Diferenças entre a ciência e a pseudociência
A diferença entre ciência e pseudociência é que a ciência busca respostas por meio de testes, experimentos e evidências verificáveis, enquanto a pseudociência se apoia em crenças, histórias ou promessas sem provas confiáveis.
Imagine que você está tentando descobrir qual é o melhor tipo de adubo para uma planta crescer mais forte. Você planta vários feijões no algodão, mas em cada copo usa um adubo diferente. Você anota tudo, mede o crescimento e, no final, compara os resultados para tirar uma conclusão. Isso é ciência: um jeito de investigar o mundo baseado em experimentos, testes e provas concretas que qualquer pessoa pode verificar.
Agora, imagine que alguém diz: "Use este pó mágico! Minha avó usava e as plantas dela eram enormes, confia!". Mas quando você pergunta como ele funciona, a pessoa não explica direito ou diz que "é um segredo que a indústria não quer que você saiba". Isso é pseudociência: ela parece ciência, usa até algumas palavras difíceis, mas não segue as regras do jogo da investigação honesta. Ela se baseia mais em crenças, histórias pessoais ou teorias que não podem ser testadas de verdade.
Exemplos de ciência e a pseudociência
1. O caso da "água alcalina milagrosa"
A química nos ensina que o pH mede se algo é ácido ou básico (alcalino). A pseudociência vende a ideia de que beber "água alcalina" cura doenças e desintoxica o corpo. Mas a ciência explica: nosso estômago é extremamente ácido por uma razão (para digerir os alimentos e matar bactérias).
Toda a água que bebemos, seja alcalina ou não, vai ser neutralizada imediatamente por esse ácido. Não há nenhum estudo sério que prove esses supostos benefícios milagrosos. É um uso enganoso de um conceito químico real.
2. A lição das vacinas e da Hidroxicloroquina na pandemia de COVID-19
A pandemia de COVID-19 foi um grande teste público para diferenciar ciência de pseudociência.
Do lado da ciência: As vacinas (como as de mRNA) foram desenvolvidas seguindo todas as etapas do método científico. Pesquisadores de Química, Biologia e Medicina trabalharam por décadas na base dessa tecnologia. Elas passaram por testes rigorosos em milhares de voluntários, os dados foram analisados e publicados para o mundo todo ver. A velocidade veio do conhecimento acumulado, não do "pulo do gato".
Do lado da pseudociência: O caso do pesquisador francês Didier Raoult e da hidroxicloroquina se tornou um exemplo mundial. No início de 2020, seu estudo, que afirmava que o remédio era muito eficaz, foi amplamente divulgado. No entanto, outros cientistas logo levantaram problemas graves: o estudo era pequeno, não seguia padrões rigorosos (como a divisão aleatória dos pacientes) e suas conclusões não batiam com os dados apresentados.
A comunidade científica pediu revisão. O processo foi lento, mas em dezembro de 2024, o periódico científico que havia publicado o estudo finalmente o retirou do ar, uma ação extrema que só acontece quando um trabalho tem falhas tão sérias que suas conclusões não são confiáveis. Enquanto isso, dezenas de outros estudos, muito maiores e melhor conduzidos, já haviam mostrado que a hidroxicloroquina não era eficaz contra a COVID-19.
Este caso é um alerta: a ciência verdadeira tem um mecanismo de correção. Ela pode levar tempo, mas erros são descobertos e corrigidos. A pseudociência, por outro lado, ignora as correções e segue repetindo a informação falsa.
3. Produtos "detox" e a química do nosso corpo
É comum ver sucos, chás ou adesivos que prometem "desintoxicar" o corpo. A pseudociência gosta da ideia de "limpar as impurezas".
Mas a Química e a Biologia nos mostram que nosso corpo já tem um sistema de detoxificação profissional que funciona 24h por dia: o fígado e os rins. Eles são fábricas químicas naturais que filtram e transformam toxinas de forma eficiente.
Não existe evidência de que esses produtos façam algo que nosso corpo já não faça muito bem sozinho. É um exemplo de se criar um problema que não existe para vender uma solução falsa.
Por que isso é importante diferenciar a ciência da pseudociência?
Acreditar em pseudociência pode fazer mal:
- à saúde (usando remédios perigosos ou abandonando tratamentos que funcionam);
- ao bolso (gastando dinheiro com produtos inúteis);
- à sociedade (espalhando desinformação, como em uma pandemia).
Enquanto a ciência está sempre se questionando e pode mudar de ideia quando surgem novas provas, a pseudociência ignora as provas contrárias e prefere culpar "conspirações".
Pensar como um cientista é fazer perguntas como: "Como você sabe disso?", "Qual a prova?" e "Esse teste foi feito de um jeito justo, comparando com um grupo de controle?". No fundo, é sobre curiosidade com cuidado e confiança baseada em evidências, não em promessas vazias
Referências Bibliográficas
MCINTYRE, Lee. The scientific attitude: defending science from denial, fraud, and pseudoscience. Cambridge: MIT Press, 2019.
PIGLIUCCI, Massimo; BOUDRY, Maarten (Ed.). Philosophy of pseudoscience: reconsidering the demarcation problem. Chicago: University of Chicago Press, 2013.
POPPER, Karl R. A lógica da pesquisa científica. Tradução de Leonidas Hegenberg e Octanny Silveira da Mota. São Paulo: Cultrix, 1975.
ALVES, Gustavo. Diferenças entre a ciência e a pseudociência. Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/diferencas-entre-a-ciencia-e-a-pseudociencia/. Acesso em: