História do Samba

Thiago Souza
Revisão por Thiago Souza
Professor de Sociologia, Filosofia e História

O samba é uma dança e um gênero musical brasileiro considerado um dos elementos mais representativos da cultura popular do Brasil.

Este ritmo é fruto da miscigenação entre a música africana e europeia nos campos e na cidade.

Devido a sua grande presença em todo território nacional, o samba assume formas diferenciadas em cada região, mas sempre mantendo a alegria e sua cadência envolvente.

Origem do Samba

O samba foi criado no Brasil e sua origem são os batuques trazidos pelos negros escravizados, misturados aos ritmos europeus, como a polca, a valsa, a mazurca, o minueto, entre outros.

Inicialmente, as festas de danças dos negros escravos na Bahia eram chamadas de "samba". Os estudiosos apontam o Recôncavo Baiano como o berço do samba, especialmente o costume de dançar, cantar e tocar instrumentos em roda.

História do samba
Batuque, J.M, Rugendas, retratando pessoas escravizadas cantando e dançando em roda

Após a abolição da escravidão, em 1888, e da instituição da República, em 1889, muitos negros se dirigiram à então capital da República, o Rio de Janeiro, em busca de trabalho.

Porém, qualquer manifestação cultural africana era vista com desconfiança e criminalizada, como a capoeira e o candomblé. Com o samba não foi diferente.

Assim, os negros começam a fazer suas festas nas casas das "tias" ou "vovós", verdadeiras matriarcas afro-descendentes que acolhiam os batuques. No Rio de Janeiro, o mais célebre desses lugares era a casa de Tia Ciata, mãe de santo carioca.

Da mesma forma, compositores de origem erudita como Chiquinha Gonzaga e Ernesto Nazareth, utilizam os ritmos africanos em suas composições. Ainda não era o samba tal como conhecemos hoje e, por isso, o chamavam de choro, valsa-choro e até mesmo tango. Outro que seguiria o mesmo caminho seria o compositor Heitor Villa-Lobos.

Em 1917 foi gravado no Brasil aquele que é considerado o primeiro samba com o título "Pelo Telefone", com letra de Mauro de Almeida e Donga.

O samba foi entrando nos salões da elite e pouco a pouco foi se associando ao Carnaval, que até aquele momento, tinha as marchinhas como trilha sonora.

O advento do rádio e o talento de intérpretes como Carmem Miranda, Aracy de Almeida e Francisco Alves, fizeram o samba cada vez mais popular em todo Brasil.

O poeta e compositor Vinícius de Moraes resumiu a gênese do samba em seus versos magistrais de "Samba da bênção" (com música de Baden Powell, 1967):

Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração

Origem da palavra samba

Há controvérsias sobre a origem da palavra "samba", mas provavelmente advém do termo africano "semba" que significa "umbigada".

"Umbigada" era uma dança executada pelos negros escravizados durante seus momentos de folga.

Samba no Brasil

O samba está presente em todas as regiões brasileiras e, em cada uma delas, são incorporados novos elementos ao ritmo, sem contudo, perder sua cadência característica. Os mais conhecidos são:

  • Samba da Bahia
  • Samba Carioca (Rio de Janeiro)
  • Samba Paulista (São Paulo)

Assim, dependendo do estado modificam-se os ritmos, as letras, o estilo de dançar e até mesmo os instrumentos que acompanham a melodia.

O samba da Bahia foi influenciado pelos batuques e canções indígenas, enquanto no do Rio, sente-se a presença do maxixe.

Em São Paulo, as festas das colheitas de café nas fazendas seria a origem da influência da relevância dos sons mais graves da percussão no samba paulista.

Exemplos de Samba

Contudo, a divisão do samba em escolas regionais causa controvérsias. O próprio Adoniran Barbosa, um dos maiores compositores paulistas, rejeitava esta classificação.

No entanto, há musicólogos que sustentam estas diferenças. Abaixo três exemplos de sambas famosos do Rio de Janeiro, Bahia e São Paulo, respectivamente.

