Gulag

Juliana Bezerra
Juliana Bezerra
Professora de História

Gulag é um acrônimo, em russo, para Administração Central dos Campos. Tratava-se de campos de prisioneiros onde os detentos eram punidos com trabalhos forçados, torturas físicas e psicológicas.

O termo “Gulag” foi popularizado no Ocidente graças ao livro “Arquipélago Gulag”, do escritor russo Alexander Soljenítsin, publicado em 1973, em Paris.

Mapa Gulag

Origem dos Gulags

Os campos de trabalhos forçados existiam desde o Império Russo. Porém, com a queda da monarquia e a ascensão da Revolução Russa, em 1917, o sistema de campos de concentração foi ampliado para as regiões mais remotas do país.

Os Gulags tiveram seu auge no governo de Stalin entre 1929-1953 e entraram em declínio após a morte do ditador soviético. Entretanto, só foram oficialmente abolidos no governo de Gorbachev, na década de 80, quando a União Soviética começou a abrir-se para o mundo.

Inicialmente eram enviados para os Gulags pessoas consideradas “inimigos do povo”. As primeiras oleadas de prisioneiros pertenciam à classes específicas como os burgueses, sacerdotes, proprietários rurais e monarquistas. Também havia os que eram suspeitos somente pelas suas origens como judeus, chechenos e georgianos.

Durante o Grande Expurgo, realizado por Stalin entre 1934-1939, os perfis dos prisioneiros mudaram.

Qualquer cidadão acusado de fazer a menor crítica ao regime era condenado ao Gulag.

Assim, professores universitários, membros do partido contrários à política stalinista, poderiam ser levados aos campos de trabalho forçado ou ao exílio na Sibéria.

Após a Segunda Guerra Mundial, aqueles que viveram sob ocupação alemã foram acusados de traidores e enviados para serem reeducados nos Gulags. A mesma sorte aguardava, por exemplo, os poloneses que foram acusados de espiões pelo regime soviético.

É importante assinalar que se um membro da família fosse detido, os demais parentes também eram fichados e vigiados pela polícia.

Leia mais sobre o Holodomor: A Grande Fome na Ucrânia.

Características dos Gulags

Calcula-se que existiram entre 450 a 470 campos de concentração. Enquanto certos locais abrigavam de 200 a 500 pessoas, outros retinham dezenas de milhares.Os campos poderiam estar localizados tanto nos subúrbios de Moscou como em regiões inóspitas da Sibéria.

Havia campos especializados no trabalho industrial, aqueles situados em florestas e até campos onde intelectuais faziam projetos para obras. Também havia campos cuja mão de obra foi empregada para erguer grandes construções como o canal do Mar Báltico e o canal de Moscou.

Os campos de trabalhos forçados estavam inseridos no sistema econômico proposto por Stálin para dinamizar a União Soviética. Ele acreditava que o trabalho era necessário para construir o novo homem e a nova sociedade socialista.

Neste sentido, o trabalho, além de redimir o criminoso, estaria ajudando a atingir o objetivo final do socialismo soviético.

Cada preso deveria cumprir uma cota diária de trabalho em jornadas de 12 horas, para receber sua porção completa de comida. Caso contrário, recebia apenas a metade. Com isso, o detento se enfraquecia e, inevitavelmente, morria.

Igualmente, os Gulags não ofereciam nenhum tipo de conforto e as torturas físicas e psicológicas eram constantes.

No inverno, em regiões como a Sibéria, a situação piorava quando os prisioneiros deviam aguentar temperaturas de mais de -30º. Além disso, os prisioneiros eram vigiados por soldados armados e cachorros ferozes.

Não há estatísticas precisas sobre o número de prisioneiros dos Gulags, mas calcula-se que 18 milhões de pessoas teriam passado por estes campos.

O número de mortos é mais complicado de precisar, pois muitos eram liberados dois ou três dias antes de falecer. Assim, estudiosos acreditam que de 2 a 3 milhões de seres humanos possam ter sido mortos de inanição, torturas e execuções.

Gulag

Aspecto Gulag Perm-36 que hoje funciona como um museu

"Arquipélago Gulag", de Alexander Soljenítsin

Alexander Soljenítsin (1918-2008) foi um escritor e dramaturgo russo. Durante a Segunda Guerra Mundial serviu ao Exército Vermelho e obteve a patente de capitão.

Ao corresponder-se com um amigo escreveu que duvidava das capacidades de Stálin como estrategista militar. Esta carta foi interceptada e Soljenítsin foi condenado a 10 anos de trabalhos forçados e ao exílio perpétuo.

Esta experiência é contada em “Um Dia na Vida de Ivan Denisovich”, o primeiro livro publicado na URSS denunciando as atrocidades cometidas nos campos de prisioneiros.

Sua publicação foi permitida por Nikita Krushev (1953-1964) para mostrar que a situação começava a mudar na URSS e que o regime stalinista chegara ao fim.

O escritor passa a receber milhares de cartas contando experiências semelhantes e decide por em marcha um livro mais amplo que reunisse esses testemunhos.

No entanto, quando Leonid Brejnev (1964-1982) torna-se presidente da URSS, a política soviética volta a reprimir qualquer manifestação dissidente.

Soljenítsin passa a trabalhar na clandestinidade e com a ajuda de pessoas que não se conhecem entre si. Quando a polícia política soviética, a KGB, prende dois escritores por haver publicado livros contra o regime, Soljenítsin vai para a Estônia terminar a publicação.

O título "Arquipélago Gulag" expressa a ideia de como Alexander Soljenítsin concebia este sistema. Para ele, o Gulag era como uma cadeia de ilhas que estavam interligadas pelo horror e pela violência.

Apesar de distantes fisicamente, os Gulags obedeciam à KGB e dispensavam um tratamento desumano aos prisioneiros. Por isso, ele os concebe como um arquipélago, onde as ilhas apresentam semelhanças ainda que não estejam próximas uma das outras.

Por este livro, Alexander Soljenítsin foi expulso da União Soviética e passou vinte anos no exílio.

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Juliana Bezerra
Juliana Bezerra
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.