O que são Versos Brancos?

Daniela Diana
Daniela Diana
Professora licenciada em Letras

Na teoria da literatura, os Versos Brancos, também chamados de “Versos Soltos” são aqueles que não apresentam esquemas de rima, entretanto podem apresentar métrica (medida).

Os versos brancos são muito utilizados desde o século XVIII no Brasil, sobretudo na poesia romântica, moderna e contemporânea.

Observe que o verso é o nome dado a uma linha da poesia, sendo o conjunto deles, denominado de estrofe. A rima representa aproximação de sons entre as palavras de um verso.

Metrificação e Versificação

A arte de compor versos e reunir diversos aspectos dos textos poéticos, como a musicalidade, rima, ritmo e encadeamento é chamado de versificação.

Por sua vez, o estudo sobre as medidas apresentadas no verso é chamado de metrificação, feita por meio do processo denominado escansão de versos.

De tal modo, a escansão é a contagem das sílabas poéticas por meio da união de algumas sílabas quando houver som fraco e forte e somente até a última sílaba tônica de cada verso.

Lembre-se que a métrica é a medida do verso e a metrificação é o estudo dessas medidas. Além disso, devemos atentar para as diferenças entre as sílabas poéticas (que admite a sonoridade e musicalidade) e as sílabas gramaticais (segundo as normas da língua) por exemplo:

O/ poe/ ta é/ um/ fin/ gi/ dor - 7 Sílabas literárias

O/ po/ e/ ta/ é/ um/ fin/ gi/ dor - 9 Sílabas gramaticais

Tipos de Versos

Segundo a métrica (medida dos versos) utilizada nos textos poéticos, eles são classificados em:

  • Monossílabo: uma sílaba poética
  • Dissílabo: duas sílabas poéticas
  • Trissílabo: três sílabas poéticas
  • Tetrassílabo: quatro sílabas poéticas
  • Pentassílabo ou Redondilha Menor: cinco sílabas poéticas
  • Hexassílabo: seis sílabas poéticas
  • Heptassílabo ou Redondilha Maior: sete sílabas poéticas
  • Octossílabo: oito sílabas poéticas
  • Eneassílabo: nove sílabas poéticas
  • Decassílabo: dez sílabas poéticas
  • Hendecassílabo: onze sílabas poéticas
  • Dodecassílabo ou Alexandrino: doze sílabas poéticas
  • Verso Bárbaro: verso com mais de doze sílabas poéticas

Versos Brancos e Versos Livres

Quando falamos em versos brancos não devemos confundir com a definição de versos livres, denominados de versos irregulares (heterométricos).

Já destacamos acima que os versos brancos são aqueles que não apresentam rima, entretanto, os versos livres representam os versos que não possuem medida definida, ou seja, não seguem o esquema de metrificação.

Para tanto, uma poesia pode apresentar versos libres e brancos ao mesmo tempo

Exemplo de Versos Brancos e Versos Livres

Para exemplificar melhor o conceito de versos brancos e livres (versos sem rima e métrica), observe o poema abaixo do escritor Mário Quintana (1906-1994):

Esperança

“Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano

Vive uma louca chamada Esperança

E ela pensa que quando todas as sirenas

Todas as buzinas

Todos os reco-recos tocarem

Atira-se

E

— ó delicioso vôo!

Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,

Outra vez criança...

E em torno dela indagará o povo:

— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?

E ela lhes dirá

(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)

Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:

— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...”

Exemplo de Versos Brancos

Na obra intitulada “Meus Versos Mais queridos” (1967) do escritor brasileiro Guilherme de Almeida (1890-1969), há um poema chamado “Versos Brancos”, o qual agrega o próprio conceito, ou seja, não apresenta rimas:

Versos Brancos

“Uma fina saudade vai varando

a quietude cansada do meu tédio.

Mas, saudade do quê? de quem?...

Os dias

são bolas de cristal, azuis, polidas,

lisas, sem uma aresta traiçoeira

em que venha prender-se e estraçalhar-se

o véu de um pensamento de outros tempos;

sem nem o esconderijo de uma nuvem

onde fique um olhar longo de outrora

olhando para as cinzas destes instantes;

nem uma sombra forte em que se oculte

um pedaço perdido de passado...

Tudo, em torno de mim, é luminoso,

alto e macio, deslizante e lindo;

tudo é apenas um lúcido presente:

é a negação perfeita da saudade...

E no entanto – por quê? por quem?... – eu vejo

e ouço passar na terra a minha vida

cantando uma cantiga vagarosa

de água que leva flores na descida...”

Daniela Diana
Daniela Diana
Licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2014. Amante das letras, artes e culturas, desde 2012 trabalha com produção e gestão de conteúdos on-line.