Capacitismo: entenda o que é (com exemplos)
Capacitismo é o nome dado a qualquer forma de discriminação contra pessoas com deficiência. Ele se baseia na ideia de que certos corpos ou habilidades são superiores a outros, levando à exclusão ou à negação de direitos das pessoas com deficiência.
Segundo o Estatuto da Pessoa com Deficiência, discriminação é todo ato de diferenciar, restringir ou excluir alguém, resultando na negação de seus direitos. Isso inclui, por exemplo, a ausência de recursos ou tecnologias que garantam igualdade de acesso, como a falta de elevadores para quem tem dificuldade de locomoção.
O capacitismo está enraizado em crenças de que há corpos “melhores” ou “mais perfeitos”, criando uma classificação implícita sobre quem seria, ou não, plenamente humano.
Além disso, o capacitismo manifesta-se na valorização excessiva de certas habilidades — como produtividade ou competitividade — em detrimento de outras, como empatia, compaixão e gentileza (Wolbring apud CIDADE; SOUZA, 2023).
Esse tipo de discriminação pode afetar profundamente a autoestima de pessoas com deficiência, levando à rejeição de si mesmas e a tentativas dolorosas de “adequação” para se sentirem aceitas. Tudo isso em nome de uma ideia inventada de “normalidade”.
Exemplos e tipos de capacitismo
Capacitismo estrutural / institucional
Diz respeito às práticas de discriminação contra pessoas com deficiência e que podem estar embutidas nas leis, nas instituições, nas práticas socioculturais. São práticas excludentes, que foram naturalizadas na sociedade e que perpetuam as desigualdades entre as pessoas.
Exemplos:
- falta de preparo ou ausência de atendimento a esse público;
- pressuposição de incapacidade;
- impedimento de acesso às informações;
- práticas que não contemplam a diversidade humana;
- normativas que negam direitos.
Capacitismo internalizado
Ocorre quando as pessoas com deficiência aceitam e internalizam a normatividade inventada pela sociedade e agem em relação a si ou às demais PcDs (pessoas com deficiência) a partir desse paradigma.
Exemplos:
- rejeição de si;
- isolamento social;
- aceitação dos padrões e das desigualdades impostas.
Capacitismo interpessoal / atitudinal
É uma forma de discriminação que ocorre nas trocas particulares entre as pessoas. Esse tipo de preconceito pode se transmitir por intermédio de influência (na emissão ou reprodução de ideias) ou pode se dar via atitudes discriminatórias. Em ambos os casos, a manifestação da discriminação pode vir a ser:
- explícita: quando há intenção de prejudicar a pessoa com deficiência. Exemplo: enganar ou coagir uma pessoa com deficiência;
- implícita: quando a pessoa não tem intenção ou consciência de sua ação ou ideias. Exemplo: sentir pena e forçar ajuda sem consultar a pessoa com deficiência.
É possível encontrarmos outras formas de capacitismo, que podem ser resultantes dos tipos acima:
Capacitismo linguístico
Tem relação com o uso de linguagem que reforça estereótipos e naturaliza a violência contra PcDs.
Exemplos:
- o uso de termos como “demente”, “aleijado”, “inválido”;
- usar as deficiências como forma de xingamento.
Capacitismo ambiental
Tem relação com a exclusão ou limitação de acesso das PcDs de planejamento relativos ao enfrentamento de questões climáticas.
Exemplos:
- tratar as pessoas com deficiência como indivíduos vulneráveis diante dos problemas climáticos e não incluí-los nas discussões sobre tais problemas;
- limitar recursos ou informações do interesse dessas pessoas.
Capacitismo ligado às barreiras urbanísticas e arquitetônicas
Tem relação com a limitação do direito de ir e vir e a inviabilização de acesso aos espaços públicos ou privados.
Exemplos:
- falta de rampas ou elevadores em instituições;
- bloqueios nas vias sem sinalização de aviso.
Capacitismo ligado à barreiras tecnológicas
Limitação das pessoas com deficiência no acesso às ferramentas tecnológicas.
Exemplos:
- ausência de equipamento de acessibilidades em provas;
- ausência de recursos de acessibilidade em sites ou aplicativos.
Como o capacitismo pode ser combatido
O combate ao capacitismo ocorre por meio de atitudes anticapacitistas, como:
- Observar nossos pensamentos, falas e atitudes em relação às pessoas com deficiência;
- Corrigir falas que reforcem estereótipos e a valorização de padrões físicos;
- Lembrar que qualquer deficiência é uma condição de existência;
- Não usar expressões que estigmatizam a deficiência, como: “apesar de sua deficiência…”, “nem parece que tem deficiência, pois ele consegue…”, etc, pois elas acabam associando a deficiência como algo ruim a ser superado;
- Garantir e exigir a existência de acessibilidade, considerando as necessidades de cada indivíduo;
- Exigir e fornecer o acesso comunicativo, como: comunicação em Libras, audiodescrição, texto aumentado etc;
- Nunca utilizar termo ou expressão pejorativas, como: “inválido”, “aleijado”, “manco”, “especial”, “fingir demência”, “estar mal das pernas”;
- É fundamental nunca utilizar qualquer deficiência como forma de xingamento ou expressá-la como se fosse uma doença;
- Não infantilizar as pessoas com deficiência, nem tratá-las como coitadas, visto serem elas iguais a qualquer outra pessoa;
- Não esconder a deficiência;
- Promover a convivência entre as diversidades, inclusive, desde a infância;
- Sempre consultar uma PcD (pessoa com deficiência) se ela precisa de ajuda com algo.
Aprofunde os seus estudos sobre:
O que é a discriminação: os diferentes tipos e exemplos
Referências Bibliográficas
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