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Literatura Grega

Rodrigo Luis
Rodrigo Luis
Professor de Português e Literatura

A literatura grega ocupa um lugar central na história da cultura ocidental. Desenvolvida entre os séculos VIII a.C. e III d.C., ela não apenas inaugurou formas literárias que ainda utilizamos, como também influenciou profundamente o pensamento filosófico, a organização política e as expressões artísticas do mundo em que vivemos.

Seja pela poesia épica com Homero, o teatro de Sófocles ou a filosofia de Platão e Aristóteles, fato é que a literatura grega é a origem dos nossos modelos literários atuais. Isso porque a riqueza cultural da Grécia Antiga, mitológica e simbólica, moldou da arte até a psicologia moderna.

Neste conteúdo você encontra:

A importância duradoura e as características da literatura grega

A importância duradoura da literatura grega reside no seu papel em definir e consolidar os principais gêneros literários, muitos dos quais permanecem centrais até hoje. Ela explorou questões fundamentais da humanidade, como nossa existência, vida, morte e aprendizado.

A Grécia Antiga é considerada o berço das sociedades democráticas, dos debates éticos e morais, e sua filosofia continua sendo uma fonte substancial de conhecimento na educação.

As principais características evidentes em seus períodos e gêneros incluem:

  • Transição da oralidade para a escrita: o período Arcaico viu a mudança da tradição oral para as formas escritas com a introdução do alfabeto grego.
  • Foco em mito, religião e valores heroicos: particularmente proeminentes no período Arcaico, esses elementos foram centrais nas primeiras obras.
  • Exploração do individuo e dilemas éticos: o período Clássico marcou uma diversificação da literatura, aprofundando-se na razão humana e nos conflitos morais.
  • Subjetividade e Simbolismo: a poesia helenística, por exemplo, tornou-se mais subjetiva, detalhada e simbólica.
  • Investigação moral e filosófica: períodos posteriores, como o Greco-Romano, adotaram um tom mais enciclopédico, filosófico e moralizante.
  • Influência de deuses e destino: muitas narrativas, especialmente épicos e tragédias, exploraram o papel da vontade divina e do destino nas vidas humanas, contrastando com a agência e inteligência humanas.
  • Catarse e comentário social: o teatro grego, através da tragédia, visava a purificação emocional (catarse), enquanto a comédia oferecia um comentário satírico sobre a vida cotidiana, a política e as questões sociais.

Panorama histórico da Literatura Grega

A literatura grega pode ser dividida em quatro grandes períodos. Observe a seguir o panorama da história da literatura grega.

Período Arcaico (séculos VIII–VI a.C.)

Este período marca a transição da tradição oral para a escrita, com a introdução do alfabeto grego. A literatura ainda está fortemente ligada à oralidade e à memória coletiva, com foco em mitos, religião e valores heroicos. Destacam-se os grandes autores e obras:

  • Homero, com Ilíada e Odisseia, que narram feitos heroicos e fundam o gênero épico;
  • Hesíodo, com a Teogonia, que sistematiza a genealogia dos deuses e apresenta uma visão moralizante do mundo.
  • Píndaro e Safo, com poesias líricas, que valorizavam a subjetividade e a expressão do sujeito.

Período Clássico (séculos V–IV a.C.)

É o auge da cultura ateniense, período de intensa produção artística, filosófica e literária. A literatura se diversifica, surgindo gêneros como a tragédia, a comédia, a história e a filosofia. Os textos passam a explorar mais profundamente o indivíduo, a razão e os dilemas éticos. Autores fundamentais incluem:

  • Sófocles e Eurípides, na tragédia;
  • Aristófanes, na comédia;
  • Heródoto e Tucídides, na historiografia;
  • Platão e Aristóteles, na filosofia

Período Helenístico (séculos IV–I a.C.)

Com a conquista do Império por Alexandre, o Grande, a cultura grega se espalha por vastas regiões, tornando-se mais cosmopolita, refinada e erudita. A literatura se desloca de Atenas para centros como Alexandria. A poesia torna-se mais subjetiva, detalhista e simbólica, com destaque para:

  • Menandro, com a comédia nova, que extinguia o coro;
  • Apolônio de Rodes, autor de épicos pós-homéricos, como Argonáutica.

Período Greco-Romano ou Romano (séculos I–III d.C.)