"Pelo telefone", Donga (1916)

O chefe da polícia pelo telefone manda me avisar
Que na Carioca tem uma roleta para se jogar
O chefe da polícia pelo telefone manda me avisar
Que na Carioca tem uma roleta para se jogar

Ai, ai, ai,
Deixa as mágoas para trás ó rapaz
Ai, ai, ai,
Fica triste se és capaz, e verás.
Ai, ai, ai,
Deixa as mágoas para trás ó rapaz
Ai, ai, ai,
Fica triste se és capaz, e verás.

Tomara que tu apanhes
Pra nunca mais fazer isso
Roubar amores dos outros
E depois fazer feitiço.
Ai, a rolinha / Sinhô, Sinhô
Se embaraçou / Sinhô, Sinhô
Caiu no laço / Sinhô, Sinhô
Do nosso amor / Sinhô, Sinhô

Porque esse samba, /Sinhô, Sinhô
É de arrepiar, /Sinhô, Sinhô
Põe a perna bamba / Sinhô, Sinhô
Mas faz gozar / Sinhô, Sinhô
O "Peru" me disse
Se o "Morcego" visse

Não fazer tolice,
Que eu então saísse
Dessa esquisitice
De disse que não disse.

Mas "Peru" me disse
Se o "Morcego" visse
Não fazer tolice,
Que eu então saísse
Dessa esquisitice
De disse que não disse.
Ai, ai, ai,
Deixa as mágoas para trás ó rapaz
Ai, ai, ai,
Fica triste se é capaz, e verás.
Ai, ai, ai,
Deixa as mágoas para trás ó rapaz
Ai, ai, ai,
Fica triste se é capaz, e verás.

Queres ou não / Sinhô, Sinhô,
Vir pro cordão / Sinhô, Sinhô
Ser folião / Sinhô, Sinhô
De coração / Sinhô, Sinhô
Porque este samba/ Sinhô, Sinhô
É de arrepiar / Sinhô, Sinhô
Põe a perna bamba / Sinhô, Sinhô
Mas faz gozar / Sinhô, Sinhô

Martinho da Vila -- Pelo Telefone Ver no YouTube

"Brasil Pandeiro", Assis Valente (1940)

Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor
Eu fui a Penha, fui pedir a padroeira para me ajudar

Salve o Morro do Vintém, pendura a saia eu quero ver
Eu quero ver o Tio Sam tocar pandeiro para o mundo sambar

O Tio Sam está querendo conhecer a nossa batucada
Anda dizendo que o molho da baiana melhorou seu prato

Vai entrar no cuscuz, acarajé e abará
Na Casa Branca já dançou a batucada de ioiô, iaiá

Brasil, esquentai vossos pandeiros
Iluminai os terreiros que nós queremos sambar

Há quem sambe diferente noutras terras, noutra gente
Num batuque de matar

Batucada, reunir nossos valores pastorinhas e cantores
Expressão que não tem par, ó meu Brasil

Brasil, esquentai vossos pandeiros
Iluminai os terreiros que nós queremos sambar
Brasil, esquentai vossos pandeiros
Iluminai os terreiros que nós queremos sambar

Novos Baianos - Brasil Pandeiro ("Acabou Chorare - Novos Baianos Se Encontram") [Vídeo Oficial] Ver no YouTube

"Trem das Onze", Adoniran Barbosa (1964)

Quais, quais, quais, quais, quais, quais
Quaiscalingudum
Quaiscalingudum
Quaiscalingudum

Não posso ficar
Nem mais um minuto com você
Sinto muito amor
Mas não pode ser
Moro em Jaçanã
Se eu perder esse trem
Que sai agora às onze horas
Só amanhã de manhã

Não posso ficar
Nem mais um minuto com você
Sinto muito amor
Mas não pode ser
Moro em Jaçanã
Se eu perder esse trem
Que sai agora às onze horas
Só amanhã de manhã

E além disso mulher
Tem outra coisa
Minha mãe não dorme
Enquanto eu não chegar
Sou filho único
Tenho minha casa pra olhar

Principais Tipos de Samba

Samba de roda

O samba de roda está associado à capoeira e ao culto dos orixás. Essa variante de samba surgiu no Estado da Bahia no século XIX, caracterizado por palmas e cantos, no qual os dançarinos bailam dentro de uma roda.

