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Introdução à Ciência Política

Diogo Orsi
Diogo Orsi
Professor de Filosofia e Sociologia

A Ciência Política estuda como o poder é organizado, exercido e controlado na vida coletiva: instituições (Estado, governos, poder legislativo, tribunais), processos (eleições, partidos, políticas públicas) e comportamentos (participação, opinião, movimentos sociais).

Ao tratar a política como ciência, assumimos métodos e recortes claros do que observar e como explicar, diferindo da discussão filosófica de valores e fins ideais. Essa distinção nos ajuda a entender o que é, o que estuda e quais os objetivos de cada campo (filosofia política e ciência política).

Neste conteúdo você encontra:

O que é Ciência Política

A Ciência Política é um ramo das Ciências Sociais que procura descrever, analisar e explicar fenômenos políticos com base em conceitos e métodos sistemáticos.

Conhecer a Ciência Política amplia competências cidadãs: reconhecer relações de poder, entender o sistema político e tomar decisões informadas (por exemplo, ao votar) beneficiam a vida em sociedade.

Duas marcas centrais da área são:

(1) pretensão de ser científica, isto é, adotar teorias e métodos empíricos;

(2) delimitação da disciplina, escolhendo um setor particular do âmbito social (instituições, recursos, processos e funções do “político”).

Esse recorte distingue a Ciência Política de outras áreas próximas.

Principais campos de estudo

  • Instituições e Estado (Executivo, Legislativo, Judiciário, burocracias, partidos e grupos de interesse).
  • Poder, autoridade, influência (formas de dominação e mediação de conflitos).
  • Tomada de decisão e políticas públicas (como políticas são formuladas, implementadas e avaliadas).
  • Resolução não violenta de conflitos (regras e práticas que evitam que disputas destruam a vida comum).

O que a Ciência Política estuda

A política pode ser definida de modos diversos na tradição, tais como:

  • organização da pólis grega (Aristóteles);
  • aspiração ao poder e ao “monopólio do uso legitimado da força” (Weber);
  • alocação imperativa de valores (Easton);
  • relação amigo-inimigo (Schmitt).

Resumidamente, podemos dizer que a política é o conjunto de ações e regras que, por meio de alguma forma de coerção legítima, decide fins coletivos. A Ciência Política analisa como isso se dá, com quais instituições e com que efeitos.

Outro ponto fundamental é que, embora a política seja parte da sociedade, vários fenômenos sociais não são políticos (linguagem, moda, afetos). A política se distingue por usar a coerção como meio típico; por isso, a área investiga quando e por que a coerção aparece, como é limitada (constituições, direitos) e como produz resultados (políticas públicas).

Objetivos da Ciência Política

  1. Descrever instituições, regras e processos (ex.: como funciona um sistema eleitoral).
  2. Explicar causas e efeitos (ex.: por que certos sistemas partidários são mais ou menos eficientes em diversas situações).
  3. Avaliar o desempenho de políticas e instituições com indicadores empíricos (ex.: controle de corrupção, participação nas eleições, inclusão).
  4. Propor melhorias institucionais informadas por evidências (ex.: desenho de políticas públicas, reformas no sistema de representação política).

Ciência Política x Filosofia Política (não confunda!)

Ciência Política: trabalha como as coisas são e por que funcionam assim. Privilegia evidências, causalidade e descrição analítica de instituições, processos e comportamentos.

Filosofia Política: investiga como as coisas deveriam ser (valores, princípios, justiça, liberdade, igualdade, democracia). Perguntas normativas guiam o debate em autores clássicos como Maquiavel, Hobbes, Locke, Rousseau, Kant e Rawls.

No entanto, as duas disciplinas dialogam o tempo todo: teorias normativas inspiram desenhos institucionais; análises empíricas testam e refinam ideais (por exemplo, a democracia deliberativa e suas condições reais de funcionamento).

Diferenças entre ciência política e filosofia política
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Temas clássicos da disciplina

  • Estado e governo: origem e funções do Estado; separação de poderes; burocracias e políticas. (Ex.: presidencialismo de coalizão no Brasil).
  • Poder, dominação e autoridade: do monopólio estatal da coerção a formas não violentas de influência; autoridade como “poder a ser obedecido”.
  • Partidos e sistemas partidários: competição eleitoral, fragmentação, coalizões, financiamento.
  • Sistemas eleitorais: regras que transformam votos em representação (maioritária, proporcional, mista) e seus efeitos.
  • Democracia e representação: modelos (elitista, pluralista, deliberativo) e seus desafios contemporâneos (desinformação, participação digital).
  • Cidadania e participação: direitos, controles sociais, conselhos, movimentos; desenvolvimento de habilidades cívicas desde a escola.

Como a Ciência Política investiga os seus objetos

  • Dados e evidências: séries históricas, pesquisas de opinião, resultados eleitorais, orçamentos, indicadores de políticas.
  • Comparação: casos internacionais e subnacionais (por que certos arranjos funcionam melhor em certos lugares e não em outros?).
  • Estudos de caso: acompanhar a formulação de uma política (ex., merenda escolar) para ver quem decide, com base em quê e com quais resultados.
  • Teoria e conceito: usar conceitos claros de “poder”, “Estado”, “representação” para não confundir fenômenos diferentes.

Essa dimensão “científica” não significa neutralidade acrítica; significa clareza de método e transparência de critérios ao observar o mundo político.

Onde a Ciência Política encontra a Filosofia Política

No ensino das duas disciplinas, é comum articular questões normativas (justiça, liberdade, igualdade, direitos) com a análise de instituições e políticas (regras, dados, efeitos). Ex.: discutir igualdade do voto (valor) e como os sistemas eleitorais realizam esse valor na prática.

Ciência Política e Filosofia Política são complementares. A primeira observa e explica como o poder opera; a segunda debate como o poder deve ser justificado e limitado.

O ensino da ciência política tem por objetivo formar aprendizes capazes de ler instituições com espírito crítico, argumentar com base em conceitos e participar da vida pública com responsabilidade.

Leia também: Filosofia Política

Referências Bibliográficas

BODART, Cristiano das Neves; PEREIRA, Roniel Sampaio-Silva (orgs.). Ciência política para o ensino médio. Maceió: Editora Café com Sociologia, 2021

FERREIRA, Lier Pires; GUANABARA, Ricardo; JORGE, Vladimyr Lombardo (orgs.). Curso de ciência política: grandes autores do pensamento político moderno e contemporâneo. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010

GIANTURCO, Adriano. A ciência da política: uma introdução. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2018

RAMOS, Flamarion Caldeira; MELO, Rúrion; FRATESCHI, Yara (orgs.). Manual de filosofia política: para os cursos de Teoria do Estado e Ciência Política, Filosofia e Ciências Sociais. São Paulo: Saraiva, 2012

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA. Centro Acadêmico de Ciência Política. Introdução à ciência política: apostila. Brasília: CACiPol/UnB, 2021

Diogo Orsi
Diogo Orsi
Bacharel (PUC/SP) e licenciado (UniBF) em Filosofia. Mestrando em Filosofia (Unifesp), com ênfase em filosofia política contemporânea.