Exercícios sobre as escolas antropológicas (com gabarito explicado)
Os exercícios abaixo foram elaborados para auxiliar estudantes e interessados em compreender a evolução das principais correntes teóricas da Antropologia. O conteúdo aborda desde o Evolucionismo Social até as perspectivas Pós-Modernas, passando por autores fundamentais como Durkheim, Malinowski, Boas, Lévi-Strauss e Geertz.
Por meio de questões comentadas, o material permite revisar conceitos essenciais — como fato social, funcionalismo, relativismo cultural, estruturalismo e antropologia interpretativa — de forma clara e contextualizada. É um excelente recurso para reforçar os estudos e compreender como cada escola contribuiu para a formação do pensamento antropológico contemporâneo.
Questão 1 - Evolucionismo Social
“A história da raça humana é uma só – na fonte, na experiência, no progresso. [...] Pode-se afirmar agora, com base em convincente evidência, que a selvageria precedeu a barbárie em todas as tribos da humanidade, assim como se sabe que a barbárie precedeu a civilização. A história da raça humana é uma só – na fonte, na experiência, no progresso.”
(Lewis Henry Morgan – A sociedade antiga)
Segundo o evolucionismo social, as sociedades humanas compartilham uma trajetória comum de progresso linear, partindo de formas simples até civilizações complexas.
O evolucionismo social entendia a cultura como:
a) Um sistema simbólico sem direção definida.
b) Um conjunto de crenças individuais mutáveis.
c) Uma experiência estética coletiva.
d) Um processo linear e cumulativo de desenvolvimento humano.
e) Uma reação ao determinismo biológico.
O evolucionismo social, representado por autores como Tylor e Morgan, compreendia a cultura como um processo único e progressivo, em que todas as sociedades passariam pelos mesmos estágios de desenvolvimento – do “primitivo” ao “civilizado”. A variação entre povos não indicava diversidade, mas graus distintos de evolução. Assim, a cultura seria cumulativa e orientada por uma lógica de progresso universal.
Questão 2 - Escola Antropológica Francesa
“A explicação dos ritos positivos atribui-lhes uma significação antes de tudo moral e social. A eficácia física que o fiel lhes reconhece seria o produto de uma interpretação que dissimularia sua razão de ser essencial: é por servirem para refazer moralmente os indivíduos e os grupos que se considera que eles exercem uma ação sobre as coisas.”
(Émile Durkheim – Os ritos representativos ou comemorativos)
Émile Durkheim e Marcel Mauss defenderam que os fenômenos culturais devem ser estudados como expressões coletivas dotadas de objetividade e função social.
Para Durkheim e Mauss, os fatos sociais são:
a) Fenômenos individuais de expressão simbólica.
b) Representações coletivas dotadas de coerção e objetividade.
c) Resultados da vontade biológica dos indivíduos.
d) Elementos linguísticos descontextualizados.
e) Resquícios de sociedades primitivas.
Durkheim introduz o conceito de “fato social” para designar os fenômenos coletivos que exercem coerção sobre os indivíduos. Esses fatos — como as crenças religiosas, as normas e os ritos — têm existência independente das vontades pessoais e garantem a coesão social. Mauss amplia essa visão ao estudar as “representações coletivas” e os sistemas de troca como mecanismos simbólicos de solidariedade.
Questão 3 - Funcionalismo
“Diferentemente de outros funcionalistas que seguiam Durkheim, porém, para Malinowski o objetivo último do sistema eram os indivíduos, não a sociedade. As instituições existiam para as pessoas, não o contrário, e eram as necessidades das pessoas, em última análise suas necessidades biológicas, que constituíam o motor primeiro da estabilidade social e da mudança.”
(Thomas Hylland Eriksen; Finn Sivert Nielsen, História da Antropologia)
O funcionalismo de Malinowski entende a cultura como um sistema integrado, no qual cada instituição cumpre uma função essencial para a coesão e sobrevivência social.
