola era caracterizada pelo subjetivismo, idealização da mulher, o amor sublime, o herói íntegro, etc.

No Brasil, o movimento naturalista é marcado pela publicação do romance “O Mulato” (1881) de Aluísio de Azevedo.

Em Portugal, ele começa com a publicação da obra de Eça de Queirós,O Crime do Padre Amaro” (1875).

Embora Eça de Queirós seja mais citado como escritor realista, sua obra é muito vasta e eclética, abrangendo diversas características do naturalismo.

A ideia central do Realismo e do Naturalismo era sobretudo, mostrar a veracidade dos fatos da realidade contida nas sociedades e nos homens. Assim, ambos movimentos buscavam explorar temas de cunho social e político.

No Naturalismo, entretanto, as personagens adquirem aspectos animalescos, com a presença de personagens patológicas, destacando assim, os diversos problemas urbanos e sociais.

Enquanto no Realismo a análise psicológica das personagens é fundamental para apresentar a realidade, no Naturalismo, as personagens são determinadas segundo os aspectos biológicos, históricos e sociais. Esses aspectos que irão determinar suas ações.

Assim, o Realismo esteve mais centrado na personagem e em seus aspectos psicológico. Já o Naturalismo, focou nos aspectos sociais, voltados para a biologia e patologias humanas.

Além disso, as personagens retratadas no Naturalismo fazem parte de uma realidade social mais decadente e mais marginalizada. Enquanto no Realismo, as obras literárias representavam a burguesia da época.

Diferente do Realismo, o qual pretendia mostrar um retrato fidedigno da sociedade sem embasamentos científicos, a literatura naturalista traz à tona as diversas descobertas que se desenvolveram na época.

Merecem destaque o Positivismo de Comte, as ideias Evolucionistas de Charles Darwin, além das teorias associadas à Psicologia, Filosofia, Sociologia e Antropologia.

Assim, os escritores naturalistas pretendiam demostrar as teorias científicas que se desenvolviam no século XIX e transformar definitivamente a sociedade mundial.

Leia também:

Principais Representantes no Brasil

Os principais escritores naturalistas no Brasil foram:

Principais Representantes em Portugal

Os principais escritores naturalistas portugueses foram:

  • Francisco Teixeira de Queirós (1848-1919)
  • Júlio Lourenço Pinto (1842-1907)
  • Abel Botelho (1854-1917)

Exemplos

Para compreender melhor os diversos aspectos da linguagem do naturalismo, segue abaixo dois exemplos da prosa naturalista:

Trecho da Obra “O Cortiço” de Aluísio de Azevedo

No dia seguinte, com efeito, ali pelas sete da manhã, quando o cortiço fervia já na costumada labutação, Jerônimo apresentou-se junto com a mulher, para tomarem conta da casinha alugada na véspera.

A mulher chamava-se Piedade de Jesus; teria trinta anos, boa estatura, carne ampla e rija, cabelos fortes de um castanho fulvo, dentes pouco alvos, mas sólidos e perfeitos, cara cheia, fisionomia aberta; um todo de bonomia toleirona, desabotoando-lhe pelos olhos e pela boca numa simpática expressão de honestidade simples e natural.

Vieram ambos à boleia da andorinha que lhes carregou os trens. Ela trazia uma saia de sarja roxa, cabeção branco de paninho de algodão e na cabeça um lenço vermelho de alcobaça; o marido a mesma roupa do dia anterior.

E os dois apearam-se muito atrapalhados com os objetos que não confiaram dos homens da carroça; Jerônimo abraçado a duas formidáveis mangas de vidro, das primitivas, dessas em que se podia à vontade enfiar uma perna; e a Piedade atracada com um velho relógio de parede e com uma grande trouxa de santos e palmas bentas. E assim atravessaram o pátio da estalagem, entre os comentários e os olhares curiosos dos antigos moradores, que nunca viam sem uma pontinha de desconfiança os inquilinos novos que surgiam.

Saiba mais sobre a obra: O Cortiço.

Trecho da Obra “O Barão de Lavos” de Abel Botelho

A plenitude da vida, a arrogância genital, a evolução orgânica ao máximo, própria dos 32 anos, mantinham no barão ainda fortes e dominantes as tendências naturais da virilidade. Ele tinha por enquanto junto do efebo os mesmos apetites de penetração e de posse que o homem sente de ordinário para com a mulher.

Todavia, em raros momentos de vertigem, ao contato da sua carne com aquela outra virilidade impetuosa e fresca, percorria-lhe os músculos, fugidio, breve, um movimento efeminado; faiscava-lhe no espírito uma pregustação de prazer que tivesse por base a passividade, o abandono; entrava de suporar-lhe da vontade uma solicitação em escorço de não se entregar, de ser possuído, de ser femeado, em suma.

O que era, a um tempo, corolário do seu temperamento, é sinal patognômico do finalisar de uma raça inútil, do agonizar de uma família que vinha assim desfazer-se, podre das últimas aberrações e das últimas baixezas, na pessoa do seu representante derradeiro. Era como o início da formação de um edema de natureza moral, purulento, mole, crescendo traiçoeiramente sem dor e sem pruridos, abeberando-se farto e rápido na degradativa essência do doente, com numa esterqueira os cogumelos.

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Daniela Diana
Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.