Durante o domínio romano, a literatura grega continua viva e influente. O tom agora é mais enciclopédico, filosófico e moralizante. Muitos autores desse período retomam temas clássicos, mas com um olhar mais crítico e satírico. Destaca-se:

  • Plutarco, com suas Vidas Paralelas, que comparam personagens gregos e romanos;

Assim, entende-se que a literatura grega não apenas lançou as bases dos gêneros literários, como também formulou questões e estilos que seguem inspirando a produção artística e o pensamento crítico até hoje. Estudar essa tradição é compreender os alicerces de nossa própria cultura.

Consolidação dos gêneros literários

A literatura grega foi essencial para a definição e consolidação dos principais gêneros literários, muitos dos quais permanecem centrais até hoje:

Épico

Não se sabe se Homero de fato existiu, mas é a esse nome que se atribui os grandes épicos Ilíada e Odisseia. Esses cantos, inicialmente ligados à literatura oral, apresentam narrativas longas, em versos, centradas em heróis míticos e feitos grandiosos. É o texto de Homero quem deu origem ao gênero e estabeleceu elementos fundamentais para se pensar a narrativa e a jornada dos heróis.

Ilíada

O primeiro dos poemas atrelados à figura de Homero é Ilíada. O poema realiza a narrativa épica da Guerra de Troia, uma guerra entre gregos e troianos. O principal herói da história é o semideus Aquiles. A história gira em torno do dilema de Aquiles em lutar e cumprir seu destino ou não, algo que revela a concepção de mundo da sociedade grega.

A história começa com uma disputa entre Aquiles e Agamenon, líder dos gregos. Agamenon toma para si Briseida, uma escrava de Aquiles, o que faz com que o herói abandone a guerra. Sem Aquiles, os troianos, liderados por Heitor, ganham vantagem. Quando Heitor mata Pátroclo, amigo de Aquiles, este retorna à batalha, tomado pelo desejo de vingança. Ele mata Heitor e arrasta seu corpo diante das muralhas de Troia. No final, movido pela dor do rei Príamo, pai de Heitor, Aquiles devolve o corpo do inimigo para um enterro digno.

A ela respondeu em seguida o alto Heitor do elmo faiscante:
“Todas essas coisas, mulher, me preocupam; mas muito eu me
envergonharia dos Troianos e das Troianas de longos vestidos,
se tal como um covarde me mantivesse longe da guerra.
Nem meu coração a tal consentiria, pois aprendi a ser sempre
corajoso e a combater entre os dianteiros dos Troianos,
esforçando-me pelo grande renome de meu pai e pelo meu.

Odisseia

Em Odisseia, obra que até hoje influencia o mundo moderno, acompanhamos os cantos da jornada de Odisseu/Ulisses. O herói tenta voltar para casa, na ilha de Ítaca, após a Guerra de Troia. No entanto, sua jornada demora cerca de 10 anos.

A narrativa conta as aventuras que o herói viveu, como o encontro com o ciclope Polifemo, a feiticeira Circe e os cantos das sereias. Na narrativa, vemos também a espera de sua esposa, Penélope, e a angústia de seu filho, Telêmaco.

Aos companheiros, desta arte, contei as minúcias do caso,
à ilha, entrementes, a nau bem-construída chegara depressa,
onde as Sereias demoram, que um vento propício a impelia.
Eis que de súbito o vento se acalma e tranquila se estende
a calmaria, que as ondas fizera aplacar um demônio.
Pondo-se logo de pé, os companheiros a vela amainaram
e a depuseram na côncava nave; depois, assentados,
fazem que as ondas espumem aos golpes dos remos de abeto.
Uma rodela de cera cortei com meu bronze afiado,
em pedacinhos, e pus-me a amassá-los nos dedos possantes.
Amoleceu logo a cera, por causa da força empregada
e do calor grande de Hélio, o senhor Hiperiônio esplendente.
Sem exceção, depois disso, tapei os ouvidos dos sócios;
as mãos e os pés, por sua vez, me amarram na célere nave,
em torno ao mastro, de pé, com possantes calabres seguro.

Odisseu é tido como um herói astuto, que vence seus desafios com a inteligência. Assim, Ilíada e Odisseia mostram as faces da visão grega de mundo, do herói e seu destino à representação dos deuses como motores dos caminhos da vida do sujeito.