De acordo com o funcionalismo, cada prática cultural existe para:
a) Produzir novos mitos coletivos.
b) Promover a dominação de grupos hegemônicos.
c) Conservar a tradição e eliminar conflitos.
d) Estabelecer hierarquias morais.
e) Atender às necessidades humanas e manter o equilíbrio social.
Para Malinowski, toda instituição cultural existe porque cumpre uma função necessária à vida social e individual. A cultura é um “organismo vivo”, no qual cada elemento – como o casamento, a religião ou a economia – serve para satisfazer necessidades biológicas, psicológicas e sociais. O equilíbrio do sistema depende da cooperação funcional entre suas partes.
Questão 4 - Culturalismo Norte-Americano
“Na Inglaterra, a antropologia seria remodelada em antropologia social nos anos entre as duas grandes guerras - uma disciplina comparativa, de base sociológica, com conceitos nucleares como estrutura social, normas, estatutos e interação social. Nos Estados Unidos, a disciplina se tomou conhecida como antropologia cultural.[...] Se a sociedade é constituída de normas sociais, instituições e relações, a cultura consiste em tudo o que os seres humanos criaram, inclusive a sociedade[...]”
(Thomas Hylland Eriksen; Finn Sivert Nielsen, História da Antropologia)
O antropólogo alemão-norte-americano Franz Boas defendeu o estudo particularista e contextual das culturas, recusando generalizações evolucionistas e o etnocentrismo.
O princípio central do culturalismo norte-americano é:
a) A compreensão de cada cultura em seu contexto histórico e interno.
b) A busca de leis universais da história cultural.
c) A primazia da biologia sobre a cultura.
d) A hierarquia entre sociedades complexas e simples.
e) A evolução linear dos sistemas simbólicos.
Franz Boas rompe com o universalismo do evolucionismo ao propor o “particularismo histórico”: cada cultura deve ser compreendida a partir de sua própria história, valores e significados. Nenhuma cultura é superior ou mais evoluída que outra. Esse princípio funda o relativismo cultural e orienta o método etnográfico de observação contextualizada e empática.
Questão 5 - Estruturalismo
“Porque a proibição do incesto não é uma proibição entre outras; ela é a proibição sob sua forma mais geral, aquela, talvez, à qual todas as demais remontem – a começar pelas que acabam de ser citadas –, assim como outros tantos casos particulares. A proibição do incesto é universal como a linguagem; se é verdade que somos mais bem informados sobre a natureza da segunda que sobre a origem da primeira, é apenas acompanhando a comparação até seu termo que poderemos desvendar o sentido da instituição.”
(Claude Lévi-Strauss – Os princípios do parentesco)
A corrente estruturalista da antropologia busca compreender as estruturas mentais universais que organizam os sistemas simbólicos humanos, como o parentesco e o mito.
Para Lévi-Strauss, a tarefa da antropologia é:
a) Estudar as mudanças históricas concretas.
b) Revelar as estruturas inconscientes que regem os sistemas culturais.
c) Comparar culturas evolutivamente.
d) Focar nas funções práticas das instituições.
e) Analisar apenas os significados religiosos.
Lévi-Strauss defende que as manifestações culturais (como mitos, parentesco e rituais) obedecem a uma lógica inconsciente, baseada em oposições binárias universais. A tarefa do antropólogo é descobrir as estruturas mentais subjacentes que organizam o pensamento humano, da mesma forma que o linguista identifica as regras que estruturam a linguagem.
Questão 6 - Antropologia Interpretativa
“Nem a precisa descrição de objetos e comportamentos associada à etnografia tradicional nem a delicada dissecção de significados textuais que é a filologia tradicional bastam em si mesmas. É preciso fazê-las convergir de tal maneira que a imediação concreta de teatro encenado produza a fé encerrada dentro dele.”
(Clifford Geertz – Negara: o Estado-teatro balinês no século XIX)
O antropólogo norte-americano Clifford Geertz reformula a antropologia como uma hermenêutica das culturas, enfatizando a interpretação dos sentidos e símbolos que orientam a ação humana.
Segundo Geertz, o papel do antropólogo é:
a) Estabelecer leis universais da cultura.
b) Descrever comportamentos observáveis.
c) Determinar causas biológicas do simbolismo.
d) Interpretar os significados culturais compartilhados.
e) Comparar tradições religiosas e econômicas.