Samba-enredo

Associado ao tema das escolas de samba, o samba-enredo é caracterizado por apresentar canções com temáticas de caráter histórico, social ou cultural. Essa variante de samba, surgiu no Rio de Janeiro na década de 30 com o desfile das escolas de samba.

Samba-canção

Chamado também de "samba de meio de ano", o samba canção surge na década de 20 no Rio de Janeiro e se populariza no Brasil nas décadas de 1950 e 1960. Esse estilo é caracterizado por músicas românticas e ritmos mais lentos.

Samba-exaltação

O marco inicial desse estilo de samba é a música "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso (1903-1964), lançada no ano de 1939. Caracterizado por letras que apresentam temas patrióticos e ufanistas, bem de acordo com o momento histórico que o Brasil vivia no Estado Novo.

Samba de gafieira

Esse estilo de samba é derivado do maxixe e surgiu na década de 40. O samba de gafieira é uma dança de salão cujo homem conduz a mulher acompanhados por uma orquestra com ritmo acelerado.

Pagode

Essa variante do samba surgiu no Rio de Janeiro na década de 70, a partir da tradição das rodas de samba. Caracterizado por um ritmo repetitivo com instrumentos de percussão acompanhados de sons eletrônicos.

Outras variantes do samba são: samba de breque, samba de partido alto, samba raiz, samba-choro, samba-sincopado, samba-carnavalesco, sambalanço, samba rock, samba-reggae e bossa nova.

Sambistas Brasileiros

Dona Ivone Lara
Dona Ivone Lara, a primeira mulher a integrar a ala de compositores de uma escola de samba

Conheça alguns nomes de grandes sambistas brasileiros:

  • Noel Rosa;
  • Cartola;
  • João Nogueira;
  • Beth Carvalho;
  • Dona Ivone Lara;
  • Bezerra da Silva;
  • Tom Jobim;
  • Ataulfo Alves;
  • Carmen Miranda;
  • Zé Keti;
  • Martinho da Vila;
  • Zeca Pagodinho;
  • Almir Guineto;
  • Clara Nunes;
  • Alfredo Del-Penho.

Instrumentos Musicais do Samba

Instrumentos do Samba
A percussão é fundamental para fazer o samba

Atualmente, o samba acolhe uma infinidade de instrumentos musicais. No entanto, a marca registrada deste ritmo é o uso da percussão. Sendo assim, até uma caixinha de fósforo pode ser utilizada para fazer samba.

Inicialmente, se utilizavam as palmas, os atabaques e qualquer tambor disponível. Vejamos alguns dos instrumentos que não podem faltar para fazer uma batucada.

  • Cavaquinho;
  • Pandeiro;
  • Tamborim;
  • Reco-reco;
  • Violão;
  • Atabaque;
  • Cuíca;
  • Agogô;
  • Flauta transversa;
  • Voz.

Curiosidades sobre o samba

  • O Dia Nacional do Samba é comemorado a 2 de dezembro, data em que o compositor Ary Barroso visitou a Bahia pela primeira vez.
  • A primeira escola de samba foi a "Deixa Falar" fundada em 1928, no Rio de Janeiro.

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Thiago Souza
Revisão por Thiago Souza
Graduado em História e Especialista em Ensino de Sociologia pela Universidade Estadual de Londrina. Ministra aulas de História, Filosofia e Sociologia desde 2018 para turmas do Fundamental II e Ensino Médio.
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Edição por Equipe do Toda Matéria
A Equipe Editorial do Toda Matéria é formada por pesquisadores e professores com vários anos de experiência no sistema educacional brasileiro, com domínio em diferentes disciplinas do ensino básico, fundamental e médio.