Domingo Sangrento

Juliana Bezerra
Juliana Bezerra
Professora de História

Domingo Sangrento se refere a dois acontecimentos históricos.

Pode designar o “Domingo Sangrento” ocorrido em São Petersburgo, na Rússia, em 9 de janeiro de 1905, quando manifestantes foram mortos pela guarda real.

Igualmente é o nome que recebe o massacre cometido pelo exército inglês, em 30 de janeiro de 1972, contra integrantes de uma passeata pelos direitos civis, na Irlanda do Norte.

Domingo Sangrento na Rússia (1905)

Em 09 de janeiro de 1905, um domingo, uma grande manifestação marchou em direção do Palácio de Inverno para entregar ao Czar Nicolau II (1868-1918) uma série de petições.

Liderados pelo sacerdote George Gapon (1870-1906), os participantes estavam desarmados, cantando hinos religiosos e carregavam ícones de santos.

Gapon pretendia entregar uma carta ao imperador solicitando a redução da jornada de trabalho para 8 horas, liberdade de reunião, a eleição de uma Assembleia Nacional, dentre outras medidas.

Domingo Sangrento São Petersburgo
Domingo Sangrento, pintura de Ivan Vladimirov

A guarda real não deixou a multidão se aproximar do Palácio de Inverno e abriu fogo. Mais de 1000 pessoas morreram e cerca de cinco mil ficaram feridas.

O Domingo Sangrento serviu para mobilizar figuras importantes da oposição russa que se encontravam no exílio como Lenin (1870-1924).

Diante da brutal repressão, os protestos contra a autocracia aumentaram e em outubro de 1905 se reuniram pela primeira vez os representantes dos trabalhadores da cidade de Moscou.

Autodenominaram-se “conselho” que em russo quer dizer soviet. Em seguida, convocaram uma greve geral que deixou paralisada as principais cidades do país.

Diante dos distúrbios e de novo massacre ocorrido em outubro, o czar terminou por ceder e permitir a realização de eleições para uma assembleia no ano seguinte.

Por sua vez, os membros dos soviets, entre eles Leon Trotsky (1879-1940), foram exilados.

O episódio do Domingo Sangrento é considerado o início da Revolução Russa.

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Domingo Sangrento na Irlanda (1972)

O Domingo Sangrento irlandês ocorreu em 30 de janeiro de 1972, na cidade de Derry, na Irlanda do Norte.

Neste dia, uma manifestação de civis saiu pelas ruas em direção à Câmara Municipal para protestar contra medidas impostas pelo governo inglês. Entre elas, se destacava a possibilidade de prender sem acusação formal pessoas suspeitas de participarem do grupo IRA (Exército Republicano Irlandês).

O Exército inglês não estava disposto a deixar os manifestantes chegarem ao seu destino e fizeram barricadas a fim de que a marcha não avançasse.

Massacre na Irlanda
Aspecto do enfrentamento entre a multidão desarmada e os soldados

Indignados, alguns participantes gritaram, jogaram garrafas e outros objetos nos soldados. A resposta foi imediata e os militares dispararam contra a multidão matando 14 pessoas, sendo que cinco delas foram baleadas pelas costas. Também doze pessoas ficaram seriamente feridas.

Os ingleses acusaram os participantes de terrorismo e fizeram uma grande campanha para justificar sua atitude violenta. No entanto, os parentes das vítimas se reuniam a cada 30 de janeiro para exigir reparação por parte do governo britânico.

Assim, em 1998, o governo do primeiro-ministro trabalhista Tony Blair aceita abrir um novo inquérito sobre o “Domingo Sangrento”.

As conclusões foram apresentadas somente em 2010, pelo primeiro-ministro conservador David Cameron, numa histórica sessão do parlamento britânico. Cameron declarou que as vítimas eram inocentes e que o comportamento do exército inglês havia sido “injustificável”.

Sunday Bloody Sunday

O massacre de inocentes causou indignação no mundo da música e o compositor Paul McCartney compôs “Give Ireland Back To The Irish” já em fevereiro de 1972. Por sua vez, John Lennon (1940-1980) escreveu a canção “Sunday Bloody Sunday” neste mesmo ano.

No entanto, a música que imortalizaria esses acontecimentos seria realizada pela banda irlandesa U2, em 1982 e também se chamaria “Sunday Bloody Sunday”.

Juliana Bezerra
Juliana Bezerra
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.