Lírica

Diferente da objetividade do épico, a lírica grega é subjetiva, expressando sentimentos pessoais. Poetas como Safo e Píndaro compuseram poemas que celebram o amor, a amizade, os deuses e os feitos humanos, muitas vezes acompanhados de música.

Esse tipo de poesia era composto em versos curtos, e suas declamações eram acompanhadas musicalmente da Lira. Era comum, assim, dividir a produção em monódica, cantada por uma só voz, ou coral, guiada por múltiplos declamadores.

[...]

manejador do cetro da justiça
na Sicília fecunda
e ceifeiro de todas as virtudes
em seus caules mais altos
e que sabe crescer com sua fama
pelo esplendor da música
enquanto nos deleita em mesa amiga.

(Píndaro)

Teatro (O drama)

Atenas foi o berço do teatro ocidental. Esse tipo de texto era feito para a representação em arenas circulares e costumavam representar diferentes aspectos da civilização. Assim, as tragédias e comédias gregas marcaram não apenas o período mas toda a história do teatro ocidental.

A tragédia grega

A tragédia grega era uma forma dramática solene e séria, que aborda temas profundos como o destino, o sofrimento humano, a justiça divina e os conflitos morais. Seus protagonistas, geralmente figuras nobres ou heroicas, enfrentam situações trágicas causadas por falhas humanas (hamartia), orgulho excessivo (hybris) ou forças do destino. O objetivo era provocar catarse (purificação emocional) no público, por meio do medo e da compaixão.

Outro mecanismo comum ao teatro grego, em especial nas tragédias, era o deus ex-machina (deus que desce numa máquina), como ferramenta para resolução dos conflitos. Nesse caso, diante do caos que os humanos provocavam, tudo se resolvia com a chegada de uma divindade (vinda com nenhuma ou pouca explicação no enredo) para resolver a questão.

Autores distintos destacaram-se por refinar o gênero.

  • Ésquilo – destacou-se por temas religiosos e pelo uso do segundo ator;
  • Sófocles – refinou a estrutura dramática e introduziu o terceiro ator (ex: Édipo Rei; Antígona);
  • Eurípides – aprofundou o lado psicológico dos personagens e questionou os deuses.

Trecho de Antígona

[...]

ANTÍGONA
Decide se me ajudarás em meu esforço.

ISMENE
Em que temeridade? Qual a tua ideia?

ANTÍGONA
Ajudarás as minhas mãos a erguer o morto?

ISMENE
Vais enterrá-lo contra a interdição geral?

ANTÍGONA
Ainda que não queiras ele é teu irmão
e meu; e quanto a mim, jamais o trairei.

(Sófocles)

Aprofunde os seus estudos sobre tragédia grega.

A comédia grega

A comédia grega, por outro lado, tem um tom satírico e irreverente, e trata de temas do cotidiano, da política e da vida social, sempre com humor, crítica e exagero. No período clássico, destacava-se a chamada comédia antiga, marcada pela liberdade de expressão e zombarias diretas a figuras públicas, como políticos e filósofos.

O maior nome da comédia antiga foi Aristófanes, autor de peças como As Rãs e Lisístrata. Depois, a figura de Antífanas representou um período de transição na comédia. Mais tarde, na comédia nova (com Menandro), o foco mudou para situações familiares e amorosas, com tipos sociais fixos (velho rabugento, jovem apaixonado, escravo esperto).

Trecho de As nuvens, comédia de Aristófanas

FIDÍPIDES
Sim, por este Posidão, o deus hípico.

ESTREPSIADES
Não, de modo algum, nem me fale nesse hípico! Esse deus é o causador das minhas desgraças! Mas, se por acaso você gosta de mim de verdade, do fundo do coração, meu filho, obedeça!

FIDÍPIDES
Mas precisamente em que devo obedecer-lhe?

ESTREPSIADES
Mude logo os seus hábitos e vá aprender o que eu aconselhar.

FIDÍPIDES
Então fale, que ordena?

ESTREPSÍADES
E você obedecerá um pouquinho?

FIDÍPEDES
Sim, por Dioniso, obedecerei.

ESTREPSÍADES
Olhe ali (aponta a casa de Sócrates). Você está vendo aquela portinha e aquele casebre?

FIDÍPIDES
Estou vendo. Papai, de fato o que é aquilo?