Clifford Geertz propõe que o antropólogo deve interpretar as culturas como “teias de significados” tecidas pelos próprios indivíduos. O foco não está em leis universais, mas na compreensão densa dos símbolos, rituais e narrativas que dão sentido à vida social. A antropologia é, portanto, uma ciência interpretativa, que busca entender o significado das ações humanas.
Questão 7 - Antropologia Pós-Moderna
“Até a metade dos anos 1980 muitos antropólogos mais jovens, especialmente americanos, falavam sobre uma crise na antropologia, uma crise relacionada ao modo como os antropólogos descreviam - ou ‘representavam’ - os povos que eles estudavam. Em graus diversos, eles acusavam a disciplina de ‘exotificar’ o ‘outro’, de manter uma ‘distinção sujeito-objeto’ entre o observador e o observado, que, diziam, continuava o projeto de ‘alterização’ do colonialismo conservando uma ‘distinção’ assimétrica, indefensável, entre ‘Nós’ e ‘Eles’”
(Thomas Hylland Eriksen; Finn Sivert Nielsen, História da Antropologia)
A antropologia pós-moderna questiona a neutralidade científica e a autoridade da voz etnográfica, propondo uma reflexão crítica sobre o próprio processo de produção do conhecimento.
Sobre o pós-modernismo na antropologia, pode-se afirmar que este movimento:
I. Questiona a objetividade e a autoridade do antropólogo.
II. Rejeita o diálogo com os sujeitos pesquisados.
III. Valoriza o caráter textual e político da etnografia.
a) Apenas I.
b) I e III.
c) Apenas II.
d) II e III.
e) I, II e III.
A antropologia pós-moderna questiona a pretensa objetividade da ciência antropológica, argumentando que toda descrição etnográfica é uma construção discursiva e política. James Clifford e Geroge Marcus afirmam que o etnógrafo exerce autoridade ao narrar o “outro”, e que o texto etnográfico deve reconhecer essa posição de poder. Assim, valoriza-se a reflexividade e o caráter textual da escrita antropológica, mas não se rejeita o diálogo com os sujeitos pesquisados.
Continue testando seus conhecimentos:
Exercício de Sociologia para o 1º ano do Ensino Médio (com gabarito explicado)
Exercício de Sociologia para o 2º ano do Ensino Médio (com gabarito explicado)
Exercício de Sociologia para o 3º ano do Ensino Médio (com gabarito explicado)
Referências Bibliográficas
BARRETT, Stanley. Anthropology: A Student’s Guide to Theory and Method. Toronto: University of Toronto Press, 1996.
BOAS, Franz. As limitações do método comparativo da antropologia. In: CASTRO, 2013.
CANDEA, Matei. Schools and Styles of Anthropological Theory. London: Routledge, 2018.
CASTRO, Celso (org.). Textos básicos de antropologia: cem anos de tradição – Boas, Malinowski, Lévi-Strauss e outros. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
CLIFFORD, James. A autoridade etnográfica. In: CASTRO, 2013.
DURKHEIM, Émile. As formas elementares da vida religiosa. In: CASTRO, 2013.
ERIKSEN, Thomas Hylland; NIELSEN, Finn Sivert. História da Antropologia. Petrópolis: Vozes, 2010.
GEERTZ, Clifford. Negara: o Estado-teatro balinês no século XIX. In: CASTRO, 2013.
LÉVI-STRAUSS, Claude. Os princípios do parentesco. In: CASTRO, 2013.
MALINOWSKI, Bronislaw. Argonautas do Pacífico Ocidental. In: CASTRO, 2013.
MORGAN, Lewis Henry. A sociedade antiga. In: CASTRO, 2013.
ORSI, Diogo. Exercícios sobre as escolas antropológicas (com gabarito explicado). Toda Matéria, [s.d.]. Disponível em: https://www.todamateria.com.br/exercicios-sobre-as-escolas-antropologicas-com-gabarito-explicado/. Acesso em: