Desastre de Mariana

Juliana Bezerra
Juliana Bezerra
Professora de História

O Desastre de Mariana ocorreu em 5 de novembro de 2015 e foi a maior tragédia ambiental da história do Brasil.

O acidente foi provocado pelo rompimento da Barragem do Fundão, usada para guardar os rejeitos de minério de ferro explorados pela empresa Samarco.

O evento causou a destruição do meio-ambiente, contaminação do rio, do solo e um saldo de 19 mortos.

Desastre

No dia 5 de novembro de 2015, às 16:20, a Barragem do Fundão não conteve os 55 milhões de metros cúbicos de lama que armazenava em seu interior e arrebentou.

A lama chegou em apenas 15 minutos à pequena localidade de Bento Rodrigues, situada a 8 km da barragem, com uma população de 620 habitantes. Esta cidade desapareceu soterrada pela lama e hoje restam somente escombros daquilo que eram casas.

Por 16 dias, a lama seguiu o leito de 853 km do rio Doce e atingiu as cidades ribeirinhas provocando escassez de água, diminuição da pesca, do comércio e do turismo.

A lama chegou à bacia hidrográfica no dia 21 de novembro e os dejetos se espalharam num raio de 80 quilômetros causando graves prejuízos para a indústria local.

Ao todo, 39 municípios de Minas Gerais e do Espírito Santo, onde moram 1,2 milhões de pessoas, habitam nestas cidades e viram suas vidas afetadas. Mais dois mil hectares de terras ficaram inundadas e inutilizadas para o plantio.

Desastre de Mariana
O caminho da lama: do distrito de Mariana (MG) até a cidade de Linhares (ES)

Samarco e o desastre de Mariana

A Samarco é uma empresa brasileira de extração e beneficiamento de minério de ferro criada em 1977 e administrada pela brasileira Vale e a anglo-australiana BHP Billiton.

A empresa gera três mil empregos diretos e cerca 3,4 mil empregos indiretos no Brasil e teve um lucro de 2,2 bilhões de reais em 2014.

A empresa inovou a exploração do minério de ferro utilizando “minerodutos” ou seja, túneis para transportar o material extraído das montanhas de Minas Gerais.

Igualmente, a Samarco se especializou em fabricar pelotas de minério de ferro e alcançou a produção de 30,5 milhões de toneladas anuais em 2014.

Para extrair o minério de ferro é preciso separá-lo da terra e eliminar os resíduos. Neste processo, as empresas devem adequar esses dejetos em barragens apropriadas seguindo normas de segurança.

Após o desastre, a empresa alegou que seguia rigorosamente as regras e que as barragens passavam periodicamente por inspeções governamentais.

No entanto, há suspeita que várias licenças ambientais e as fiscalizações tenham sido aprovadas como troca de favor da empresa aos políticos interessados em financiamento nas suas campanhas eleitorais.

A empresa foi multada pelo Ibama (Instituto Brasileiro de Meio-Ambiente) em R$ 250 milhões, contudo, em 2017 só havia pago cerca de 1% desse valor.

Impactos ambientais do desastre de Mariana

As consequências ambientais do desastre de Mariana foram tão severas que os pesquisadores ainda buscam respostas para entender os efeitos da ação e como a natureza poderá se restabelecer.

A lama e os resíduos da mineração percorreram mais de 600 km até atingir o Oceano Atlântico, onde resultaram em impactos ambientais ao ecossistema marinho, especialmente aos recifes de corais.

Durante a avalanche de lama, a maioria dos peixes morreram e como resultado 26 espécies desapareceram da área. Enquanto isso, animais terrestres como pequenos mamíferos e anfíbios foram soterrados pela lama. As árvores próximas aos trechos dos rios foram arrancadas pela força da água ou ficaram submersas.

Peixes mortos no desastre de Mariana
Peixes mortos durante o desastre de Mariana

A lama também impediu a realização da fotossíntese pelo fitoplâncton, base da cadeia alimentar aquática, e contaminou os peixes e outros organismos. Os rios atingidos ainda tiveram mudanças em suas características físicas como, diminuição da profundidade, destruição da mata ciliar e soterramento de nascentes.

O solo foi contaminado pela enxurrada de lama, tornando-se infértil e impedindo o desenvolvimento das espécies vegetais. A composição química do solo foi alterada e não se sabe de que forma e quanto tempo demorará para se restabelecer.

Muitas pesquisas apontam que a restauração da área é impossível. Assim, a biodiversidade local foi perdida de forma irreversível, com severas consequências ambientais para a natureza e a população humana que dependia dos recursos naturais.

Números da tragédia de Mariana

Quantidade de Lama 62 milhões de m3
Cidades Atingidas 41
Vítimas Fatais 19
Famílias Desabrigadas 600
Vegetação Destruída 1469 hectares
Peixes Mortos 14 toneladas
Índice de Desemprego na Região 23,5%
Processos Judiciais Contra a Samarco, Vale e BHP 22
Previsão de Recuperação do Meio-Ambiente Ano de 2032

Impacto econômico do desastre de Mariana

O desastre de Mariana deixou milhares de pescadores sem emprego. Em Linhares (ES), a pesca está proibida desde 2015.

Com a paralisação da Samarco, o estado do Espírito Santo se viu afetado, pois a empresa respondia por 5,8% do PIB capixaba e gerava 20 mil empregos diretos e indiretos.

As cidades do sul do Espírito Santo como Guarapari e Anchieta, viram sua receita diminuir drasticamente e vários fornecedores perderam seu maior cliente.

Ações judiciais contra a Samarco

Após o desastre ambiental, o Ministério Público entrou com uma ação judicial contra as mineradoras responsáveis pela Barragem do Fundão.

Um dos meios encontrados para reparar os danos e agilizar os atingidos foi criar a Fundação Renova. Esta entidade engloba representantes civis, do governo e das empresas mineradoras que trabalham juntos para encontrar uma solução para a tragédia de Mariana.

Em 26 de junho de 2018, um novo acordo foi feito entre as mineradoras e o Ministério Público. Este previa mudanças no conselho da Fundação Renova, produção de laudos técnicos independentes e a constituição de comissões locais para avaliar o andamento dos programas de recuperação.

No entanto, esta decisão suspende a ação de 20 bilhões de reais que estava sendo movida contra as mineradoras, assim como outra de 2017, no valor de 155 bilhões de reais.

Recuperação do Rio Doce

Em 20 de setembro de 2018 foi lançada uma força-tarefa de pesquisa para medir os impactos ambientais causados pela contaminação da lama.

Chamada de "Rio Doce Mar" trata-se de um projeto colaborativo entre 24 instituições de pesquisa coordenados pela Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Os pesquisadores coletarão dados para avaliar o nível de intoxicação das águas, sedimentos, vegetais e dos peixes. A cada seis meses será elaborado relatórios com resultados apontando as possíveis soluções para os problemas encontrados.

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Juliana Bezerra
Juliana Bezerra
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.