Aprofunde os seus estudos sobre o Teatro Grego.

Filosofia e Prosa

A transição da oralidade para a reflexão racional deu origem à filosofia, muitas vezes escrita em forma de diálogo, como nos textos de Platão e nas análises sistemáticas de Aristóteles. Também se consolidaram a historiografia (com Heródoto e Tucídides) e a oratória (com Demóstenes e Isócrates).

A filosofia Grega buscou responder às perguntas universais da humanidade: do que somos feitos, como vivemos, como morremos, como aprendemos etc. É comum até os dias atuais se utilizar desse tipo de pensamento, afinal, a Grécia Antiga é o berço das sociedades democráticas, dos debates éticos e morais. No campo da Educação, a filosofia grega continua sendo uma substancial fonte de saber.

Trecho de A alegoria da caverna – A República (514a-517c)

Sócrates: Agora imagine a nossa natureza, segundo o grau de educação que ela recebeu ou não, de acordo com o quadro que vou fazer. Imagine, pois, homens que vivem em uma morada subterrânea em forma de caverna. A entrada se abre para a luz em toda a largura da fachada. Os homens estão no interior desde a infância, acorrentados pelas pernas e pelo pescoço, de modo que não podem mudar de lugar nem voltar a cabeça para ver algo que não esteja diante deles. A luz lhes vem de um fogo que queima por trás deles, ao longe, no alto. Entre os prisioneiros e o fogo, há um caminho que sobe. Imagine que esse caminho é cortado por um pequeno muro, semelhante ao tapume que os exibidores de marionetes dispõem entre eles e o público, acima do qual manobram as marionetes e apresentam o espetáculo.

Período Autores Principais Tipos de Texto
Arcaico (séc. VIII–VI a.C.) Homero, Hesíodo Épico (Homero), Didático e Mitológico (Hesíodo)
Safo, Píndaro Lírico
Clássico (séc. V–IV a.C.) Sófocles, Eurípides, Ésquilo Dramático – Tragédia
Aristófanes Dramático – Comédia Antiga
Heródoto, Tucídides Historiográfico
Platão, Aristóteles Filosófico
Helenístico (séc. IV–I a.C.) Menandro Dramático – Comédia Nova
Apolônio de Rodes Épico
Greco-Romano (séc. I–III d.C.) Plutarco Filosófico, Histórico

Contexto histórico

A Grécia Antiga compreende uma civilização constituída na Península Balcânica e em áreas ao seu redor. Essa civilização desenvolveu-se entre os séculos XX a.C. e I a.C. Apesar da distância temporal, a Grécia Antiga deixou um legado amplo dentro das civilizações.

Comumente, ela é estudada em fases, que articulam seu início, auge e declínio. Além disso, essas fases atrelam-se a elementos culturais, políticos e tecnológicos para serem definidas. É comum, portanto, dividir o estudo da sociedade Grega Antiga nos períodos Pré-Homérico, Homérico, Arcaico, Clássico e Helenístico.

A sociedade Grega encontro seu “fim” quando foi dominada pelo império Macedônico. Seus aspectos culturais, no entanto, atravessaram eras, sendo incorporados tanto pela Macedônia quanto, posteriormente, pelo Império Romano. Essas incorporações garantiram que até hoje a cultura e intelectualidade desse período fossem preservadas, moldando o mundo moderno.

Aprofunde os seus estudos:

Referências Bibliográficas

ARAUJO, Alisson Alexandre de. Píndaro em fragmentos: estudo, tradução e comentários aos hiporquemas, prosódios e partênios. 2013. Tese (Doutorado em Letras Clássicas) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2014. doi:10.11606/T.8.2014.tde-27052014-120914.

JAEGER, W. Paideia: a formação do homem grego. Coleção Clássicos Editorial. WMF Martins Fontes: São Paulo, 2013.

MATE, Alexandre. Processos e transversalidades do teatro no ocidente. Teatro e dança: Repertório para a educação: A história do teatro e da dança: linhas do tempo, São Paulo, v. 1, 2010.

Rodrigo Luis
Rodrigo Luis
Professor de Língua Portuguesa e Literatura formado pela Universidade de São Paulo (USP) e graduando na área de Pedagogia (FE-USP). Atua, desde 2017, dentro da sala de aula e na produção de materiais didáticos.